Resultado: Se o próximo Pritzker fosse alguém que fala português, em quem você apostaria? Veja as sugestões que recebemos.

Há algumas semanas, apresentamos um panorama para encorajar nossos leitores e leitoras a imaginarem o seguinte: se o próximo Pritzker fosse alguém que fala português, em quem você apostaria?

Este grande panorama de apostas para o Pritzker de 2018, que será anunciado na próxima semana, revela algumas questões que devem ser destacadas. Primeiramente, é sintomático que, dentre todas as sugestões feitas, isto é, uma lista composta por 13 arquitetos e escritórios, haja apenas uma mulher - Marta Moreira, sócia do MMBB. Muitas iniciativas atuais buscam destacar o papel histórico fundamental desempenhado por arquitetas e atualizar o debate de gênero dentro do campo, como o site Arquitetas Invisíveis e o coletivo Un día, una arquitecta, porém, essa atuação não se mostra refletida na opinião dos leitores para possíveis candidatos ao Pritzker.

Além disso, é notável que a lista seja composta apenas por arquitetos ou grupos que atuam no Brasil ou em Portugal, considerando que existem 10 países no mundo que falam a língua portuguesa. Países da África, por exemplo, tem passado por um processo de reconhecimento local da potência de sua arquitetura vernacular e de reconhecimento da arquitetura como valor cultural e singularidade local, no entanto, essa produção foi ausentada da lista.

Veja a seguir os palpites que recebemos:

AIRES MATEUS

Faculdade de Arquitetura em Tournai / Aires Mateus © Tim Van de Velde

O escritório português com sede em Lisboa, Aires Mateus, fundado pelos irmãos Francisco e Manuel Aires Mateus, tem seu trabalho reconhecido pela forma que incorpora uma expressividade local em termos da materialidade da arquitetura vernacular portuguesa com uma linguagem atualizada, inovadora e contemporânea em termos de desenho. Manuel foi reconhecido em 2017 com o Prêmio Pessoa, iniciativa do jornal português Expresso, em sua 31ª edição. Vale dizer que, em 1998, o vencedor do Prêmio Pessoa foi Eduardo Souto de Moura, que, anos depois, em 2011, foi reconhecido com a medalha da 33ª edição do Prêmio Pritzker.

CARRILHO DA GRAÇA

Musealização da Área Arqueológica da Praça Nova do Castelo de S. Jorge / Carrilho da Graça Arquitectos © Fernando Guerra | FG+SG

Outro arquiteto português reconhecido pelo mesmo prêmio, na edição de 2008, foi João Luís Carrilho da Graça, também português e com escritório sediado em Lisboa. Em sua carreira, de mais de 30 anos, além do trabalho com projeto, o arquiteto também tem empreendido esforços no âmbito pedagógico, tendo sido convidado para seminários e conferências em universidades de diversas cidades na Europa, e atuando como professor convidado na Universidade Autónoma de Lisboa de 2001 a 2010 e na Universidade de Évora desde 2005. Além disso, foi nomeado para a premiação europeia de arquitetura, o Prêmio Mies Van der Rohe, em 6 edições.

ANGELO BUCCI

Casa e salão de cabeleireiros em Orlândia / spbr arquitetos © Nelson Kon

Brasileiro, natural de Orlândia, e sócio fundador do escritório spbr arquitetos desde 2003, Angelo Bucci tem seu trabalho reconhecido de forma ampla no universo da arquitetura, tendo recebido prêmios dentro e fora do Brasil desde 1991. Seus trabalhos realizados no escritório lidam sempre com a herança deixada pela tradição da arquitetura moderna brasileira de uma forma crítica e revisitada, sempre com grande atenção ao projeto e ao desenho de forma completa e detalhista. Além da prática, Bucci atua, desde 2001 como professor no departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e foi convidado a ser professor visitante em universidades dos Estados Unidos, Europa e América Latina.

