Contraste ou harmonia: a estética das adaptações modernas em edifícios históricos

À medida que as cidades crescem e evoluem, surge a questão de preservar, reabilitar ou adaptar locais históricos. A intervenção em tais edifícios requer um delicado equilíbrio entre honrar sua patrimônio e atender às demandas contemporâneas. Muitas vezes, as soluções mais inovadoras e radicais surgem quando os arquitetos tentam renovar um prédio mantendo sua pegada original e o máximo possível de suas características. Em seguida, eles criam extensões modernas que tanto harmonizam quanto contrastam com a estrutura original. Esta abordagem não apenas revitaliza o edifício, mas também celebra a sinergia entre o passado e o presente, incluindo materiais, tecnologia de construção, movimentos arquitetônicos, histórias e qualidade geral do edifício. A sobreposição de elementos antigos e novos por meio de harmonia ou contraste requer uma abordagem inteligente e sensível que confere ao edifício uma estética única e um novo significado.

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Tate Modern Switch House por Herzog & de Meuron. Imagem © Jim Stephenson

Ao adaptar um edifício histórico, é crucial determinar o que pode ser preservado e o que precisa ser renovado para garantir que a estrutura seja funcional, esteticamente equilibrada e atenda aos requisitos modernos. Esse processo pode ser melhor compreendido a partir de uma base teórica e princípios específicos que orientam a adaptação de design.

De acordo com Ilyanenko e Panteleeva, existem três métodos formais e composicionais principais para integrar novos edifícios em um ambiente histórico: simbiose ou fusão da nova estrutura com o entorno histórico, adaptação da nova estrutura ao ambiente e contraste. Os dois primeiros métodos são semelhantes, envolvendo a incorporação de uma nova estrutura ou parte de uma estrutura histórica na composição arquitetônica existente de forma a complementar o conjunto geral. No entanto, devido ao uso de novas tecnologias, métodos de construção e materiais em adaptações modernas, o contraste muitas vezes é inevitável. O objetivo desses designs adaptados é harmonizar o contraste ou abraçá-lo para alcançar sinergia com a estrutura mais antiga.

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Igreja Católica Alemã da Santíssima Trindade, Boston

O processo de harmonizar novas estruturas com edifícios históricos envolve explorar as camadas corretas de altura dos prédios, preservar o caráter da linha da silhueta, manter proporções e similaridade de formas, e garantir a organização rítmica, natureza e escala das divisões horizontais e verticais. Também inclui o desenho de elementos arquitetônicos, bem como considerar cor e textura na decoração.

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Cúpula de Vidro do Novo Parlamento Alemão, Reichstag por Foster + Partners. Imagem © Harshiitart, licensed under CC BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons

Norman Foster demonstrou essa abordagem em 1995 ao reconstruir o antigo prédio do Reichstag, que foi originalmente construído no final do século XIX no estilo neorrenascentista. O arquiteto preservou a aparência histórica do prédio do Reichstag ao adicionar uma cúpula ultramoderna acima dele. A forma, tamanho e padrão da cúpula foram cuidadosamente projetados para manter as proporções existentes dos elementos mais antigos do edifício. Apesar de ser uma estrutura transparente feita de vidro e aço, que contrasta com a solidez das paredes de pedra do Reichstag, a forma da cúpula se encaixa harmoniosamente com as proporções dos elementos no prédio. O padrão das colunas da cúpula complementa as divisões horizontais e verticais da fachada existente. Além disso, do interior, as rampas e o funil cônico dentro da cúpula ampliam e expandem o volume do parlamento. O prédio, que simboliza uma Berlim unida, exemplifica uma estética harmoniosa de adaptação moderna a uma estrutura histórica.

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Novo Parlamento Alemão, Reichstag por Foster + Partners. Imagem © Matthew Field, licensed under GFDL 1.2 via Commons

Quando comparada a um edifício como a Tate Modern Switch House, uma adaptação bem planejada pode complementar a materialidade e contrastar a forma do prédio para criar uma estética harmoniosa com a estrutura histórica. A Extensão, projetada por Herzog & de Meuron, fez parte da transformação da histórica Bankside Power Station em um espaço para a coleção de arte contemporânea do Reino Unido. Apresentando uma forma torcida que contrasta com o edifício mais antigo, a extensão utiliza a materialidade de tijolos da usina elétrica original em todas as suas superfícies, alcançando uma estética harmoniosa. Isso cria uma sinergia complementar entre o caráter do edifício antigo e o novo.

