Entre formas geométricas e materiais brutos: o brutalismo na Itália

Nascido no período pós-guerra no Reino Unido, o movimento brutalista inicialmente foi recebido com ceticismo, mas posteriormente cativou a imaginação de novos designers fascinados pela interação entre formas geométricas impactantes e os materiais brutos expostos com os quais são concebidos. Este artigo se aprofunda nas particularidades que definem a contribuição da Itália para o movimento brutalista, explorando o estilo pelas lentes de Roberto Conte e Stefano Perego. Os dois fotógrafos também publicaram um ensaio sobre o tema no livro intitulado "Brutalist Italy: Concrete Architecture from the Alps to the Mediterranean Sea".

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O edifício como imagem

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Ampliação do Cemitério, Jesi. Leonardo Ricci (1984-1994). Imagem © Stefano Perego

Nos anos do pós-guerra, a Europa buscava uma nova identidade, menos baseada no entusiasmo e na confiança em inovações tecnológicas, e mais desafiadora quanto ao papel da arquitetura na sociedade. A mudança na ideologia procurava lidar com a paisagem de destruição que sucedeu duas guerras mundiais consecutivas, buscando dissociar a arquitetura da política e assumir um papel mais consciente socialmente. A resposta foi a necessidade de reduzir escala e criar edifícios funcionalmente sólidos com o mínimo de materiais ou decorações, favorecendo assim materiais expostos e formas simples.

Mantendo esse ethos, os arquitetos brutalistas não renunciaram à sua “obrigação de conferir forma”, nas palavras do crítico de arquitetura Reyner Banham. Quando surgiu, a arquitetura resultante muitas vezes foi classificada como “anti-arte” ou “anti-beleza” por sua recusa na estética típica da época, mas ela possuía uma dinâmica diferente, uma espécie de qualidade abstrata. O objeto arquitetônico, percebido em sua totalidade, tornava-se uma imagem capaz de despertar emoção em quem o contempla.

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Unfinished building, Ispica. Image © Roberto Conte

É essa audácia que diferencia o brutalismo de outras variações da arquitetura moderna, ou “seu je-m’en-foutisme, sua obstinação”, como Reyner Banham o chama em seu ensaio seminal de 1955, “O novo brutalismo”. Dentro do amplo movimento brutalista europeu, a Itália construiu seu próprio capítulo, entrelaçando o rigor funcional do brutalismo com as influências culturais do país, suavizando um pouco as tonalidades em comparação com seus equivalentes europeus.

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Complexo habitacional "As Máquinas de Lavar" Pegli 3, Gênova. Aldo Luigi Rizzo, Aldo Pino, Andrea Mor, Angelo Sibilla (1980-1989). Imagem © Stefano Perego

Estrutura, Função, Forma e Material

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Vila Gontero, Cumiana. Carlo Graffi, Sergio Musmeci (1969-1971). Imagem © Roberto Conte

Uma das características marcantes do brutalismo é a busca por “ser feito do que parece ser feito”. Enquanto o uso honesto de materiais é algo valorizado por muitos arquitetos da época, a maioria dos edifícios modernistas anteriores cobria seus materiais estruturais com gesso ou vidro patenteado. No caso do Brutalismo, concreto, aço e tijolo são mantidos o mais expostos possível, criando uma conexão mais forte entre a lógica estrutural, a forma e função arquitetônicas, e as capacidades dos materiais de construção.

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Viaduto Industrial Musmeci, Potenza. Sérgio Musmeci (1967-1976). Imagem © Stefano Perego

Nas primeiras décadas após a guerra, projetos experimentais desafiaram as formas e estruturas possíveis. Na Itália, o engenheiro Sergio Musmeci fazia experimentos com abóbadas, membranas finas de concreto e estruturas mínimas moldadas de acordo com as forças e tensões às quais deveriam resistir. Sem assistência computacional, novos tipos de estruturas eram testados usando modelos. Assim como Frei Otto, Musmeci utilizava sabão e glicerina espalhadas em estruturas de arame para compreender a geometria de tensão e estresse, e microconcreto para criar modelos de teste em grande escala. Entre suas poucas estruturas construídas está a Ponte Musmeci, cuja parte inferior foi criada usando uma única membrana de concreto armado, com aproximadamente 40 centímetros de espessura, que se curva para cima e para baixo, sustentando a parte superior da ponte em estruturas semelhantes a dedos, ao mesmo tempo em que cria um caminho contínuo e ondulado abaixo dela.

