Pequenas praças contemporâneas: 9 espaços de encontro e socialização

Praças são espaços livres em meio ao tecido urbano, delimitados por construções ou vias, onde se possibilitam uma série de encontros, atividades sociais e culturais. Sejam espaços planejados, ou resquícios do tecido urbano, as praças são fundamentais para a vida e a cultura da sociedade na qual estão inseridas, e se provaram ainda mais importantes após a pandemia de Covid-19. Reunimos aqui nove praças de pequena escala que atestam a diversidade de usos e funções que esses espaços podem assumir nas cidades contemporâneas.

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Relacionando ruas, arquitetura e pessoas, as praças são ao mesmo tempo construção e vazio. Para além de suas raízes e questões históricas, as praças das cidades contemporâneas misturam espaços públicos e privados, disfarçam infraestruturas urbanas e se integram à edificações, reagindo assim às questões das cidades modernas sem perder ssua essência de lugar de foco de atividades em meio a uma zona urbanizada. 

A Requalificação urbana do largo da Igreja de Paulo Vieitas + Alexandre Picanço é um exemplo de praça que tenta resgatar os antigos atributos desses tradicionais espaços e traduzi-los para a atualidade. O projeto opta por desenhar um elemento central, que surge como uma reinterpretação do antigo coreto, servindo assim como referência na utilização da praça, e também como organizador de todo o espaço. Consiste em um elemento elevado que permite não só o seu uso como banco e zona de estar, mas também serve de palco para atuações diversas. O projeto pretende valorizar os percursos a pé, pensando não somente no convívio social, mas também dos edifícios existentes em seus limites. Sua estratégia é bastante similar ao espaço definido pelo projeto do Banco de Neve do Atelier Pierre Thibault, no Canadá. O objeto foi projetado para ser uma instalação efêmera, mas que modifica a relação do usuário com o espaço público, permitindo diversos usos.

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Requalificação urbana do largo da Igreja de Paulo Vieitas + Alexandre Picanço. Image © Paulo Prata
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Requalificação urbana do largo da Igreja de Paulo Vieitas + Alexandre Picanço

À medida que cobre os troncos das árvores e as luminárias da Place de Bordeaux com sua cor branca, o projeto do Banco de Neve enaltece estes elementos do dia-a-dia, proporcionando uma espécie de arquibancada. Ambos os projetos usam de um objeto único que fornece um tipo de brincadeira com os níveis de uma praça plana, criando espaços de estar e possibilidades de convívio, lidando com a vegetação como parte do desenho. Além disso, os projetos também criam arranjos espaciais de convergência social, que incentivam a interação. A materialidade, por outro lado, é oposta em cada um dos projetos. Enquanto o Largo da Igreja aposta em materiais naturais, o Banco de Neve apresenta uma estrutura de madeira revestida em branco. Apesar de diferentes materialidades, ambos os projetos optam por uma estética que converse com seu local de implantação.  

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Banco de Neve do Atelier Pierre Thibault. Image © Maxime Brouillet
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Banco de Neve do Atelier Pierre Thibault

Essa mesma estratégia de criar espaços que valorizem e potencializem o encontro das pessoas foi a abordagem escolhida para o Parque Dongshan Shaoye / WAY Architects. A localidade sempre foi um importante nó de transporte, misturando fluxos comerciais e residenciais. O projeto de renovação desta praça propõe uma alteração de circulação, de uma linha reta para uma curva mais exploratória e interessante. O cenário e os personagens deste pequeno espaço público constroem uma imagem tridimensional que muda no tempo. As árvores desempenham um importante papel na limitação desse espaço, não somente pelo sombreamento, mas por que seus troncos são utilizados como referência para formar o trajeto fluido e natural, já que são protegidos pelas jardineiras que são envoltas por bancos de concreto, onde as pessoas podem sentar e aproveitar do espaço.

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Parque Dongshan Shaoye / WAY Architects. Image © Siming Wu
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Parque Dongshan Shaoye / WAY Architects. Image © WAY Architects

Esses três primeiros projetos mostram pequenos espaços públicos que se integram na cidade oferecendo espaços de encontro e possibilitando o contato e a interação social. Essa, porém, não é uma regra das praças. A "Piazza Gae Aulenti / AECOM" [Piazza Gae Aulenti / AECOM], na Itália, é uma praça Italiana que foca na organização dos fluxos e na integração de infraestruturas com o tecido urbano. Optando por elementos esculturais, a praça parte de um fluxo circular contínuo, marcado por bancos em torno de um espelho d'água com 60 metros de diâmetro. Esse espelho d'água cai em forma de cascata dois pavimentos abaixo do nível da rua, onde há estacionamentos e unidades comerciais.

