Escolas do futuro: Como o mobiliário influencia no aprendizado

É um direito dos estudantes, educar-se em um ambiente seguro, saudável (ambientalmente falando) e atrativo. Especialmente quando se trata de alunos com idades mais jovens, quando a importância de todos esses fatores é ainda mais evidente. No que diz respeito à ergonomia das cadeiras, por exemplo, está comprovado que, quando inadequada, prejudica muito a concentração e o desenvolvimento da caligrafia, por exemplo. É sabido também, que a eficiência do método tradicional de ensino está sendo cada vez mais questionada e, ao mesmo tempo, a qualidade de metodologias alternativas está sendo cada vez mais considerada nas escolas do século XX. Em outros artigos abordamos com mais detalhes sobre o ambiente montessoriano e sobre a atmosfera dos interiores waldorfianos.

Abordaremos neste artigo a respeito da importância da escolha do mobiliário e alguns aspectos que devem ser considerados na hora de organizá-lo no layout de salas de aula para as escolas do futuro.

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NUBO Kindergarten / PAL Design. Image © Michelle Young, Amy Piddington

Por esses e tantos outros motivos, é possível afirmar que existe uma trilogia fundamental para que o aprendizado seja bem sucedido: a qualificação do corpo docente, o interesse dos alunos e as qualidades do ambiente de estudo: a sala de aula. Dentre eles, o que cabe a nós enquanto arquitetos projetistas é proporcionar espaços de estudo: conforto ambiental, layout funcional, composição de revestimentos que favoreçam o raciocínio e mobiliário de qualidade. 

Itoi Elementary School / Atelier BNK. Image © Koji Sakai

Ao pensar na configuração das salas de aula do futuro, é necessário considerar cinco dicas que ajudarão a atender às necessidades dos alunos:

  • Intervalos para exercícios e movimentos: É interessante prever áreas livres próximas às salas, ou até mesmo dentro delas, para atenderem essa demanda.
  • Equipamentos de ginástica próximos: Da mesma forma, pode-se prever uma área (desta vez com pequenos equipamentos de ginástica) para sanar a necessidade de gasto calórico de cada faixa etária.
  • Mesas multiuso: Como já é frequente em escritórios corporativos, considere que os alunos possam variar o uso das mesas ora sentados, e ora em pé.
  • Móveis com rodízios: Mesas e cadeiras com rodízios permitem flexibilização rápida e silenciosas. Voltaremos a falar sobre esse benefício mais adiante.
  • Espaços de democratização de ideias: Espaços para os alunos escreverem em discutirem ideias entre eles são bastante envolventes.

Woodland Elementary School / HMFH Architects. Image © Ed Wonsek
Woodland Elementary School / HMFH Architects. Image © Ed Wonsek

Dentre as preocupações gerais que se deve ter em mente ao conceber um espaço destinado ao aprender, estão:

  • Flexibilidade: para apoiar as mais variadas formas de ensino e estratégias de aprendizado;
  • Eficiência: como em qualquer ambiente projetado, é preciso pensar em soluções sustentáveis, e, além disso, as alternativas devem ser duráveis a longo prazo. Como diz um velho ditado brasileiro: "o barato pode sair caro";
  • Ergonomia: o usuário deve ser levado em conta, ou seja, tudo deve ser dimensionado às medidas do estudante (para cada faixa etária) e levar em conta as necessidades dos níveis de desenvolvimento de cada fase da vida humana. Cada idade tem uma capacidade de se concentrar sentado por um período. Por exemplo:

    - De 6 a 10 anos: em média 5 minutos.
    - De 11 a 15 anos: em média 15 minutos.
    - De 16 a 20 anos: em média 25 minutos.

Por isso, é importante considerar áreas de movimento para promover pausas de respiro sem prejudicar o andamento das aulas. O Dr. D. Breithecker (do Instituto Federal para o Desenvolvimento da Postura e Exercício de Wiesbaden) recomenda que o dia escolar seja dividido da seguinte forma: 50% sentado (sessão dinâmica) / 30% em pé (mesas de pé) / 20% de movimento (aprendizado em movimento).