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Mobiliário urbano, Collevalenza - Todi. Julio Lafuente (1953-1974). Imagem © Stefano Perego

Aqueles que não assumem riscos estão ou imitando ou repetindo. Se desejam adentrar um novo campo, precisam enfrentar o desconhecido. - Sergio Musmeci

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Edifício residencial inacabado, Bisaccia. Aldo Loris Rossi (1981, construído em 1990). Imagem © Roberto Conte

Espaços sagrados feitos de concreto

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Igreja Jesus Redentor, Turim. Nicola Mosso, Leonardo Mosso, Livio Norzi (1954-1957). Foto: Stefano Perego. Imagem © Stefano Perego

Talvez seja essa capacidade de moldar a geometria para criar emoção que confere à arquitetura brutalista características de espaços sagrados. A partir da década de 1950, na Itália, a igreja católica, buscando restabelecer sua relevância no mundo moderno, começou a aceitar a nova linguagem arquitetônica do modernismo. O brutalismo era especialmente adequado para criar espaços contemplativos e impressionantes com um mínimo de recursos. Estruturas como a Igreja Jesus Redentor, em Turim, projetada pelos arquitetos Nicola Mosso, Leonardo Mosso e Livio Norzi, ilustram como materiais simples como tijolos e concreto podem criar espaços impressionantes, utilizando luz natural e volumes bem proporcionados para criar ambientes cheios de emoção, adequados para o serviço religioso.

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Santuário de Nossa Senhora das Lágrimas, Siracusa. Michel Andrault, Pierre Parat (1966-1994). Foto: Roberto Conte. Imagem © Roberto Conte
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Templo Nacional de Maria, Mãe e Rainha, Trieste. Antonio Guacci e Sergio Musmeci (1965). Imagem © Stefano Perego

Outras estruturas brutalistas, como o Templo Nacional a Maria, Mãe e Rainha, em Trieste, projetado por Antonio Guacci e Sergio Musmeci, incorporam simbolismo dentro de sua geometria estrutural. O princípio modular do edifício de 40 metros de altura utiliza o triângulo como símbolo da Trindade, enquanto a disposição dos volumes cria um grande M como referência a Maria. A arquitetura de cemitérios é outra categoria que envolve contemplação, oferecendo ainda mais liberdade expressiva. Exemplos na Itália incluem a extensão do Cemitério de Leonardo Ricci em Jesi e a monumental extensão do Cemitério de Luigi Ciapparella em Busto Arsizio.

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Ampliação do Cemitério Monumental, Busto Arsizio. Luigi Ciaparella (1971). Imagem © Stefano Perego

A exploração do brutalismo italiano por Roberto Conte e Stefano Perego culmina no ensaio fotográfico publicado na FUEL Design, intitulado "Brutalist Italy: Concrete Architecture from the Alps to the Mediterranean Sea". Os dois fotógrafos já exploraram temas semelhantes, incluindo o livro sobre as variações do Brutalismo asiático, intitulado "Soviet Asia: Soviet Modernist Architecture in Central Asia". Outras explorações de formas localizadas de Brutalismo incluem o legado da arquitetura modernista na Tanzânia, a arquitetura de concreto no deserto em Beersheba e o guia do ArchDaily de edifícios modernistas e brutalistas para visitar em Paris.

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Sobre este autor
Cita: Florian, Maria-Cristina. "Entre formas geométricas e materiais brutos: o brutalismo na Itália" [Between Geometric Shapes and Raw Materials: The Case of Brutalism in Italy] 07 Dez 2023. ArchDaily Brasil. (Trad. Simões, Diogo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1010172/entre-formas-geometricas-e-materiais-brutos-o-brutalismo-na-italia> ISSN 0719-8906

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