O setor de Arquitetura, Engenharia, Construção e Operação (AECO) vem atravessando, nas últimas décadas, um processo de transformação digital sem precedentes. Desde os tempos em que os projetos eram representados exclusivamente em papel, uma realidade que perdurou até o início dos anos 1980, a área já passou por marcos importantes com a adoção do CAD (Desenho Assistido por Computador) e, mais recentemente, do BIM (Modelagem da Informação da Construção). Agora, uma nova transição se impõe, e promete ser ainda mais profunda. A Inteligência Artificial (IA), que até pouco tempo parecia restrita a laboratórios ou conceitos futuristas, começa a ocupar um lugar prático e estratégico na forma como projetamos, construímos e gerenciamos nossos edifícios e cidades.
Desi Training Center / Studio Anna Heringer. Image Courtesy of Studio Anna Heringer
“The times they are a-changin’” (os tempos estão mudando), cantava um jovem Bob Dylan em 1964, capturando um país tomado por protestos por direitos civis e pelas tensões da Guerra Fria. Quase uma década depois, David Bowie voltou o olhar para dentro de si com “Ch-ch-ch-ch-changes” (mudanças, mudanças, mudanças), uma abordagem pessoal sobre identidade e reinvenção, em meio ao colapso das promessas da contracultura e à aceleração da globalização. Já nos anos 1990, Tupac Shakur trouxe a conversa de volta para as ruas, escancarando as realidades da injustiça racial e da violência sistêmica com um lembrete direto: “That’s just the way it is, things are never gonna change” (é assim que as coisas são, elas nunca vão mudar).
Três vozes, três décadas, três maneiras de confrontar a mudança. Se a arte — aqui, por meio da música — tem historicamente funcionado tanto como espelho quanto como grito em tempos de turbulência, é legítimo perguntar: como a indústria da construção tem respondido a um mundo em constante transformação, um mundo que clama, com urgência, por novas direções? A arquitetura tem, de fato, se engajado com as necessidades da sociedade ou apenas reforçado a lógica dos sistemas econômicos vigentes? Hoje, enfrentamos uma confluência entre crise planetária e fragmentação social: o planeta aquece, as desigualdades persistem e se aprofundam, os dados se multiplicam, as identidades se fraturam. Nesse contexto, a arquitetura já não pode se dar ao luxo de se limitar à experimentação formal ou aos imperativos do mercado. É chamada a repensar — com clareza, responsabilidade e imaginação — o que construímos, com o quê construímos, como construímos e, sobretudo, para quem.
Tech Talks – Futurismo na Arquitetura, Engenharia e Construção: A Tecnologia aliada à Criatividade
No dia 19 de março, às 16h, acontece mais uma edição do Tech Talks, evento que promove discussões sobre inovação no setor de arquitetura, engenharia e construção. O encontro, realizado pela Escola Politécnica da ATITUS Educação, reunirá especialistas para explorar como a tecnologia impulsiona novas possibilidades criativas e projetuais.
Entre os palestrantes, Wilson Barbosa Neto, sócio fundador do Estúdio Protobox, abordará o impacto da tecnologia na arquitetura e no design de mobiliário, destacando como os avanços digitais têm transformado o setor. O evento também contará com a participação de Andréa Quadrado Mussi, CEO da Missão Criativa, e será mediado por Thaísa
Toda inovação traz consigo fricções, disrupções e, acima de tudo, aprendizados. Na construção civil — um setor historicamente resistente a mudanças — novos sistemas construtivos costumam ser recebidos com certo estranhamento, exigindo uma análise cuidadosa dos desafios que surgem. O sistema wood frame, amplamente adotado em países como Estados Unidos, Japão e Alemanha, nunca se popularizou no Brasil, devido a fatores que mantêm o setor intensivo em mão de obra e fortemente vinculado aos métodos convencionais de alvenaria e concreto.
No entanto, com a diminuição da oferta de mão de obra e novas demandas por eficiência e sustentabilidade, o setor da construção civil tem, gradualmente, explorado alternativas inovadoras. Nesse contexto, o edifício Parkside Carvoeira, em Florianópolis, destaca-se como um marco de inovação, sendo o edifício em wood frame mais alto da América Latina. Desenvolvido em parceria entre a Parkside, o escritório Desterro Arquitetos e a construtora local Tecverde, o projeto pioneiro adota o sistema como uma solução sustentável e eficiente para atender às necessidades da construção contemporânea no país.
Nos últimos anos, o tema de descarbonização de edificações e cidades tem ganhado cada vez mais destaque no âmbito internacional e nacional. Entre os diferentes atores impulsionadores, destaca-se poder público, através de seus ministérios, como o Ministério de Minas e Energia (MME), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério das Cidades (MCID) e Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) que possuem diferentes políticas, programas e legislações. Instituições financeiras como bancos de desenvolvimento, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e organismos internacionais, como as Nações Unidas (ONU) também têm sido atores-chave para alavancar parte dos recursos necessários para possibilitar a redução das emissões de carbono, que precisa ser cada vez mais urgente.