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"Piazza Gae Aulenti / AECOM" [Piazza Gae Aulenti / AECOM]. Image © AECOM Robb Williamson

Diferentemente dos primeiros projetos, os bancos da Piazza Gar Aulenti são dispostos em um arranjo menos integrador, focando muito mais nos fluxos dos pedestres e em fazer essa conexão entre os programas do subsolo e a rua. Assim, esta praça permite permeabilidade e caminhabilidade, em um cenário de altos edifícios, e poucos espaços livres, trazendo a escala mais próxima ao pedestre. Ainda assim, a Piazza usa elementos metálicos, a água e objetos quase cênicos, como as luminárias, por exemplo, para estabelecer uma conexão com os altos edifícios espelhados de seu entorno.

Enquanto a Piazza Gar Aulenti busca se integrar ao seu entorno cosmopolita, a Quadra Petar Zoranić e Praça Šime Budinić / Kostrenčić-Krebel, por outro lado, teve que lidar com a pré-existência de estruturas arqueológicas encontradas no local. O projeto, portanto, opta por reduzir a intervenção arquitetônica a um gesto quase imperceptível, destacando o valor das descobertas dali, ao mesmo tempo que gerava um novo potencial para a praça. Os vestígios arqueológicos foram integrados ao tecido vivo da praça, fugindo da armadilha de fazer um "museu ao ar livre". Isto foi conquistado através da reconstrução cuidadosa dos achados arqueológicos abaixo do nível do solo da praça e também fazendo uma "interface de vidro" entre os achados romanos e medievais abaixo e a praça contemporânea acima.

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Quadra Petar Zoranić e Praça Šime Budinić / Kostrenčić-Krebe. Image © Damir Fabijanić
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Quadra Petar Zoranić e Praça Šime Budinić / Kostrenčić-Krebe

Seu desenho, atento aos usos urbanos daquele espaço antes da reforma, opta por uma praça livre, plana e seca, trabalhando somente com desenhos de piso, fazendo-a funcionar mais como um lugar de múltiplos usos que possa promover aglomerações pertinentes ao agito da cidade. A linguagem limpa e clara responde à necessidade de coexistir não somente com os achados arqueológicos, mas também com o tecido e construções históricas que definem a área da praça. Em um cenário diferente, mas buscando também servir como espaço de encontro multifuncional de sua comunidade, vemos o Espaço público Tapis Rouge em um bairro informal no Haiti, projetado pelo Emergent Vernacular Architecture (EVA Studio).

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Espaço público Tapis Rouge em um bairro informal no Haiti, projetado pelo Emergent Vernacular Architecture (EVA Studio). Image © Gianluca Stefani

O projeto, que faz parte de um programa que visa construir espaços multifuncionais que facilitam e promovem a coesão social, apresenta uma proposta de praça multifuncional em um espaço limitado, não por um tecido urbano formalmente desenhado e estruturado, mas por uma ocupação informal. O projeto consiste em um anfiteatro ao ar livre, planejado para encontros e que marca o centro do espaço. Em torno das bordas dos degraus/assentos há árvores para sombreamento. Os anéis concêntricos, definidos a partir do anfiteatro, setorizam e organizam a praça e são marcados por seus materiais e também pelo mobiliário. O desenho é simples, os materiais são locais, e o resultado é um espaço livre que permite uma série de usos, desde conversas cotidianas, até festas da comunidade.  

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Espaço público Tapis Rouge em um bairro informal no Haiti, projetado pelo Emergent Vernacular Architecture (EVA Studio)

Para além dos espaços livres que são derivados do tecido urbano, seja ele formal ou informal, a cidade contemporânea, principalmente as grandes metrópoles que carecem de espaços verdes, criaram alternativas dentro dos espaços vagos possíveis. Dentro desse cenário, algumas praças acontecem em espaços internos aos lotes, quebrando a lógica dos espaços públicos e privados, e criando espaços coletivos, como é o caso do Pocket Park - Xinhua Road em Shanghai por SHUISHI. O projeto acontece no lote de um antigo edifício ilegal onde funcionava um restaurante. O edifício foi demolido e no espaço vago foi construído um pocket park.

