Pioneiras da crítica de arquitetura: 5 mulheres que estão transformando o ambiente construído através de palavras

Espera-se que a crítica de arquitetura e o jornalismo anunciem “o bom, o ruim e o feio” na arquitetura e no ambiente construído. Seus propósitos, porém, vão além disso. Como disse Michael Sorkin, “vendo além da novidade brilhante da forma, é papel da crítica avaliar e promover os efeitos positivos que a arquitetura pode trazer à sociedade e ao mundo em geral”. Em outras palavras, ao nos dizer o que estão vendo, os críticos também estão nos mostrando onde olhar para identificar e abordar os problemas que assolam nosso ambiente construído.

O campo do jornalismo de arquitetura tem sido liderado por escritoras mesmo em tempos nos quais que a busca pela carreira na arquitetura era desencorajada e inacessível para as mulheres. Ada Louise Huxtable estabeleceu a profissão de jornalista de arquitetura ao ocupar o primeiro cargo em tempo integral de crítica de arquitetura em um jornal americano de interesse geral. Em 1970, ela também recebeu o primeiro Prêmio Pulitzer de crítica. Esther McCoy começou sua carreira como desenhista em um escritório de arquitetura mas, por causa de seu gênero, foi desencorajada a se formar como arquiteta profissional, apesar de suas ambições de se especializar na área. Através de seus escritos, ela conseguiu chamar atenção para a cena arquitetônica negligenciada da costa oeste americana e defender os valores do modernismo regional.

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Continue lendo para conhecer cinco mulheres que mudaram e seguem mudando a arquitetura e o ambiente construído por meio de suas palavras.

Ada Louise Huxtable

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Ada Louise Huxtable. Image Courtesy of Beverly Willis Architecture Foundation

Como a primeira crítica de arquitetura a trabalhar para o The New York Times, Ada Louise Huxtable (1921-2013) é reconhecida como uma das vozes mais poderosas da arquitetura da América de meados do século. Sem desconsiderar os estilos arquitetônicos, seus artigos se concentravam mais na substância social da arquitetura, convidando os leitores a ver os edifícios como declarações públicas. Ela interessou-se pela preservação dos ambientes urbanos, não por nostalgia, mas pelo reconhecimento da vitalidade da paisagem urbana. No entanto, isso não a tornou inimiga das formas modernas de arquitetura, pelo contrário.

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New York. Image © Simon Menges

Ela celebrou edifícios que abraçaram a escala humana e a história cívica, reconhecendo novas formas do vernáculo de Nova York. Nos artigos, suas opiniões eram expressas com confiança, apresentando argumentos inteligentes, incisivos e muitas vezes sarcásticos. Ao discordar, ela não se esquivou de repreender os arquitetos, chegando a compará-los aos excessos totalitários de Hitler ou Mussolini. No geral, seu amor pela cidade de Nova York brilhou nas próprias críticas que ela fez a empreendimentos inadequados e no esforço para identificar, preservar e desenvolver ainda mais a identidade compartilhada de uma cidade.

Eu gostaria que as pessoas parassem de me perguntar quais são meus prédios favoritos. Eu não acho que realmente importa muito quais são meus favoritos pessoais, exceto porque eles iluminam princípios de desenho e execução úteis e essenciais para o espírito coletivo que chamamos de sociedade. Por exemplos insubstituíveis desse espírito, travarei uma verdadeira batalha. - Ada Louise Huxtable no The Times em 1971

Jane Jacobs

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Jane Jacobs. Image via Wikimedia Photo by Phil Stanziola (Public Domain)

A figura de Jane Jacobs (1916-2006) dispensa apresentações. A agora infame batalha entre ela e Robert Moses moldou não apenas a cidade de Nova York, mas também a atitude em relação ao planejamento urbano e o poder do envolvimento da comunidade. Jacobs, uma jornalista que se tornou ativista, pretendia desmantelar o conceito de planejamento urbano. Ela entendia as cidades como sistemas complexos em um equilíbrio muitas vezes frágil. Para protegê-lo, ela apoiou o planejamento comunitário de baixo para cima, pois acreditava que as pessoas que moravam nos bairros poderiam entender melhor quais soluções perturbariam ou fortaleceriam esse equilíbrio. O legado de Jane Jacobs sobrevive de várias maneiras, uma delas é Jane’s Walks, eventos comunitários gratuitos auto organizados que acontecem em todo o mundo, nos quais os cidadãos se reúnem para descobrir seus bairros e discutir assuntos urgentes da comunidade.

Esther McCoy

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Kaufmann House, 1947 Palm Springs, CA - Richard Neutra, architect . Image © Julius Shulman

A jornalista, crítica e historiadora de arquitetura Esther McCoy (1904-1989) tornou-se pioneira em seu campo ao apresentar uma área anteriormente negligenciada: a arquitetura moderna no sul da Califórnia. Hoje o Modernismo da Costa Oeste é amplamente reconhecido e aclamado, com figuras importantes como Richard Neutra, Rudolph Schindler e John Lautner. No entanto, antes de Esther McCoy defender as qualidades notáveis da arquitetura californiana, as escolas e os críticos de Nova York e da Costa Leste dominaram o discurso na América de meados do século XX.

