Ladrilhos hidráulicos modernistas: um dos grandes tesouros de Barcelona

Refletindo sobre como serão os materiais do futuro, falaremos de um material que está em alta em Barcelona e que talvez nos leve a responder essa questão sugerindo que, como sempre acontece, tudo volta.

Os ladrilhos hidráulicos há alguns anos voltaram a ser tendência, despertando interesse pelo seu alto valor artesanal e pelos seus diversos desenhos, perfeitos para combinar ambientes tradicionais com detalhes de vanguarda.

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Os ladrilhos hidráulicos modernistas são um dos grandes tesouros, entre tantos outros, que Barcelona esconde. Muitos deles foram condenados à destruição ao longo do tempo. No entanto, e felizmente, peças históricas de grande valor para a cidade ainda estão preservadas em edifícios de várias tipologias, desde casas particulares a bares, como na Sala Beckett, projetada pelos arquitetos Flores i Prats.

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Sala Beckett / Flores i Prats . Imagem © Adrià Goula

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Sala Beckett / Flores & Prats

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Agora, o que é um ladrilho hidráulico? É uma peça decorativa de cimento pigmentada, adequada para uso tanto em ambientes internos quanto externos, que, ao contrário de uma peça cerâmica, não é feita de barro ou adobe, nem requer queima.

A história começa com os árabes, no século IX, que os introduziram na Espanha. No entanto, foi apenas em meados do século XIX que eles voltaram a florescer, após o desenvolvimento de uma técnica revolucionária para a sua produção que permitia a fabricação de azulejos com motivos diversos, em grande escala e sem necessidade de cozimento para o endurecimento, reduzindo significativamente os custos de fabricação. Assim, esse material passa a ser comercializado, tanto no país quanto no exterior, principalmente na França e na Itália.

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13. Sala Beckett / Flores i Prats – Detalhes

Esse novo e disruptivo método consistia no uso de uma prensa hidráulica – daí o nome – e um molde para criar os desenhos combinando cores. A principal vantagem era que a produção de ladrilhos podia ser feita em uma única etapa, enquanto o procedimento tradicional para a fabricação de peças cerâmicas consistia em aplicar as cores separadamente e queimá-las após cada etapa, sistema que demandava muito tempo e muito trabalho. Os ladrilhos hidráulicos eram simplesmente prensados ​​e deixados para secar por várias semanas.

A estrutura do ladrilho hidráulico tradicional tem aproximadamente 2 centímetros de espessura e é dividida em 3 partes. A superfície decorada é uma fina camada de 4 milímetros de espessura, composta por uma mistura de cimento Portland branco, areia de mármore e pigmentos – cada cor é colocada na divisão correspondente de um molde. A próxima e segunda camada, a brassatge –, tem espessura semelhante à da primeira, é composta por uma mistura de cimento Portland cinza e areia, e tem como missão absorver possíveis excessos de água da camada superior. A terceira e última mede aproximadamente 12 milímetros e é composta por uma mistura de cimento Portland cinza, cimento comum e areia. Esta mistura possui uma porosidade que facilita sua adesão ao solo no momento da colocação. Os ladrilhos foram fabricados em diferentes formatos e tamanhos, sendo os mais frequentes o quadrado com 20 x 20 centímetros e os hexágonos com 11,5 centímetros de cada lado.

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Reforma apartamento em Barcelona / Vora arquitectura . Imagem © Adrià Goula

A empresa catalã Butsems i Cia foi a primeira a se especializar na produção desse material, datando de 1857. No entanto, o evento que introduziu os ladrilhos hidráulicos na sociedade aconteceu 10 anos depois, na Exposição Universal de Paris, e foi realizado pela empresa Garret, Rivet i Cia. Mais tarde surgiu outra empresa que, graças ao seu maquinário moderno e sua enorme capacidade de produção, acabou popularizando este tipo de elemento em Barcelona. E assim, esta atividade continuou a expandir-se, dando origem a muitas outras empresas, como Escofet, Fortuny i Cia, fundada em 1886, que se destacou pelo seu design inovador, e levou este revestimento a toda a Espanha e América Latina.

