Hãhãwpuá é o nome usado pelo povo indígena brasileiro Pataxó para se referir à terra, ao solo ou, mais precisamente, ao território que depois da colonização ficou conhecido como Brasil, mas que já teve e ainda tem muitos outros nomes. Dentro de todos esses “brasis”, o Brasil como terra indígena é o foco do pavilhão do país na Bienal de Artes de Veneza 2024, sendo renomeado, portanto, como PavilhãoHãhãwpuá.
Krenak articula imagens de suas experiências vividas em conceitos, e os transmite por meio de uma linguagem baseada na oralidade e na poesia. Sua cosmovisão não distingue paisagem e ser humano, animais, rios e montanhas, e seu chamado por novos modos de vida é urgente: precisamos "arrebentar o chão para que as águas que estão canalizadas possam invadir a superfície." Em 5 de setembro, esteve em São Paulo para uma palestra no Archtrends Summit 2023 organizado pela Portobello, onde pudemos conversar sobre cidades, florestas e o futuro da Terra.
Em 2019, quando o mundo estava prestes a enfrentar a maior pandemia dos últimos tempos, o líder indígena, ambientalista e filósofo brasileiro Ailton Krenak lançou o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”. O pequeno encarte, com um pouco mais de 80 páginas, não poderia ter surgido em melhor época servindo simultaneamente como alento e como alerta à uma humanidade que via os rumos da história se contorcendo diante dos seus olhos.
No início da década de 1980, enquanto trabalhava com o povo Ka'apor, na região leste da Amazônia, o botânico norte-americano William Balée, naquela época um jovem pesquisador, deparou-se pela primeira vez com o que os Ka'apor chamam de taper, isto é, um tipo específico de formação florestal que reconhecem como sendo “plantada” por seus ancestrais:
Em um momento marcado por desafios ambientais e uma crescente demanda por autenticidade e diversidade cultural, os arquitetos estão recorrendo cada vez mais aos sistemas de conhecimento indígena não apenas como fontes de inspiração, mas como soluções viáveis para se adaptar e responder aos desafios locais e globais. Como guardiãs tradicionais da terra, as comunidades indígenas possuem uma compreensão profunda de seus ecossistemas, materiais disponíveis localmente, normas culturais e restrições sociais. Esse conhecimento é valioso para a arquitetura contemporânea, podendo ajudá-la a se adaptar tanto às pessoas quanto aos seus ambientes.
As práticas vernaculares e indígenas estão surgindo como base para a reimaginação arquitetônica, dando informações sobre disposições espaciais, escolha de materiais e técnicas de construção, ao mesmo tempo em que permite a integração da inovação e da expressão contemporânea. Essa cuidadosa combinação de tradição e modernidade pode ter um impacto significativo em termos de sustentabilidade, pois arquitetos que adotam a abordagem indígena para aproveitar os recursos disponíveis podem não apenas criar estruturas enraizadas em seu contexto, mas também minimizar o impacto ecológico da construção. Além disso, colaborar diretamente com as comunidades indígenas leva a projetos que priorizam a participação comunitária, a sensibilidade cultural e ao desenvolvimento sustentável.
O consórcio AKIN foi eleito vencedor do concurso de projeto para o Barangaroo Harbour Park, um projeto que transformará uma região central ao longo da orla marítima de Sydney, Austrália. A equipe vencedora é liderada por arquitetos indígenas e composta pelos escritórios Yerrabingin, Architectus, Flying Fish Blue, Jacob Nash Design e Studio Chris Fox, com consultoria de engenharia da Arup. Multidisciplinar, o grupo integra sistemas de conhecimento indígena com arquitetura paisagística, design regenerativo e arte pública.
A Triennale Milano e a Fondation Cartier pour l'art contemporain apresentam a exposição Siamo Foresta, inaugurada no final de junho e aberta até 29 de outubro de 2023. Sob a curadoria de Bruce Albert e Hervé Chandés, a exposição traz obras de 27 artistas de diferentes países e culturas, principalmente da América Latina e de comunidades indígenas.
