Urbanismo olímpico: a vida após a morte dos parques e estádios das Olimpíadas

Desde seu início, em 1896, as Olimpíadas dos dias modernos têm sido vistas como uma oportunidade para as cidades que a sediam projetarem para o mundo uma imagem específica de si mesmas, de subsidiar grandes projetos de infraestrutura ou de desenvolver planos de redesenvolvimento rapidamente. Além dos atraentes e frequentemente discutidos estádios, há uma história complexa de urbanismo olímpico, que engloba os empreendimentos em grande escala catalisados pelo evento. Explorando o legado urbano e arquitetônico dos jogos, as histórias de sucesso, os elefantes brancos e as agendas administrativas, a seguir discutimos o que as Olimpíadas deixam para trás nas cidades-sede.

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Urbanismo Olímpico

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EG Focus, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons.Imagem Parque Olímpico de Londres

Com um início bastante humilde, os Jogos Olímpicos modernos se expandiram significativamente ao longo dos anos, à medida que novos esportes foram incluídos, mais países aderiram ao evento e o número de atletas cresceu, necessitando de infraestrutura adicional e ocupando áreas urbanas maiores. As opiniões sobre o valor de sediar as Olimpíadas são divididas, pois alguns consideram o investimento pouco benéfico para a cidade, enquanto outros veem como uma fantástica oportunidade para melhorar a infraestrutura, criar moradias e trazer novos negócios no que normalmente é uma área subdesenvolvida.

Sediar a Olimpíada é agora um empreendimento enorme, que poucas cidades podem bancar. Além disso, as inúmeras histórias de “fracasso olímpico” começaram a impedir as cidades de assumir tal desafio. As licitações para sediar os jogos diminuíram à medida que o evento ficava mais caro a cada edição. Se para os jogos de 2004, 11 cidades disputaram a sede, para a edição de 2020 foram apenas cinco. No entanto, as decisões de planejamento vinculadas às Olimpíadas têm efeitos duradouros no desenvolvimento, na economia e na paisagem urbana da cidade. A cidade-sede capitaliza o evento, gerando um desenvolvimento urbano significativo, ou acaba com um conjunto de megaestruturas com uso limitado após os jogos. Portanto, a adaptabilidade e flexibilidade do planejamento geral são fundamentais para o valor agregado a longo prazo das Olimpíadas para a comunidade.

O Legado das Olimpíadas

Uma das maiores histórias de sucesso do urbanismo olímpico foi a edição de Barcelona de 1992, quando a cidade usou o evento para catalisar uma importante renovação urbana. O resultado foi muito elogiado e outras cidades-sede vêm tentando replicá-lo desde então. O plano diretor envolveu o reaproveitamento adaptativo do tecido histórico, o desenvolvimento da praia que a cidade agora pode capitalizar e a criação dos anéis viários que reduziram significativamente o tráfego no centro da cidade. Além disso, a cidade decidiu espalhar as instalações pela região da Catalunha em vez de desenvolver um Parque Olímpico, criando uma premissa de futuro sustentável para o legado arquitetônico.

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Mariordo (Mario Roberto Durán Ortiz), CC BY-SA 4.0 , via Wikimedia Commons. Imagem Praça Mauá, com Museu do Amanhã, projeto de Santiago Calatrava, e o metrô de superfície do Rio de Janeiro

Londres decidiu replicar esse modelo investindo em Stratford, uma área subdesenvolvida da cidade, em uma tentativa de suavizar a desigualdade e reequilibrar a economia dentro da metrópole. A visão para a Vila Olímpica foi moldada em torno da ideia de que os Jogos deveriam deixar para trás a estrutura de um novo bairro vibrante com todas as comodidades necessárias, incluindo áreas comerciais, parques e infraestrutura de transporte. Os jogos do Rio de Janeiro tiveram um desfecho diferente. O plano envolveu extensas obras de infraestrutura, novas linhas de metrô, reparos portuários e até limpeza de uma baía. No entanto, o que sobrou para a melhoria da comunidade foram novas ligações de transporte e uma área portuária renovada, o que levanta a questão se o Rio de Janeiro realmente se beneficiou com o evento a longo prazo.

