Quase quatro meses após a declaração de emergência de saúde pública de importância internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 30 de janeiro, o número de casos de coronavírus no mundo continua a aumentar. Ainda que países onde houve declínio na taxa de transmissão do vírus estejam reabrindo negócios e voltando à normalidade, os impactos da pandemia, que vão além da saúde dos habitantes, continuam atingindo seu cotidiano, com mudanças no trabalho, nos hábitos e na economia. Tais mudanças ainda podem perdurar e afetar o futuro do campo da arquitetura e construção, com a perspectiva de uma crise no setor.
Após um desastre natural, a arquitetura desempenha um papel fundamental não apenas na reconstrução dos edifícios vítimas de danos, mas também no conforto e segurança para os afetados. Uma arquitetura pós-desastre bem-sucedida deve atender tanto à necessidade de abrigo imediato a curto prazo quanto às necessidades de reconstrução e estabilidade a longo prazo. Pensnado nisso, a seguir compilamos 4 exemplos de arquiteturas pós-desastre, desde protótipos construídos e pensados para ser montados em curto prazo, até propostas nunca construídas, mas com soluções que destacam-se por sua eficiência.
Se bem que a previsão e prevenção de problemas e danos são fatores cada vez mais relevantes na hora de projetar nossos edifícios, espaços e cidades, determinadas situações extraordinárias ainda escapam ao nosso controle, demandando respostas arquitetônicas imediatas e urgentes, capazes de oferecer abrigo e qualidade de vida às comunidades afetadas por desastres naturais e conflitos das mais variadas ordens, soluções que – nos casos mais extremos – podem ser a única chance de sobrevivência para muitas pessoas.
Desastres naturais como terremotos, tsunamis, furacões, inundações assim como conflitos armados, disputas territoriais ou outras crises humanitarias de escala mundial – como a atual pandemia de COVID-19 –, demandam uma reação imediata para controlar e evitar o agravamento das suas consequências – ajudando a salvar vidas. A arquitetura de emergência pode ser definida como uma resposta construtiva que faça frente às necessidades humanas mais urgentes, as quais emergem em momentos de crise e situações excepcionais, materializadas em forma de infra-estruturas responsíveis que buscam oferecer soluções imediatas abrangendo desde abrigos para acolher pessoas em situação de emergência até instalações de saúde e atenção médica nas zonas afetadas.
Como o voo de um pássaro, uma chuva de verão, marés no oceano, um relâmpago numa tempestade, uma estiagem prolongada, fenômenos naturais ocorrem todos os dias e nem percebemos. Mas há alguns que chamam mais a nossa atenção, como a erupção de um vulcão, um terremoto, o surgimento de um novo vírus ou uma grande inundação. Mesmo assim, caso ocorram numa região desabitada e não causem grandes danos materiais consideráveis, continuam sendo apenas fenômenos naturais. Caso aconteçam em pontos do planeta onde vivem muitas pessoas e que causem mortes, ferimentos, interrupção da produção, grandes prejuízos financeiros e a necessidade de deslocamento da população, aí sim são considerados desastres naturais.
https://www.archdaily.com.br/br/939699/o-impasse-da-arquitetura-para-abrigar-pessoas-atingidas-por-desastresJoão Carlos Souza
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Cidades como Paris foram reformadas e qualificadas no século 19 com pretexto de enfrentar doenças. Foto: Alexus Goh/Unsplash
Cidades e epidemias têm uma relação intrincada. Ao longo da história, cidades se constituíram como locais propícios à disseminação de doenças. Centros econômicos, sociais e culturais, vocacionadas para conectar ideias e desenvolver soluções, responderam às epidemias com inovação. Mas a melhoria do espaço urbano – com saneamento e fornecimento de água, construção de parques e espaços abertos, melhores condições de transporte – frequentemente veio acompanhada da recriação da cidade precária nas periferias.
https://www.archdaily.com.br/br/939978/planejamento-urbano-e-epidemias-como-doencas-do-passado-transformaram-as-cidadesFernando Corrêa, Luis Antonio Lindau, Henrique Evers e Laura Azeredo
Como resposta aos desastres naturais, crises sanitárias e conflitos armados que tão frequentemente abalam as nossas sociedades, arquitetos precisam agir rapidamente, usando a sua criatividade para apresentar soluções emergenciais aos mais urgentes problemas de nosso tempo. À seguir, compilamos uma lista de projetos inspiradores que exploram uma faceta da arquitetura que nem sempre está destinada às primeiras páginas das revistas, mas que neste momento, parecem ser a única arquitetura possível, estruturas honestas que procuram solucionar problemas, unir pessoas e resgatar comunidades.