Mud Frontiers. Image Courtesy of Rael San Fratello
Compreender uma disciplina a partir de múltiplas perspectivas e interseções é essencial para adquirir uma compreensão profunda dela. Na arquitetura, a diversidade de abordagens para seu estudo enriquece nossa percepção, permitindo-nos apreciar sua complexidade por diferentes ângulos. Para estudantes e profissionais, explorar aspectos como história, fontes de materiais e produtos, processos de construção, implementação de novas tecnologias e desafios sociais contemporâneos é crucial. Esses aspectos se entrelaçam e expandem a noção convencional de "arquitetura", transcendendo a mera criação de edifícios ou a definição de espaços.
Ronald Rael, um arquiteto e titular da Cadeira Memorial Eva Li em Arquitetura na Universidade da Califórnia, Berkeley, exemplifica essa visão por meio de sua prática, que abrange desde pesquisa até a conexão de práticas tradicionais e indígenas de materiais com tecnologias e questões contemporâneas. Como ativista e arquiteto, os interesses de pesquisa de Rael exploram fabricação aditiva, estudos de muros de fronteira e construção com terra. Co-fundador de Rael San Fratello, Emerging Objects e Forust, sua prática mostra uma abordagem à arquitetura altamente relevante nos tempos contemporâneos.
https://www.archdaily.com.br/br/1016592/podemos-transformar-a-profissao-repensando-como-servir-a-sociedade-uma-conversa-com-ronald-raelEnrique Tovar
O projeto "A Construção da Profissão" foi coordenado e executado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Distrito Federal (IAB.DF), com patrocínio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU/DF) e apoio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB).
O projeto se iniciou em 2017, tendo em princípio as atividades voltadas para reorganização e alocação desse acervo localizado no DF. Através disso, foram sendo desenvolvidos outros projetos, todos com base no acervo do IAB.
Em 2023, através do edital de fomento do CAU/DF, o projeto ganhou um cunho educativo e cultural mais intenso,
Como um método de fabricação aditiva, a impressão 3D tem sido caracterizada pela construção de objetos através da deposição horizontal de material, camada por camada. Isso ainda restringe, no entanto, a fabricação de elementos e limita a forma dos primeiros protótipos dentro da faixa que permite a adição de material em uma única direção, tornando difícil criar formas complexas com curvas suaves.
No entanto, a equipe da disciplina de Tecnologias de Construção Digital na ETH Zurique – integrando design computacional, fabricação digital e novos materiais – tem explorado um método de fabricação aditiva robótica não planar, que facilita a impressão de estruturas finas com dupla curvatura.
O bambu, conhecido pela sua resistência e ecologia, enfrenta frequentemente um adversário formidável: insetos e fungos. Apesar da sua resiliência, estas pragas podem comprometer a sua durabilidade ao longo do tempo. No entanto, existe uma solução simples, mas eficaz, para aumentar a longevidade e a robustez do bambu. Neste artigo, revelamos o método Vertical Soak Diffusion (VSD) – uma abordagem econômica que garante que seus projetos de bambu resistam ao teste do tempo.
O Mass Timber é uma alternativa inovadora que vem ganhando cada vez mais destaque e importância mundialmente devido à sua sustentabilidade e tecnologia na construção de edifícios. A inauguração, em 2020, da primeira loja conceito Dengo, localizada em São Paulo, marcou não apenas a estreia da primeira fábrica interativa da marca, mas também a pioneira utilização do CLT (Cross Laminated Timber) em um edifício de altura no Brasil. Desenvolvido pelo escritório de arquitetura Matheus Farah e Manoel Maia, o projeto enfrentou uma série de desafios, justamente por essa ser uma nova tecnologia que estava chegando ao mercado.
A escolha do CLT como principal material de construção no projeto reflete um compromisso com a sustentabilidade e a redução do impacto ambiental, pois ele contribui para a mitigação do carbono na atmosfera. Além disso, sua utilização permite uma obra mais limpa, leve e rápida em comparação com métodos construtivos tradicionais. No entanto, é necessário ter em mente que uma construção em Mass Timber requer cuidados especiais no manuseio, armazenamento e montagem dos materiais para preservar a integridade e beleza ao longo do processo construtivo. Somente as práticas adequadas podem garantir a qualidade final da obra, como por exemplo não deixar a madeira exposta às intempéries ou utilizar calços para evitar o contato da madeira com o solo.
Foster + Partners anunciou o início da construção do One Beverly Hills, revitalizando 7 hectares (17,5 acres) no centro da cidade. O projeto propõe duas edificações residenciais, um novo hotel, e um pavilhão de restaurantes e varejo, com previsão de inauguração em 2025. Desenvolvido em colaboração com o arquiteto paisagista RIOS, o projeto destaca-se pelos 4 hectares (10 acres) de jardins e espaços abertos. O masterplan, concebido pela Foster + Partners, integra ainda marcos existentes, como o Beverly Hilton e o Waldorf Astoria Beverly Hills.
