Como a inteligência artificial transformará a arquitetura até 2050

Como a inteligência artificial transformará a arquitetura até 2050

É inegável que a inteligência artificial está transformando a maneira como projetamos e construímos nossos edifícios e cidades. Acredita-se que nos próximos trinta anos, até 2050, a incorporação de tais avanços tecnológicos serão amplamente sentidos em todos os aspectos da nossa vida cotidiana. Tendo em vista todos os desafios que se desenham à nossa frente, incluíndo as mudanças climáticas e a dificuldade cada vez maior de acesso à moradia, a inteligência artificial – se utilizada da maneira certa –, pode ser um dos nossos principais aliados para transformar um potencial futuro distópico e um mundo habitável e sustentável. Ao imaginarmos o futuro hoje, é impossível não tentar prever como será a vida daqui a trinta anos, e está cada vez mais difícil, dissociar a imagem do futuro como uma realidade definitivamente entrelaçada e dependente das novas tecnologias.

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Cortesia de Bjarke Ingels Group (BIG)

A inteligência artificial é geralmente entendida como a teoria e o desenvolvimento de sistemas computacionais capazes de realizar tarefas que normalmente requerem o uso da inteligência humana. O termo é freqüentemente aplicado à capacidade de uma máquina ou sistema de raciocinar, descobrir significados, generalizar ou aprender com as experiências prévias. Atualmente, a IA já é uma realidade em nossas vidas, ela utiliza algoritmos para sugerir filmes e séries, para destacar artigos e notícias que possam nos interessar ou recomendar músicas ou podcasts que despertem o nosso interesse. Estes sistemas também permeiam outras tarefas cotidianas, como a sugestão de rotas de viagem, ou veículos auto dirigidos, otimização de recursos e sistemas de economia de energia e a capacidade de armazenamento e suprimento de mercadorias. Mesmo que não sejamos conscientes disso, a inteligência artificial já é uma realidade e faz parte de nossas vidas quer se queira ou não.

Como Alex Hern bem colocou em seu artigo Technology in 2050: will it save humanity – or destroy us? publicado pelo The Guardian no início deste ano, “tentar fazer previsões sobre o que acontecerá nos próximos trinta anos é trabalho jogado fora.” No entanto, acompanhar as principais tendência para tentar chegar a possíveis conclusões sobre o futuro pode sim ser um exercício produtivo. Hoje, arquitetos e designers estão todos com os olhos bem abertos e concentrados em tentar descobrir como a inteligência artificial irá transformar as suas praticas profissionais ao longo das próximas décadas. Desde táxis aéreos à cidades inteligentes, a IA chegou para ficar, transformando para sempre a maneira como nos relacionamos uns com os outros e com o mundo que nos cerca.

O futuro do trabalho

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© Iwan Baan

Segundo o The Economist, 47% do trabalho realizado pelos seres humanos terá sido substituído por robôs até 2037, mesmo aqueles tradicionalmente associados à pessoas de formação universitária. Esses empregos serão perdidos, pois “o desenvolvimento da inteligência artificial, da robótica e da nanotecnologia além de outros fatores sócio-econômicos, desencadearão uma substituição em massa de trabalhos anteriormente realizados apenas por humanos.” O nosso editor de dados e conteúdo do Archdaily, Nicolás Valencia, já havia explorada este tópico mais de dois anos atrás, levantado a questão de como o desenvolvimento da automação residencial afetaria o trabalho dos arquitetos no futuro. A conclusão é que os trabalhos mais difíceis de serem substituídos são aqueles que exigem um alto nível de criatividade e interação humana, as quais demandam poucas atividades mecânicas e repetitivas. Estes serão os últimos a serem substituídos. Por outro lado, acredita-se que serão criados novos postos de trabalhos, principalmente relativos à necessidade de monitoramento e coordenação dos trabalhos desenvolvidos por máquinas e sistemas inteligentes.

