O contato com a natureza tem ganhado cada vez mais protagonismo tanto na teoria quanto na prática arquitetônica dos últimos anos, especialmente após a pandemia de COVID-19, que evidenciou a relevância dos ambientes naturais como espaços de cura. Esse período trouxe à tona diversos estudos científicos que destacaram o impacto positivo dos espaços verdes no bem-estar humano, seja em locais de trabalho, residências ou áreas urbanas. Com tantos benefícios cientificamente comprovados torna-se evidente, portanto, a urgência de integrar elementos naturais em projetos hospitalares, criando ambientes que ofereçam apoio essencial para aqueles que enfrentam desafios físicos ou mentais.
Camilla Ghisleni
Camilla Ghisleni é Arquiteta e Urbanista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e Mestre em Urbanismo, Cultura e História da Cidade pela mesma universidade. É sócia-fundadora do escritório Bloco B Arquitetura e colabora com o ArchDaily Brasil desde 2014.
Terapia verde: qual o papel da natureza na cura dos pacientes hospitalizados?
Entre o sagrado e o profano: a história por trás da Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Lisboa
Como marco da arquitetura religiosa contemporânea de Portugal, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus opõe-se formalmente aos modelos tradicionais representando uma obra livre de estigmas historicistas. Fruto de um concurso de projeto organizado em 1960, ela se destaca por sua dimensão cívica, pelo papel urbano e pelo seu significado antimonumental e social. Ao integrar-se na malha regular do bairro das Avenidas Novas, este exemplar do Movimento de Renovação da Arte Sacra (MRAR) faz parte de um complexo paroquial maior que passa despercebido ao transeunte. Sua rua exterior cria um espaço público inesperado, convidando à entrada e à integração num adro onde arquitetura e cidade se fundem. Finamente trabalhada em termos de espacialidade, detalhes e luz, a Igreja reserva muitas surpresas a quem nela adentra.
Retrofit em edifícios brasileiros: sustentabilidade e inovação no centro de São Paulo
O termo retrofit, diferentemente da reabilitação ou do restauro, tem sido adotado pelo mercado para lidar com as obras de atualização tecnológica nos edifícios existentes. São projetos cujo foco reside na adequação das construções às normas técnicas locais, assim como nas adaptações para tornar os espaços mais funcionais e sustentáveis, respondendo às demandas atuais.
Reconhecido como uma prática essencial na arquitetura contemporânea, o retrofit vem ganhando destaque ao combinar os benefícios da revitalização de edifícios existentes — sem a necessidade de demolição — com diversas vantagens econômicas e sociais. Essa abordagem tem se consolidado no campo arquitetônico, tanto por meio de exemplos icônicos quanto por iniciativas públicas e privadas.
A nova Idade da Pedra: 12 casas contemporâneas da América Latina e a diversidade de suas pedras naturais
A arquitetura da América Latina é rica e diversificada, e isso também se reflete nos tipos de pedra utilizados ao longo dos séculos em suas diferentes regiões. Esses materiais não apenas refletem a geologia variada da América Latina, mas também mostram como as culturas locais adaptaram seus métodos de construção às condições naturais, criando uma arquitetura única e significativa. Na arquitetura contemporânea, o uso da pedra está alinhado com os preceitos da sustentabilidade por ser um material durável, com baixa pegada de carbono e disponível localmente. Seu apelo também pode ser enaltecido do ponto de vista estético, criando espaços atemporais e que fortalecem a relação com a natureza e a paisagem ao redor.
Desenhando a escola do futuro: espaços multifuncionais para uma educação dinâmica
O século XXI trouxe mudanças significativas na arquitetura dos edifícios escolares, refletindo novas filosofias educacionais, avanços tecnológicos e valores sociais que priorizam sustentabilidade e inclusão. Essa evolução não é apenas estética, mas representa uma profunda reformulação do papel dos ambientes físicos na educação. Os corredores apertados e as inúmeras carteiras enfileiradas há tempos deram lugar a espaços dinâmicos, conectados com o entorno e com a comunidade, sendo a flexibilidade e a multifuncionalidade suas características fundamentais.
Além do esporte: 10 vilas olímpicas reversíveis e multifuncionais
A primeira vila olímpica da história foi construída para os Jogos Olímpicos de Verão de 1924 em Paris. Antes disso, os atletas se hospedavam em hotéis, albergues, escolas, quartéis e até mesmo nos barcos em que viajavam para as cidades-sede. Pierre de Coubertin, co-fundador do Comitê Olímpico Internacional (COI), foi o idealizador da vila inaugural ao perceber que seria economicamente mais viável abrigar atletas em estruturas novas e temporárias do que em hotéis, enquanto as vilas poderiam incutir também um senso de comunidade entre os competidores internacionais.
