O escritório [entre escalas], fundado pela arquiteta Marina Canhadas em 2018, nasce da interseção entre prática profissional, pesquisa acadêmica e experiências internacionais. Com uma trajetória marcada por concursos, colaborações e passagens por escritórios no Brasil e no México, Marina consolidou uma abordagem que valoriza a atenção ao contexto e à história das edificações, especialmente em projetos que lidam com preexistências, uma das principais frentes do escritório.
A atuação do [entre escalas] se destaca pela sensibilidade com que lida com o tempo e a memória dos edifícios. Reformas em sobrados antigos, como a Casa Saracura e a Casa Apiacás, revelam uma espécie de arqueologia arquitetônica que busca resgatar técnicas, materiais e até mesmo fluxos naturais originais, reinterpretando tais elementos a partir de novas possibilidades de uso e conexão com o entorno. O gesto de remover camadas — físicas e simbólicas — é visto como uma forma de revelar histórias ocultas e conectar passado e futuro.
Em um momento de profundas mudanças sociais, espaciais e culturais, a 12ª edição do Arquiteturas Film Festival convida a refletir sobre como as fronteiras — físicas e simbólicas — moldam o ambiente construído, influenciam o cotidiano e as dinâmicas coletivas. Que papel têm a arquitetura e o pensamento urbano para entender esse mundo em transformação?
Desde que passou a ser organizado pelo centro cultural INSTITUTO em 2021, o festival se firmou como uma plataforma crítica que une cinema, arquitetura e práticas espaciais para discutir temas urgentes. Nos últimos anos, abordou migração, crise ecológica, descolonização e novos modos de habitar. Em 2025, o foco é a 'fronteira' em suas múltiplas dimensões.
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A presença da inteligência artificial (IA) na arquitetura não é mais uma promessa futurista, mas uma realidade concreta que transforma radicalmente o modo de projetar. Em questão de segundos, sistemas computacionais são capazes de processar e validar múltiplas variáveis — formais, programáticas, contextuais, normativas — conduzindo arquitetos a soluções altamente otimizadas. Contudo, enquanto celebramos essa revolução algorítmica, emerge uma inquietação crítica: será que a inteligência arquitetônica pode ser limitada a uma operação lógica de dados? Em resposta, ganham força abordagens que revalorizam modos de construir baseados na experiência sensível, na adaptação ao território e na transmissão intergeracional de conhecimento. Nesse diálogo entre inteligências artificiais e ancestrais, emerge uma compreensão mais profunda. A verdadeira inteligência não reside nas ferramentas em si, mas na intencionalidade e na sensibilidade com que as utilizamos para responder às complexidades do contexto.
Na semana passada, anunciamos os 15 finalistas do Prêmio ArchDaily Brasil Obra do Ano 2025, um prêmio que celebra o melhor da arquitetura lusófona, convidando nossos leitores a escolherem seus projetos favoritos construídos nos países de língua portuguesa. Chegou o momento de conhecer os três grandes vencedores!
O que um bacalhau pode oferecer à arquitetura? Ou melhor, que lições sobre meio ambiente e assentamentos humanos podemos aprender com a história da pesca? É esta improvável questão que está por trás do livro Arquitetura do Bacalhau, de André Tavares e Diego Inglez de Souza, publicado pela Dafne Editora e recentemente lançado no Brasil.
Na entrevista a seguir, conversamos com Tavares sobre as infraestruturas ligadas à pesca do bacalhau e sua relação com o território, o trabalho e a produção arquitetônica. A partir de uma abordagem original — que conecta arquitetura, ecologia, fisiologia dos peixes e história industrial —, os autores propõem uma leitura do espaço construído ancorada nos ecossistemas que o sustentam. Longe de ser um olhar nostálgico sobre o passado, a pesquisa aponta para a urgência de repensar a arquitetura no contexto das transformações ambientais em curso, evidenciando como as construções humanas moldam e são moldadas pelos ecossistemas naturais marinhos.