A arquitetura de emergência é uma tipologia que se desdobra das mais variadas formas, assim como serve para atender uma enorme diversidade de circunstâncias excepcionais – sendo a última delas uma crise sanitária mundial. Neste contexto, soluções emergenciais passaram da noite para o dia a ser o centro das atenções, algo que nos faz refletir sobre a importância deste tipo de estruturas, que até ontem, permaneciam à sombra de outros discursos e tendências, mas que em outros contextos – menos privilegiados – tem sido da maior importância já a algum tempo. Tudo aquilo que para nós parece tão cotidiano e as vezes até vulgar, em outros contextos pode ser algo inalcançável, que apesar de ser uma necessidade básica, ainda assim, encontra-se tão distante daquela realidade.
Como disse Mike Tyson: “Todo mundo tem um plano, até levar um soco no queixo.”
A pandemia de COVID-19 vai deixar uma marca indelével no mundo da estética. Desde a fundação da Sociedade das Nações em 1920, finalmente, a estética internacionalizante da arquitetura – como a conhecemos desde então – pode deixar de ser a via de regra ditada pelos cânones da disciplina. Markus Breitschmid, arquiteto e acadêmico suíço professor da Virginia Tech desde 2004, argumenta em seu artigo “In Defense of the Validity of the 'Canon' in Architecture,” que o Cânone na Arquitetura é o principal instrumento responsável por isolar a arquitetura do resto do mundo:
Os blocos de concreto são peças utilizadas sobretudo na execução de paredes e muros, podendo assumir função estrutural ou de vedação. Por ser um material pré-fabricado de baixo custo, comumente utilizado de forma aparente, é adotado em muitos projetos com o intuito de executar uma obra econômica, rápida e prática, sem necessidade de mão de obra especializada.
Existem elementos estranhos de conexão que fazem parte desse fenômeno de distanciamento social: não apenas o mundo inteiro o está exoperienciando simultaneamente, mas também parecemos compartilhar um momento global de conscientização de que algo único está ocorrendo – algo que exige ser documentado e entendido.
Movidos por esse impulso e sob a orientação da fotógrafa e professora Erieta Attali, 16 estudantes da Cooper Union exploraram, através da fotografia, sua vida cotidiana agora governada pelo isolamento e pelo distanciamento social. Os registros mostram realidades distintas, específicas de onde os alunos estão passando o período de quarentena.
À medida que alguns países estão pouco a pouco retomando as suas atividades, abrandando as medidas de contenção e isolamento que nos foram impostas ao longo dos últimos meses, arquitetos do mundo todo estão procurando entender melhor como será a sua vida na chamada ‘nova normalidade’. Como uma ruptura drástica e repentina em nossos modos de vida, o surto de coronavírus nos apresentou uma nova forma de encarar o mundo, redefinindo o próprio conceito de “normalidade”, provocando uma mudança na maneira como nos relacionamos com o mundo a nossa volta. Impulsionados por uma série de questões latentes, estamos lidando com um fenômeno ainda muito recente, antecipando um futuro relativamente desconhecido.
Durante um bate papo informal, dois dos nossos editores tiveram a ideia de escrever um artigo colaborativo onde procuram investigar as principais tendências do atual momento, debatendo questões relacionas às incertezas do futuro e oferecendo a sua visão sobre como a atual situação poderá afetar a disciplina da arquitetura daqui para frente. Abordando uma possível mudança de paradigma, no cenário profissional e principalmente no ensino da arquitetura, este artigo escrito à quatro mãos por Christele Harrouk e Eric Baldwin visa lançar uma luz sobre este nebuloso momento que estamos atravessando.
Todos os anos, nessa data, são organizados festivais, eventos educacionais, exposições e excursões para celebrar e, acima de tudo, conscientizar sobre a conservação das aves migratórias. Essas espécies viram seus habitats transformados nas últimas décadas, em parte pela ação humana: projetistas e agentes imobiliários construíram e nutriram um imaginário urbano dominado por estruturas de vidro como símbolo de poder e progresso. Antes de prosseguir com a conquista do céu, vale a pena considerar algumas medidas a serem adotadas ao especificar materiais mais amigáveis às espécies com as quais coabitamos.
Flickr user: MONUSCO Photos Licensed under CC BY-SA 2.0. ImageVista aérea del campo de refugiados en Burundi. Fotografía de MONUSCO / Abel Kavanagh
Inundações, terremotos, tsunamis, furacões, conflitos armados, econômicos, sociais, pandemias. O número de refugiados no mundo cresce ano após ano. As soluções imediatas e temporárias, cada vez mais numerosas, transitam entre o "fazer o que se pode" e o "fazer o que se deve", sempre sob a égide do "fazer muito com pouco". Mas quão temporária a arquitetura de emergência acaba, efetivamente, sendo? É mais permanente do que pensávamos?