À medida que nos aproximamos de uma era na qual a inteligência artificial excede a capacidade humana, levantam-se uma série de questões existenciais. Quais são as profissões que passarão a ser irrelevantes e quais são os empregos do futuro? Qual a importância daquilo que queremos estudar hoje se no futuro às máquinas vão fazer este trabalho? Será preciso definir um salário universal para combater a precarização do trabalho humano? Bill Gates, co-fundador da Microsoft, acredita que sim. “A IA é apenas a última novidade no mundo da tecnologia, algo que nos permitirá produzir muito mais com muito menos,” ele diz. A pergunta sobre como estamos trabalhamos, e no que pretendemos trabalhar, parece estar mudando a um ritmo cada vez mais assustador. Se for verdade que daqui a pouco mais de quinze anos, metade de todo o trabalho realizado por humanos será substituído por robôs ou máquinas, é muito provável que – em um cenário onde a IA será universal – quase todos os trabalhadores percam seus empregos até o ano de 2050.

Cidades inteligentes & Big Data

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© Foster + Partners

A IA e a “Internet das Coisas” estão mudando a maneira como nos relacionamos com os outros e com o mundo em que vivemos. A arquiteta Bettina Zerza tem explorado como dados e sistemas inteligentes irão transformar dramaticamente as nossas cidades no futuro. Ela afirma que micro sensores e outras tecnologia urbanas serão capazes de registrar a qualidade do ar em tempo real assim como os níveis de poluição sonora e as demandas sobre a infra-estrutura urbana em geral. Como resultado disso, teremos muito mais controle sobre como as pessoas se deslocam no espaço urbano, quais são as principais fontes de poluição em uma cidade, e como tornar os processos mais eficientes.

Hoje em dia, 55% da população mundial vive em áreas urbanas, um número que aumentará para 70% até 2050. As projeções mostram que o atual processo de urbanização poderá resultar em um acréscimo de mais 2,5 bilhões de pessoas às áreas urbanas até 2050, sendo que cerca de 90% desse aumento ocorrerá na Ásia e na África. Neste sentido, a IA poderá nos auxiliar a construir cidades mais eficientes e responsáveis, transformando a maneira como nos deslocamos, trabalhamos e nos relacionamos uns com os outros, afinal, daqui trinta anos, quem sabe estas coisa já nem existam mais.

Transporte

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Cortesia de Virgin Hyperloop One

A forma como nos deslocamos por nossas cidades já está passando por uma transformação generalizada. O trânsito está sendo adaptado aos poucos, o transporte público está se voltando cada vez mais para se transformar em um serviço de mobilidade mais centrado no usuário, nos levando a repensar as nossas próprias estruturas e infra-estruturas urbanas. Observando a a evolução dos transportes, grandes inovações e mudanças de paradigma em acontecido a cada 50 ou 70 anos ao longo dos últimos dois séculos. Dos navios e trens aos automóveis e aviões, esses avanços tecnológicos mudaram para sempre a forma como nos relacionamos com o espaço e também com o tempo.

Muito se fala atualmente sobre os sistemas Hyperloop, com a Virgin Hyperloop One e a HyperloopTT despontando como as principais empresas do futuro do transporte de pessoas na Terra. Ninguém sabe de fato o que vai acontecer até 2050, mas provavelmente tudo aquilo que hoje é fundamental na maneira como nos deslocamos por nossas cidades, irá se transformar radicalmente ou deixará de existir. Ao mesmo tempo, empresas como a Uber e a Volocopter estão apontando em direção ao céu, sugerindo que o futuro do transporte não estará mais vinculado ao chão ou até aos trilhos suspensos sobre nossas cabeças. Ambas empresas estão trabalhando no desenvolvimento dos primeiros vertiportos ou hubs aéreo do mundo. Tentando prever como serão as nossas cidades no futuro, parece que a terceira dimensão realmente poderá vir a ser uma solução transformadora.

