Neuroarquitetura: como o seu cérebro responde aos espaços

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Amazon Spheres em Seattle / NBBJ. Foto © Bruce Damonte Architectural Photographer

Já ouviu falar em neuroarquitetura? Como seriam os espaços se os arquitetos projetassem os edifícios baseados nas emoções, na cura e na felicidade do usuário? Hospitais que ajudam na recuperação do paciente, escolas que estimulam a criatividade, ambientes de trabalho que te deixam mais concentrado…

Isso é neuroarquitetura: projetar ambientes eficientes baseados não apenas em parâmetros técnicos de legislação, ergonomia e conforto ambiental, mas também em índices subjetivos como emoção, felicidade e bem-estar. 

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Quantas vezes você já esteve num lugar, seja um parque, um conjunto habitacional, um shopping, uma casa, um prédio e se sentiu depressivo e ansioso ou o contrário, feliz e entusiasmado? 

Me lembro que quando visitei Barcelona em 2008 e entrei numa igreja chamada Santa Maria del Mar e chorei de emoção: não queria sair dali, era um dos lugares mais aconchegantes e emocionantes que eu já tinha visitado e estar ali me deixava imensamente feliz e eu não sabia o porquê.

Com os avanços da neurociência, fica cada dia mais fácil medir esses índices e entender como formas, cores e escalas podem influenciar nas percepções humanas. Hoje já é possível utilizar aparelhos de ressonância e realidade virtual para entender como as ondas cerebrais se comportam nos espaços através de biofeedback.

Por exemplo, com um óculos de realidade aumentada, podemos mostrar o projeto ao cliente com antecedência e medir o pulso cardíaco para entender a reação dele ao ver a perspectiva.

Como surgiu?

Uma das primeiras pessoas a observar que os espaços influenciavam nas emoções foi o médico americano criador da vacina da poliomielite Jonas Salk. Na década de 50, Jonas passou um tempo na Itália e percebeu que toda vez que visita a Basílica de São Francisco de Assis, localizada na cidade de Assis e construída no século XIII, ficava mais criativo e inspirado.

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Basílica de São Francisco de Assis, Itália. Foto de Blackcat, via Wikimedia. Licença CC BY-SA 3.0

Ao retornar aos EUA em 1962, criou uma escola chamada Instituto Salk para pesquisa nas áreas de biologia molecular, genética, neurociência e biologia de plantas na cidade de La Jolla na Califórnia.

Para isso, chamou o arquiteto Louis Kahn, e pediu que o projeto fosse um misto de arte com ciência, onde a funcionalidade e a estética caminhassem lado a lado, inspirando os cientistas a fazerem pesquisa como os artistas fazem arte. Hoje o edifício do Insituto é um dos prédios mais incríveis e emblemáticos construídos no século XX.

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Instituto Salk Institute / Louis Kahn. Foto © Liao Yusheng

De fato, o eixo de caminhada entre os blocos até a praia chega a lembrar a caminhada ao altar da Basílica de Assis como tanto sonhou Salk.

Como aplicar?

Não há uma receita pronta para se aplicar neuroarquitetura, mas há alguns detalhes que podem ser observados na construção dos espaços.

Por exemplo, na acústica é importante se atentar aos sons do ambiente dependendo do tipo de projeto. Há sons da rua atrapalhando a concentração e o sono? Seria necessário o uso de materiais acústicos? Se é um ambiente de trabalho, até que ponto um escritório de coworking muito aberto atrapalha e produção?

No caso da iluminação também precisamos observar a entrada da luz no espaço. O corpo humano se sente mais confortável com a luz natural e caso seja necessário uso de muita luz artificial, que tipos de cor e intensidade da lâmpada não poderiam causa ofuscamento?

Se for uma espaço de relaxamento como um restaurante ou até uma residência, o uso de luzes amarelas que são mais aconchegantes, podem ser mais convenientes. Se for um hospital, um ambiente de cura e tratamento, talvez outras cores como azul e laranja conhecidas como renovadoras seriam mais interessantes.

