Arquitetura emocional: como soluções contextuais podem combater a "epidemia do tédio"

Em seu mais recente TED Talk, Thomas Heatherwick lamenta uma condição que afeta áreas da cidade definidas por edifícios monótonos, ou o que ele chama de "epidemia de tédio". Reconhecendo a funcionalidade que impulsionou esses projetos, ele afirma que essa característica por si só não pode garantir que as estruturas se tornem partes ativas da vida urbana, pois muitas vezes não conseguem provocar uma resposta emocional nas pessoas. Heatherwick explica que, em sua opinião, essa função emocional, ou a capacidade dos edifícios de significar algo para seus usuários e visitantes, é essencial. Quando bem-sucedida, a arquitetura pode contribuir positivamente para a qualidade de vida e bem-estar de seus moradores, promover a coesão social e contribuir para um senso de identidade. Então, como a arquitetura pode provocar uma conexão emocional positiva e fornecer um pano de fundo agradável para as comunidades que atende?

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O caráter de um edifício ou empreendimento urbano pode ser difícil de definir, mas quando falha em envolver indivíduos, os efeitos negativos podem ser sentidos em vários níveis. Estudos mostram que esses edifícios podem ser prejudiciais de maneiras físicas e psicológicas, aumentando os níveis de estresse, problemas de saúde mental, criminalidade e comportamentos antissociais. Do ponto de vista da sociedade, quando um edifício não consegue se conectar com seus usuários, a decisão de demoli-lo e substituí-lo torna-se mais fácil, levando a um aumento das emissões de gases de efeito estufa.

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Bruxelas, Bélgica. Imagem © Werner Lerooy via Shutterstock

Para provocar uma resposta emocional e encorajar as pessoas a se relacionarem positivamente com seu ambiente construído, várias estratégias podem ser usadas para enraizar o projeto em seu contexto. Reutilizar o que já está no local não é apenas uma escolha sustentável que minimiza o impacto ambiental, mas também preserva a memória e a história de um lugar. O emprego de materiais e técnicas de construção locais também conecta a arquitetura ao seu contexto, fortalecendo a identidade cultural e permitindo que os arquitetos aproveitem o conhecimento local e as adaptações às condições específicas da região. Finalmente, texturas e materiais acrescentam riqueza visual ao ambiente construído, envolvendo múltiplos sentidos na percepção do espaço.


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Reutilizar o que já está no local

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Zeitz Museum of Contemporary Art Africa / Heatherwick Studio. Image © Iwan Baan

A arquitetura nunca está sem contexto. Isso pode incluir as normas socioculturais que ditam usos e costumes, a paisagem natural e condições específicas, ou o caráter da região em que está localizada. Adaptar o projeto a essas condições e reconhecer a história e as memórias associadas ao local tem o potencial de criar uma composição arquitetônica cativante. Ao preservar elementos já presentes no local e integrá-los ao novo projeto, a arquitetura se torna estratificada, fomentando um sentido de continuidade e identidade cultural. O reuso adaptativo de edifícios existentes também é a escolha mais sustentável, pois reduz o desperdício de construção, o uso de novos materiais e o gasto adicional de energia.

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Zeitz Museum of Contemporary Art Africa / Heatherwick Studio. Image © Iwan Baan

Quando um dos silos desativados há um século da Cidade do Cabo estava ameaçado de ser demolido, o Heatherwick Studio propôs transformar a estrutura existente no primeiro grande instituto da África dedicado aos artistas contemporâneos africanos, o Museu de Arte Contemporânea da África Zeitz (Zeitz MOCAA). Como os silos foram originalmente criados para armazenar milho de toda a África do Sul, os arquitetos utilizaram a forma de um grão de milho e cortaram os tubos de concreto dos silos. O resultado é um espaço central memorável cercado por mais de 80 galerias. Ao cortar os funis de grãos, o gesto expõe a funcionalidade interna do prédio. O novo coração do centro de artes reage à curiosidade dos visitantes e os incentiva a explorar ainda mais os espaços ao redor.

