A escassez de água é uma das situações mais degradantes que alguém pode enfrentar. E, no entanto, na Índia, um país que abriga 18% da população mundial, mas possui apenas 4% dos seus recursos hídricos, essa é uma luta recorrente, com um número significativo de famílias indianas tendo que lidar com a escassez de água diariamente.
Lá, o ciclo da água oscila entre extremos. Monções severas e períodos de enchentes se transformam em secas implacáveis, tornando cada vez mais difícil controlar e preservar os recursos hídricos. Embora a maioria das ações em larga escala se concentre nas consequências para os setores agrícola e de produção, o resultado também é percebido no nível individual das residências. Assim, ações cumulativas em pequena escala oferecem um caminho possível para os cidadãos mitigarem o problema.
De fato, existem muitas intervenções em andamento em nível nacional e federal, juntamente com vários esforços internacionais, que estão auxiliando as populações a utilizar de forma responsável as fontes de água. No entanto, existem outros atores importantes no terreno. Arquitetos e escritórios especializados, como Biome Environmental Solutions, Samira Rathod Design Atelier, Monsoon Collective e muitos outros, estão assumindo a responsabilidade de propor soluções passivas, eficientes e acessíveis que poderiam ser facilmente implementadas com custos baixos em projetos residenciais. Alguns desses métodos existem há algum tempo e podem ser resgatados e adaptados às necessidades atuais.
Residência para Charis / Biome Environmental Solutions
Com seu foco na água e em arquitetura ecologicamente consciente, a Biome Environmental Solutions, com sede em Bangalore, é uma equipe composta por diversos especialistas. Um dos trabalhos escolhidos pelos designers que explora uma gestão eficiente da água é a residência para Chari, que utiliza captação de água da chuva (do terraço), recarga do lençol freático e reciclagem de água cinza para reuso em descargas e jardinagem.
Os arquitetos explicam como seu sistema de captação de água da chuva pode ser usado para a coleta de água potável, conhecida como "água vital", que é obtida do telhado, que deve ser impecavelmente limpo. Em seguida, a água passa por uma simples filtragem em um tecido e é direcionada para a cozinha para consumo e uso culinário. Para outras aplicações, a água também é coletada da cobertura. Nesse caso, ela passa por um filtro de carvão, areia e cascalho e é armazenada em um tanque de água subterrâneo.
Em seguida, eles passaram para a recarga do lençol freático, na qual "qualquer transbordamento do tanque de água subterrâneo durante chuvas intensas se conecta a um poço que recarrega o aquífero raso". Além de reabastecer o aquífero, essa ação permite o controle das enchentes urbanas, pois transporta o excesso de água da chuva para o solo, "contribuindo para revitalizar os meios de subsistência tradicionais da comunidade de escavadores de poços em Bangalore".
A reciclagem e reuso da água cinza se torna o passo final, ao recondicionar a água com sabão proveniente do banho, lavatório e máquina de lavar roupa por meio de um sistema natural de terra e plantas. "Consiste em um tanque de decantação com compartimentos e um bioreator composto por terra, agregados, cultura bacteriana, vermicompostagem e plantas selecionadas. A purificação ocorre por meio de adsorção, filtragem e reações biológicas. Como o processo é aeróbico, não há odor desagradável. As plantas na camada superior permitem que a área de processamento se integre ao paisagismo."
Casa de Experimentos Concretos / Samira Rathod Design Atelier
O escritório Samira Rathod architects também estava interessado realizar uma casa sustentável que recolhe água. O resultado é um projeto inovador e experimental em que eles abordam o tema da água de maneira teórica e prática, quase científica.
A abordagem conceitual do tema foi destacada por meio da instalação Holding Water, que a arquiteta diretora descreve da seguinte forma: "A água se camufla com seu recipiente. É transparente e anômala, encontrando seu próprio equilíbrio. A água escapa de nós; é etérea e, ao mesmo tempo, um elixir para a vida. A água isola; é versátil. Com a diminuição dos recursos hídricos, reter água tornou-se imperativo. Reter água de maneiras que sejam naturais e integradas ao nosso ser. Como a arquitetura, a forma construída, integra a água no design?"
"A primeira ocupação humana ocorreu em torno da água. Por anos, comunidades se estabeleceram ao redor de corpos d'água, crescendo organicamente e dependendo da água como seu principal recurso. Com esse recurso sendo perdido em um ritmo insondável, um sistema projetado poderia permitir que comunidades coletassem e retivessem a água em várias formas de armazenamento — como tanques, reservatórios, lagos e lagoas; celebrando seu fluxo à medida que escorre, brota, despeja e inunda.
O experimento arquitetônico observa a água e suas características como material de construção, construindo casas e comunidades, trazendo a água do passado para o futuro. A água imortal. A instalação é projetada para despertar os sentidos e é uma pausa para refletir sobre o "ser água" — transparente e pura."
A tradução dessa ideia foi implementada na Casa de Experimentos Concretos. Concebida com a ideia única de reter água em suas paredes externas, em vez da estrutura tradicional de tanque subterrâneo ou suspenso, a residência é construída com vários tipos de misturas de concreto, testadas e destinadas a armazenar água suficiente para um ano inteiro. Essa técnica de contenção de água também funciona para fornecer resfriamento passivo à casa. Aberturas distintas no terraço coletam toda a água da chuva diretamente para a casa de água, que é repartida em duas partes: "uma para a água dura (com excesso de minerais) e outra para a água mole (livre deles), conectadas a um purificador de água que converte a água dura em água utilizável, que é então bombeada para a casa para uso regular."
Casa no Riacho / Monsoon Collective
Para a equipe do Monsoon Collective, propor uma arquitetura baseada em soluções que respondam ao contexto local e sejam respeitosas tanto ao conforto do cliente quanto às demandas ambientais é um processo complexo. Segundo os arquitetos, a arquitetura de Kerala foi afetada pelas "chuvas torrenciais de monção". Para eles, independentemente do estilo arquitetônico, um projeto funcional e sustentável deve ser totalmente adaptado ao clima onde está inserido. "As monções são uma parte vital da vida de muitas pessoas ao redor do mundo, e diante das calamidades naturais que ocorrem globalmente, uma arquitetura consciente do clima tornou-se uma necessidade."
Indo além do simples gerenciamento funcional da água, o escritório trabalhou na "criação de uma casa onde a chuva é parte integrante do projeto arquitetônico". À medida que a monção provoca uma mudança na paisagem topográfica, injetando pequenos riachos ao longo da paisagem, a Casa no Riacho é projetada para acompanhar os cursos d'água da monção. Durante a temporada de chuvas, a água escorre do telhado em forma de guarda-chuva e flui para dois canais principais que atravessam a residência. "A água da chuva que cai nesses canais flui pela casa ao longo de caminhos cênicos, criando uma conexão tangível com a monção a partir de dentro do lar."
A sensibilidade do Monsoon Collective reflete na abordagem, ao abraçar e trazer as chuvas abundantes da região, "integrando a água em movimento ao design em níveis funcionais e estéticos", vistos nas formas fluidas da casa e nas paredes curvas de tijolos.
Este artigo é parte dos Temas do ArchDaily: Água e Arquitetura. Mensalmente, exploramos um tema em profundidade através de artigos, entrevistas, notícias e projetos de arquitetura. Convidamos você a conhecer mais sobre sobre os temas do ArchDaily. E, como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossas leitoras e leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.
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