O município de Cunha, localizado no estado de São Paulo, é uma região conhecida por sua paisagem interiorana, terreno montanhoso e, especialmente, uma grande produção de cerâmicas de renome nacional. É nesse contexto que o escritório messina | rivas vem atuando desde 2017, com um conjunto de projetos localizados em uma fazenda. Seu trabalho, que integra design e construção de forma indissociável, resulta em intervenções que revelam uma abordagem sensível às condições preexistentes e ao ambiente ao seu redor.
A relação entre o escritório, liderado pelos arquitetos Francisco Rivas e Rodrigo Messina, e o local começou com uma pequena reforma de uma casa de hóspedes para receber amigos. O projeto resultou na transformação de dois quartos existentes em suítes e na criação de uma cozinha externa. Desde então, as demandas crescentes e a necessidade de adaptar os edifícios existentes impulsionaram o design de outros projetos distribuídos pelo mesmo local.
Diante das forças combinadas do crescimento populacional, da prosperidade econômica e da expansão urbana, as cidades vêm registrando um aumento expressivo na circulação de pessoas e mercadorias — reflexo direto da evolução dos sistemas de mobilidade nos ambientes urbanos. Com o avanço das tecnologias e a transformação dos meios de transporte, o reaproveitamento adaptativo de vagões de trem, cabines de avião e outras infraestruturas de serviço revela novas oportunidades para explorar seu potencial criativo. Materiais, tecnologias e ferramentas de projeto convergem em torno de um mesmo propósito: restaurar e ressignificar estruturas desativadas, para dar-lhes nova vida.
Park Hill, um amplo complexo de habitação social em Sheffield, se destaca como um dos exemplos mais ambiciosos de arquitetura modernista na Grã-Bretanha do pós-guerra. Projetado em 1961 por Jack Lynn e Ivor Smith, seu conceito inovador de "ruas no céu" buscava combinar habitação de alta densidade com o espírito comunitário de bairros tradicionais. No final do século XX, o complexo enfrentava uma profunda negligência, marcada por problemas sociais e degradação estrutural que comprometeram tanto sua funcionalidade quanto sua reputação. Gradualmente, Park Hill tornou-se sinônimo de fracasso do modernismo, carregando um pesado estigma social e marginalizando seus moradores. A partir dos anos 2000, começaram esforços significativos para reverter essa narrativa por meio de um processo de revitalização em duas fases. Na primeira fase, liderada pela Urban Splash, em colaboração com os escritórios Hawkins\Brown e Studio Egret West, a abordagem focou na preservação e valorização dos elementos históricos do edifício, introduzindo intervenções modernas para criar um espaço habitável, funcional e atrativo. Essa etapa demonstrou o potencial da reutilização adaptativa em revitalizar comunidades e resgatar ícones arquitetônicos. A segunda fase da renovação, conduzida pelo escritório Mikhail Riches, buscou expandir esse trabalho inicial, introduzindo novos elementos que aprofundaram a conexão entre os espaços existentes e a vida contemporânea. Com uma abordagem que uniu sensibilidade histórica e inovação arquitetônica, Mikhail Riches deu continuidade ao processo de transformar Park Hill em um exemplo emblemático de como a arquitetura modernista pode ser adaptada às necessidades atuais sem perder sua identidade original.
A fachada de concreto exposta foi cuidadosamente restaurada, janelas com eficiência energética substituíram unidades obsoletas e paineis de alumínio de cores vivas animaram o exterior. Os apartamentos foram reconfigurados para atender aos padrões modernos com plantas abertas, enquanto espaços compartilhados como pátios e centros comunitários foram revitalizados para promover a interação social. Medidas de sustentabilidade, incluindo cobertura verde e isolamento aprimorado minimizaram a pegada ambiental, mantendo o caráter brutalista icônico do projeto ao mesmo tempo em que criavam uma vibrante comunidade de uso misto de unidades residenciais, escritórios, espaços de varejo e locais culturais. O projeto destaca o potencial de reutilização adaptativa de projetos modernistas, algo que também carrega enormes desafios, sobretudo em termos programáticos e de materiais e soluções construtivas.
