Se você ainda não viu "O Brutalista" e pretende ver, recomendo que não prossiga a leitura deste texto e o guarde para depois da sessão. Há spoilers em muitas linhas subsequentes. Caso o leitor espere ler aqui uma crítica de cinema, peço desculpas antecipadamente porque irei frustrá-lo: isto aqui é uma crítica arquitetônica a partir de assuntos abordados na película.
A frase final do filme incita um interessante debate sobre o processo de projeto de arquitetura: "Não importa o que os outros tentem lhe vender, o que importa é o destino, não é a jornada." A frase foi dita por Zsófia, sobrinha do arquiteto ficcional László Tóth, protagonista de "O Brutalista", durante o epílogo que apresenta o seu reconhecimento internacional em uma cerimônia da primeira Bienal de Arquitetura de Veneza, de 1980, cujo título era a "A presença do passado".
No dia 18 de março, o SP Hall, em São Paulo, será palco da Zak World of Facades, um dos principais eventos internacionais dedicados a fachadas arquitetônicas. Pela primeira vez no Brasil, a conferência reunirá arquitetos, engenheiros, consultores de fachadas e incorporadores para compartilhar conhecimentos sobre as mais avançadas soluções para envoltórios prediais. Projetos inovadores que estão transformando o skyline da maior cidade do hemisfério serão analisados em apresentações individuais e painéis de discussão dinâmicos.
"Tem bala de coco e peteca Deixa a criança brincar Hoje é dia de festa A ibejada vem saravar." — Ponto de erês
As ruas vivem quando são dos erês e morrem quando são dos carros. Sonho com um projeto que pretendo colocar em prática quando o tempo permitir: escrever um manual com as regras fabulares da amarelinha, da carniça, do jogo de botão, do preguinho, do pique-bandeira, das cirandas cirandinhas, do lenço-atrás, do futebol em ladeiras, do queimado e das variantes da bola de gude. O título está pronto: "Ecologia Amorosa das Brincadeiras de Rua".
https://www.archdaily.com.br/br/1027295/a-cidade-e-as-criancasLuiz Antonio Simas
Interior da Igreja conventual de São Francisco de Assis, Salvador. Foto: Rodrigo Baeta
O que aconteceu na Igreja conventual de São Francisco de Assis em Salvador é mais um triste capítulo de um processo que aflige o patrimônio cultural brasileiro, intensificado nos últimos anos com os incêndios do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, da Cinemateca e do Museu da língua portuguesa em São Paulo. Assim, nesses últimos dias, tem-se debatido muito sobre quem teria a "culpa" do que se passou em Salvador, ou quem teria a "responsabilidade" de evitar esse desastre, que também levou a vida de uma jovem turista: se os administradores da Igreja, se o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), se os órgãos locais de cultura e patrimônio etc. Esse tema é difícil, e importante de se discutir, sim, a demandar investigações cuidadosas sobre as causas do sinistro. Mas o debate deve ser mais amplo, tendo sobretudo a finalidade de se pensar como é que poderemos evitar que eventos como esses aconteçam: maior investimento, maior valorização do patrimônio artístico e arquitetônico, protocolos mais rígidos e efetivos de segurança, conservação preventiva, educação patrimonial. Nos dias que se seguiram ao incidente em Salvador, inúmeros edifícios do período colonial foram interditados em lugares do país, sob a alegação de que também poderiam ruir. Nosso patrimônio pede atenção, em muitos casos com urgência.
No coração de Chiang Mai, uma cidade rica em história e cultura do norte da Tailândia, o Panyaden Hall, concluído em 2017, carrega uma história de inovação e tradição, contada por meio do bambu. Combinando a tradição tailandesa centenária de bambu com soluções estruturais modernas, o projeto reflete o ethos da Chiangmai Life Architects , uma empresa dedicada a elevar materiais naturais ao seu mais alto potencial. Neste artigo, exploraremos algumas das soluções estruturais contemporâneas aplicadas a este projeto icônico, revelando ainda mais o verdadeiro potencial do bambu e convidando a uma nova perspectiva sobre arquitetura sustentável e engenharia de estruturas de bambu.