MRN Kindergarten and Nursery / HIBINOSEKKEI + Youji no Shiro. Image © Studio BAUHAUS

Flexibilidade

Anteriormente, a sala de aula só precisava de um tipo de configuração: professor à frente (sentado na cadeira ou escrevendo à lousa), e alunos em fileiras paralelas ouvindo e fazendo suas anotações. Cada vez mais, os estilos de ensino estão passando por uma intensa transformação. As escolas do futuro devem ser flexíveis pois nelas, a rotina escolar é estruturada através de blocos de atividades ritmadas.

Faz parte desta mudança novas formas de organização das mesas e cadeiras para facilitar a comunicação e a democratização do ambiente de ensino: nas escolas do século XXI o foco é o aluno, e para demonstrar isso, o layout deve acompanhar essa transformação.

Woodland Elementary School / HMFH Architects. Image © Ed Wonsek

O mobiliário deve ser flexível para possibilitar diversas opções de organização espacial, garantindo que se adeque facilmente a qualquer atividade proposta pelo currículo escolar de forma rápida e silenciosa.

Ada Lovelace Secondary School / A+Architecture. Image © Benoit Wehrlé

Algumas das possibilidades espaciais que contribuem para as novas práticas didáticas são:

  • Um grande círculo de cadeiras para debates, por exemplo;
  • Grupos menores para discussões temáticas;
  • Conversas exclusiva com o professor;
  • E momentos de concentração individual (neste caso, talvez seja interessante prever divisórias para as carteiras);
  • Momentos nos quais o destaque é o professor. Aqui, recomenda-se o uso da tecnologia através de quadros interativos e mais dinâmicos para captar maior interesse dos alunos.

Weiden Secondary School / Karamuk Kuo. Image © Mikael Olsson

Neste ponto, móveis leves e fáceis de transportar tem vantagem em comparação com os tradicionais, frequentemente feitos de madeira. As cadeiras que tem rodinhas são uma excelente opção pois são silenciosas e rápidas. Além disso, elas possuem ajustes de altura e giram, por isso costumam ser mais bem-sucedidas do que àquelas fixas, nas quais nota-se maior desconforto dos alunos que precisam ficar mudando de posição mais regularmente.

Eficiência

Estima-se que cada aluno passe em média seis horas por dia (por aproximadamente 11 anos) sentados em cadeiras escolares. Considerando ainda que, quando os alunos se vão, novos chegam, conclui-se que o investimento na qualidade do mobiliários escolhido é mais assertivo do que optar por peças mais baratas, de qualidade inferior.

Ao especificar mesas, cadeiras e armários para ambientes escolares, tenha em vista sua durabilidade, sua facilidade de limpeza e manutenção e sua resistência. Normalmente, quando essas peças são escolhidas, a obra já está quase no fim, e junto com ela, o orçamento. Para evitar falta de verba na hora de definir o mobiliário, considere esse tipo de investimento desde o início do projeto.

Beelieve Preeschool of Life / EstudioFernandaOrozco. Image © Casablanca

Optar por mobiliário de qualidade indica ao usuário (no caso, as crianças) que houve preocupação com elas. Por isso, é bem provável que haja maior sentimento de pertencimento, e consequentemente, maior respeito por parte delas com o ambiente ao seu redor. 

Ledeer Daycare Center / Credohus. Image © Hong Li

Outra atitude desejável é considerar a faixa etária que utilizará cada sala de aula, para não correr o risco de especificar móveis genéricos, pois, ainda que sejam de qualidade, serão equivocados para algumas idades, o que os tornará ineficazes. O mesmo vale para as outras áreas escolares: as cadeiras de sala de aula não devem ser as mesmas da biblioteca, refeitório ou laboratórios.

Nursery School in Berriozar / Javier Larraz + Iñigo Beguiristain + Iñaki Bergera. Image © Iñaki Bergera

Para as mesas, considere o fato de que a maioria dos alunos utiliza aparelhos eletrônicos como notebooks ou tablets. Escolha aquelas com superfícies que caibam esses aparelhos, além do material considerado como básico como cadernos e estojos...