Reconhecido como uma prática essencial na arquitetura contemporânea, o retrofit vem ganhando destaque ao combinar os benefícios da revitalização de edifícios existentes — sem a necessidade de demolição — com diversas vantagens econômicas e sociais. Essa abordagem tem se consolidado no campo arquitetônico, tanto por meio de exemplos icônicos quanto por iniciativas públicas e privadas.
O Coliseu Romano é indiscutivelmente o local versátil mais icônico do mundo. Embora essa estrutura não tenha sido projetada para atividades esportivas, sediou diversos eventos, desde os conhecidos combates de gladiadores até performances teatrais e a dramática naumachia (batalhas navais). Isso demonstra que o uso flexível do espaço é relevante desde os tempos antigos. Séculos depois, no contexto do sempre mutável ambiente construído e desenvolvimento urbano, os locais esportivos também evoluíram, tornando-se exemplos notáveis de espaços multifuncionais.
Esses complexos atléticos se transformaram de locais altamente especializados em estruturas dinâmicas e multifuncionais. Seja sediando grandes eventos internacionais, como os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, ou servindo como pontos de encontro para comunidades locais, esses espaços encontram um delicado equilíbrio entre atender às necessidades de esportes específicos e manter a flexibilidade para acomodar uma variedade de atividades. Como essas funções diversas coexistem e se interconectam? Esta análise explorará como as instalações esportivas são configuradas como centros flexíveis para outras disciplinas e atividades do dia a dia.
https://www.archdaily.com.br/br/1020514/de-conchas-de-madeira-a-paineis-de-policarbonato-os-materiais-que-moldam-espacos-esportivos-flexiveisEnrique Tovar
No entanto, embora seu caráter hermético possa parecer um obstáculo para a adaptação a novas funções, o que se tem observado nas últimas décadas são iniciativas as quais valorizam essas estruturas, integrando-as à dinâmica urbana e destacando sua importância como parte da memória coletiva local.
Para as cidades, sediar um evento olímpico é uma honra e uma oportunidade significativa de crescimento, mas também representa um desafio importante. Com mais de 200 nações participando dos Jogos, eles se destacam como a maior competição esportiva do mundo. No entanto, adaptar a infraestrutura pública e esportiva para acomodar o aumento repentino de pessoas e a escala desses eventos pode resultar em problemas após o encerramento, como estruturas subutilizadas conhecidas como "elefantes brancos". Apesar disso, as Olimpíadas incentivam transformações urbanas, levando as cidades a investir em melhorias em transporte, moradia e espaços públicos. Um exemplo marcante é Paris, que inaugurou sua primeira linha de metrô durante a segunda edição dos Jogos Olímpicos, em 1900.
Quando se trata dos locais olímpicos, surge o desafio da reutilização adaptativa: a arquitetura precisa encontrar maneiras de transformar esses espaços, inicialmente projetados para acomodar milhares de pessoas durante os Jogos, de modo a se tornarem parte sustentável da oferta esportiva da cidade após o evento. Em várias partes do mundo, alguns desses locais têm conseguido prolongar sua utilidade além do encerramento dos jogos, integrando-se às comunidades locais e oferecendo uma variedade maior de eventos esportivos e de lazer. Apesar dos altos custos de construção, muitos desses espaços se tornaram ícones da identidade local e atrações turísticas populares, continuando a ser utilizados décadas após receberem as multidões olímpicas.
Em fevereiro deste ano, a rede hoteleira americana MCR Hotels adquiriu a icônica BT Tower em Londres. A torre, que está incluída na lista de patrimônio local, se localiza em Fitzrovia, no coração de Londres, e é um símbolo do passado recente da cidade. Anteriormente conhecida como Torre de Telecomunicações Britânica e Torres dos Correios, a BT Tower será transformada pelo Heatherwick Studio.