É com prazer que anunciamos os projetos finalistas do Prêmio ArchDaily Brasil Obra do Ano 2025. Após duas semanas de indicações, foram selecionadas as obras mais votadas entre centenas de projetos construídos em países de língua portuguesa. Nosso júri, formado por milhares de leitoras e leitores, desempenhou mais uma vez um papel fundamental na curadoria desta seleção, resultando em uma lista de 15 projetos notáveis.
A partir de hoje até 9 de abril às 23h59 (GMT-3), é possível votar uma vez por dia nos finalistas — os melhores exemplos da arquitetura lusófona contemporânea. O resultado será divulgado no dia 10 de abril.
"Sentir-se em casa" é uma expressão que representa as sensações de acolhimento e conforto as quais transformam um espaço em um verdadeiro refúgio. Para alcançar essa experiência, diversos elementos — como cores, texturas, iluminação e materiais — desempenham um papel essencial, construindo um ambiente que promove relaxamento e bem-estar. Apoiado por estudos no campo da psicologia ambiental e neurociência, esse vínculo entre o ambiente físico e o comportamento humano evidencia como a arquitetura influencia diretamente a criação de atmosferas podendo, inclusive, transformar o caos em tranquilidade.
A forma como os espaços são percebidos e vivenciados vai muito além da estética—eles influenciam diretamente as emoções, pensamentos e até mesmo a criatividade. Na prática é fácil perceber como ambientes amplos e com pé-direito alto geralmente transmitem uma sensação de liberdade e inspiração, enquanto espaços menores e fechados tendem a induzir foco e introspecção. Esse fenômeno não é apenas uma impressão subjetiva, mas algo cientificamente estudado. O antropólogo Edward T. Hall, na década de 1960, cunhou o termo Efeito Catedral para descrever como a altura dos pés-direitos impacta a cognição e o comportamento. Pesquisas mais recentes aprofundam essa ideia, demonstrando como a arquitetura molda nossas decisões e estados emocionais em diferentes âmbitos.
A 9ª edição do Prêmio ArchDaily Brasil Obra do Ano chegou e novamente precisamos da sua ajuda para selecionar os melhores projetos de arquitetura do ano. Ao votar, você passa a fazer parte de uma rede imparcial de jurados reconhecendo os projetos mais relevantes publicados no ano passado.
Nas próximas três semanas, a inteligência coletiva de nossos leitores filtrará centenas de projetos de países lusófonos — Brasil, Portugal, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Timor-Leste, Guiné Equatorial, Macau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe —publicados em 2024, selecionando as melhores obras construídas em território de língua portuguesa.
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Rebirth Brick. Image Courtesy of Jiakun Architects
O mundo observa o desenvolvimento da China com uma mistura de admiração, curiosidade e apreensão. De gigantescas obras de infraestrutura, como hidrelétricas e uma moderna rede ferroviária de alta velocidade, ao surgimento de cidades inteiras praticamente do zero, o país evidencia um ambicioso projeto de crescimento e uma impressionante capacidade de execução. No entanto, esse avanço também traz desafios e contrastes marcantes. Se, por um lado, a modernidade se impõe em arranha-céus futuristas e tecnologias de ponta, por outro, permanece a necessidade de preservar a rica herança cultural e histórica do país, refletida em templos ancestrais, palácios imperiais e cidades tradicionais.
O rápido crescimento urbano também trouxe problemas como superlotação, poluição ambiental, aumento da desigualdade social e perda de terras agrícolas. A urbanização em larga escala levou ao desaparecimento de aldeias tradicionais, à degradação ambiental e à homogeneização da arquitetura e do estilo de vida em muitas cidades chinesas. É nesse cenário que Liu Jiakun, laureado com o Prêmio Pritzker de 2025, se destaca por uma uma arquitetura de gestos sutis, mas profundamente transformadora, que responde a estes e outros desafios da sociedade chinesa enquanto valoriza materiais e técnicas tradicionais, bem como a criação de espaços comunitários.
