Jan Gehl: "Nos últimos 50 anos, os arquitetos esqueceram o que é uma boa escala para o ser humano"

Esta entrevista foi inicialmente publicada no website da revista City Manager sob o título 'Jan Gehl, ciudades para la gente.'

Jan Gehl reconheceu ser um seguidor de Jane Jacobs, a quem ele chama de "avó" do urbanismo e do planejamento humanista. Ele também foi professor na Royal Danish Academy of Fine Arts em Copenhague e professor visitante no Canadá, Estados Unidos, Nova Zelândia, México, Austrália, Bélgica, Alemanha, Polônia e Noruega. Há cinquenta anos criou sua própria consultora intitulada Gehl Arquitects na Dinamarca, com a qual realizou vários projetos pela melhoria urbana ao redor do mundo, também utilizando dados e estratégias analíticas.

A seguir, a entrevista com o arquiteto dinamarquês, referência teórica internacional em desenvolvimento urbano, depois de Jane Jacobs, da escala humana no projeto de espaços públicos.

O que devemos entender por cidades com escala humana?

Quando falo desse conceito, tomo como ponto de partida os sentidos humanos e como nós, as pessoas, nos movemos. O homem, claro, é um ser andante e nossos sentidos, e tudo, é organizado para que pessoas caminhem até cinco quilômetros por hora.

As cidades antigas foram feitas para que este homo sapiens se sentisse confortável. Os espaços não eram demasiadamente amplos ou grandes, então o homem sempre estava muito cômodo.

Nas antigas metrópoles, tudo foi feito de acordo com a medida do Homem, mas após a introdução do modernismo e do automóvel, cada escala entrou em colapso. Passamos de uma arquitetura caminhável até cinco quilômetros por hora para cidades inteiras a 60 quilômetros por hora. Isso implica em ruas largas, grandes propagandas, altos edifícios, onde você não pode ver nada em detalhes se mover-se rapidamente.

Então, o modernismo e a "motorização" confundiram muito aos arquitetos e planejadores em relação ao que seria uma escala confortável para os seres humanos. Tenho estudado este assunto há muito tempo, pois acredito verdadeiramente que, nos últimos 50 anos, planejadores e arquitetos se esqueceram da grande escala para os seres humanos. Nos tempos antigos, as pessoas sabiam muito bem o que fazer.

Cortesía de Revista City Manager

Atualmente, vivemos em megacidades muito complexas. Com essas cidades, é possível pensar na escala humana?

Certamente, acho que podemos falar sobre os corredores de transporte onde precisamos ter coisas em uma escala de 60 quilômetros por hora ou em uma escala de carro, mas quando as pessoas vivem, trabalham, fazem compras e se movem como pedestres, poderíamos facilmente fazer as coisas mais confortavelmente.

Em Veneza, que é uma cidade feita para as pessoas, a rua média tem três metros de largura, o que a torna uma cidade caminhável e com espaços públicos muito interessantes em todos os lugares. Então, esta cidade realmente tem uma pequena escala humana, pessoal e íntima; enquanto um lugar como Dubai é para dinossauros, não para humanos.

STRØGET. ES UNA ZONA PEATONAL UBICADA EN COPENHAGUE, DINAMARCA, Y ES CONSIDERADA POR MUCHOS COMO LA CALLE PEATONAL MÁS GRANDE DE EUROPA, FUE CREADA EN 1962 BAJO LA ASESORÍA Y CONSEJO DE GEHL. Image Cortesía de Revista City Manager

Em seu livro Cidades para pessoas, amamos uma frase que diz: "Primeiro, modelamos as cidades e então elas nos modelam". O que isso significa para você, exatamente?

O que a frase significa para mim é que os limites físicos em que vivemos e que nos cercam tem uma grande influência em nosso comportamento e estilo de vida. Pode realmente significar uma diferença fantástica se você mora no subúrbio em uma cidade dos EUA ou se você mora em Barcelona, por exemplo.

Apenas para dar um exemplo, diagnosticou-se que as pessoas nos subúrbios vivem menos do que aquelas nas cidades. Por que? Porque na cidade mais pessoas caminham, enquanto que nos subúrbios ocorre o contrário, o automóvel é usado com mais frequência e caminha-se menos.

Se não nos movimentamos o suficiente, a saúde não é tão boa e a expectativa de vida é mais curta. Esta é apenas uma amostra de como as metrópoles influenciam as pessoas e seus modos de vida. Há um enorme impacto do ambiente físico em nosso modo de vida, então, cada vez que construímos, manipulamos a vida das pessoas, mas o interessante é que não sabemos muito sobre como fazemos e quais são as consequências, mas estamos conscientes de que há uma grande influência do ambiente físico sobre o estilo de vida do ser humano.

Cortesía de Revista City Manager

Falamos sempre sobre a importância da vida pública e do espaço público para a existência de pessoas, queremos perguntar-lhe quais características um espaço público deve promover à vida pública?

No meu livro, Cidades para pessoas, no final, há um tópico chamado Caixa de Ferramentas e, nesta seção, há uma lista de palavras-chave com 12 critérios qualitativos ao panorama das pessoas.

E, se você me perguntar como seria um bom espaço público, eu diria à você que tome essa lista e certifique-se de que possa dizer "isso é verdade". Se você for para alguns dos melhores espaços públicos do mundo, como a Plaza del Campo, em Siena, na Itália, e tirar essa lista de 12 pontos, achará que todos ficam fantasticamente bem; mas se você for à uma das praças em Brasília e pegar a lista, verá que quase todos os pontos são ignorados.

Isso significa que naquela cidade italiana há muitas coisas que fazem você se sentir confortável, enquanto em Brasília há muito poucas.

 

Sobre este autor
Cita: Alonso, Rodrigo. "Jan Gehl: "Nos últimos 50 anos, os arquitetos esqueceram o que é uma boa escala para o ser humano"" [Jan Gehl: 'En los últimos 50 años los arquitectos han olvidado lo que es una buena escala para el ser humano'] 13 Nov 2017. ArchDaily Brasil. (Trad. Pereira, Matheus) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/882862/jan-gehl-nos-ultimos-50-anos-os-arquitetos-esqueceram-o-que-e-uma-boa-escala-para-o-ser-humano> ISSN 0719-8906

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