Nas últimas décadas, o termo "reuso adaptativo" ganhou enorme popularidade como uma abordagem de construção ecológica. Mas e se houvesse algo mais poético em reestruturar um espaço e suas histórias para novos usuários? Estes arquitetos mostram que fachadas, paredes e texturas antes consideradas descartáveis podem obter novos significados por meio de combinações ousadas e inteligentes. Essas adaptações exibem com orgulho suas conversões e camadas de pátina histórica sob elas, como um distintivo de honra e falam da permanência dos edifícios e de sua impermanência no uso e na interpretação. Por meio de movimentos formais sutis e escolhas materiais audaciosas, eles transformaram estruturas que de outra forma teriam sido demolidas e as reimaginaram de maneiras novas e intrigantes.
À medida que as cidades crescem e evoluem, surge a questão de preservar, reabilitar ou adaptar locais históricos. A intervenção em tais edifícios requer um delicado equilíbrio entre honrar sua patrimônio e atender às demandas contemporâneas. Muitas vezes, as soluções mais inovadoras e radicais surgem quando os arquitetos tentam renovar um prédio mantendo sua pegada original e o máximo possível de suas características. Em seguida, eles criam extensões modernas que tanto harmonizam quanto contrastam com a estrutura original. Esta abordagem não apenas revitaliza o edifício, mas também celebra a sinergia entre o passado e o presente, incluindo materiais, tecnologia de construção, movimentos arquitetônicos, histórias e qualidade geral do edifício. A sobreposição de elementos antigos e novos por meio de harmonia ou contraste requer uma abordagem inteligente e sensível que confere ao edifício uma estética única e um novo significado.
Renderização "Retrofit de torres de escritórios como bairros verticais". Imagem cortesia de HOK
Edifícios de escritórios desocupados em grandes cidades dos EUA estão levando seus centros urbanos a uma chamada "espiral de destruição urbana". Com a adoção generalizada do trabalho híbrido, o fluxo de trabalhadores de escritório nos distritos comerciais centrais diminuiu drasticamente. Como resultado, os negócios de varejo e restaurantes nessas áreas estão enfrentando dificuldades, os sistemas de transporte urbano estão perdendo passageiros e os governos municipais estão lidando com a perda de receita tributária necessária para manter a segurança pública e o saneamento. Então, como as cidades podem trazer as pessoas de volta aos seus distritos comerciais centrais? À medida em que as discussões sobre a transformação de escritórios em moradias têm dado frutos, com incentivos significativos das cidades e do governo federal nos Estados Unidos, quais soluções existem para escritórios que não são viáveis para tais conversões?
Um símbolo da era industrial, o telhado em shed é um ícone na história da arquitetura. Apesar de ser uma invenção funcional originada da necessidade há quase 200 anos, sua forma icônica está passando um renascimento em diversos projetos contemporâneos.
Composto por muitos telhados longos e finos, cada um com inclinações irregulares, dispostos lado a lado, o telhado serrilhado posiciona suas bordas mais íngremes - preenchidas com painéis de vidro - afastadas do cume. Essa estratégia permite que edifícios amplos controlem o ganho solar, evitando a luz solar direta, ao mesmo tempo, em que proporciona uma entrada uniforme de luz natural indireta em toda a área interna.
Cidades contemporâneas e assentamentos urbanos se manifestam como estruturas intricadas que exigem reflexão profunda e uma abordagem cuidadosa. Os modelos sociais e layouts espaciais estão em constante evolução, transformando-se ao longo do tempo. Nesse contexto, surge uma pergunta crucial: qual é o modelo predominante para as cidades hoje? Muitas cidades contemporâneas resultam de um paradigma que atingiu seu apogeu no século XIX, caracterizado pela densificação intensiva e urbanização em resposta a necessidades que nem sempre refletiam seus habitantes.