Se você ainda não viu "O Brutalista" e pretende ver, recomendo que não prossiga a leitura deste texto e o guarde para depois da sessão. Há spoilers em muitas linhas subsequentes. Caso o leitor espere ler aqui uma crítica de cinema, peço desculpas antecipadamente porque irei frustrá-lo: isto aqui é uma crítica arquitetônica a partir de assuntos abordados na película.
A frase final do filme incita um interessante debate sobre o processo de projeto de arquitetura: "Não importa o que os outros tentem lhe vender, o que importa é o destino, não é a jornada." A frase foi dita por Zsófia, sobrinha do arquiteto ficcional László Tóth, protagonista de "O Brutalista", durante o epílogo que apresenta o seu reconhecimento internacional em uma cerimônia da primeira Bienal de Arquitetura de Veneza, de 1980, cujo título era a "A presença do passado".
"Tem bala de coco e peteca Deixa a criança brincar Hoje é dia de festa A ibejada vem saravar." — Ponto de erês
As ruas vivem quando são dos erês e morrem quando são dos carros. Sonho com um projeto que pretendo colocar em prática quando o tempo permitir: escrever um manual com as regras fabulares da amarelinha, da carniça, do jogo de botão, do preguinho, do pique-bandeira, das cirandas cirandinhas, do lenço-atrás, do futebol em ladeiras, do queimado e das variantes da bola de gude. O título está pronto: "Ecologia Amorosa das Brincadeiras de Rua".
https://www.archdaily.com.br/br/1027295/a-cidade-e-as-criancasLuiz Antonio Simas
A participação do Brasil na 19ª Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia será marcada pela exposição (RE)INVENÇÃO, com curadoria dos arquitetos Luciana Saboia, Matheus Seco e Eder Alencar, do grupo Plano Coletivo. A iniciativa, promovida pela Fundação Bienal de São Paulo em parceria com os Ministérios da Cultura e das Relações Exteriores, propõe uma reflexão sobre as conexões entre natureza e cidade, explorando infraestruturas ancestrais e suas possíveis ressignificações no Brasil contemporâneo.
https://www.archdaily.com.br/br/1027085/pavilhao-do-brasil-na-bienal-de-veneza-explora-infraestruturas-ancestrais-e-projetos-contemporaneosArchDaily Team
Park Hill, um amplo complexo de habitação social em Sheffield, se destaca como um dos exemplos mais ambiciosos de arquitetura modernista na Grã-Bretanha do pós-guerra. Projetado em 1961 por Jack Lynn e Ivor Smith, seu conceito inovador de "ruas no céu" buscava combinar habitação de alta densidade com o espírito comunitário de bairros tradicionais. No final do século XX, o complexo enfrentava uma profunda negligência, marcada por problemas sociais e degradação estrutural que comprometeram tanto sua funcionalidade quanto sua reputação. Gradualmente, Park Hill tornou-se sinônimo de fracasso do modernismo, carregando um pesado estigma social e marginalizando seus moradores. A partir dos anos 2000, começaram esforços significativos para reverter essa narrativa por meio de um processo de revitalização em duas fases. Na primeira fase, liderada pela Urban Splash, em colaboração com os escritórios Hawkins\Brown e Studio Egret West, a abordagem focou na preservação e valorização dos elementos históricos do edifício, introduzindo intervenções modernas para criar um espaço habitável, funcional e atrativo. Essa etapa demonstrou o potencial da reutilização adaptativa em revitalizar comunidades e resgatar ícones arquitetônicos. A segunda fase da renovação, conduzida pelo escritório Mikhail Riches, buscou expandir esse trabalho inicial, introduzindo novos elementos que aprofundaram a conexão entre os espaços existentes e a vida contemporânea. Com uma abordagem que uniu sensibilidade histórica e inovação arquitetônica, Mikhail Riches deu continuidade ao processo de transformar Park Hill em um exemplo emblemático de como a arquitetura modernista pode ser adaptada às necessidades atuais sem perder sua identidade original.