Weiden Secondary School / Karamuk Kuo. Image © Mikael Olsson

Ergonomia

Um estudo da FIRA (Furniture Industry Research Association), do Reino Unido afirma que atualmente as crianças são mais altas (com braços e pernas mais compridos) do que eram há trinta anos atrás. Essas são medidas que influenciam diretamente no conforto ao usar cadeiras. Ou seja, são crianças do século XXI utilizando mobiliário em salas de aula que foram projetados para crianças de mais de 50 anos atrás.

O mobiliário escolhido deve se adequar às dimensões das crianças (e não o contrário). Deve permitir movimento e assegurar a boa postura.

Schindler Sit-Stand School Desk 1892. Image via FIRA
Escola René Beauverie / Dominique Coulon & associés. Image © Eugeni PONS

O mobiliário das escolas do futuro precisa refletir as necessidades das crianças do presente. Muito além da estética, a qualidade dos móveis (e sua disposição assertiva nos interiores), colaboram com o desenvolvimento e, consequentemente, com o melhor aprendizado dos estudantes de qualquer idade. De acordo com a mesma pesquisa da FIRA, 13% dos estudantes entre 10 e 16 anos possuem algum tipo de problema ou incômodo na região das costas. Esse número é ainda maior em crianças de idade mais avançada. Optar por mesas e cadeiras com uma certa inclinação pode já ser um grande passo para resolver esse problema.

Benefícios da boa escolha de mobiliário

Para os alunos

  • Melhor facilidade de aprendizado, já que escolher mobiliário adequado empoderará os alunos e aumentará sua autoestima. Os alunos poderão permanecer concentrados por mais tempo e realização as tarefas mais rapidamente;
  • Mais qualidade de vida, visto que a ergonomia correta proporcionará menos problemas de saúde e mais bem-estar físico;
  • Maior criatividade, graças à flexibilidade dos espaços que possibilitará mais estímulos de aprendizado.

Para os professores

  • Apoio ao currículo flexível. Quando o mobiliário prevê mudanças de layout, o docente sente-se mais confortável em propor tais alterações, tornando as atividades propostas mais dinâmicas e atrativas aos alunos diminuindo as barreiras de aprendizado.
  • Incentivo ao pertencimento do espaço possibilita que os alunos fiquem mais dispostos a colaborar, o que torna a vivência em sala de aula mais interessante para todos. 

Escola René Beauverie / Dominique Coulon & associés. Image © Eugeni PONS

Para a escola

  • Optar por mobiliário de qualidade requer um investimento alto a curto prazo, mas um custo x benefício bastante interessante se considerar o longo prazo. Normalmente deve-se considerar uma vida útil de 10 anos por cada peça de mobiliário.
  • A flexibilização do layout (e consequentemente do ensino) gera mais interesse dos alunos e, por sua vez, um resultado mais bem avaliado. Um ambiente de trabalho estimulante é desejável para todos os envolvidos.

Optar pela escolha de mobiliários que atendam às necessidades de seus alunos é uma atitude positiva para todos os envolvidos no âmbito escolar. É necessário uma mudança de perspectiva em relação aos custos por parte dos administradores (deve-se passar a observar o longo prazo) e, por parte dos arquitetos deve-se considerar esse tipo de investimento desde a fase inicial do projeto. É desejável também, que os arquitetos levem em conta os parâmetros de eficiência, ergonomia e flexibilidade sobre os quais falamos acima tendo em vista um partido de projeto que considera o usuário (as crianças) como ponto primordial.

Assim, além de prever espaços para movimento livre e orientado (através de equipamentos de ginástica), o mobiliário da escola do futuro deve estar alinhado com as necessidade de uma dinâmica didática mais flexível, deve ser durável e confortável à anatomia do usuário. 

Escola Primária Lisle / Perkins and Will. Image © James Steinkamp Photography

Referências

  • Safe seats of learning. How good school furniture can make a difference. Disponível neste link. Acesso 23 abril 2020.

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Sobre este autor
Cita: Audrey Migliani. "Escolas do futuro: Como o mobiliário influencia no aprendizado" 02 Mai 2020. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/938231/escolas-do-futuro-como-o-mobiliario-e-o-layout-pode-influenciar-na-aprendizagem> ISSN 0719-8906

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