A popularidade do ladrilho hidráulico coincidiu com a ascensão do Modernismo catalão, descrito como seu principal promotor: criaram-se motivos inovadores e ousados, inimagináveis ​​em outra época. As empresas costumavam ter desenhistas especializados e às vezes contratavam artistas proeminentes para fazer projetos específicos. Assim, os motivos variavam entre formas geométricas, vegetação e flores, figuras mais orgânicas e, ocasionalmente, animais ou representações humanas, e utilizavam uma vasta gama de cores.

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Reforma apartamento em Barcelona / Vora arquitectura . Imagem © Adrià Goula

Na história de Barcelona, ​​destacam-se vários arquitetos, artesãos e designers que ousaram brincar com esse método. Entre eles, e um dos mais reconhecidos mundialmente, está Antoni Gaudí, quem projetou o piso que atualmente pavimenta as calçadas do Paseo de Gracia. Estes mosaicos tornaram-se um símbolo de Barcelona: encontramo-los em forma de ímanes decorando geladeiras ou impressos em camisetas e bolsas, entre muitas outras coisas.

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Sigfrid Campama Puig / Shutterstock. Imagem via Shutterstock

Vale destacar a semelhança do desenho dos ladrilhos hidráulicos em alguns espaços – geralmente ambientes principais ou especiais – com os "tapetes": uma parte central formando um padrão, complementada por uma moldura externa composta por azulejos monocromáticos em tons discretos. Estes "tapetes de ladrilho" costumavam ser colocados em áreas como a sala de estar, o hall e a sala de jantar e, por vezes, em divisões especiais. Nos espaços secundários o desenho dos ladrilhos era mais simples.

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Casa AB. Barcelona / built architecture – Planta

A ascensão desse material desapareceu com as construções da década de 1960, época em que surgiu uma necessidade emergente e incontornável de redução de custos em materiais e, infelizmente, os ladrilhos caíram em desuso. A partir daí, muitos mosaicos de grande beleza começaram a desaparecer com a demolição ou remodelação de edifícios antigos, pondo em risco a sua existência.

Nos últimos anos, o interesse pelo mosaico ladrilho renasceu, sendo considerado um elemento de qualidade por arquitetos e designers de interiores. Dessa forma, se antigos ladrilhos não são recuperados em reformas e remodelações, novos são colocados, e há muitas empresas locais que se dedicam a fabricá-los. Os anos se passaram, mas a técnica de fabricação é quase a mesma, as diferenças são apenas melhorias.

A seguir contamos como eles são feitos, passo a passo:

  1. Os ladrilhos hidráulicos de boa qualidade são feitos à mão e peça por peça. O primeiro passo é construir um molde, no qual são introduzidos os pigmentos que vão desenhar o ladrilho. Os moldes são feitos por ferreiros experientes, moldando o ferro e acoplando as peças para formar as cavidades nas quais os pigmentos mencionados são introduzidos.
  2. Uma vez preenchidos os furos, retira-se o molde e adiciona-se uma mistura de cimento, que dá forma e volume ao ladrilho. O molde completo é, então, fixado usando uma prensa hidráulica. Neste caso, a peça deve estar perfeitamente compactada.
  3. O próximo passo é umedecer o ladrilho com água para endurecer o cimento e torná-lo mais resistente.
  4. O processo é concluído aproximadamente 28 dias depois, quando o processo de secagem e presa é finalizado. Assim, o ladrilho está pronto para ser assentado.

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Ca na Vanessa / Atzur Arquitectura . Imagem © Luis Díaz Díaz

Por fim, para concluir, como mencionamos no início do artigo, “tudo volta”. Não é uma regra geral para todos os materiais, nem é uma resposta absoluta à pergunta. Mas, permitindo a sua sobrevivência, este critério foi aplicado no caso dos ladrilhos hidráulicos, que felizmente regressaram a Barcelona.

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Sobre este autor
Cita: Sánchez, Mili. "Ladrilhos hidráulicos modernistas: um dos grandes tesouros de Barcelona" [Baldosas hidráulicas modernistas: uno de los grandes tesoros de Barcelona] 21 Out 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Ghisleni, Camilla) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/989612/ladrilhos-hidraulicos-modernistas-um-dos-grandes-tesouros-de-barcelona> ISSN 0719-8906

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