Pátios comunitários em escolas públicas: uma oportunidade de mudança para o futuro

Um recente relatório publicado pela The Trust for Public Land (TPL), apresenta dados bastante convincentes, os quais poderão incentivar a transformação de muitos pátios de escolas públicas em áreas de uso comum abertas às comunidades locais. A TPL reitera que abrir e disponibilizar os pátios e infraestruturas públicas das escolas para os moradores locais após o horário escolar e também nos finais de semana, pode ser uma poderosa ferramenta para fortalecer e engajar comunidades. Se todas as 90.000 escolas públicas dos Estados Unidos disponibilizassem seus pátios às comunidades onde se encontram, mais pessoas teriam acesso a espaços públicos e infra-estruturas esportivas a um passo de suas casas. A TPL argumenta ainda que a abertura de todos os pátios de escolas públicas do país, essencialmente transformando-os em centros comunitários de acesso irrestrito em horários específicos, “disponibilizaria de imediato um novo parque a uma distancia de apenas 10 minutos de casa para quase 20 milhões de pessoas— resolvendo a dificuldade de acesso a espaços públicos de qualidade para um quinto das mais de 100 milhões de pessoas que atualmente não contam com um parque nas proximidades de sua casa.”

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Cortesia de Trust for Public Land
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O relatório da TPL informa ainda que “apenas uma pequena fração” dos atuais pátios escolares atendem aos critérios estabelecidos para poderem ser abertos de imediato às comunidades. Ao longo dos últimos anos, muitas escolas tem de fato investido tempo e dinheiro para transformar seus pátios em áreas cada vez mais verdes, outras, preferiram adaptar seus espaços coletivos e disponibiliza-los ao público fora do horário escolar—poucas foram aquelas que fizeram as duas coisas. Neste sentido, a TPL destaca a necessidade de intensificar os esforços de renovar e adaptar os pátios das escolas públicas como um passo definitivo em direção a torná-los mais acessíveis—clamando por mais incentivos financeiros por parte do governo federal e outras instituições organizações sem fins lucrativos.

Áreas de uso comum são fruto do esforço de toda a sociedade, e na maioria dos casos, encomendadas pelo poder público a arquitetos e paisagistas. Pátios de escolas públicas são geralmente espaços verdes e bem arborizados, os quais fornecem sombra e purificam o ar; jardins urbanos promovem a biodiversidade nas cidades além de oferecer uma porta de entrada à educação e consciência ambiental das novas gerações; áreas verdes podem contemplar sistemas de gestão de águas pluviais, ajudando a reduzir o risco de inundações; e pistas, campos e quadras esportivas oferecem espaço para a prática de atividades físicas e engajamento social.

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Espaços gramados e bem conservados, arborizados e arejados, já oferecem muitos benefícios para qualquer comunidade, mas é possível fazer ainda mais. O relatório publicado pela TPL nos mostra que, em todo os Estados Unidos, “36% dos 50,8 milhões de alunos de escolas públicas do país estudam em bairros onde é muito comum o fenômeno da ilha de calor, definido como qualquer temperatura 1,25 grau acima da média da temperatura fora do centro urbano de uma cidade. Entre esse grupo, 4,1 milhões de alunos frequentam uma escola em uma ilha de calor extremo, ou seja, 7 graus acima da média de temperatura externa à área urbanizada, enquanto pouco mais de 1 milhão de alunos freqüentam uma escola em uma ilha de calor 10 graus acima desta média. Em algumas comunidades, há registros de ilhas de calor que superam os 20 graus se comparadas à temperatura do entorno imediato da mesma cidade.”

