O que o mercado imobiliário nos diz sobre as migrações de volta às cidades?

Quase um ano após o início da pandemia de COVID-19, parece que estamos começando a recuperar minimamente o sentido de normalidade—ou de uma nova normalidade. Com a esperança injetada pela chegada das primeiras vacinas, voltamos a pensar sobre o futuro e os impactos da pandemia em nossos modos de vida. Durante o primeiro lockdown, testemunhamos um esvaziamento da maioria dos grandes centros urbanos, passando a habitar cidades fantasmas à medida que aqueles que podiam, buscavam refúgio em áreas menos densas e próximas à natureza. Passamos a nos questionar se estávamos de fato vivendo um fenômeno de êxodo urbano, contrário ao alarmante incremento da população urbana testemunhado ao longo das últimas décadas. Esta tendência, entretanto, foi apenas temporária e as pessoas estão finalmente voltando para a cidade.

Embora tenhamos que concordar que a pandemia levou muitas pessoas a buscar a vida em cidades menores ou um pouco afastadas dos grandes centros, onde o custo da terra é mais acessível e portanto, maiores as chances de viver em contato com a natureza—ainda é cedo para dizer se esta é apenas uma tendência ou uma mudança veio para ficar. Ainda há muitas perguntas sem respostas: como será a nossa rotina de trabalho no futuro? como serão as nossas cidades no dia de amanhã? Muitos acreditam que as medidas de distanciamento social continuarão prevalecendo por muito tempo assim como o modelo de trabalho híbrido. Em cidades onde o acesso a espaços públicos e áreas verdes é muito restrito, muitas pessoas já se convenceram de que é hora de partir.

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© PEW Research Center

Dados levantados pelo Pew Research Center, um think tank com sede em Washington D.C, mostram que praticamente um em cada dez jovens americanos mudou de cidade durante a pandemia por diferentes motivos. Muitos estudantes voltaram para casa dos pais enquanto as famílias jovens procuravam mais espaço e liberdade para os seus filhos. Casas de finais de semana foram transformadas em residências permanentes e, acima de tudo, aqueles que perderam o emprego acabaram se mudando para cidades com mais ofertas e oportunidades de emprego. Os fatores que levam as pessoas a entrarem e sairem de um determinado território urbano são inúmeros, assim como as fontes de dados que nos permitem analizar este fenômeno. Nos Estados Unidos, podemos avaliar as informações disponibilizadas pela solicitação de mudança de endereço junto aos Correios, os dados de viagens de empresas de mudança e até mesmo a quantidade de lixo coletado em uma determinada cidade ao longo do tempo. Entretanto, talvez nenhuma fonte seja capaz de melhor retratar esta situação do que os dados fornecidos pelo mercado imobiliário—que nos mostram onde as pessoas estão comprando e alugando mais e onde a oferta é maior do que a procura.

Relatórios de corretores de imóveis em toda a cidade de Nova Iorque, em particular, parecem estar alinhados com o que as cidades nos reservam para o futuro. Com a chegada das vacinas e das campanhas de vacinação, as pessoas estão recuperando a confiança e voltando às cidades. Paralelamente, os aluguéis continuam caindo e os preços dos aluguéis estão cada dia mais acessíveis nos Estados Unidos. O aluguel médio de um apartamento em Manhattan registrou uma considerável queda no final do ano passado—uma redução de até 11% em relação ao ano anterior. Enquanto alguns estão buscando mais espaço e contato com a natureza, outros permanecem fiéis ao estilo de vida urbana. Outra tendência que tem operado na cidade de Nova Iorque é a mudança de muitos habitantes de Manhattan para os bairros periféricos da cidade como o Brooklyn e o Queens, onde os preços dos aluguéis também baixaram. Muitos corretores e proprietários estão até oferecendo um, dois ou até três meses de aluguel gratuito para cobrir as taxas de mudança, tudo para não ficar com seu imóvel vazio em um momento tão crítico.

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Cortesia de SERHANT.

Outra série de dados, disponibilizados pela corretora de imóveis SERHANT., nos mostram que o mercado de luxo também está em alta. Segundo relatório publicado pela empresa,106 unidades de luxo foram vendidas na cidade de Nova Iorque em 2020—com um preço médio de venda de pouco mais de 16 milhões de dólares. Descontando o mercado chamado de ultrprime, 2020 foi na verdade o melhor ano já registrado pela SERHANT., com o maior número total de vendas de unidades de luxo registrado em um único ano. “A vacinação da população começou e está andando bem, os mercados financeiros estão cada dia mais fortes, as taxas de hipotecas estão perto de mínimos históricos e os dados de mercado do quarto trimestre do ano passado foram muito melhores do que esperávamos—e o que é melhor, essa tendência continuou no primeiro bimestre deste ano”, disse o responsável pela SERHANT. “O movimento de mercado em janeiro de 2021 superou o mesmo período do ano passado, antes do início da pandemia.

Independentemente do valor do orçamento, estes dados indicam que o movimento inicial de êxodo urbano provocou uma contrapartida favorável para aqueles que ficaram e estão de olho no mercado. Embora a grama dos nossos vizinhos de fora da cidade seja de fato, mais verde que a nossa, há algo na vida da cidade que parece continuar a atrair pessoas, independentemente da situação. Aquele desejo por uma mudança de estilo de vida parece pouco a pouco estar perdendo forças à medida que as nossas rotinas vão voltando à normalidade. O que sim parece apenas ganhar força, é a busca por um aluguel mais barato e melhores condições do vida em uma mesma cidade.

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Sobre este autor
Cita: Overstreet, Kaley. "O que o mercado imobiliário nos diz sobre as migrações de volta às cidades?" [What Do Real Estate Trends Tell Us About the Migration Back to Cities?] 09 Mar 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/957853/o-que-o-mercado-imobiliario-nos-diz-sobre-as-migracoes-de-volta-as-cidades> ISSN 0719-8906

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