Em alguns casos, devido às transformações vivenciadas pelas grandes cidades, certos setores urbanos caíram em desuso, tornando-se espaços residuais ou afastando-se de propósitos orientados para o desenvolvimento comunitário. Reconhecendo que as pessoas são a força motriz por trás das dinâmicas das cidades e assentamentos humanos, é imperativo reivindicar esses espaços. Para isso, abordagens teóricas como a proposta por Henri Lefebvre do direito à cidade e a cidade dos 15 minutos são apresentadas como alternativas. Nesses casos, as pessoas retomam o foco, tornando-se elementos-chave no design e permitindo o restabelecimento de um vínculo comunidade-pessoa-espaço.
https://www.archdaily.com.br/br/1012514/reativando-espacos-publicos-residuais-com-projetos-liderados-pela-comunidadeEnrique Tovar
A arquitetura informal é o modo dominante de urbanização em cidades de rápido crescimento e industrialização em todo o mundo. Em Délhi, cidade com a maior população da Índia, metade de seus moradores vive em assentamentos informais. Lagos, na Nigéria, com uma população de mais de 22 milhões, também tem 60% de seus moradores vivendo em assentamentos informais. Esse padrão também é observado no Cairo, Johannesburg, Kinshasa e outras cidades do sul global que enfrentam desafios semelhantes de desigualdade e escassez de moradias. À medida que sua população cresce e a urbanização avança, a exploração da arquitetura informal para atender à demanda por moradias acessíveis e serviços básicos só aumentará.
A biblioteca de projetos da ArchDaily é gerenciada por nossos curadores, que buscam constantemente enriquecer nossa seleção com as obras mais interessantes, evidenciando enfoques e critérios distintos e inclusivos. Este ano, começamos a destacar as escolhas de nossa equipe de curadoria na conta do ArchDaily no Instagram, onde nossos curadores lançam luz sobre alguns projetos que abordam temas interessantes e características únicas.
Locais bonitos com vistas incríveis ao longo das orlas de grandes cidades são frequentemente negligenciados devido aos vestígios industriais de uma economia passada baseada no transporte marítimo e manufatura. A transição desses setores econômicos e o potencial desses locais têm levado à adaptação desses espaços para uso público. Enquanto algumas cidades optaram por demolir e começar completamente do zero, a transformação do Brooklyn Bridge Park na orla marítima da cidade de Nova York incluiu a preservação de parte de seu caráter industrial. No livro "Brooklyn Bridge Park", os arquitetos do escritório Michael Van Valkenburgh Associates discutem seu processo projetual que incorporou a materialidade e as estruturas existentes dos píeres para contar a história do lugar.
Comunidades locais vão além de simples conjuntos de edificações e infraestrutura. Elas carregam consigo um caráter arquitetônico distinto, refletindo sua história, cultura e valores. Nossa revisão anual aprofunda-se nas narrativas mais marcantes que exploram a identidade arquitetônica de diversas comunidades locais.
Essas histórias abordam uma variedade de temas, desde territórios geográficos singulares, assentamentos culturais, marcos icônicos até colaboração comunitária e planejamento urbano socioecológico. Através dessas narrativas, desvendamos as fascinantes histórias por trás das construções e espaços públicos que dão forma a cidades e vilarejos específicos.
O Museu Sir John Soane anunciou o escritório francês Lacaton & Vassal como vencedor da Medalha Soane 2023. O prêmio reconhece o trabalho do escritório ao longo de mais de três décadas. Por meio de uma abordagem de projeto honesta, o escritório se tornou conhecido pelo aproveitamento eficiente de materiais e estruturas existentes, priorizando as necessidades dos moradores e das comunidades locais. Por essas mesmas qualidades, o escritório foi também reconhecido com o Prêmio Pritzker 2021.