GUSTAVO PENNA

Ateliê Wäls / Gustavo Penna Arquiteto e Associados © Daniel Mansur

Com sede em Belo Horizonte, Brasil, o escritório Gustavo Penna Arquiteto & Associados tem à frente de seu comando Gustavo Penna, expoente da arquitetura brasileira desde os anos 1980. O escritório empreendeu obras de grande porte nos 40 anos de sua existência, tal como o projeto de reforma do Minherão-Mineirinho para a Copa do Mundo de 2014, além de obras reconhecidas, como a Escola Guignard, eleita em 2005 pela revista Projeto como uma das 30 obras arquitetônicas de maior relevância no Brasil.

SEVERIANO PORTO

Sede da SUFRAMA / Severiano Porto. Cortesia de Arquivo Severiano Porto

Conhecido como “o arquiteto da floresta” , Severiano Porto foi responsável por estabelecer uma forma de projetar na Amazônia com maestria ao combinar as técnicas de construção regionais, com critérios de conforto ambiental e economia de recursos. Apesar de ter nascido em Urberlândia e ter estabelecido seu escritório no Rio de Janeiro, desde 1963 sua produção tem forte relação com Manaus e o estado do Amazonas. Teve sua obra reconhecida em 1985 ao receber o prêmio da Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires.

RUY OHTAKE

Residência Tomie Ohtake / Ruy Ohtake © Nelson Kon

Filho da artista plástica Tomie Ohtake, o arquiteto e designer de móveis Ruy Ohtake tem uma carreira que produziu obras icônicas dentro e fora do Brasil e que se destacam em meio a seus entornos de implantação. Reconhecido como importante representante da arquitetura brasileira, Ohtake foi convidado em 1999 a participar do 20º Congresso da União Internacional de Arquitetos, em Pequim, ao lado de renomados arquitetos como Tadao Ando e Jean Nouvel. Além disso, o arquiteto teve sua obra contemplada no livro Ruy Ohtake – Arquitetura e Design: 4 décadas + 2008–2015, da J. J. Carol Editora.

PAULO JACOBSEN

MAR – Museu de Arte do Rio / Jacobsen Arquitetura © Leonardo Finotti

Desde 2012 em sociedade, Bernardo e Paulo Jacobsen são arquitetos fundadores do escritório Jacobsen Arquitetura, com filiais em São Paulo e Rio de Janeiro. Anteriormente, Paulo fora sócio do reconhecido escritório Bernardes Jacobsen, ao lado de Claudio Bernardes com quem desenvolveu mais de 800 projetos em um período de 25 anos e teve o trabalho reconhecido em premiações e exposições. Seus trabalhos relacionam-se, sobretudo, ao segmento das residências de alto padrão e são sempre pensados pelo diálogo entre arquitetura e natureza, principalmente no que se refere aos recursos de iluminação, fluidez e leveza estrutural e à criação de um conceito de “arquitetura tropical”.

MARCIO KOGAN

Casa Rocas / 57STUDIO + Studio MK27 - Marcio Kogan © Fernando Guerra | FG+SG

À frente do escritório MK27 desde o final dos anos 1970, Marcio Kogan é um arquiteto brasileiro cuja prática lida fortemente com a relação entre interior e exterior dos espaços e se caracteriza pela escolha de materiais como madeira e pedra. O trabalho de Kogan tem projeção internacional e já foi reconhecido em premiações. Além disso o arquiteto representou o Brasil em 2012 na Bienal de Veneza, em exposição na qual dividiu espaço com uma instalação de Lúcio Costa.

ISAY WEINFELD

Fasano Las Piedras Hotel / Isay Weinfeld © Fernando Guerra | FG+SG

Isay Weinfeld é um arquiteto brasileiro que atua também nos campos do design de mobiliário e de cenografia. Á frente de seu escritório homônimo, Isay sempre defende a interdisciplinaridade como forma de produzir projetos que traduzam a identidade específica demandada por um programa específico. Tem recebido uma série de prêmios internacionais desde 2007 e, além da prática profissional, trabalhou como docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e na FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado.