Queremos oferecer aos nossos leitores a possibilidade de expressar abertamente suas opiniões e experiências sobre o assunto. Se tivéssemos consciência da dificuldade de lidar com as perdas totais – que acabam fazendo o temporário se tornar permanente – mudaríamos o modo de projetar a arquitetura emergencial? Exigiríamos uma arquitetura de emergência de maior qualidade? Buscaríamos outros tipos de solução?
Deixe suas opiniões sobre o assunto no formulário a seguir:
Shalom. Três homens em túnicas brancas estendem sincronicamente os braços e saúdam a quem chega com a expressão hebraica que deseja paz e boas-vindas. Por favor, conserve o silêncio no santuário. A locução suave e feminina informa as regras de conduta em meio à trilha sonora celestial. Telões de alta definição exibem imagens florais e passagens bíblicas. Para alcançar a prosperidade, em quem confiar? Vídeos de curta duração divulgam a programação semanal, como a Palestra Motivacional para o Sucesso Financeiro, oferecida às segundas-feiras em seis horários diferentes.
A arquitetura egípcia contemporânea está baseada em uma história enriquecedora. Como berço da civilização, o país transcontinental influenciou vários estilos de construção e culturas de projeto. Lar de alguns dos primeiros desenvolvimentos urbanos e governos centralizados, o Egito é definido por sua geografia e seu contexto multicultural. Hoje, sua arquitetura moderna precisa enfrentar uma herança de construção que se estende por milênios.
Por causa do coronavírus, as universidades em todo o mundo estão fechadas e as aulas, agora, são oferecidas por videoconferência. Isso não é excessivamente dramático, pois esse arranjo temporário eclipsará após a contenção dos casos e as aulas serão retomadas. No entanto, os impactos no meio universitário e no tecido urbano exigirão reformas imediatas no ensino superior, que moldarão o programa de estudos em arquitetura dos próximos anos.
https://www.archdaily.com.br/br/939579/como-o-coronavirus-transformara-o-modo-como-ensinamos-arquiteturaZaheer Allam, Gaetan Siew and Felix Fokoua
A terra é um elemento que vem sendo utilizado para construir desde tempos imemoráveis. Seu baixo impacto ambiental e a variedade de técnicas existentes para trabalhá-la permitiram a transcendência de seu uso em projetos de arquitetura em todo o mundo. Seja na taipa, em paredes de terra batida, paredes erguidas com sistemas de barro ou estruturas em adobe, diversos projetos contemporâneos reelaboram e reinterpretam estes métodos tradicionais para dar forma a seus espaços.
Até onde chega os antigos registros escritos da história da humanidade, a “pré-história” pode ser estabelecida em um período de tempo que vai de 35.000 a.C. até 3000 a.C. no caso do Oriente Médio e até 2000 a.C. na Europa Ocidental. Segundo o que foi possível observar, os construtores de outrora detinham um profundo conhecimento à respeito das condições ambientais e das necessidades físicas do ser humano em sua busca por abrigo. Inicialmente organizados em grupos ou tribos, humanos utilizavam estruturas construídas com pele e ossos de animais para se proteger da chuva e do sol, do frio e do calor assim como das ameaças do mundo exterior. Milhares de anos se passaram e as cabanas primitivas evoluíram para se tornarem estruturas complexas construídas em paredes de tijolos ou com solo compactado, assumindo formas geométricas pontuadas por aberturas responsáveis pela ventilação e iluminação natural dos espaços interiores.
Ao longo dos próximos meses, você poderá acompanhar aqui no ArchDaily uma série de pequenos artigos sobre a história da humanidade em busca de abrigo e como o habitat primitivo evoluiu para se transformar na arquitetura como a conhecemos hoje. Durante esta primeira semana, dedicaremos um pouco do nosso tempo para refletir sobre as estruturas das primeiras civilizações conhecidas pela humanidade: as Aldeias Neolíticas, a Mesopotâmia e o Antigo Egito.
A obrigação de permanecer em nossas casas - ditada pelos governos em relação à pandemia de COVID-19 - e, em alguns casos, o medo de sair para fora, fez com que, nos últimos tempos, o espaço doméstico tenha sido valorizado e se tornado palco das ações / reações e características mais evidentes do ser humano no contexto de um sistema capitalista e machista.