Park Hill, um amplo complexo de habitação social em Sheffield, se destaca como um dos exemplos mais ambiciosos de arquitetura modernista na Grã-Bretanha do pós-guerra. Projetado em 1961 por Jack Lynn e Ivor Smith, seu conceito inovador de "ruas no céu" buscava combinar habitação de alta densidade com o espírito comunitário de bairros tradicionais. No final do século XX, o complexo enfrentava uma profunda negligência, marcada por problemas sociais e degradação estrutural que comprometeram tanto sua funcionalidade quanto sua reputação. Gradualmente, Park Hill tornou-se sinônimo de fracasso do modernismo, carregando um pesado estigma social e marginalizando seus moradores. A partir dos anos 2000, começaram esforços significativos para reverter essa narrativa por meio de um processo de revitalização em duas fases. Na primeira fase, liderada pela Urban Splash, em colaboração com os escritórios Hawkins\Brown e Studio Egret West, a abordagem focou na preservação e valorização dos elementos históricos do edifício, introduzindo intervenções modernas para criar um espaço habitável, funcional e atrativo. Essa etapa demonstrou o potencial da reutilização adaptativa em revitalizar comunidades e resgatar ícones arquitetônicos. A segunda fase da renovação, conduzida pelo escritório Mikhail Riches, buscou expandir esse trabalho inicial, introduzindo novos elementos que aprofundaram a conexão entre os espaços existentes e a vida contemporânea. Com uma abordagem que uniu sensibilidade histórica e inovação arquitetônica, Mikhail Riches deu continuidade ao processo de transformar Park Hill em um exemplo emblemático de como a arquitetura modernista pode ser adaptada às necessidades atuais sem perder sua identidade original.
A fachada de concreto exposta foi cuidadosamente restaurada, janelas com eficiência energética substituíram unidades obsoletas e paineis de alumínio de cores vivas animaram o exterior. Os apartamentos foram reconfigurados para atender aos padrões modernos com plantas abertas, enquanto espaços compartilhados como pátios e centros comunitários foram revitalizados para promover a interação social. Medidas de sustentabilidade, incluindo cobertura verde e isolamento aprimorado minimizaram a pegada ambiental, mantendo o caráter brutalista icônico do projeto ao mesmo tempo em que criavam uma vibrante comunidade de uso misto de unidades residenciais, escritórios, espaços de varejo e locais culturais. O projeto destaca o potencial de reutilização adaptativa de projetos modernistas, algo que também carrega enormes desafios, sobretudo em termos programáticos e de materiais e soluções construtivas.
Em muitas culturas, o fogo é um elemento sagrado, utilizado em rituais de renascimento e renovação. Ele carrega uma simbologia dicotômica, sendo ao mesmo tempo criador e destruidor, capaz de iluminar caminhos ou consumir tudo à sua volta. Na mitologia grega, por exemplo, Prometeu roubou o fogo dos deuses e o entregou à humanidade, marcando-o como um símbolo de progresso, conhecimento e poder criativo. No entanto, o fogo também evoca destruição, como nos contos bíblicos de Sodoma e Gomorra, onde foi usado como punição divina. Essa dualidade ficou evidente também no incêndio da Catedral de Notre Dame, em 2019, que devastou sua estrutura histórica. O desastre evidenciou uma onda de solidariedade e impulsionou avanços tecnológicos, com esforços de restauração utilizando ferramentas digitais, como escaneamento a laser e modelos BIM (Building Information Modeling), para recriar detalhes intrincados e preservar o legado arquitetônico.
A sustentabilidade há anos ocupa um papel central nas discussões arquitetônicas, envolvendo não apenas a responsabilidade da arquitetura frente às mudanças climáticas e à transição para economias de baixo carbono, mas também o resgate de heranças culturais e a valorização das tradições vernaculares. Em 2024, destacaram-se projetos e estudos que exploram o uso inovador de materiais naturais, com especial atenção às iniciativas do Sul Global. Essas propostas aliam criatividade e tecnologia ao aproveitamento de recursos renováveis, demonstrando como é possível criar espaços de alta qualidade que atendem às demandas contemporâneas de sustentabilidade e responsabilidade ambiental.
A prototipagem é um elemento essencial em setores como o design automotivo e a tecnologia, onde o desenvolvimento iterativo possibilita testar, refinar e inovar. Trata-se de criar versões preliminares ou modelos iniciais para validar ideias e ajustar soluções antes da produção final de uma peça, sendo uma etapa crucial para identificar falhas, otimizar designs e reduzir riscos, economizando tempo e recursos na implementação definitiva. Na arquitetura, entretanto, a prototipagem segue como uma prática subutilizada. Embora a disciplina envolva projetos marcados por particularidades únicas — sejam programáticas, climáticas ou relacionadas à implantação —, sua aplicação poderia ser transformadora. A prototipagem permite que arquitetos experimentem materiais inovadores, validem técnicas construtivas e testem configurações espaciais de forma prática e mensurável. Com isso, não apenas reduz incertezas no processo criativo, mas também impulsiona soluções ousadas e eficientes, promovendo um equilíbrio mais robusto entre estética, funcionalidade e viabilidade.