A exposição é o resultado da parceria entre as duas instituições — que já rendeu seis projetos ao longo de oito anos — e busca alcançar diversos públicos e promover artistas de diferentes contextos geográficos. O projeto expográfico, desenvolvido pelo artista brasileiro Luiz Zerbini, proporciona uma conexão emocional entre as obras e ressalta a importância da floresta como tema central.
https://www.archdaily.com.br/br/1003209/exposicao-siamo-foresta-na-trienal-de-milao-aborda-futuro-do-planeta-atraves-de-perspectivas-indigenasArchDaily Team
Terra é o título da participação do Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza 2023, uma exposição com curadoria de Gabriela de Matos e Paulo Tavares que ocupa os espaços do pavilhão brasileiro no Giardini. Dividida em duas galeiras, a mostra propõe questionar os cânones da arquitetura moderna ao mesmo tempo que busca em narrativas ancestrais invisibilizadas alternativas para um futuro de-colonizado e descarbonizado. Terra é o primeiro pavilhão brasileiro a ser reconhecido com o prêmio máximo da Bienal de Arquitetura de Veneza, o Leão de Ouro.
Num esforço para ampliar o acesso ao conteúdo exposto em Veneza, apresentamos aqui os textos e imagens da segunda galeria, chamada Lugares de origem, arqueologias do futuro. A primeira galeria, De-colonizando o cânone, pode ser revista aqui. O ArchDaily agradece à Fundação Bienal de São Paulo, que generosamente cedeu o material do pavilhão Terra para esta publicação.
https://www.archdaily.com.br/br/1002026/lugares-de-origem-arquelogias-do-futuro-pavilhao-terra-do-brasil-na-bienal-de-venezaGabriela de Matos e Paulo Tavares
Terra é o título da participação do Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza 2023, uma exposição com curadoria de Gabriela de Matos e Paulo Tavares que ocupa os espaços do pavilhão brasileiro no Giardini. Dividida em duas galeiras, a mostra propõe questionar os cânones da arquitetura moderna ao mesmo tempo que busca em narrativas ancestrais invisibilizadas alternativas para um futuro de-colonizado e descarbonizado. Terra é o primeiro pavilhão brasileiro a ser reconhecido com o prêmio máximo da Bienal de Arquitetura de Veneza, o Leão de Ouro.
Num esforço para ampliar o acesso ao conteúdo exposto em Veneza, apresentamos aqui os textos e imagens da primeira galeria, chamada De-colonizando o cânone. A segunda galeria, Lugares de origem, arqueologias do futuro, pode ser vista aqui. O ArchDaily agradece à Fundação Bienal de São Paulo, que generosamente cedeu o material do pavilhão Terra para esta publicação.
Ayrson Heráclito, "O Sacudimento da Casa da Torre e o Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée", 2015, videoinstalação. Cortesia do artista
Questionar a história canônica da arquitetura e lançar luz sobre práticas espaciais por muito tempo invisibilizadas é o que propõem Gabriela de Matos e Paulo Tavares em Terra, exposição que ocupa o pavilhão brasileiro na Bienal de Arquitetura de Veneza 2023. “É nossa maneira de fazer um sacudimento”, comentam os curadores, que voltam sua atenção para modos ancestrais de lidar com a terra, mirando possibilidades de presente e futuro mais justas e completas.
Abordando a terra em todos os significados que a palavra carrega, os curadores sobrepõem questões ligadas ao solo e ao território com problemáticas planetárias, propondo uma aproximação entre os temas da reparação e decolonialidade — emergentes ao contexto brasileiro — com tópicos abrangentes, como descarbonização e meio ambiente, decisivos no debate global contemporâneo.
https://www.archdaily.com.br/br/1000485/terra-como-tecnologia-ancestral-e-do-futuro-entrevista-com-gabriela-de-matos-e-paulo-tavaresRomullo Baratto e Victor Delaqua
Courtesy of the South African Pavilion at Biennale Architettura 2023
Na 18ª Exposição Internacional de Arquitetura - La Biennale di Venezia, o Pavilhão da África do Sul explora a representação arquitetônica de estruturas sociais por meio de uma exposição intitulada The Structure of a People. Antes da exposição, os curadores do pavilhão, Sr. Stephen Steyn, Dr. Emmanuel Nkambule e Dr. Sechaba Maape, realizaram uma chamada nacional intitulada Political Animals, com o objetivo de reunir artefatos criados por professores e estudantes de arquitetura para representar as estruturas de suas escolas ou universidades. Os modelos arquitetônicos resultantes, produzidos pela ModelArt, serão exibidos no pavilhão.