A classe social das famílias dos alunos que frequentam uma determinada escola tem correlação direta com o risco de exposição ao calor extremo na mesma. Alunos de famílias de baixa renda costumam frequentar escolas em áreas mais quentes da cidade que alunos de famílias de classe média ou média alta. Este dado pode ser explicado facilmente pelo legado do planejamento urbano historicamente racista e excludente em todo o país. Um estudo publicado em 2020 pela revista Climate revelou que as comunidades onde menos se investe em infra-estrutura pública são em média 2,6°C mais quentes do que comunidades vizinhas que não carecem de cuidado e investimento público. Historicamente, esta forma de se construir cidades nos Estados Unidos resultou na criação de determinadas áreas da cidade onde praticamente não há árvores e espaços públicos—não por acaso, estas áreas coincidem com os bairros onde vivem as famílias de menor renda. De fato, nas 100 maiores cidades dos Estados Unidos, os bairros onde as pessoas se identificam predominantemente como pessoas de cor, contam com 44% menos espaços públicos e áreas verdes do que bairros predominantemente habitados por pessoas brancas.

Um outro estudo de caso demonstra todo o potencial de se investir mais em escolas públicas estabelecidas em comunidades historicamente marginalizadas e carentes. Na cidade de Newark, Nova Jersey, uma área verde de mais de 20 mil metros quadrados foi requalificada e devolvida à comunidade da Escola da Avenida Sussex K-8, co-projetada por alunos da terceira e quarta séries em parceria com Heidi Cohen, arquiteta paisagista parceira da TPL.

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O investimento e o resgate desta enorme área de uso público teve um reflexo imediato na saúde e no bem-estar dos alunos: “a presença dos alunos em sala de aula aumentou de 90% a 96% após a conclusão da reforma. De forma complementar, as ações disciplinares diminuíram consideravelmente, enquanto as notas médias nas provas subiram instantaneamente—com 95% dos alunos alcançando a média suficiente para receberem almoço grátis ou subsidiado.”

Considerando que o agravamento das mudanças climáticas tende a piorar o fenômeno das ilhas de calor existentes, investir em pátios de escolas públicas se torna cada dia mais urgente. A TPL cita ainda um estudo desenvolvido na cidade de Nova Iorque que encontrou uma correlação entre o aumento indesejado da temperatura e a queda no desempenho dos alunos. Um outro estudo desenvolvido pela Harvard Kennedy School, apresentou outras “evidências de que o calor excessivo no ambiente de aprendizagem pode ser prejudicial ao desenvolvimento cognitivo dos alunos.” Embora pátios escolares mais verdes e acessíveis possa não ser a solução para todos os problemas, eles podem contribuir e muito para com a saúde e a qualidade de vida dos alunos e de toda a comunidade. Os benefícios dos espaços públicos para a nossa saúde são cada dia mais evidentes, com mais e mais pesquisadores preocupados em descobrir de que forma os espaços públicos e áreas verdes podem contribuir para com o desenvolvimento cognitivo de nossos jovens alunos. “Pátios bem arborizados e sombreados podem ajudar os alunos a melhorar o seu desempenho em sala de aula”, argumenta a TPL.

O relatório em questão também cobre outros fatores e os muitos benefícios dos pátios comunitários no combate ao agravamento das ilhas de calor urbanas. Como infra-estruturas verdes, pátios escolares podem ser muito úteis para o gerenciamento das águas pluviais. Estima-se que os pátios escolares comunitários somente na cidade de Nova Iorque capturem mais de 85 milhões de litros de água da chuva anualmente. “A instalação de infraestruturas verdes nas escolas públicas minimiza o risco de enchentes em todo o bairro.” Semear e cultivar estes jardins também nos oferecerá a oportunidade de educar nossos alunos sobre a importância da preservação do meio ambiente no futuro.

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Este artigo foi publicado originalmente em The Dirt.

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Sobre este autor
Cita: Green, Jared. "Pátios comunitários em escolas públicas: uma oportunidade de mudança para o futuro" [The Incredible Opportunity of Community Schoolyards] 10 Dez 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/971395/patios-comunitarios-em-escolas-publicas-uma-oportunidade-de-mudanca-para-o-futuro> ISSN 0719-8906

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