Como projetar para a informalidade?

A arquitetura informal é o modo dominante de urbanização em cidades de rápido crescimento e industrialização em todo o mundo​. Em Délhi, cidade com a maior população da Índia, metade de seus moradores vive em assentamentos informais. Lagos, na Nigéria, com uma população de mais de 22 milhões, também tem 60% de seus moradores vivendo em assentamentos informais. Esse padrão também é observado no Cairo, Johannesburg, Kinshasa e outras cidades do sul global que enfrentam desafios semelhantes de desigualdade e escassez de moradias. À medida que sua população cresce e a urbanização avança, a exploração da arquitetura informal para atender à demanda por moradias acessíveis e serviços básicos só aumentará.

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Município informal nos arredores da Cidade do Cabo, África do Sul. Imagem © Finn stock/Shutterstock

Comumente, o trabalho de um arquiteto está dentro do âmbito formal. Isso envolve criar uma estrutura onde há falta dela, encontrar soluções para problemas, dar forma a contextos que estão faltando e consertar o que é considerado débil. No entanto, a informalidade desafia essa perspectiva de projeto. Ela se manifesta como formas espaciais efêmeras e transitórias que negociam e se adaptam continuamente, muitas vezes parecendo caóticas. À medida que as cidades crescem rapidamente e lutam para se adaptar às mudanças, a informalidade se torna onipresente, expandindo os limites da arquitetura para além dos espaços físicos. Ela abrange processos espaciais, sociais, culturais, tradicionais e urbanos. Não importa o quão bem planejada seja uma cidade, espaços informais, como casas, lojas e áreas públicas, inevitavelmente surgirão, moldando o próprio urbanismo. Portanto, é necessário adotar uma perspectiva sobre a informalidade e compreender as necessidades de projeto que dela surgem.

As qualidades da informalidade não se limitam às suas manifestações físicas, mas também abrangem seus processos espaciais, sociais, culturais, tradicionais e urbanos subjacentes. Ao invés de uma ausência de regras, a informalidade representa negociação, tentativa e erro e atualização contínua ao longo do tempo - Felix Heisel & Bisrat Kifle


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AHMEDABAD, GUJARAT/ INDIA-SEPTEMBER 29 : Bazar Gujari em 29 de setembro de 2013 em Ahmedabad. Imagem © Pranav Gandhi/Shutterstock

Reuso Adaptativo

Uma característica fundamental da arquitetura informal é a tendência em ser multifuncional. Arquitetos como Lucien Kroll descobriram que unidades monofuncionais de informalidade permanecem sem uso. Ele destacou o comportamento da informalidade como sistemas complexos adaptativos, nos quais padrões dinâmicos e imprevisíveis de auto-organização emergem dentro de certos níveis de resiliência ou vulnerabilidade. Projetar para a informalidade deve espelhar esse comportamento, moldando espaço e lugares com tendência a se transformar e acomodar múltiplos programas, mesmo aqueles além do escopo do arquiteto. Em um nível urbano, a teoria de Jacobs (1961) se opôs ao pensamento monofuncional, hierárquico e descendente do planejamento modernista para acomodar a informalidade, destacando a importância da vida nas calçadas, conectividade pedonal e diversidade para permitir que elementos informais como mercados de rua se estabeleçam, se adaptem e negociem acordos com o formal.

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Colagem de materiais e reutilização. Imagem © Cesar Murillo

Padrões informais desenvolvidos como bases sociais e não como bases físicas

O capital social informal serve como base para a arquitetura informal. Os espaços públicos em assentamentos informais, onde os próprios residentes criam seus espaços, não apenas refletem suas necessidades, mas também sua identidade. Ao envolver a comunidade no processo de projeto em vez de depender exclusivamente de profissionais, o processo informal pode revelar insights valiosos sobre a comunidade responsável por esses espaços. As indicações sociais e a identidade comunitária dos residentes influenciam diretamente na criação desses espaços, adicionando a eles valores sociais que podem inspirar o desenvolvimento de espaços físicos. Os arquitetos podem replicar essa abordagem colaborando diretamente com a comunidade, aproveitando suas habilidades e ideias para criar espaços públicos sociais que estabelecem as bases para a arquitetura informal.

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Espaço público Tapis Rouge em um bairro informal no Haiti. Imagem © Gianluca Stefani

Colaboração dos usuários

Projetar para a informalidade também envolve reconhecer o papel que a arquitetura pode desempenhar em uma abordagem na qual as pessoas têm a capacidade de criar seus próprios espaços. Nesse contexto, o papel do projeto se limita a criar elementos que os usuários possam montar para formar espaços e lugares.

Por exemplo, na escala do desenho urbano, uma rua não é simplesmente uma coleção de elementos individuais. É a interconexão de prédios, casas, lojas, placas, policiais, consumidores, carros, vendedores ambulantes, calçadas, mercadorias e carrinhos que compõem a rua. O desenho de estruturas que são facilmente montadas e desmontadas reflete a natureza informal desses espaços. Isso permite flexibilidade, transitoriedade e a capacidade de se adaptar às necessidades do usuário, aparecendo e desaparecendo no espaço urbano enquanto assumem novas formas a cada dia.

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Projetos de Arquitetura Comunitária na Selva Peruana. Imagem © Cortesía de ConstruyeIdentidad

Infraestrutura para orientar o padrão e o desenvolvimento de assentamentos informais

Os assentamentos informais estão localizados em áreas que carecem de alguma ou todas as infraestruturas sociais básicas, como água encanada, esgoto, boas redes viárias e eletricidade. A melhoria de um assentamento informal envolve o fornecimento dessas infraestruturas básicas e serviços, o que pode elevar a qualidade de vida dos moradores. No entanto, é importante considerar o impacto dessas melhorias nos domicílios de baixa renda. Elas têm potencial de aumentar os preços dos terrenos e das casas, o que pode restringir o acesso a moradias acessíveis. Pesquisas mostram que infraestruturas básicas como água encanada, energia, assistência médica e acessibilidade comunitária são as instalações mais importantes para os moradores de assentamentos informais. Fornecer estrategicamente essas instalações por meio de design participativo pode impactar diretamente o padrão de crescimento dos assentamentos informais.

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Assentamentos informais no subúrbio de Bandra - Mumbai, Maharashtra, Índia. Imagem © Dmitry Rukhlenko/Shutterstock

Produção Gradual do Espaço Urbano

Uma diferença fundamental em relação a um processo de construção formal é que o tamanho de cada adição é muito menor e há um maior número de adaptações. Os assentamentos informais, que são caracterizados por morfologia e espacialidade emergentes, são produzidos por meio desses processos de adaptação gradual. A construção nesses assentamentos muitas vezes é improvisada, mas sempre há uma lógica espacial e muitas vezes níveis significativos de engenhosidade de projeto, à medida que diferentes formas de subsistência são apoiadas por meio do desenho e da construção. Embora cada adição represente uma forma de melhoria, sem as restrições de regulamentos formais de desenho e planejamento, essas adaptações podem se transformar em condições precárias. Projetar para a informalidade envolve considerar as maneiras pelas quais os moradores estendem e renovam edificações em escalas microespaciais e identificar adições típicas, como 'estender', 'anexar', 'substituir', 'dividir', 'conectar' e 'preencher'.

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Projeto gradual. Imagem © Johanna Hoffman and Karl Kullmann

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Sobre este autor
Cita: Yakubu, Paul. "Como projetar para a informalidade?" [How Do You Design for Informality?] 16 Jan 2024. ArchDaily Brasil. (Trad. Ghisleni, Camilla) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1012116/como-projetar-para-a-informalidade> ISSN 0719-8906

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