A busca por reflexões sobre a cidade contemporânea invariavelmente esbarra nas limitações colocadas pelos métodos do Movimento Moderno. As ciências clássicas e seus métodos deterministas, que orientaram — e ainda orientam — o urbanismo desse tempo, descrevem os fenômenos do mundo por meio de relações fortes de causalidade e, consequentemente, os define em leis universais redutoras, que excluem contradições e incertezas. O resultado frequente dessas perspectivas é um mundo idealizado e mecanicista, que nega as complexidades da natureza real de fenômenos, como por exemplo, as cidades.
https://www.archdaily.com.br/br/1025187/a-ilusao-do-controle-na-cidade-contemporaneaPedro H. N. V. Santos
Ao longo do ano, a equipe de curadoria do ArchDaily se dedica em abastecer e expandir nossa biblioteca de projetos. Distribuídas por todo o mundo, cada curadora analisa cuidadosamente os melhores projetos provenientes de suas respectivas regiões, em um esforço para alcançar uma representação diversificada das mais inspiradoras e inovadoras obras construídas. A equipe está sempre buscando por práticas emergentes, novas tecnologias e o resgate de técnicas de construção tradicionais. Ao promover tanto iniciativas de cunho social, bem como grandes obras de arquitetos renomados, procuramos oferecer uma visão holística atual do ambiente construído, que é transmitida por meio da retrospectiva anual de projetos.
A cada ano, a equipe de Curadoria de Projetos do ArchDaily rememora a vasta gama de obras publicadas ao longo desse período, apresentando retrospectivas que permitem não apenas identificar tendências e variações na produção arquitetônica, mas também reconhecer de que forma impactam a nossa audiência. No ArchDaily Brasil, a seleção anual de melhores casas – que ano após ano, segue permanecendo como nossa categoria de projeto mais popular – representa uma amostra das variadas soluções, estratégias, técnicas e materiais encontrados na arquitetura residencial dos países de língua portuguesa.
A arquitetura romana, celebrada por sua grandiosidade, precisão e inovações técnicas, tem fascinado historiadores e entusiastas por séculos. Ao combinar funcionalidade e estética, ela transformou as paisagens urbanas da antiguidade e deixou um legado que continua a influenciar a arquitetura contemporânea. Estruturas icônicas, como o Coliseu, o Panteão e os aquedutos romanos, exemplificam a engenhosidade romana no uso de materiais como o concreto e na aplicação de técnicas avançadas, como o arco e a abóbada, que garantiam durabilidade e eficiência às construções. No entanto, grande parte da teoria e do conhecimento que sustentaram esses feitos extraordinários se perdeu ao longo do tempo, deixando lacunas intrigantes em nossa compreensão de seus métodos e práticas.
Para alguns, a perfeição da natureza revela a assinatura de uma força divina, algo que desafia explicações racionais. Resultado de milhões de anos de adaptação e evolução, as estruturas e organismos naturais operam com uma eficiência difícil de não admirar. Cada forma parece ter um propósito preciso, exibindo uma engenhosidade onde funcionalidade e beleza coexistem harmoniosamente. Das folhas aos menores organismos, a natureza segue uma lógica impecável de economia e precisão, eliminando desperdícios. Demonstra que a simplicidade é, muitas vezes, a mais pura expressão de sofisticação.
As árvores, por exemplo, crescem de forma a maximizar a força e a estabilidade enquanto minimizam o uso de recursos. Essa eficiência estrutural é alcançada ao alinhar fibras ao longo dos caminhos de máxima tensão e ao modelar troncos e galhos para distribuir cargas de maneira ideal. Isso é uma prova de que a natureza, acima de tudo, é uma engenheira magistral.
Playtime movie (Jaques Tati 1967) . Image via screenshot
Espera-se que a crítica de arquitetura e o jornalismo anunciem “o bom, o ruim e o feio” na arquitetura e no ambiente construído. Seus propósitos, porém, vão além disso. Como disse Michael Sorkin, “vendo além da novidade brilhante da forma, é papel da crítica avaliar e promover os efeitos positivos que a arquitetura pode trazer à sociedade e ao mundo em geral”. Em outras palavras, ao nos dizer o que estão vendo, os críticos também estão nos mostrando onde olhar para identificar e abordar os problemas que assolam nosso ambiente construído.
O campo do jornalismo de arquitetura tem sido liderado por escritoras mesmo em tempos nos quais que a busca pela carreira na arquitetura era desencorajada e inacessível para as mulheres. Ada Louise Huxtable estabeleceu a profissão de jornalista de arquitetura ao ocupar o primeiro cargo em tempo integral de crítica de arquitetura em um jornal americano de interesse geral. Em 1970, ela também recebeu o primeiro Prêmio Pulitzer de crítica. Esther McCoy começou sua carreira como desenhista em um escritório de arquitetura mas, por causa de seu gênero, foi desencorajada a se formar como arquiteta profissional, apesar de suas ambições de se especializar na área. Através de seus escritos, ela conseguiu chamar atenção para a cena arquitetônica negligenciada da costa oeste americana e defender os valores do modernismo regional.
Há alguns meses, a arquiteta francesa Renée Gailhoustet ganhou o Prêmio de Arquitetura da Royal Academy 2022. Como Paris e outras cidades francesas continuam enfrentando desafios habitacionais até hoje, Gailhoustet foi uma escolha oportuna. Seu trabalho nos subúrbios de Paris na década de 1960 continua sendo um exemplo convincente de uma abordagem de habitação social que, ao mesmo tempo, abraça a comunidade e tem uma forma única.