Usos inovadores da água na arquitetura

De piscinas cobertas, fontes externas tranquilas a cachoeiras e lagos de enormes proporções, a arquitetura historicamente envolveu a água de maneiras infinitamente inovadoras. Muitas vezes servindo a funções estéticas, mas também atuando como centros de atividade ou promovendo a sustentabilidade, os elementos aquáticos podem assumir inúmeras formas e servir a múltiplos propósitos. Abaixo, sintetizamos uma série de elementos de água adotados por projetos arquitetônicos contemporâneos inovadores, variando de residências unifamiliares a vastos complexos comerciais.

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Piscinas cobertas e ao ar livre

Weekend House in Downtown São Paulo / SPBR Arquitetos. Image © Nelson Kon
Weekend House in Downtown São Paulo / SPBR Arquitetos. Image © Nelson Kon
Jellyfish House / Wiel Arets Architects. Image © Jan Bitter
Jellyfish House / Wiel Arets Architects. Image © Jan Bitter

Embora a piscina seja um elemento comum das residências em climas quentes, alguns arquitetos ultrapassam os limites de seus formatos convencionais. A Casa de Fim de Semana, de SPBR Arquitetos, no centro de São Paulo, eleva sua piscina para maximizar a luz do sol, garantindo que o entorno denso de casas vizinhas não atrapalhe esse recurso essencial. No térreo, espelhos d'água servem um jardim interno exuberante, abrigando o espaço principal no piso central com elementos naturais de ambos os lados. A Jellyfish House, de Wiel Arets Architects, também possui uma piscina elevada, suspensa no volume principal e exibindo uma borda infinita. Com um fundo de vidro e uma janela panorâmica na borda anexa, a piscina filtra a luz solar para a casa e para o espaço abaixo, criando reflexos flutuantes da luz azul. Esses projetos desafiam o conceito tradicional de piscina enterrada e interagem exclusivamente com a luz e a natureza.

Feng Shui Swimming Pool / Mikou Studio. Image © Helene Binet
Swimming Pool Extension in Bagneux / Dominique Coulon & associés. Image © David Romero-Uzeda
Swimming Pool Extension in Bagneux / Dominique Coulon & associés. Image © Clement Guillaume

Arquitetos de complexos aquáticos comerciais também foram pioneiros em projetos inovadores de piscinas. A extensão da piscina de Dominique Coulon & Associes em Bagneux ostenta uma vigia horizontal na parte inferior da piscina infantil, preenchendo da mesma forma a área adjacente com uma luz filtrada pela água. Um amplo terraço anexo serve de praia na ausência do elemento natural real. Enquanto isso, a Piscina Feng Shui do Mikou Studio combina um design relativamente tradicional com claraboias de vidro tipo pontilhado e ripas de madeira onduladas em suas paredes para referenciar os princípios do Feng Shui.

Fontes internas

Jewel Changi Airport / Safdie Architects. Image Courtesy of Peter Walkner Partners Landscape Architects
Jewel Changi Airport / Safdie Architects. Image Courtesy of Safdie Architects
Emperor Qianmen Hotel / asap. Image © Jonathan Leijonhufvud
Emperor Qianmen Hotel / asap. Image © Jonathan Leijonhufvud

Conhecidas por conotar tranquilidade e uma sensação de grandeza, dependendo de sua escala, as fontes internas oferecem um enorme potencial criativo para arquitetos inovadores. O Aeroporto Jewel Changi de Cingapura, projetado por Safdie Architects, ostenta a maior cachoeira interna do mundo, complementada por uma série de pequenas cachoeiras e jardins em terraços. Em uma escala semelhante, o Emperor Qianmen Hotel, de asap, conecta seus muitos andares por uma série de recursos hídricos interconectados. Começando com uma piscina em balanço acima do telhado, a água flui alternadamente em cachoeiras, passando por uma série de canais internos e regando plantas suspensas por chuvas artificiais. A água finalmente chega a uma cachoeira coberta, que despenca em um spa subterrâneo.

Sobre, ao redor e através da água

The Building on the Water / Álvaro Siza + Carlos Castanheira. Image © Fernando Guerra
The Building on the Water / Álvaro Siza + Carlos Castanheira. Image © Fernando Guerra
The Building on the Water / Álvaro Siza + Carlos Castanheira. Image © Fernando Guerra

Algumas estruturas, em vez de incorporar a água internamente, abraçam as paisagens existentes e se baseiam sobre, ao redor ou através dos elementos de água. O Edificio sobre a Água, de Álvaro Siza Vieira e Carlos Castanheira, implantam os escritórios de uma enorme fábrica química no alto do vasto reservatório artificial que serve o complexo. Construída com uma estética branca de concreto e vidro que abraça a luz e a refletividade, a forma curvilínea da estrutura reitera seu senso de fluidez natural e desafia a arquitetura industrial tradicionalmente ortogonal.

