As Torres de Babel de Nova York

O mundo está diante de um século urbano. A população mundial está desmoronando nos centros das cidades, pois a indústria e a agricultura precisam de menos humanos, já que a tecnologia substitui a mão humana por máquinas. A população urbana mundial cresceu de 751 milhões em 1950 para 4,46 bilhões em 2021, e crescerá para 6,68 bilhões em 2050.

Enquanto arquitetos e designers querem definir e controlar o futuro de nossas cidades, a realidade imediata da cidade de Nova York, agora, é uma lição sobre o que pode ser nosso futuro. Sua resposta pode ser vista pelo advento da The Tower no tecido de Manhattan.

Sejam os US$ 25 bilhões gastos no Hudson Yards, ou as doze “Needle Towers” que, como outras dúzias, foram planejadas e construídas para abrigar um pequeno número de pessoas muito ricas, o lucro tem sido o critério central do projeto.

É fácil criticar essas respostas grosseiras que elevam o valor extremamente alto do terreno necessário. Cada uma dessas singularidades tem sua própria perversidade. A visão de estalagmites de vidro desajeitadas, descoordenadas e inchadas alcançando nada além de vaidade, enfrentando nada além de umas às outras, parece distópica. No The Guardian, Hamilton Nolan chamou isso de “fantasia de um bilionário ultracapitalista”. John Massengale notou que as Pencil Towers dão o dedo a Nova YorkI.

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Desenvolvimento do Hudson Yards. Imagem © Mark Wickens

Não há apenas uma repulsa estética ao uso extremo da altura em Nova York para ganhar dinheiro, mas também no desejo de controlar o que será uma mudança humana sem precedentes. O design e o planejamento urbano explodiram nos Estados Unidos como uma escolha de carreira. O número de pessoas empregadas nesses campos quase dobrou em apenas alguns anos – de pouco mais de 20.000 pessoas para quase 40.000.

Além da estética e da demografia, o clima em mudança implica em colocar menos carbono em nossa atmosfera, o que significará menos mudanças climáticas em nosso futuro. A densidade populacional usa menos carbono. Quando os humanos enfrentam mudanças, nosso instinto é controlá-las. Nos mobilizamos para derrotar Hitler, nos isolamos e nos vacinamos para derrotar o COVID, educamos e depois legislamos para enfrentar o imperativo urbano. Como lidamos com a altura extrema e as proporções perturbadoras que invadem nosso sentido do mundo, mesmo em um século urbano?

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432 Park Avenue ,de SHOp Architects. Imagem © dbox for CIM Group and Macklowe Properties

Como qualquer edifício comercial, quase todas as construções urbanas privadas destinam-se a gerar lucro para o construtor. 300 metros de altura passou a ser um ponto de partida. Portanto, menos custo de terreno por metro quadrado de construção significa que uma proporção de 20:1 é totalmente compreensível. O colírio da “densidade” e os absurdos da dependência total do elevador e do custo extremo sempre fizeram parte da realidade das torres. Mas agora, com a pandemia e com o crime aparentemente incontrolável, menos de 40% dos escritórios de Manhattan estão ocupados.

Manhattan pode estar nos oferecendo histórias que servem como lição, além do design urbano, da arquitetura via zoneamento ou até mesmo da estética do lucro. Antes que houvesse sequer um pensamento de um arranha-céu, muito menos uma Needle Tower, a humanidade contemplou ir além de nosso alcance.

Diz-se que Moisés escreveu o livro de Gênesis na Bíblia há mais de 2.500 anos. Nele, uma torre é descrita, não como um uso lucrativo da construção, mas como uma devoção central de seus construtores para controlar o mundo ao seu redor e manifestar nossa humanidade. Essa Torre de Babel é símbolo e metáfora, mas seu significado na religião e na mitologia é, para mim, devido ao poder da expressão humana, não à teologia. Como disse Moisés:

Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra.

Da mesma forma que o carbono é o subproduto do nosso desejo de controlar o mundo, as torres são o produto que os humanos constroem para expressar e “fazer um nome para si”. - agora e 2.500 anos atrás.

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Torre de Babel. Imagem via esotericmeanings.com

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Sobre este autor
Cita: Dickinson, Duo. "As Torres de Babel de Nova York" [New York’s Towers of Babel] 01 Ago 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Simões, Diogo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/986289/as-torres-de-babel-de-nova-york> ISSN 0719-8906

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