10 Obras icônicas do brutalismo na América Latina

via Usuário Flickr: Renovación República CC BY 2.0

A arquitetura brutalista responde a um momento histórico. Terminava a Segunda Guerra Mundial e das cinzas surge uma nova forma de Estado, junto com um nova ordem global que vai incluir, com maior protagonismo, a Estados periféricos. 

A arquitetura brutalista nasce como resposta a ideias de estados benfeitores, estados robustos que vão sustentar e dirigir a nova sociedade de massas. Como disse o crítico Michael Lewis "o brutalismo é a expressão vernacular do estado benfeitor".

Esta arquitetura com compromisso ético foi uma nova forma do Movimento Moderno alimentado por ideias socialistas. Apela à honestidade dos materiais e, particularmente, do concreto bruto, e de fato esse termo derivou de sua expressão em francês "beton brut" cujo uso foi impulsionado por Le Corbusier. Logo depois da guerra, o grande arquiteto decide focar-se em uma arquitetura social, o primeiro exemplo disso foi sua icônica Unité d’ Habitation, construída em Marselha em 1947. Trata-se verdadeiramente de uma obra de arte em forma de edifício, com uma combinação de cores à la Mondrian e uma ideia de vida comunal moderna que inclui jardins, comércio e uma piscina na cobertura. O edifício que marcou o início do brutalismo parece delicado em comparação aos exemplares esteticamente brutais que estavam por vir.

O concreto se apresenta nesse momento histórico, de alta necessidade construtiva com materiais de baixo custo, pouco pretensioso, utilitário, democrático e moderno, além de ter altas possibilidades técnicas. Com as novas tecnologias se atinge uma capacidade de moldagem que responde a todo tipo de fantasia estrutural e a uma nova capacidade de abarcar espaços enormes. Com isso, os arquitetos de meados do século XX conceberam estruturas gigantescas de concreto cru com um ritmo poético, escultórico, brutal e primitivo.

Cortesía de Casiopea

Apesar do nome ter sido cunhado pelo crítico inglês Reyner Bahnam, na tentativa de dar uma origem inglesa à tendência, o brutalismo se mostrou desde o início, nas mãos de Le Corbusier, em um fenômeno verdadeiramente mundial. Da Índia a Georgia, no Japão e nos Estados Unidos e, evidentemente, na América Latina, encontramos exemplos dessa arquitetura que teve seu momento áureo em nossa região nas décadas de 60 e 70, avançando às vezes até os anos 80. É interessante como essa arquitetura nos conecta esteticamente com o "Terceiro Mundo", não sendo uma cópia de um estilo europeu, mas a adesão a um movimento global. É a periferia tomando protagonismo e tratando de juntar-se ao "desenvolvimento" e à modernidade. Aqui te apresentamos 10 edifícios icônicos do brutalismo na América Latina.

Biblioteca Nacional Mariano Moreno / Testa, Bullrich e Cazzaniga
Buenos Aires, 1961-90

via Usuário Flickr: Gustavo Gomes CC BY 2.0

Este edifício abriga a Biblioteca Nacional da Argentina. Foi chamado a concurso e vencido pelo vanguardista Clorindo Testa e cia em 1961, mas não foi finalizado até 1991 e ainda hoje falta edificar algumas propostas do projeto original. O edifício se situa em um amplo terreno entre a Av. Libertador e Las Heras, onde antigamente estava a Residência Presidencial de Perón, demolida pelos militares que o derrotaram. Em termos arquitetônicos, o mais interessante é que a sala de leitura foi situada no pavimento mais alto do edifício, dando a ela vistas a cidade e ao rio, enquanto os arquivos estão localizados no primeiro andar. Escultórico, poético e feito em concreto.

via Usuário Wikipedia: Barcex CC BY-SA 2.

Banco de Londres y Sudamérica / Clorindo Testa
Buenos Aires, 1966

© E. Colombo

Foi o famoso Clorindo Testa quem também venceu o concurso feito pelo atualmente extinto Banco de Londres e América do Sul, para sua sede no centro financeiro de Buenos Aires, entre as ruas Recoleta e Bartolomé Mitra. A estrutura do que é hoje a sede do Banco Hipotecário S.A, se transformou em um marco mundial do brutalismo devido a sua ideia inovadora de mimetizar o edifício nas estreitas ruas que o rodeiam, unindo exterior e interior e, sobretudo, por seu belo uso artístico das possibilidades de moldagem do concreto armado.

via Usuário Flickr: lusignan CC BY SA 2.0

Cepal / Emilio Duhart
Santiago, 1966

via Usuário Flickr: santiagonostalgico CC BY SA 2.0

Este edifício foi construído por Emilio Duhart para receber a sede da Comissão Econômica para a América Latina, organismo subordinado às Nações Unidas. O arquiteto e sua equipe se inspiraram diretamente nas ideias de Le Corbusier, criando uma estrutura horizontal sustentada por pilares de concreto. A torre central em forma de caracol contém em seu exterior figuras precolombinas. O edifício se encontra muito próximo ao Rio Mapocho, de onde se extraiu o cascalho e a areia para a construção. Tratava-se de um terreno distante da cidade à época, mas que hoje está imerso em uma área residencial da comuna de Viatucura.