Garden Hotpot Restaurant / MUDA-Architects. Image © Arch-Exist
Garden Hotpot Restaurant / MUDA-Architects. Image © Arch-Exist

MUDA Architects, por outro lado, projetou o Garden Hotpot Restaurant para envolver-se fluidamente em torno de um lago, o telhado branco simulando simultaneamente a fina corrente de vapor flutuando de um prato de hotpot. Sem paredes, com apenas um teto suportado por colunas finas, o restaurante está profundamente integrado ao ambiente, com o lago de lótus desempenhando um papel central na experiência.

Moses Bridge / RO&AD Architecten. Image © RO&AD Architecten
Moses Bridge / RO&AD Architecten. Image © RO&AD Architecten

Através da criatividade de RO&AD Architecten, até o relacionamento da ponte com a água é reimaginado, com o apropriadamente chamado Ponte de Moisés cortando o fosso que atravessa. Paredes de madeira à prova de água protegem a ponte pedonal submersa da água e, de longe, permanece quase invisível na paisagem.

Elementos exteriores de água

Lover's Fountain / Luis Barragan. Image © Wikipedia
An additional Luis Barragan water feature. Image © Rodrigo Flores
The Winery at VIK / Smiljan Radic. Image © Cristobal Palma
The Winery at VIK / Smiljan Radic. Image © Cristobal Palma

Utilizar a água no exterior é a maneira mais tradicional, podendo adornar até as estruturas residenciais e comerciais mais banais na forma de fontes, canais e cachoeiras em miniatura. Luis Barragan foi um notável defensor de tais artifícios, afirmando que "Nas fontes, o silêncio canta". A Fonte dos Amantes na Cidade do México abraça esse mantra, combinando a serenidade da água com suas características paredes coloridas e linhas limpas. Um exemplo mais contemporâneo de paisagismo sereno na água, a A Vinícola em VIK, de Smiljan Radic, exibe uma vasta praça inclinada de água corrente fina cortada com passagens baixas. Em toda a praça, peças de uma instalação escultórica de Radic e Marcela Correa apenas contribuem para a tranquilidade. Com uma sensibilidade semelhante, o Museu Zhao Hua Xi Shi Living dos IAPA Design Consultants integra piscinas exteriores de água no próprio tecido do complexo, com áreas de estar com sombra baixa e vista para a paisagem tranquila.

Usando a água

Carpa Olivera / Colectivo Urbano. Image © Onnis Luque
Carpa Olivera / Colectivo Urbano. Image © Onnis Luque
Carpa Olivera / Colectivo Urbano. Image © Onnis Luque

Embora esses recursos paisagísticos utilizem piscinas ou fontes de água para fins estéticos, outros arquitetos integraram a própria água para uso funcional. Em alguns casos, como no mencionado Aeroporto de Jewel Changi, os elementos hídricos servem ao duplo propósito do resfriamento natural. O escritório Brasil Arquitetura é pioneiro em um método de usar a água para melhorar a impermeabilização de coberturas planas, evitando vazamentos de uma maneira que nem os primeiros pioneiros do modernismo conseguiram (tanto a Villa Savoye quanto a Farnsworth House apresentavam vazamentos). Da mesma forma, Carpa Olivera, da Collective Urbano, utiliza a maré do mar para encher sua piscina, mantendo as paredes baixas o suficiente para permitir que as ondas transbordem. Uma opção sustentável e de baixo custo para um espaço público, a piscina é pontuada por um escorregador em espiral esculpido e divertidas fontes de jato.

Blur Building / Diller Scofidio + Renfro. Image Courtesy of Diller Scofidio + Renfro
Blur Building / Diller Scofidio + Renfro. Image Courtesy of Diller Scofidio + Renfro

Finalmente, e talvez o mais famoso, o Blur Building da Diller Scofidio + Renfro bombeou água do lago do qual estava implantado, lançando-a como uma névoa fina que envolvia a estrutura metálica em uma espessa nuvem branca. Um desafio deliberado contra o tecnicismo de alta definição da arquitetura contemporânea do período, o Blur Building transformou a água que utilizava, em vez de deixá-la ali para ser examinada.

Emperor Qianmen Hotel / asap. Image © Jonathan Leijonhufvud

Esses projetos inovadores, motivados de várias maneiras por serenidade, grandiosidade, sustentabilidade ou beleza, estão ligados à criatividade com a qual seus arquitetos abordam a água. Os melhores projetos consideram a qualidade da própria água, desde seu movimento, sua fluidez, a maneira como ela reflete e interage com a luz. Variando em escala, de piscinas a cascatas, esses projetos revelam que a inovação não tem tamanho.

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Sobre este autor
Cita: Cao, Lilly. "Usos inovadores da água na arquitetura" [Innovative Uses of Water in Architecture] 13 Jan 2020. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/931773/usos-inovadores-da-agua-na-arquitetura> ISSN 0719-8906

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