Centro Internacional de Convenções Kenyatta: ícone modernista da arquitetura africana pós-colonial
A arquitetura moderna e futurista da África Subsaariana reflete as aspirações e o espírito progressista que dominavam o início da independência de muitos países dessa região entre o final da década 1950 e o início da década de 1960. Uma produção que, por coincidir com o crescimento econômico, utilizou métodos de construção complexos em uma arquitetura que mesclava o interior e o exterior (graças ao clima tropical) focando na forma e expressão da materialidade. Nessa fusão de condicionantes específicas surgiram peças arquitetônicas de valor único que precisam ser “redescobertas”, entre elas, o Centro Internacional de Convenções Kenyatta (KICC) construído em Nairóbi, Quênia.
Transformando água em terra: grandes projetos de aterros ao redor do mundo
A ideia de transformar água em terra tem fascinado a humanidade há séculos. Os Países Baixos, por exemplo, como um dos pioneiros no assunto, possuem cerca de 20% do território recuperado do mar ou de lagos utilizando os diques como métodos para estancar a água e secar as superfícies. O desenvolvimento tecnológico ao longo do tempo, no entanto, tem tornado essa prática cada vez mais popular. Hoje, a China é um dos países que lidera o ranking, assim como os centros urbanos no sul global, destacando cidades na África Ocidental, Leste Asiático e Oriente Médio.
Esses aterros megalomaníacos são criados principalmente em locais onde há uma costa bastante extensa, mas não há continente suficiente para satisfazer suas necessidades. Nesse sentido, os usos acomodados na nova área são os mais diversos, variando desde a criação de residenciais luxuosos até um arquipélago de entretenimento com hotéis, restaurantes, teatros e lojas.
Arquitetura para glamping: a tendência de apreciar a natureza com conforto
Permanecer temporariamente em um local ao ar livre, instalar-se de maneira provisória, assentar-se em um campo. As definições do verbo acampar presentes nos dicionários indicam duas características fundamentais para a prática: natureza e temporalidade. Na arquitetura, as tendas materializam essas qualidades configurando uma tipologia que atravessa séculos e culturas sendo, sobretudo, associada a precariedade e fragilidade.
Diante dessa constatação comum, no início dos anos 2000 surgiu a palavra glamping como uma junção entre camping e glamour, sugerindo aliar a prática do acampamento com comodidades luxuosas. No entanto, apesar da popularização, a ideia está longe de ser original. Nem sempre o ato de acampar foi entendido como o oposto do luxo.
Como tornar os edifícios modernistas mais eficientes energeticamente?
Na história da arquitetura, as questões de eficiência energética e emissões de CO2 eram consideradas marginais até o final do século XX. A pontuação ínfima de alguns icônicos edifícios modernistas no programa de certificação energética Energy Star ilustra essa situação. O edifício MetLife/PanAm de 1963 (Walter Gropius e Pietro Belluschi), obteve uma pontuação sombria de 39 (em uma escala de 0 a 100), a Lever House (Skidmore, Owings e Merrill, 1952), obteve 20. O pior desempenho de todos foi do icônico edifício Seagram de Mies Van der Rohe, construído em 1958, com apenas 3 pontos. Por outro lado, dois venerados edifícios da década de 1930 considerados Art Déco, o Chrysler Building e o Empire State Building, alcançaram 84 e 80 pontos como resultado de amplas atualizações de seus sistemas mecânicos e de isolamento.
Vencendo barreiras: 4 projetos residenciais com estratégias para acessibilidade na América Latina
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem com algum tipo de deficiência, seja física ou intelectual, e 80% delas estão em países do Sul Global. Embora tenha havido avanços na garantia dos direitos dessas pessoas, elas continuam enfrentando diversas barreiras e estão entre os grupos mais excluídos dos serviços essenciais da sociedade, como saúde, educação e emprego. Nesse contexto, a arquitetura desempenha um papel crucial ao garantir a segurança e a autonomia espacial de todas as pessoas, assegurando sua participação plena e efetiva na sociedade.
Disneylândia Distópica: a história por trás da cidade fantasma de castelos na Turquia
Muito provavelmente, a maioria de nós já se imaginou vivendo em um castelo em algum momento da vida, seja na infância embalada pelos contos de fadas, seja na fase adulta estudando sobre a monarquia europeia. Levando em conta esse fascínio, o que você acharia se tivesse a possibilidade de comprar o seu próprio castelo? Por 370 mil dólares, isso era possível na Turquia em meados de 2014. Seriam 325 metros quadrados de puro luxo, com torres azuladas e escadas em caracol. A única questão é que ao lado do seu castelo haveria outros 731 idênticos. Mas quem se importa com exclusividade diante da possibilidade de viver um conto de fadas da Disney?