Ao longo de sua carreira de sessenta anos, Ester McCoy nunca ocupou um cargo interno em uma grande publicação, mas seus escritos foram amplamente distribuídos e celebrados durante sua vida. Depois de se mudar de Nova York para Los Angeles, inicialmente por motivos médicos, ela observou e documentou a evolução de uma nova forma de modernismo na região da Costa Oeste. Ela entendeu que isso não era simplesmente uma reinterpretação da Costa Leste ou dos ideais europeus que dominavam a época. Seus escritos críticos enfatizavam uma forma regional de arquitetura moderna, que era informada pela geografia e respondia ao clima e às condições locais, inspirando-se em fontes vernáculas.

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Casa Barragan / Luis Barragan. Image © Rene Burri

A linguagem arquitetônica do sul da Califórnia não era o único interesse de McCoy. Ao longo de sua vida, ela cultivou amizades com arquitetos internacionais. No início da década de 1950, viajou repetidamente para a Itália e o México, entre outros locais. A partir daí, ela se tornou a primeira jornalista de arquitetura americana a reconhecer e escrever seriamente sobre a cultura modernista local no México, entendendo o valor desse novo tipo de desenho contemporâneo regional. Ao apresentar arquitetos como Luis Barragán, Juan O'Gorman ou Felix Candela ao público americano, ela contribuiu para desfazer os estereótipos colonialistas sobre a arquitetura mexicana, antes vista como nada mais do que uma forma derivada da cultura norte-americana.

Beatriz Colomina

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Beatriz Colomina . Image Courtesy of Denise Applewhite, Office of Communications

Beatriz Colomina é uma historiadora e teórica da arquitetura que desafia as histórias fundadoras da arquitetura moderna, em busca de uma compreensão mais complexa das correntes e influências que sustentam a teoria da arquitetura. Por meio de seus escritos, ela questiona narrativas e discursos, olha para a domesticidade como uma arma poderosa empregada na Guerra Fria e reconhece doenças, a exemplo da tuberculose, como forças que moldaram a imagem do Modernismo. Tecnologia e sexualidade são outros temas explorados, na tentativa de desafiar teorias estabelecidas e desenvolver novas formas de compreensão. Ao fazê-lo, Colomina pretende criar consciência e, consequentemente, responsabilidade no mundo da arquitetura, do impacto e envolvimento de longo alcance que os arquitetos têm com a sociedade em geral.

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Aino e Alvar Aalto, sanatório de Paimio, Finlândia. Vista exterior da fachada sul, década de 1930. A Fundação Alvar Aalto. Image © Gustaf Welin

Alexandra Lange

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Paisagens do Playground na Praça Santa María Mazzarello by HDH arquitectos. Image © David Zarzoso

Apesar de estar fundamentada na história da arquitetura, a crítica de arquitetura e design Alexandra Lange entende que a responsabilidade do crítico é se tornar um representante do público, como ela declarou em entrevista para Madame Architect. Na maioria das vezes, isso significa experimentar os espaços em primeira mão e entender como a arquitetura influencia o movimento e as sensações. Em um de seus livros, Writing About Architecture, ela procura capacitar os leitores a prestar atenção ao ambiente construído, desenvolver um olhar crítico e maneiras de comunicar e discutir o impacto que a arquitetura pode ter na vida cotidiana.

Quanto mais ambientes construídos as pessoas virem e saborearem, quanto mais agirem como críticos de arquitetura, mais serão capazes de reconhecer o bom planejamento e se tornarem defensoras dele. – Alexandra Lange em Writing About Architecture

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Kings Road House por Rudolf Schindler. Image © Joshua White

Este artigo é parte dos Tópicos do ArchDaily: Mulheres na arquitetura. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos do ArchDaily. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.

Além disso, convidamos você a assistir ao lançamento de Women in Architecture, um documentário realizado pela Sky-Frame sobre três arquitetas inspiradoras: Gabriela Carrillo, Johanna Meyer-Grohbrügge e Toshiko Mori. O filme será lançado no dia 3 de novembro de 2022.

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Sobre este autor
Cita: Florian, Maria-Cristina. "Pioneiras da crítica de arquitetura: 5 mulheres que estão transformando o ambiente construído através de palavras" [Pioneers of Architecture Criticism: 5 Women Who Are Shaping the Built Environment Through Words] 10 Nov 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Ghisleni, Camilla) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/990635/pioneiras-da-critica-de-arquitetura-5-mulheres-que-estao-transformando-o-ambiente-construido-atraves-de-palavras> ISSN 0719-8906

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