Por que ainda não chegou a hora de abandonar nossas cidades

Ao longo dos últimos meses, em razão da crise sanitária que está afetando a todos nós, fomos forçados a nos afastar uns dos outros e retroceder silenciosamente para dentro de nossas casas. Neste contexto, fomos bombardeados constantemente com uma enxurrada de diferentes narrativas, relatos íntimos de pessoas confinadas e preocupadas com o futuro de nossas cidades. Como uma resposta imediata, muitas delas fugiram para suas casas de praia, retiros no interior ou até para a casa dos pais — tudo por um pouquinho mais de espaço ao ar livre.

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Aerial View of suburbs. Imagem © Tom Rumble | Unsplash

Embora esta mudança de ares tenha sido benéfica para alguns, fazendo com que muitos daqueles que acreditavam ter uma vida prazenteira em seus micro-apartamentos urbanos repensassem suas prioridades, as anedotas mais pertinentes foram aquelas que demonstravam algum tipo de esperança, uma espécie de anseio por um futuro mais vibrante e sustentável para nossas cidades. E uma coisa é certa, ainda não chegou a hora de abandoná-las.

Há uma certa estranheza em acreditar que as medidas de distanciamento social permanecerão vigentes por muito tempo — até mesmo depois da descoberta e difusão de uma vacina eficaz —, apesar de cultivarmos uma cega esperança de que a atual situação provocará uma mudança de paradigma, nos ajudando a sanar as piores mazelas que por tanto tempo tem afetado a nossa sociedade. Isso significa que daqui a cinco anos estaremos naturalmente mantendo um ou dois metros de distância com todas as pessoas que encontrarmos na rua? Que nossas salas de reuniões estarão sempre com uma cadeira vazia entre os presentes sentados à mesa? E que nossos centros urbanos estarão despovoados assim como jamais veremos um metrô lotado novamente?

Embora algumas cidades do interior estejam testemunhando um vertiginoso crescimento neste momento de crise, tudo indica que esta é uma tendência temporária e que durará no máximo um ou dois anos. A maioria das grandes empresas de tecnologia anunciaram que o trabalho remoto será uma constante daqui para a frente — o Twitter disse que os seus funcionários poderão optar pelo trabalho remoto continuado sem data para voltar ao escritório enquanto a Uber e o Google afirmaram que a maioria dos seus empregados seguirá trabalhando de casa pelo menos até o próximo verão. Por outro lado, este êxodo massivo do trabalho presencial do qual alguns estão se aproveitando está provocando uma queda significativa nos preços dos aluguéis urbanos à medida que a oferta só aumenta.

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Home Listings Data, according to Zillow. Imagem © Kaley Overstreet

Sem dúvida, há aqueles que estão migrando para cidades menores e que provavelmente, não sentirão falta do estilo de vida de uma metrópole. Mas se analisarmos estes números com mais cuidado, perceberemos que este movimento de contra-fluxo não é assim tão expressivo quanto nos estão fazendo acreditar. Segundo dados publicados pelo Zillow, uma das principais empresas do setor imobiliário nos Estados Unidos, a procura por residências em pequenas cidades cresceu tanto neste ano quanto no ano anterior. Após escrutinar estes dados mais detalhadamente, as pesquisas mostram que o leve incremento na busca por moradias não se deu exatamente em áreas suburbanas ou rurais e sim em outras áreas urbanas. Isso significa que os urbanitas não estão procurando casas em áreas suburbanas, mas em cidades semelhantes as que eles habitam atualmente. Esta sutil mudança de direção não condiz com a hipótese catastrófica de que estamos passando por um massivo êxodo urbano, algo que provavelmente nunca virá a acontecer, até mesmo se esta pandemia durar anos e anos. Mesmo que as pessoas estejam querendo se mudar, sabemos que nem tudo é assim tão simples e imediato, não é fácil encontrar o lugar certo e menos ainda tomar uma decisão deste calibre.

Embora o desemprego seja sim um enorme problema em tempos de pandemia, alguns negócios e serviços estão se recuperando com relativa rapidez. Ainda que as políticas de incentivo ao trabalho remoto venham ao encontro da ambição e desejo de muitos funcionários de grandes e médias empresas, não sabemos como reagir e o que fazer realmente com tamanha liberdade que nos foi devolvida. E à medida que o papel do trabalho presencial está passando por profundas transformações, a nossa necessidade de um vínculo físico com a cultura e as pessoas, se perpetuará ad infinitum. Há também aqueles que não se veem morando fora de uma grande cidade. As pessoas não estão em busca de uma mudança assim tão radical, elas apenas estão atrás de um novo sopro de vida em um lugar não muito diferente da realidade na qual se encontram hoje.

Este artigo é parte do Tópico do mês do ArcDaily: Como viveremos juntos. Todo mês, exploramos um tópico através de artigos, entrevistas, notícias e obras. Saiba mais sobre nossos tópicos aqui. E como sempre, no ArchDaily, valorizamos as contribuições de nossos leitores. Se você deseja enviar um artigo ou um trabalho, entre em contato conosco.

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New York's Grand Central Terminal. Imagem © Nicole Y-C | Unsplash

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Sobre este autor
Cita: Overstreet, Kaley. "Por que ainda não chegou a hora de abandonar nossas cidades" [Why It's Not Quite Time to Give Up City Living] 11 Set 2020. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/946915/por-que-ainda-nao-chegou-a-hora-de-abandonar-nossas-cidades> ISSN 0719-8906

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