Conquistando espaços públicos: a história dos parquinhos e playgrounds

Os parquinhos infantis, conhecidos também como playgrounds, são espaços com equipamentos dedicados ao lazer das crianças, onde elas podem desenvolver diferentes habilidades motoras e sociais. Esses espaços, porém, são novos em nossas culturas e cidades e surgem a partir do reconhecimento da infância enquanto etapa fundamental do desenvolvimento humano.

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Até meados do século XIX, a infância não era um período reconhecido pela sociedade, tanto que crianças representaram um grande quórum de operários durante a revolução industrial. É a partir das ideias revolucionárias de esquerda, que pautaram movimentos operários naquela virada de século e lutaram por melhores condições de vida e de trabalho, que se compreendeu a importância da infância e da proteção das crianças até atingirem certa maturidade. 

Dentre os muitos avanços nas ciências humanas que aconteceram nesse período, destaca-se o entendimento da pedagogia enquanto ciência, muito relacionada com a psicologia, e também o retorno da educação física enquanto conteúdo de interesse social, que fora abandonado no fim do Império Romano. Ao mesmo tempo, esse período é marcado por intensas transformações urbanas decorrentes do crescimento populacional que resultaram em favelização e periferização, trazendo novas demandas para o meio construído. É nesse contexto, que unia ideais emancipatórios, pedagogia e demandas urbanas, que os parquinhos infantis surgem e se desenvolvem. 

Foi a partir das ideias de Friedrich Fröbel, pedagogo alemão atuante até meados dos anos 1850, que surgiu o Kindergarten, ou jardim de infância. Em sua teoria, Fröbel valorizava o desenvolvimento livre e espontâneo a partir de jogos, brinquedos e principalmente de um ambiente onde as crianças pudessem ter contato com a natureza e a terra, reconhecendo que nós humanos somos seres criativos. Sua teoria defendia o aprendizado misto entre gêneros, desafiando as igrejas da época e também os conflitos de classes. Ao mesmo tempo que Fröebel criou uma linha de brinquedos educativos que mais tarde impactaria arquitetos modernos como Frank Lloyd Wright e a Bauhaus, seu protótipo de jardim de infância é considerado o presságio do que seriam os parquinhos infantis de hoje em dia.

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Kindergarten in Weimar, 1877 de Otto Piltz. Image via Public domain, via Wikimedia Commons

Foi no fim do século XIX que a ideia de jardim de infância se alastrou pela europa e chegou até os Estados Unidos, representando mais uma variável nas questões urbanas. Um movimento progressista de educadores, psicólogos infantis e assistentes sociais, começaram a pautar junto aos governos locais a existência de um espaço na cidade onde as crianças e os jovens pudessem ter seus momentos de lazer de maneira supervisionada e controlada. O primeiro parquinho que se tem registro surgiu em 1892 nas dependências da Hull House, uma casa de acolhimento do Settlement House Movement de Chicago, um movimento social reformista que lutava para remediar a desigualdade social causada pela imigração e pelo processo de industrialização. 

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Hiawatha Playground, 1912.. Image © Public Domain, Library of Congress, via Rare Historical Photos

Ao mesmo tempo que a Hull House foi pioneira ao criar um playground e abrí-lo ao público, grupos progressistas em todo o país pautavam uma reforma social derivada de equipamentos de lazer e assistência às camadas carentes da população, pressionando os governos locais a entender as necessidades recreacionais enquanto uma demanda diária e local, e não ocasionais e distantes. Nas primeiras décadas do século XX, portanto, criam-se os "Reform Parks", parques públicos que tinham como intenção integrar as classes populares e imigrantes em um espaço de encontro e sociabilidade. Eles continham quadras poliesportivas e playgrounds com configurações parecidas com as que conhecemos hoje, com escorregadores, balanços, gangorras e caixas de areia. 

Com o passar do tempo, a ideia do espaço público enquanto ferramenta de reforma social foi sendo diluída, porém, a importância desses espaços enquanto locais sociais e a recreação como responsabilidade institucional do governo foi se consolidando. Os playgrounds começaram a integrar o desenho de bairros em centros urbanos de diferentes partes do mundo, começando pela Europa e Estados Unidos. Com o avanço das discussões a respeito da infância e segurança infantil, passou-se também a explorar diferentes configurações de parquinhos, bem como problematizar seus riscos. 

Em 1947, Aldo Van Eyck construiu seu primeiro parquinho infantil em um terreno abandonado em Amsterdã, cidade parcialmente destruída na Segunda Guerra. Van Eyck propunha uma arquitetura que pudesse promover interação social e se adaptar à atividade humana, à criatividade infantil, resgatando um dos princípios mais revolucionários desse espaço que havia se perdido dentro de sua funcionalidade. Com elementos genéricos e uma intervenção mínima no espaço, o objetivo do parquinho de Van Eyck era estimular a criatividade e possibilitar às crianças de se apropriarem do espaço construído, em constante relação com o meio urbano. 

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Krugerplein, com equipamentos de playground projetados por Aldo Van Eyck,. Image via Public domain, via Wikimedia Commons

Da segunda metade do século XX em diante surgiram inúmeras propostas para os parquinhos infantis, relacionados com as tantas outras pedagogias contemporâneas que foram surgindo. Os parquinhos contemporâneos são diversos, buscam ser inclusivos, com espaços multifuncionais e multissensoriais, utilizando elementos naturais, como água e vegetação, e materiais variados que contrastem e estimulem as crianças. Com o crescimento do debate de como integrar as crianças no meio urbano, os parquinhos vêm ganhando destaque no desenho da cidade, criando novos vínculos, como, por exemplo, as artes visuais e suas intervenções urbanas que se propõem a dialogar com as crianças.

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Playground AirBubble / ecoLogicStudio . Image © Maja Wirkus

Durante sua trajetória, os parquinhos infantis conquistaram seu lugar como parte do tecido urbano, reconhecidos enquanto equipamentos de lazer e culturais tanto para as crianças, quanto para as comunidades de seu entorno. Sua funcionalidade transita de acordo com o local, podendo estar atrelada a outros elementos recreativos e culturais, enquanto sua forma também apresenta ampla diversidade. Acima de seus aspectos físicos, os playgrounds são reconhecidos enquanto importantes locais de socialização nos bairros e marcam a importância das crianças enquanto seres viventes ativos nas cidades. 

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Sobre este autor
Cita: Giovana Martino. "Conquistando espaços públicos: a história dos parquinhos e playgrounds" 03 Nov 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/990386/conquistando-espacos-publicos-a-historia-dos-parquinhos-e-playgrounds> ISSN 0719-8906

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