Johanna Meyer-Grohbrügge e a espacialização do conteúdo

Do momento em que despretensiosamente começou os estudos de arquitetura, até se apaixonar pela complexidade do campo e pela multiplicidade de suas camadas, Johanna Meyer-Grohbrügge ficou impressionada com a natureza dual da arquitetura; seu aspecto intelectual e resultado físico. Fundadora da Meyer-Grohbrügge em Berlim, a arquiteta e seu estúdio buscam espacializar conteúdos, criar relacionamentos e encontrar soluções para a convivência.

Junto a Toshiko Mori e Gabriela Carrillo, Johanna Meyer-Grohbrügge faz parte do novo documentário Women in Architecture, que estreará no dia 3 de novembro de 2022. O filme, realizado por Sky-Frame em colaboração exclusiva com o ArchDaily e direção de Boris Noir, é um catalisador para o debate e reflexão em torno de um dos temas mais urgentes na arquitetura.

Após se formar no ETH Zurique, Johanna morou em Tóquio de 2005 a 2010. Segundo ela, seu tempo de trabalho no SANAA moldou sua abordagem arquitetônica “muito mais do que seus estudos”, revelando “outras formas de fazer arquitetura” ao questionar tudo e a prever a ausência de regras preestabelecidas; “Você começa como se não soubesse de nada a cada novo projeto”. Apropriar-se dessa metodologia de constante abertura leva à proliferação de opções e, eventualmente, de conclusões. Vendo isso como uma maneira intuitiva de abordar um projeto, a arquiteta entende a dicotomia entre a tomada de decisão emocional — “o que você sente que é certo” — e a maneira intelectual pragmática de fazer as coisas de maneira complementar. Em sua percepção, não há um caminho certo, mas ela se viu mais inclinada ao método sensível usado pelo SANAA, o que acabou convencendo-a a ficar em Tóquio por cinco anos para aprender mais sobre o que a disciplina tem a oferecer. Baseando sua abordagem arquitetônica na redução (de forma, material e recursos) e na compreensão da essência das coisas, a arquitetura de Johanna cria relações entre os diferentes componentes em ação: pessoas, construção, contexto etc.

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Still from the movie "Women in Architecture". Image © Boris Noir

Fugindo do que se espera como "típico", Meyer-Grohbrügge explora diferentes tipos de projetos que estão sempre centrados no conteúdo. Em 2010, fundou seu escritório June14 Meyer-Grohbrügge & Chermayeff, e depois o Meyer-Grohbrügge em 2015, em Berlim. Nunca tendo morado nesta cidade antes de montar seu estúdio lá, Johanna percebeu Berlim como um centro social muito aberto. “Todo mundo vem para Berlim”, ela explica, “você não precisa ser de uma determinada maneira para se encaixar nesta cidade”. Entendendo que a liberdade a ajuda a se desenvolver profissionalmente, Johanna começou com alguns projetos ligados à cena artística, como galerias de arte, feiras de arte, coleções e projetos de exposições. Percebendo que este mundo está aberto a coisas diferentes, se envolveu principalmente em projetos em que a arquitetura assumia o centro do palco, não apenas o segundo plano.

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Still from the movie "Women in Architecture". Image © Boris Noir

Tendo iniciado a carreira acadêmica ainda bastante jovem, Johanna percebeu a oportunidade de ver as coisas de forma diferente. Já lecionou em diversas instituições, como a Columbia GSAPP, a Northeastern University Boston, a Washington University St. Louis e a DIA Dessau. Desde 2021, ocupa o cargo de Presidente do Departamento de Arquitetura e Design Espacial da TU Darmstadt. Sabendo que sua atuação acadêmica a desafia e lhe permite enxergar sua prática de forma diferente, a arquiteta tenta traçar o seu próprio caminho e fugir do habitual “construir menos e pensar mais”. Hoje, Johanna busca construir cada vez mais e ter um impacto maior, mas se questiona constantemente sobre “como construir do jeito certo”. Acreditando que esta é a grande questão da última década, reconhece que ninguém chegou a uma solução final ainda.

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Still from the movie "Women in Architecture". Image © Boris Noir

Habitação e o trabalho para Johanna são prioritários em termos das questões do futuro, pois estas duas tipologias nunca desaparecerão, devendo ser mais integradas nas nossas vidas. Olhando para o aspecto da sustentabilidade, metros quadrados, materiais e abertura são fundamentais para o arquiteto. Com efeito, ela está trabalhando na criação de edifícios que não têm um programa único, mas consistem em estruturas abertas que atendem às necessidades de viver e trabalhar.

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Still from the movie "Women in Architecture". Image © Boris Noir

Johanna Meyer-Grohbrügge iniciou sua carreira profissional com o projeto KurfürstenStr. 142, um edifício residencial que reflete mais o interesse no espaço do que na função. Fomentando a privacidade e a comunicação, a estrutura cria uma conexão com a praça pública externa, ao mesmo tempo em que estabelece uma camada interna mais íntima. Através de formas sobrepostas, a estrutura dilui fronteiras, criando relações de vizinhança sem abrir mão da privacidade mesmo nos espaços abertos. Em contraste com este projeto que levou muito tempo para ser desenvolvido, a Coleção Julia Stoschek foi projetada e construída em 3 meses. Uma intervenção de remodelação mínima que se pretendia temporária, o projeto consiste numa cortina envolvente que percorre os espaços interiores e exteriores para orientar os visitantes e definir espaços de penumbra para as obras audiovisuais. Pensando sobre o modelo de escritório do futuro, Johanna e seu estúdio ganharam um concurso para projetar a Volkshausgarten Leipzig, para a associação de trabalhadores ver.di. Em andamento, o projeto reflete a sinergia entre paisagem e arquitetura, trazendo de volta, como em muitos dos projetos de Meyer-Grohbrügge, a questão das conexões. Outros projetos importantes na trajetória de Johanna são a 11ª edição da Bienal de Berlim e o Pavilhão da Albânia na Bienal de Veneza 2021, onde a arquiteta conseguiu criar atmosferas por meio do cenário.

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Still from the movie "Women in Architecture". Image © Boris Noir

Não acreditando em um único propósito, Johanna entende que “é muito mais importante como você faz algo do que o que você faz”. Encontrando “respostas espaciais simples para questões complexas”, a arquiteta e seu escritório Meyer-Grohbrügge procuram estabelecer constantemente relações, entre pessoas, mas também entre pessoas e ambiente, e entre arquitetura e ambiente.

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Still from the movie "Women in Architecture". Image © Boris Noir

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Este artigo é parte dos Tópicos do ArchDaily: Mulheres na arquitetura. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos do ArchDaily. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.

Além disso, convidamos você a assistir ao lançamento de Women in Architecture, um documentário realizado pela Sky-Frame sobre três arquitetas inspiradoras: Gabriela Carrillo, Johanna Meyer-Grohbrügge e Toshiko Mori. O filme será lançado no dia 3 de novembro de 2022.

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Sobre este autor
Cita: Harrouk, Christele. "Johanna Meyer-Grohbrügge e a espacialização do conteúdo" 20 Nov 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/991462/johanna-meyer-grohbrugge-e-a-espacializacao-do-conteudo> ISSN 0719-8906

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