Questões climáticas têm sido pauta principal nas discussões sobre o futuro das cidades, mas certamente não são novas. O alerta para a irreversibilidade das ações humanas sobre o planeta percorre o discurso científico desde a década de 1980, pelo menos. Frente às urgências ambientais cada vez mais frequentes, Donna Haraway, no livro Staying with the trouble: Making kin in the Chthulucene, sugere uma mudança de atitude da parte humana do planeta para assegurar não apenas uma recuperação ambiental (ainda que parcial), mas a própria sobrevivência da espécie.
O Teatro Nacional Sámi Beaivváš e a Escola Secundária e de Criação de Renas Sámi são duas das mais importantes instituições culturais do Sápmi, uma região no norte da Noruega, Suécia e Finlândia tradicionalmente habitada pelo povo Sámi. Para fortalecer a posição das duas instituições, foi iniciado em junho de 2021 um projeto para criar um equipamento cultural e educacional compartilhado. A proposta de projeto de Snøhetta, em colaboração com a Econor, 70°N arkitektur, e o artista Joar Nango, foi escolhida após um concurso. O edifício, também conhecido como Čoarvemátta, está atualmente em construção e deve ser concluído até 2024.
Courtesy of Media by Matteo de Mayda/ Courtesy of 18th International Architecture Exhibition – La Biennale di Venezia, The laboratory of the Future
Para a 18ª Exposição Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia, o Pavilhão Nórdico, representando Finlândia, Noruega e Suécia, apresentará Girjegumpi, um projeto itinerante de biblioteca coletiva iniciado pelo arquiteto e artista Joar Nango. Por mais de quinze anos, Nango vem reunindo um arquivo de livros e materiais que exploram a arquitetura e o design indígena Sámi, o conhecimento tradicional em construção, o ativismo e a decolonialidade. O Girjegumpi foi inaugurado em 2018, tornando-se um espaço acolhedor de encontro e promoção da cultura indígena. Em 2023, a biblioteca viajará para Veneza, onde será apresentada no Pavilhão Nórdico, projetado pelo arquiteto norueguês Sverre Fehn.
"As tecnologias indígenas não estão perdidas nem esquecidas, apenas escondidas pela sombra do progresso nos lugares mais remotos da Terra". Em seu livro Lo-TEK: Desenho Indígena Radical, Julia Watson propõe revalorizar as técnicas de construção, produção, cultivo e extração realizadas por várias populações remotas que, geração após geração, conseguiram manter vivas práticas culturais ancestrais integradas com a natureza, com um baixo custo ambiental e execução simples. Enquanto as sociedades modernas tentavam conquistar a Natureza em nome do progresso, estas culturas indígenas trabalhavam em colaboração com ela, compreendendo os ecossistemas e os ciclos das espécies para articular sua arquitetura em uma simbiose integrada e interconectada.
Em Julho último (2019), na Plataforma habita-cidade [1] foi organizada a Oficina-viagem “Modos de Habitar: Arquiteturas Tradicionais” que levou alunos e professores para a Aldeia Ypawu, em território Kamayurá no Alto Xingu. O objetivo geral das Oficinas-viagem “Modos de Habitar” é a reflexão propositiva sobre as diversas formas do Habitat humano no planeta. Neste ano, a partir de uma demanda dos mestres construtores Kamayurá de produzir um Manual de Arquitetura local, a Oficina-viagem foi preparada para que o grupo para lá deslocado atuasse como apoio para essa importante empreitada. A ideia do Manual de Arquitetura Kamayurá foi inicialmente lançada por Kanawayuri L. Marcello Kamaiurá (liderança local) para a arquiteta Clarissa Morgenroth (arquiteta formada na Escola da Cidade) e para a diretora teatral Cibele Forjaz. A Escola da Cidade foi então convidada a participar do projeto, que foi encampado pela Plataforma habita-cidade, ligada ao curso de Pós-graduação lato sensu ‘Habitação e Cidade’.
https://www.archdaily.com.br/br/923178/manual-de-arquitetura-kamayuraLuis Octavio de Faria e Silva