© Felipe Camus

Banco de Guatemala / Jorge Montes Córdova e Raúl Minondo
Ciudad de Guatemala, 1966

via Usuário Flickr: adels CC BY 2.0

Este edifício foi projetado pelos arquitetos José Montes Córdova e Raúl Minondo. Foi encomendado pelo Banco da Guatemala, instituição que aloja até os dias de hoje e foi construído no centro cívico da Cidade de Guatemala, lugar que é Patrimônio Cultural da Nação. Sua particularidade mais bonita, sem dúvidas, são as fachadas oeste e leste, revestidas de figuras que representam o códice Maya, fundido diretamente em concreto e criado pelos artistas guatemaltecos  Dagoberto Vásquez Castañeda e Roberto González Goyri.

via Usuário Flickr: alexanderTIEDEMANN CC BY ND 2.0

Tribunal de Contas / Aflalo e Gasperini
São Paulo, 1971

Cortesía de Aflalo y Gasperini Arquitectos

Na zona sul de São Paulo se encontra o Tribunal de Contas do Município de São Paulo, um edifício enorme projetado pelo escritório Aflalo e Gasperini, construído a partir de 1971 e inaugurado em 1976. A estrutura se ergue sobre quatro imensos pilares de concreto, o que permite o trânsito livre em um espaço que se une com o Parque do Ibiraquera. A liberdade artística do edifício se contrapõe à falta de liberdades civis que o Brasil vivia no contexto de produção de edifício como produto da ditadura militar.

Cortesía de Aflalo y Gasperini Arquitectos

Centro de Exposiciones / Joao Filgueiras Lima
Salvador, 1974

Cortesía de Giancarlo Latorraca, 2000

Esta magnífica estrutura que se assemelha a uma nave espacial recém chegada no planeta foi projetada por João Filgueiras Lima, grande adepto brasileiro do Movimento Moderno, no Centro Administrativo de Salvador da Bahia. O edifício conta com salas de exposições e anfiteatros.

Cortesía de Giancarlo Latorraca, 2000

Palmas 555 / Juan Sordo Madaleno e cia
Cidade do México, 1975.

Cortesía de Sordo Madaleno Arquitectos, fotografía por Guillermo Zamora

O edifício Palmas 555 na região de Lomas de Chapultepec foi um dos últimos projetos de Madaleno. A construção tem um primeiro pavimento de uso comercial e logo acima nove andares de escritório. A irregularidade dos níveis da um caráter único ao edifício. Trata-se de uma belíssima escultura em grande escala.

Cortesía de Sordo Madaleno Arquitectos, fotografía por Guillermo Zamora

Edificio Jenaro Valverde Marín / Alberto Linner Díaz
San José, 1976

via Usuário Tumblr: myycp

O edifício Genaro Valverde foi construído como um anexo ao edifício da Caixa Costarriquenha de Seguro Social. É um dos prédios mais altos da Costa Rica, com 17 pavimentos, sendo o projeto ícone de Alberto Linner. A obra, como muitas dessa tendência, também pretendia "fazer cidade", incluindo uma praça, fonte, jardins e espaços comerciais, em uma cidade que na época quase não tinha espaços públicos. Para o desencanto de Linner, hoje esse espaço está escorado, a fonte está desligada e sua ideia de espaço público, sepultada.

via Usuário Tumblr: your-a-tourist

SESC Pompeia / Lina Bo Bardi
São Paulo, 1982

via Usuário Flickr: Pedro Kok CC BY SA 2.0

Este edifício recebe o Centro Cultural do Serviço Social de Comércio, e foi projetado sobre o terreno de uma antiga fábrica de barris de petróleo. A arquiteta Lina Bo Bardi projetou dois edifícios de concreto unidos por passarelas aéreas que se ligam à edificação de tijolos da fábrica. Esse espaço mistura esporte, ócio e cultura, um grande marco na cidade utilizado constantemente pelos moradores do bairro da Pompéia.

via Usuário Flickr: Maxine Brown Stephano CC BY SA 2.0

Embajada de Rusia en Cuba / Aleksandr Rochegov
La Habana, 1985

via Usuário Wikipedia: Nick de Marco CC BY 3.0

Esta incrível obra de arquitetura brutalista mostra a conexão entre esse estilo e a ideia de um estado forte, e inclusive totalitário, como o comunista (de fato nos territórios da antiga União Soviética, é possível encontrar diversos exemplos dessa tendência). Esta enorme torre irrompe na paisagem da Havana, transformando-se em um estandarte da influência soviética em Cuba. Sua construção começou em 1978 e inauguração em 1987, a dois anos da dissolução da URSS. Hoje recebe a embaixada russa. Está situado em um enorme lote no bairro costeiro de Miramar, onde se encontra a maioria das embaixadas na cidade.

Este artigo foi originalmente publicado por KatariMag. Leia outros artigos aqui e siga seu Instagram. Publicado no ArchDaily em maio de 2019.

via Usuário Wikipedia: Manuel Castro CC BY-SA 2.0

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Sobre este autor
Cita: Catalina Dib. "10 Obras icônicas do brutalismo na América Latina" [10 obras iconos de la arquitectura brutalista en Latinoamérica] 18 Abr 2020. ArchDaily Brasil. (Trad. Daudén, Julia) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/916339/10-obras-iconicas-do-brutalismo-na-america-latina> ISSN 0719-8906

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