A fachada de concreto exposta foi cuidadosamente restaurada, janelas com eficiência energética substituíram unidades obsoletas e paineis de alumínio de cores vivas animaram o exterior. Os apartamentos foram reconfigurados para atender aos padrões modernos com plantas abertas, enquanto espaços compartilhados como pátios e centros comunitários foram revitalizados para promover a interação social. Medidas de sustentabilidade, incluindo cobertura verde e isolamento aprimorado minimizaram a pegada ambiental, mantendo o caráter brutalista icônico do projeto ao mesmo tempo em que criavam uma vibrante comunidade de uso misto de unidades residenciais, escritórios, espaços de varejo e locais culturais. O projeto destaca o potencial de reutilização adaptativa de projetos modernistas, algo que também carrega enormes desafios, sobretudo em termos programáticos e de materiais e soluções construtivas.
Em 25 de janeiro de 2025, seis anos após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão em Minas Gerais, foi inaugurado o Memorial Brumadinho, projetado pelo escritório Gustavo Penna Arquiteto & Associados (GPA&A). Erguido no próprio cenário da tragédia, o memorial foi desenvolvido em colaboração com os familiares das vítimas, com o objetivo de preservar memórias, acolher o luto e estimular a reflexão sobre a tragédia.
https://www.archdaily.com.br/br/1026378/memorial-brumadinho-de-gustavo-penna-transforma-local-da-tragedia-em-espaco-de-memoriaArchDaily Team
Em muitas culturas, o fogo é um elemento sagrado, utilizado em rituais de renascimento e renovação. Ele carrega uma simbologia dicotômica, sendo ao mesmo tempo criador e destruidor, capaz de iluminar caminhos ou consumir tudo à sua volta. Na mitologia grega, por exemplo, Prometeu roubou o fogo dos deuses e o entregou à humanidade, marcando-o como um símbolo de progresso, conhecimento e poder criativo. No entanto, o fogo também evoca destruição, como nos contos bíblicos de Sodoma e Gomorra, onde foi usado como punição divina. Essa dualidade ficou evidente também no incêndio da Catedral de Notre Dame, em 2019, que devastou sua estrutura histórica. O desastre evidenciou uma onda de solidariedade e impulsionou avanços tecnológicos, com esforços de restauração utilizando ferramentas digitais, como escaneamento a laser e modelos BIM (Building Information Modeling), para recriar detalhes intrincados e preservar o legado arquitetônico.
A sustentabilidade há anos ocupa um papel central nas discussões arquitetônicas, envolvendo não apenas a responsabilidade da arquitetura frente às mudanças climáticas e à transição para economias de baixo carbono, mas também o resgate de heranças culturais e a valorização das tradições vernaculares. Em 2024, destacaram-se projetos e estudos que exploram o uso inovador de materiais naturais, com especial atenção às iniciativas do Sul Global. Essas propostas aliam criatividade e tecnologia ao aproveitamento de recursos renováveis, demonstrando como é possível criar espaços de alta qualidade que atendem às demandas contemporâneas de sustentabilidade e responsabilidade ambiental.
Fundado pela arquiteta senegalesa Nzinga Mboup e pelo arquiteto francês Nicolas Rondet, o Worofila é um estúdio dedicado à arquitetura bioclimática e ecológica. Com sede em Dakar, Senegal, o escritório explora o potencial de materiais vernaculares, como tijolos de terra e fibras vegetais, aplicando técnicas contemporâneas para criar soluções construtivas eficazes. Seu trabalho aborda questões fundamentais relacionadas ao meio ambiente, sustentabilidade e urbanização, unindo materiais tradicionais a práticas inventivas.
Nesta entrevista, Nzinga e Nicolas compartilham sua visão sobre uma modernidade africana distinta, que integra métodos contemporâneos com conhecimentos e recursos tradicionais. Eles defendem uma abordagem de desenvolvimento que não apenas atenda às necessidades imediatas, mas também empodere comunidades e promova um progresso significativo e duradouro. Suas ideias oferecem uma perspectiva instigante sobre como a arquitetura pode impulsionar um futuro mais sustentável e contextual para as cidades africanas.