Construção

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© Foster + Partners

O setor da construção civil tem sido um dos mais desafiadores para a inteligência artificial. A multinacional britânica Balfour Beatty, em seu artigo Innovation 2050 - A Digital Future for the Infrastructure Industry publicado em Julho de 2017, procurou fazer algumas previsões sobre o futuro da industria da construção para os próximos trinta anos. O artigo em forma de relatório apresenta uma série de conclusões: estruturas complexas serão construídas por robôs utilizando novos materiais, enquanto outros elementos serão auto-construídos, prescindindo de robôs, máquinas ou seres humanos para guiá-los. Drones serão responsáveis por inspecionar o trabalho e coletar dados para prever e resolver problemas antes mesmo que eles ocorram, enviando instruções para guindastes e escavadeiras automatizadas, sem a necessidade de envolvimento humano nos processos diretos de construção no canteiro de obras. Finalmente, isso resultaria em um processo de construção que independe da força de trabalho humana, onde o papel do construtor seria apenas de "supervisão", gerenciando os projetos remotamente.

Nesta visão de futuro, os últimos humanos a deixar o canteiro de obras estariam operando máquinas que parecem saídas de um filme de ficção científica, exoesqueletos robóticos comandados pelo poder da mente. Estas máquinas eventualmente funcionariam como um mecanismo de segurança, os perigos da construção e os acidentes de trabalho poderiam ser reduzidos a índices muito próximos de zero. Além de números, previsões e relatórios mirabolantes, suplementar - de forma generalizada - seres humanos por máquinas na indústria da construção civil, nos faz levantar questões muito mais ideológicas que apenas aquelas de cunho prático e econômico. Em termos de projeto, e de construção, isso significaria a perda de um conhecimento inato do homem e que evolui desde que saímos das cavernas e começamos a construir nossas próprias casas. Esta relação, entre o ser humano e o espaço construído, está profundamente conectada ao próprio significado tectônico da arquitetura; da milenar arte da construção.

A Singularidade 

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© Dose Media on Unsplash

Pensando no futuro, especialmente em tudo que pode vir a acontecer até 2050, muito se fala sobre o chamado momento de “singularidade” na inteligência artificial. Singularidade seria aquele momento em que os avanços tecnológicos ultrapassariam o limiar da própria inteligência artificial, quando as máquinas seriam mais inteligentes que os humanos que às criaram. E há fortes indícios que este dia chegará até o ano de 2050.

A singularidade também representaria o ponto onde a inteligência humana e a IA se fundiriam em uma coisa só. A inteligência humana passaria a ser mais um elemento integrante da IA do que algo relativo à natureza humana, construindo uma relação simbiótica onde a IA é então capacitadas pelo talento humano quanto por seu processo criativo e autônomo. Ao mesmo tempo, os humanos passaria a ser capacitados pela inteligência das máquinas. As implicações disso nas disciplinas da arquitetura e design é algo, definitivamente, muito difíceis de prever. Para colocar em outras palavras, acredita-se que seremos capaz de criar projetos que até hoje, ninguém foi, nem será, capaz de imaginar.

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© ICD-ITKE, University of Stuttgart

O fato é que a inteligência artificial também está impulsionando debates sobre a precarização do trabalho, na ética das relações de produção, assim como conceitos de receita universal e cidades inteligentes, sem falar de seus impactos diretos na maneira como concebemos e construímos nossos edifícios atualmente. Mais do que um exponencial aumento da produtividade, a Inteligência Artificial nos está fazendo repensar a maneira como vivemos e como moldamos o nosso ambiente construído. Como consequência disso, podemos imaginar novos processos criativos e novas relações sociais assim como esperamos que a IA possa nos ajudar a construir um futuro melhor.

Sobre este autor
Cita: Baldwin, Eric. "Como a inteligência artificial transformará a arquitetura até 2050" [How Artificial Intelligence Will Shape Design by 2050] 03 Jan 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/937656/como-a-inteligencia-artificial-transformara-a-arquitetura-ate-2050> ISSN 0719-8906

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