O Problema dos Elefantes Brancos

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Parque Olímpico Radical Rio 2016 de Vigliecca & Associados. Imagem © Gabriel Heusi

Na vanguarda da conversa em torno da arquitetura olímpica estão as instalações esportivas que, em sua maioria, se tornam um quebra-cabeça para a cidade-sede pós-evento. Tanto a edição de Atenas em 2004 quanto os Jogos de Pequim em 2008 criaram um estoque arquitetônico que foi amplamente abandonado após o evento devido à grande escala das instalações, função limitada e altos custos de manutenção. O plano de Atenas de manter apenas as instalações necessárias e converter as demais fracassou alguns anos após a Olimpíada devido à crise econômica de 2008. Da mesma forma, para a edição de 2016, o Rio de Janeiro havia projetado instalações específicas para desmontagem, mas o plano não se concretizou. Alternativamente, o principal estádio de Londres, projetado por Populous, abordou o problema do elefante branco, criando a possibilidade de redução do tamanho, com um local central para uso permanente e uma estrutura temporária a ser removida após os jogos. A mesma estratégia foi empregada em outras instalações esportivas. Ao mesmo tempo, o plano diretor da Olimpíada de Londres estabeleceu as instalações que provavelmente não seriam usadas após a Olimpíada como temporárias ou flexíveis e manteve apenas os elementos que serviriam à comunidade.

As Vilas Olímpicas

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© EG Focus licensed under CC BY 2.0. Imagem Vila Olímpica de Londres de 2012, agora parte do East Village

Além das instalações esportivas, que para os Jogos de Verão somam cerca de 35, um dos mais importantes legados do evento é a Vila Olímpica, que fornece moradia e conforto para os atletas e seus funcionários. A Olimpíada de Helsinque de 1952 foi a primeira a projetar uma vila olímpica para ser convertida em habitação posteriormente, estabelecendo a tendência adotada por todas as edições subsequentes. Hoje, o empreendimento precisa abrigar cerca de 11.000 atletas e 5.000 funcionários, necessitando de acomodações, instalações médicas, espaços de treinamento e infraestrutura para locomoção. Para a Olimpíada de Atlanta de 1996, foram construídas moradias para atletas no campus do Instituto de Tecnologia da Geórgia, que mais tarde foram convertidas em moradias para estudantes. A edição de Sydney de 2000 projetou um subúrbio residencial, temporariamente convertido em acomodações para atletas. As unidades habitacionais foram concluídas após os jogos, e a área hoje se constitui em um local muito procurado.

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© Taxiarchos228 licensed under CC BY-SA 3.0. Imagem Vila Olímpica de Montreal de 1976

O tema do urbanismo olímpico é vasto, com cada edição sendo um estudo de caso arquitetônico, social e urbanístico complexo. Os exemplos mostram como as Olimpíadas impulsionaram o desenvolvimento de algumas cidades e acabaram sendo uma aposta perdida para outras. À medida que o evento se torna mais uma aposta de investimento, o Comitê Olímpico Internacional trabalha para tornar as Olimpíadas um evento sustentável. Resta saber como a arquitetura da Olimpíada de Tóquio em 2021 se comportará após o término dos jogos.

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Sobre este autor
Cita: Cutieru, Andreea. "Urbanismo olímpico: a vida após a morte dos parques e estádios das Olimpíadas" [Olympic Urbanism: The Afterlife of Olympic Parks and Stadiums] 31 Jul 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/964655/urbanismo-olimpico-a-vida-apos-a-morte-dos-parques-e-estadios-das-olimpiadas> ISSN 0719-8906

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