Dias Perfeitos e a ode aos banheiros públicos de Tóquio
“Um banheiro é um lugar onde todos são iguais, não tem rico e pobre, idoso e jovem, todos são parte da humanidade”. Essa reflexão foi compartilhada por Wim Wenders, expoente do Cinema Novo Alemão e diretor do filme Dias Perfeitos (2023), ao ser questionado sobre os marcantes cenários de sua mais recente obra. Os banheiros públicos de Tóquio foram escolhidos por Wenders para construir uma narrativa que oferece profundas reflexões sobre a solidão, a simplicidade e a beleza da vida cotidiana.
A história gira em torno de Hirayama, um homem de meia-idade que trabalha como faxineiro de banheiros públicos em Tóquio. Sua vida é simples e rotineira, mas preenchida por pequenos prazeres e momentos de contemplação. Um cotidiano humilde que contrasta com as arquiteturas tecnológicas, coloridas e inovadoras dos banheiros públicos nos quais o protagonista passa o dia limpando.
De silos a espaços icônicos: 15 projetos que reutilizam estruturas fabris
Os silos possuem um papel significativo entre as estruturas remanescentes da era industrial, tanto pelas tecnologias aplicadas quanto pela sua imagem na paisagem urbana. A forma cilíndrica erguida geralmente em concreto armado respondia eficazmente às demandas e desafios trazidos pela industrialização, oferecendo uma solução resistente e econômica para o armazenamento de produtos. Ao longo do século XX, com a incorporação de novas logísticas e dinâmicas, principalmente com o deslocamento das atividades de alguns centros urbanos para áreas de expansão, muitas dessas estruturas foram desativadas.
No entanto, embora seu caráter hermético possa parecer um obstáculo para a adaptação a novas funções, o que se tem observado nas últimas décadas são iniciativas as quais valorizam essas estruturas, integrando-as à dinâmica urbana e destacando sua importância como parte da memória coletiva local.
Como os edifícios super altos estão envelhecendo?
Em 1853, na Feira Mundial de Nova York, um senhor de terno e cartola subiu a uma plataforma suspensa e ordenou que a corda a qual a sustentava fosse cortada. Ele caiu alguns centímetros, mas o sistema de segurança entrou em ação e a plataforma se manteve estável para delírio da multidão que estava assistindo. Nesse momento, talvez nem Elisha Graves Otis tivesse dimensão de como sua invenção iria mudar definitivamente o rumo da arquitetura.
Com o invento do elevador, o céu se tornou o limite, e a partir de então os primeiros edifícios de 7 a 10 andares começaram a surgir. Mosette Broderick, diretora de Estudos de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Nova York, comenta que o Edifício Equitable Life Assurance, inaugurado em 1870 com sete andares, causava fascínio e medo ao mesmo tempo. O último andar, por exemplo, raramente era alugado.
O que são tecnologias vernaculares?
A arquitetura vernacular tem ganhado cada vez mais espaço na teoria e na prática projetual com suas características sendo estudadas e revisadas. Um impulso relacionado a diferentes fatores, mas principalmente, ao contexto de mudanças climáticas o qual estamos vivendo que pede por soluções construtivas mais sustentáveis e conectadas ao contexto.
Nesse âmbito, muito se fala sobre as diferentes técnicas vernaculares empregadas na arquitetura, seja a produção dos tijolos em adobe, os telhados de palha, as paredes trançadas de bambu, entre muitas outras. No entanto, enquanto a técnica vernacular concentra-se em ações ou habilidades específicas, seu significado difere das tecnologias vernaculares.
Novos escritórios de arquitetura latino-americanos que fazem mais com menos
Jovens práticas latino-americanas têm provocado mudanças de paradigmas no âmbito arquitetônico ao instigar uma nova abordagem da profissão perante a sociedade. São explorações desenvolvidas a partir do risco, que surgem da proximidade afetiva e de uma compreensão aprofundada do contexto, nascendo de referências próximas como a geografia, os materiais e os recursos disponíveis. Com identidade própria, essas práticas tomam certa distância da herança moderna, que continua forte no meio, trazendo soluções autênticas e inovadoras para lidar com o cenário desafiador.
O terreno como matéria-prima: casas latino-americanas construídas com materiais encontrados no próprio solo
Organizar, enquadrar, empilhar. Transformar a matéria-prima bruta que surge do solo em arquitetura. Esse é um desafio que muitos arquitetos latino-americanos se propõem a enfrentar, mostrando que a escassez é desafiadora, mas também um prato cheio para liberar a criatividade.
O uso de materiais extraídos do próprio solo tem um objetivo duplo. Do ponto de vista econômico, nos países ou regiões onde a industrialização ocorreu com intensidade reduzida, essa prática faz sentido por conta dos altos custos de materiais industrializados - como concreto e aço - que geralmente precisam vir de longe. Já no âmbito ecológico, a preocupação ambiental em um projeto começa na escolha dos materiais, e priorizar os encontrados localmente diminui deslocamentos e emissões de gás carbônico.