Em julho de 2023, aproximadamente um terço dos 45 leitos do Centro de Queimaduras de Phoenix, Arizona, estavam ocupados por pessoas que haviam se queimado gravemente ao cair nas ruas asfaltadas da cidade. Alertas foram divulgados avisando a população do perigo do calor extremo que, entre outras consequências, fez com que a temperatura do asfalto, concreto e calçadas chegasse a 82°C em uma tarde de verão, atingindo um nível pouca coisa abaixo do ponto de ebulição. Segundo o diretor do hospital, pode levar apenas uma fração de segundo para se obter uma queimadura bastante grave ao encostar nessas superfícies, o que tem acontecido tanto devido a simples tropeços ao caminhar na rua, quanto a desmaios causados também pelo calor.
É penoso constatar, mas neste momento de drásticas mudanças climáticas, nosso modelo de cidade tem se mostrado um empecilho que fere gravemente seus próprios moradores.
Há muito tempo já sabemos dos benefícios dos espaços verdes urbanos, do contato com a natureza, com a água, com a terra, das vantagens relacionadas a saúde e ao bem-estar da população que convive com parques nos arredores de suas casas. Uma questão ainda mais reforçada depois de todo o pânico que foi instaurado durante o período da pandemia de Covid-19. Mas o momento em que estamos vivendo traz à tona novamente o impacto dos nossos modelos urbanos na vida contemporânea que lida agora com temperaturas extremas nunca antes vistas.
A previsão para o futuro não é nada animadora. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que, se nada for feito, chegaremos a 2100 com uma temperatura média 3,7 Cº acima do período pré-revolução industrial, condenando ecossistemas inteiros e, pelo visto, nossa vivência nas cidades também. Em tal contexto, nós como arquitetos e urbanistas, - entre muitas outras responsabilidades de cunho ambiental - carregamos o compromisso de adaptar nossas cidades a essa nova realidade.
Entendendo a dimensão do desafio, ao longo dos últimos anos dentro do ArchDaily, procuramos abordar o tema desde diferentes perspectivas. Entre os artigos mais recentes sobre a questão, o texto Como adaptar cidades para o calor extremo trouxe estratégias interessantes para lidarmos com essa situação como a importância dos espaços vegetados, a valorização de antigas técnicas de resfriamento, o uso de pinturas claras, etc. Outro artigo de destaque trouxe à tona a ideia dos oásis urbanos como pontos de combate ao estresse térmico que o calor gera àqueles que estão no espaço público - não somente pessoas em situação de rua, mas também pedestres que passam horas em trânsito pela cidade.
De qualquer forma, independente da estratégia aplicada ou da escala da intervenção, um fato está claro: precisamos olhar para as nossas cidades e criar espaços resilientes às mudanças climáticas que simbolizem qualidade de vida em vez de riscos à integridade física dos seus habitantes.
Com esse desafio em mente, apresentamos a seguir uma lista de projetos urbanos que servem como modelo de espaços públicos preparados para lidar com um planeta superaquecido oferecendo aos seus usuários superfícies vegetadas, materiais naturais, elementos de água e grandes áreas sombreadas.