Cortesia da New Murabba Development Company | Riad
A Arábia Saudita, em meio a uma transformação significativa, não apenas está alterando sua paisagem, mas também redefinindo sua identidade em nível global. Como parte da Visão 2030, que orienta suas ações, o reino está empenhado em promover novos desenvolvimentos, com o objetivo de revitalizar a cultura e diversificar a economia. A capital, Riade, está na vanguarda dessa transformação ao sediar a Expo Mundial de 2030. Isso representa o compromisso do país com o progresso, enquanto vários mega projetos estão em andamento, transformando a estrutura do reino.
Em meio aos diversos projetos, várias empresas de renome estão envolvidas em mega projetos em diferentes escalas. O renascimento cultural, por exemplo, é evidenciado pela Ópera de Snøhetta em Diriyah, enquanto a Torre de Jeddah segue uma trajetória que superará o Burj Khalifa. Ao mesmo tempo, a conversão de uma usina de dessalinização em Jeddah pelo Heatherwick Studio em um próspero centro cultural demonstra a reutilização de espaços industriais. Desde os projetos costeiros da Foster + Partners até os arranha-céus no centro da cidade que estão redesenhando o horizonte, o país passa por transformações significativas em seu ambiente construído.
Imagens divulgadas pelo BIG mostram o One High Line próximo da conclusão. Localizado na "Architecture Row", em Nova York, o conjunto de torres torcidas marca o horizonte do Rio Hudson junto de vizinhos como o edifício IAC de Frank Gehry, o Museu de Arte Americana de Renzo Piano e The Chelsea Nouvel ("100 Eleventh Avenue") de Jean Nouvel, juntamente com futuros projetos de Thomas Heatherwick e outros arquitetos renomados. As duas torres projetadas pelo BIG criam um pátio central que ativa o espaço público com instalações comerciais e de varejo. A parte externa das torres e boa parte dos interiores estão concluídos, e o pátio deverá ser finalizado no início de 2024.
Na semana passada, foi instalada a última viga de aço da nova sede da JPMorgan Chase, que atingiu a impressionante altura de 423 metros. Projetado por Foster + Partners, o edifício localizado na 270 Park Avenue, em Nova York tem capacidade para mais de 14 mil ocupantes. O evento de conclusão da estrutura contou com a presença de Norman Foster, Jamie Dimon, presidente e CEO da JPMorgan Chase, o prefeito de Nova York, Eric Adams, e autoridades locais.
Começou a construção do projeto La Serre, do MVRDV. Localizado no eco-bairro ZAC Léon Blum em Issy-les-Moulineaux, nos arredores de Paris, e projetado pela MVRDV em colaboração com a arquiteta paisagista Alice Tricon e a incorporadora OGIC, o empreendimento visa desafiar a tradicional forma de viver em apartamentos, integrando a natureza ao ambiente urbano. O projeto inclui unidades residenciais, lojas e uma abundância de áreas verdes, com o objetivo de criar um refúgio de biodiversidade.
O prefeito de Nova York, Eric Adams, juntamente com o Departamento de Design e Construção da cidade, anunciou o início da construção do Centro de Recreação Shirley Chisholm, projetado pelo Studio Gang. Localizado no Parque Nostrand, em East Flatbush, Brooklyn, o centro tem como objetivo trazer novas comodidades para os moradores de East Flatbush, ao mesmo tempo em que honra a história e o patrimônio da comunidade. O novo centro recebe o nome de Shirley Chisholm, a primeira mulher afro-americana a servir no Congresso e a primeira a buscar a candidatura para a presidência dos Estados Unidos.
A recente conclusão do projeto do Perelman Performing Arts Center (PAC), fruto da colaboração entre o escritório REX, Davis Brody Bond e Rockwell Group é um marco da transformação cultural da região de Lower Manhattan. O terreno do PAC faz parte do complexo do World Trade Center, propriedade da Port Authority of NY and NJ, órgão autônomo responsável pela gestão de pontes, portos, túneis e aeroportos. Desde os atentados de 2001, muitas transformações aconteceram no terreno, como a construcao dos quatro prédios do complexo do WTC e do Oculus. Do início do concurso do PAC até a conclusão da obra se passaram mais de nove anos, tendo eu participado dos últimos cinco como um dos arquitetos da equipe da Davis Brody Bond.
Se muita expectativa é criada durante o desenvolvimento de um projeto de arquitetura, o qual muitas vezes representa a materialização de um sonho profissional ou de um novo lar para uma família, e, se mesmo apesar de todo planejamento, inúmeros imprevistos e dores de cabeça podem ocorrer durante as fases de execução, após muitos orçamentos, cronogramas e atrasos, com a finalização da obra e ocupação do imóvel, costuma parecer que a jornada, finalmente, chegou ao fim.
No entanto, mesmo com os trabalhos aparentemente concluídos e a sensação de dever cumprido, é provável que arquitetos e clientes ainda precisem alinhar alguns pontos ou solucionar algumas questões que surjam pelo caminho. Mas então, diante desse cenário, quais são as responsabilidades do arquiteto após a ocupação do imóvel pelos proprietários?