ROBERTO LOEB

Knorr-Bremse / LoebCapote Arquitetura e Urbanismo. Cortesia de Loeb Capote Arquitetura e Urbanismo

Sócio fundador do escritório LOEBCAPOTE ARQUITETOS, Roberto Loeb formou-se pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, em 1965 e desde então trabalhou com renomados arquitetos como Rino Levi e Fábio Penteado. Em seu trabalho no escritório, busca incluir em suas obras as noções de tecnologia e soluções de sustentabilidade em um contexto de produção, sobretudo, do segmento corporativo de grande escala. Também é um arquiteto brasileiro cujo trabalho foi reconhecido no exterior em diversos momentos de sua carreira.

BRASIL ARQUITETURA

Praça das Artes / Brasil Arquitetura © Nelson Kon

A dupla Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz, sócios-fundadores da Brasil Arquitetura, tem uma longa trajetória de trabalho em conjunto. Marcelo atuou como colaborador com a arquiteta Lina bo Bardi entre 1977 e 1992, participando inclusive do projeto icônico do SESC Pompéia. Francisco teve seu trabalho premiado no exterior e, além do escritório, trabalha hoje como coordenador da disciplina de Estúdio Vertical na Escola da Cidade em São Paulo. O campo de atuação do escritório é bastante vasto, e vai desde os projetos de arquitetura, até o desenho industrial, urbanismo e restauro. Além disso, os sócios são responsáveis pela fundação da marcenaria Baraúna.

MARCOS ACAYABA

Residência em Tijucopava / Marcos Acayaba Arquitetos © Nelson Kon

Um dos arquitetos brasileiros com maior projeção internacional, Marcos Acayaba tem em seus projetos uma expressividade muito característica e constantemente reafirmada a cada nova proposta realizada. Após um período de crítica às dificuldades do uso do concreto de formas livres em obras de arquitetura, o trabalho Acayaba estabelece uma forte relação com o uso de peças em madeira industrializada produzidas pela Ita Construtora. Uma obra marcante desse período é a Residência no Jardim Vitória Régia, projetada para o proprietário da Ita, Hélio Olga.

MMBB

SESC 24 de Maio / MMBB + Paulo Mendes da Rocha © FLAGRANTE

Formado por Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga, o escritório MMBB tem sede em São Paulo. Os projetos que mais traduzem o trabalho do escritório são aqueles de infraestrutura urbana, edifícios institucionais e equipamentos sociais, o que aponta para a preocupação constante do grupo em pensar o espaço público das cidades. O escritório tem em sua trajetória uma série de projetos realizados em colaboração com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, dentre eles o recém inaugurado SESC 24 de Maio.

Nos últimos anos, é comum que algumas premiações em diversos campos culturais sejam alvo de discussões nesse sentido, o que, por um lado, evidencia a desigualdade no reconhecimento profissional, mas, por outro, possibilita que pautas como essas sejam colocadas na mesa e discutidas em um âmbito mais amplo. 

Tendo em vista a frequência cada vez maior de publicações em todo o mundo que não apenas discutem a desigualdade de gênero e raça no campo da arquitetura, mas também dão espaço a essas produções de altíssimo nível que por tanto tempo foram negligenciadas, a pergunta "há mulheres (em países de língua portuguesa) que mereceriam ser reconhecidas como o Pritzker?" parece absolutamente descabida. É evidente que há - mas por que não foram mencionadas pelos leitores?

Galeria de Imagens

Ver tudoMostrar menos
Sobre este autor
Cita: Julia Daudén. "Resultado: Se o próximo Pritzker fosse alguém que fala português, em quem você apostaria? Veja as sugestões que recebemos." 01 Mar 2018. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/889953/quem-ganhara-o-premio-pritzker-2018-nossos-leitores-dao-suas-sugestoes-entre-arquitetos-de-lingua-portuguesa> ISSN 0719-8906

¡Você seguiu sua primeira conta!

Você sabia?

Agora você receberá atualizações das contas que você segue! Siga seus autores, escritórios, usuários favoritos e personalize seu stream.