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Pocket Park - Xinhua Road em Shanghai por SHUISHI. Image © Hao Chen

Ocupado por um espaço livre para atender as comunidades vizinhas e uma galeria de rua para abrigar exposições flexíveis, este pequeno espaço coletivo emprega um sistema em aço inoxidável com acabamento espelhado nas  laterais das paredes do lote, onde o espaço faz limite com os outros edifícios. Por ser espelhado, esse elemento reflete todo o jardim, infinitamente, dando uma sensação de aumento do espaço. Ao mesmo tempo, os espelhos podem ser rotacionados, revelando os painéis de exposição, e transformando o local em uma galeria de rua. 

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Pocket Park - Xinhua Road em Shanghai por SHUISHI

A situação deste espaço livre também é parecida com a Praça Eliane do Hanazaki Paisagismo. Esse jardim serviu como entrada para a Casa Cor SP, em um antigo prédio ambulatorial do Jockey Club da cidade, que foi transformado em um local de eventos. O jardim interativo e contemplativo, destinado a estimular os sentidos quando alguém entra no espaço, recebe o visitante por um “túnel” pergolado que leva ao jardim, que tem vasta vegetação e um espelho d’água interativo. Ambos os projetos trabalham com caminhos por uma vasta vegetação, sem focar tanto nos espaços de estar das praças, mas valorizando as vistas e a contemplação, com uma característica mais introspectiva. Além disso, enquanto o Pocket Park da Xinhua Road amplia sua pequena metragem usando de superfícies espelhadas para expandir a visão do jardim, o projeto da Praça Eliane usa de jardins verticais para lidar com espaços pequenos, ampliando o contato das pessoas com a natureza em meio à grandes centros urbanos.

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Praça Eliane do Hanazaki Paisagismo. Image © Yuri Seródio
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Praça Eliane do Hanazaki Paisagismo. Image © Yuri Seródio

Por fim, no projeto da ampliação da Ampliação da Plaza Espanyola de Noemí Martínez podemos ver um lugar que, não somente se estabelece dentro dos limites de edifícios, mas também se conecta com a cidade do entorno, fazendo parte ativamente do tecido urbano. Este projeto consiste na reforma de uma antiga praça em Barcelona, no qual a proposta visava aproveitar a inserção de um novo lote ao espaço público. Os novos programas foram implantados, em duas áreas diferentes: uma protegida, com pavimentação de borracha, onde estão os equipamentos infantis; a outra aberta, com pavimentação em granito. Essas duas áreas são separadas uma da outra por grandes bancos de madeira laminada colada que agem como uma barreira para o playground das crianças.Também foi necessário intervir nas duas empenas deixadas expostas, tornando-as mais agradáveis ao olhar.

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Ampliação da Plaza Espanyola de Noemí Martínez

O projeto define uma linguagem que se repete tanto nas fachadas, quanto nas divisões de organização do espaço. Um banco contínuo de concreto foi colocado próximo às empenas; esse novo elemento, além de proporcionar lugares para as pessoas descansarem, age como uma transição entre as áreas de recreação e as grandes paredes. A partir desses exemplos, podemos entender que as praças contemporâneas apresentam funções um tanto diferentes daquelas de antigamente, mas que também se utilizam de artifícios paisagísticos tradicionais para conformá-las como topografia e diferença de níveis, percepção dos fluxos, espaços de estar e contemplação, elementos de vegetação e água, desenhos de piso e materialidade, entre outros. 

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Ampliação da Plaza Espanyola de Noemí Martínez. Image © Adrià Goula

Fernando Guilén Martinez fala sobre as praças espanholas, discorrendo sobre a simplicidade de seus espaços. Para ele, essa simplicidade “é claramente um convite para a liberdade social e moral das pessoas, porém, suas linhas, parecidas com as de uma fortaleza, são uma lembrança definitiva de que a vida e a liberdade podem ser vividas somente em um local concreto e limitado com um propósito bem definido.” Os projetos apresentados aqui nos mostram a importância de nos ater aos pequenos espaços coletivos disponíveis existentes nas nossa cidades e também àqueles espaços oportunos para a criação de novas praças. Em uma realidade onde tivemos que passar tanto tempo reclusos em nossas residências, esses pequenos espaços espalhados pela cidade ganham também um novo significado.

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Sobre este autor
Cita: Giovana Martino. "Pequenas praças contemporâneas: 9 espaços de encontro e socialização" 24 Jul 2021. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/964614/pequenas-pracas-contemporaneas-9-espacos-de-encontro-e-socializacao> ISSN 0719-8906

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