Em se tratando de mobiliário, por exemplo, numa escola infantil, curvas seriam mais interessantes que quinas, que lembram perigo e medo, podendo deixar algumas crianças assustadas e reativas.

Também já se sabe que vegetação é associada à conexão com a natureza, o que, além de ajudar a elevar qualidade do ar dentro do espaço, traz mais calma para os usuários.

Quando falamos de cores sabemos que cores quentes como laranja e vermelho trazem agitação e movimento e cores frias como azul e verde, calma e serenidade. Também sabemos que contrastes de cores causam energia e cores análogas causam conforto. Então é necessário que haja um estudo muito forte da composição cromática para medir os níveis de satisfação do usuário.

Tudo vai depender do tipo de espaço, das exigências do cliente e do entorno da construção. E de fato, não há só um item a se fixar num projeto que leva em conta a neuroarquitetura, no final é o cruzamento de tudo isso: cor, luz natural, artificial, paisagismo, escala, materiais…

Quem vem se destacando

Alguns escritórios vem atuando na área de neuroarquitetura principalmente fora do Brasil, mas também existem profissionais que podem se especializar na área para fazer consultorias em projetos de outros arquitetos. Vamos conhecer alguns:

NacLab

O NacLab é um escritório fundando em Seattle especializado em neuroarquitetura, sustentabildiade e biofilia. Em sua cartela de projetos, muitos escolas e hospitais sempre centrados no usuários e nos níveis de cura, satisfação, criatividade e alegria dos clientes finais.

NBBJ

O NBBJ é um escritório também com sede em várias cidades do mundo focado em Design de Experiências em projetos que vão desde projetos urbanos até hospitais, estádios, paisagismo e escolas. Entre seus projetos mais famosos estão os escritório do Google + Samsung no Vale do Silício e escritório da Amazon em forma de esfera em Seattle.

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Amazon Spheres em Seattle / NBBJ. Foto © Bruce Damonte Architectural Photographer
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Proposta para a Sede da Samsungno Vale do Silício, por NBBJ. Cortesia do escritório

Perkins&Will

O escritório Perkins&Will existe desde 1935 e tem filiais em várias cidades do mundo, inclusive no Brasil. Atua em projetos como ambientes corporativos, comerciais e hospitalares com foco em humanidade e sustentabilidade.

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Bambu Atmosfera, por Perkins&Will. Cortesia do escritório
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Waterfront Botanical Gardens / Perkins and Will. Foto © James Steinkamp Photography

Onde estudar

Para quem deseja se especializar ou entender um poucos mais sobre neuroarquitetura, seguem algumas indicações:

NeuroArq Academy

A Academia Brasileira de Neurociência e Arquitetura, foi fundada pelas arquitetas Gabi Sartori e Priscilla Bencke, apaixonadas pela neurociência e por Arquitetura, uma parceria que iniciou através de viagens e cursos de aperfeiçoamento na área.

O objetivo é capacitar profissionais, disseminar conhecimento, desenvolver estudos, integrar múltiplas áreas em uma visão sistêmica de espaço, comportamento e bem estar. Lá você pode encontrar diversos cursos divididos por módulos específicos como som ou aromas ou até uma formação mais completa.

A NeuroArq também promove um congresso anual para tratar das pesquisas mais importantes envolvendo o assunto.

NewSchool

A NewSchool é uma escola de arquitetura e design localizada em San Diego e focada em estudos sobre sustentabilidade, neurociência e biofilia.

Na escola existem cursos de curto duração de um a dois meses, como também especializações mais completas sobre o tema. O mais conhecidos são as certificações em Neurociência para Arquitetura e Urbanismo para a Saúde que habilitam arquitetos e designer a pensar sobre a conexão do cérebro com o ambiente construído.

Via Tabulla.

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Sobre este autor
Cita: Marília Matoso. "Neuroarquitetura: como o seu cérebro responde aos espaços" 31 Mai 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/981830/neuroarquitetura-como-o-seu-cerebro-responde-aos-espacos> ISSN 0719-8906

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