Adaptação a materiais e técnicas locais

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Clínica Cirúrgica e Centro de Saúde / Kéré Architecture. Imagem Cortesia de Francis Kéré

As técnicas locais de construção muitas vezes estão enraizadas em gerações de conhecimento e experiência. Essas técnicas representam adaptações locais ao clima usando estratégias passivas para isolamento térmico, ventilação natural e sombreamento. Ao incorporar tais técnicas, os edifícios podem se integrar melhor em seus arredores tanto estética quanto culturalmente. Além de sua importância histórica, os materiais locais também estão associados a uma pegada de carbono menor, pois as necessidades de transporte são reduzidas e a economia local é fortalecida, criando uma demanda por instalações de fabricação local. A familiaridade, continuidade cultural e autenticidade são evocadas pelo uso de soluções específicas do local, enquanto novas maneiras de empregá-las permitem inovações e designs atraentes.

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Escola Primária Gando / Arquitetura Kéré. Imagem © Erik Jan Ouwerkerk

O vencedor do Prêmio Pritzker de Arquitetura de 2022, Diebedo Francis Kéré, é reconhecido não como um "starchitect", mas como um "solucionador de problemas", trabalhando na interseção das técnicas tradicionais de construção africanas e da arquitetura contemporânea. Seus trabalhos são enraizados no patrimônio cultural, incentivando o envolvimento comunitário e um forte senso de responsabilidade social. Através de projetos como o Centro de Saúde ou a Escola Primária de Gando em Burkina Faso, ele demonstra o uso eficiente de materiais e técnicas de construção locais integrados perfeitamente ao ambiente natural e adaptados às necessidades específicas da comunidade.

Considerar textura, escala e geometria

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Morland Mixité Capitale / David Chipperfield Architects + CALQ. Imagem © Simon Menges

Materiais distintos, texturas, sombras e tridimensionalidade provocam respostas sensoriais, acrescentando interesse adicional ao design volumétrico. A geometria do edifício também pode adaptá-lo às diferentes escalas de percepção. Vistos desde a rua, pórticos e balanços podem romper o volume para criar uma escala apropriada, enquanto materiais táteis adicionam interesse quando vistos de perto. Cor, luz e sombras também podem contribuir para uma qualidade do edifício que vai além de sua funcionalidade, encorajando os transeuntes a desacelerar e se conectar ao seu ambiente.

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Museu Jumex / David Chipperfield. Imagem © Mathilde Marest via Shutterstock

Um dos arquitetos que exemplificam a importância da textura e do material é David Chipperfield. Por meio de seus projetos, ele usa contraste, clareza e regularidade para destacar as texturas únicas dos materiais empregados, que incluem zinco cinza, vidro opalino translúcido, mármore travertino de origem local e painéis de vidro com vários tratamentos. Para adicionar profundidade e textura, materiais leves e pesados são equilibrados. Elementos estruturais, como colunas ou o teto com molduras, também são empregados para adicionar textura e ritmo e, assim, contribuir para a atmosfera dos espaços, mantendo também suas funções.

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MUDEC / David Chipperfield Architects. Imagem © OskarDaRiz

Todas essas estratégias são meios pelos quais a arquitetura pode se adaptar às condições específicas de seu local, história e cultura, criando uma conexão emocional entre as pessoas e seu ambiente. Ao incorporar e adaptar o que já existe no terreno, os edifícios adquirem qualidades memoráveis ​​e significativas; os materiais locais permitem a inovação enquanto enraízam as estruturas em seu contexto natural e cultural, enquanto a interação entre materiais, luz e sombra adiciona interesse sem diminuir a funcionalidade.

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Sobre este autor
Cita: Florian, Maria-Cristina. "Arquitetura emocional: como soluções contextuais podem combater a "epidemia do tédio"" [Emotional Architecture: How Contextual Solutions Can Fight against the "Epidemic of Boringness"] 28 Jun 2023. ArchDaily Brasil. (Trad. Ghisleni, Camilla) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1002841/arquitetura-emocional-como-solucoes-contextuais-podem-combater-a-epidemia-do-tedio> ISSN 0719-8906

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