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Tate Modern Switch House por Herzog & de Meuron. Imagem © Jim Stephenson

No século XXI, temos presenciado o surgimento de um design que abraça o contraste nas adaptações modernas de edifícios históricos. Essa abordagem visa destacar os elementos recém-construídos ao apresentá-los em escala, proporção, ritmo, materialidade e textura diferentes em comparação com a estrutura mais antiga. O objetivo é realçar o momento específico em que a nova adaptação foi concebida e enfatizar os avanços tecnológicos na construção durante esse período, resultando em uma estrutura visualmente marcante.

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Museu de História Militar de Dresden, do Studio Libeskind. Imagem © Novarc Images / Alamy Stock Photo

Em um artigo intitulado "O Método do Contraste da Arquitetura Moderna no Ambiente Histórico da Cidade", a autora Pronina destaca as características das adaptações contrastantes radicais. Isso inclui suportes inclinados, paredes com ângulos agudos ou curvas, telhados que desafiam suas definições tradicionais, consoles excepcionalmente longos, recortes ou incorporações de formas não convencionais, e o uso de materiais pesados como pedra natural e cerâmica em fragmentos de construção não convencionais. Além disso, há a desconsideração pela escala arquitetônica tradicional, desafiando a percepção do tamanho natural do edifício, e a utilização de ilusões ópticas. Essas técnicas representam o núcleo do deconstrutivismo, criando um contraste vívido com o ambiente familiar.

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Museu de História Militar de Dresden, do Studio Libeskind. Imagem © Bitter Bredt Courtesy of Holzer

Entretanto, esse método cria uma sinergia e equilíbrio na estrutura ao destacar dois momentos distintos no tempo. Um exemplo notável é a reconstrução do Museu de História Militar em Dresden, Alemanha. Originalmente construído no estilo neoclássico no final do século XIX, o arquiteto Libeskind introduziu ideais de deconstrutivismo ao incorporar uma nova estrutura de vidro que atravessa o prédio histórico. Isso resultou em um elemento arquitetônico contrastante que se tornou uma nova parte do museu. De acordo com Pronina, a fachada clássica do edifício histórico, conhecida por sua simetria rigorosa e proporções harmoniosas, foi perturbada por uma cunha de vidro, metal e concreto em formato afunilado de cinco andares. A imagem arquitetônica resultante instiga à reflexão sobre o papel destrutivo da guerra na história humana.

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Edifício no Porto de Antuérpia por Zaha Hadid Architects. Imagem © Hufton+Crow

Uma abordagem semelhante pode ser vista no Edifício no Porto de Antuérpia, projetado pelo escritório Zaha Hadid Architects. O projeto reutiliza, renova e amplia uma antiga estação de bombeiros abandonada para servir como a nova sede do porto. Em contraste com o edifício existente rigidamente simétrico, Zaha Hadid introduziu invenção, complexidade, geometria não euclidiana e uma nova estrutura que se eleva sobre a clássica. A extensão cria um contraste em termos de forma, padrão, materialidade e caráter. O espaço interior também reflete esse contraste, pois as funções dos volumes novos e antigos são distintamente separadas. Os elevadores enfatizam ainda mais a sensação de dois edifícios diferentes. O novo volume "flutua" sobre a estrutura antiga, respeitando cada uma das fachadas antigas e adicionando uma sensação de verticalidade ao design geral, alcançando uma sinergia.

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Edifício no Porto de Antuérpia por Zaha Hadid Architects. Imagem © Tim Fisher

Na busca por criar adaptações modernas de edifícios históricos, o contraste inevitavelmente estará presente. O desafio está em encontrar o equilíbrio entre abraçar esse contraste no processo de design ou harmonizá-lo com a estrutura original. Combinar elementos arquitetônicos que podem parecer incompatíveis à primeira vista do ponto de vista da composição histórica é uma tarefa artística desafiadora. O resultado de tal combinação é percebido de forma ambígua e subjetiva por diferentes indivíduos.

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A União dos Arquitetos Romenos, Bucareste, Romênia. Imagem © Milan Maksovic/Getty Images

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Sobre este autor
Cita: Yakubu, Paul. "Contraste ou harmonia: a estética das adaptações modernas em edifícios históricos" [Contrast or Harmony: The Aesthetic of Modern Adaptations to Historic Buildings] 22 Fev 2024. ArchDaily Brasil. (Trad. Simões, Diogo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1013445/contraste-ou-harmonia-a-estetica-das-adaptacoes-modernas-em-edificios-historicos> ISSN 0719-8906

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