A Índia testemunhou um aumento na urbanização e no crescimento populacional nas últimas décadas. Como resultado do crescimento natural da população e da migração, as megacidades da Índia experimentaram um aumento contínuo de seus habitantes. Sendo o país mais populoso do mundo, a Índia está em uma encruzilhada crítica, enfrentando oportunidades e desafios na formação de seu ambiente construído. O boom populacional, no entanto, não é um problema recente. Ele já dura mais de um século. Como as cidades indianas têm lidado com o crescimento populacional e as complexidades que ele traz?
Os urbanistas têm abordado a questão do crescimento populacional há anos, criando estratégias para aliviar seus efeitos no ambiente construído. A eficácia dessas propostas ainda precisa ser determinada para saber se elas podem servir como modelos para o crescimento das cidades indianas. A história da expansão de Delhi serve como um estudo de caso convincente, oferecendo uma visão sobre o poder transformador da urbanização e os desafios que a acompanham. À medida que Delhi se urbaniza a um ritmo espantoso, o mundo observa com expectativa, ansioso por testemunhar como as cidades indianas percorrerão o caminho em direção ao seu futuro.
Delhi, capital da Índia por mais de um século, oferece uma compreensão dos obstáculos enfrentados pelas cidades para acomodar suas populações crescentes. Localizada nas férteis planícies indo-gangéticas, Delhi experimenta uma grande urbanização com a chegada de migrantes de regiões agrícolas próximas. Com renda per capita três vezes maior do que a média nacional, a capital atrai indivíduos ambiciosos de todo o país. Prevê-se que até 2028, Delhi se torne a cidade com a maior população do mundo. A cidade pode ser vista como um microcosmo da Índia, uma representação condensada de como a nação pode se expandir e evoluir.
Artigo Relacionado
Construindo para bilhões: a ascensão da Índia ao país mais populoso do mundoDelhi tem experimentado uma das expansões urbanas mais rápidas do mundo. A metamorfose da cidade é visivelmente evidente à medida que grandes porções de terras agrícolas dão lugar a uma rede de ruas, edifícios e infraestrutura. Ao longo de duas décadas, de 1991 a 2011, a extensão geográfica de Delhi quase dobrou de tamanho. Esse crescimento foi acompanhado por uma mudança na demografia, com o número de domicílios urbanos dobrando, enquanto o número de domicílios rurais caiu pela metade.
Depois de ser designada como a capital do Império Indiano Britânico, Delhi testemunhou um significativo aumento populacional, crescendo de 238.000 em 1911 para 696.000 em 1947. Naquele ano crucial, Delhi se tornou a capital da recém-independente União Indiana, experimentando um influxo sem precedentes de pessoas devido à Partição da Índia em 1947. As fronteiras de Delhi se expandiram em todas as direções, estendendo-se até mesmo ao leste do rio Yamuna que atravessa a cidade. A ausência de barreiras físicas significativas facilitou o crescimento multidirecional de Delhi, impulsionando o avanço implacável da urbanização.
A jornada da cidade em direção a se tornar a maior megalópole do mundo está conectada com uma série de iniciativas de planejamento estratégico. Desde a década de 1960, a organização oficial de planejamento de Delhi tem elaborado planos diretores a cada duas décadas para moldar o desenvolvimento futuro da cidade. Em 1985, o estabelecimento da Região da Capital Nacional (NCR) e seu conselho de planejamento visavam orquestrar o crescimento de Delhi e suas cidades vizinhas. Para descongestionar e descentralizar a capital, o conselho identificou cidades em um raio de 100 a 400 km, designando-as como “contraímãs”. Essas cidades satélites receberam financiamento substancial para se desenvolverem em centros de crescimento regional, visando alcançar um padrão equilibrado de urbanização ao longo do tempo. No entanto, apesar da visão ambiciosa e planejamento estabelecido pela Lei de 1985, os resultados desejados ainda não se materializaram completamente. A falta de oportunidades de emprego nas cidades do contra-ímã resultaram na migração contínua para Delhi. O impacto dessa solução criativa em grande escala ainda não foi totalmente concretizado.
O recém-concluído Plano Diretor de Delhi para 2021 - com aspirações de erradicar favelas, combater o congestionamento do tráfego e importar um horizonte "globalizado" - é criticado por permanecer em grande parte confinado ao papel. O novo projeto do Plano Diretor de Delhi para 2041 apresenta uma visão de uma megacidade onde assentamentos não autorizados dão lugar a estruturas imponentes de unidades habitacionais acessíveis. Enfatizando o potencial econômico da cidade como um polo de startups próspero e capital cultural, o plano visa transformar Delhi numa cidade 24 horas por dia, 7 dias por semana, promovendo o desenvolvimento orientado para o trânsito e reduzindo a poluição dos veículos. Ao contrário de seus precedentes, este plano adota uma abordagem progressiva, dividindo os objetivos em marcos gerenciáveis, em vez de ser um projeto abrangente de 20 anos.
Delhi é um caso a ser estudado continuamente. A cidade - com suas extremidades nas esferas sociais, econômicas e ambientais - pode servir como um campo de testes para entender como as cidades indianas podem acomodar populações massivas de forma sustentável. O arquiteto e urbanista Krishna Menon, que desempenhou um papel na formulação do Plano Diretor de 2007, reconheceu que o desenvolvimento da Região da Capital Nacional se inclinou mais para a "regularização" do que para o planejamento meticuloso. A sua abordagem envolveu a resolução de problemas à medida que surgiam, em vez de uma previsão proativa. Para compreender o presente e o futuro de Delhi, bem como de outras cidades indianas, é crucial expandir os planos além dos limites da cidade e reconhecer o ecossistema complexo que cresce ao seu redor. O planejamento das cidades indianas exige uma abordagem de concepção de sistemas, empregando uma perspectiva holística para atender às necessidades prementes e interdependências dessas paisagens urbanas.
À medida que Delhi e outras megalópoles indianas navegam pelo seu futuro, soluções de planejamento inovadoras são cruciais para atender às suas necessidades em evolução. Existem várias abordagens para gerenciar grandes populações globalmente, variando de múltiplas pequenas jurisdições como o caso de Paris, a municípios unificados como Pequim. Com o aumento das populações urbanas, a interdependência econômica expande-se para regiões maiores. É o caso de Delhi, onde muitas pessoas se deslocam de cidades vizinhas, como Gurgaon ou Noida, para trabalhar. A exploração da China com aglomerados de cidades, caracterizados por áreas expandidas com economias interconectadas, oferece um modelo potencial. A Índia poderia igualmente considerar a criação de um cluster de capitais na Região da Capital Nacional, promovendo a interdependência econômica e melhorando os serviços municipais. Tal abordagem exigiria níveis adicionais do governo no nível do cluster e um sistema de governança robusto, complementado por planos municipais bem elaborados para garantir a implementação e o crescimento bem-sucedidos.
A recente publicação do Índice de Habitabilidade Global da Economist Intelligence Unit (EIU) para 2023 serve de alerta para as cidades indianas, sugerindo-as a dar prioridade não só ao crescimento, mas também à habitabilidade das suas paisagens construídas. Conforme o relatório, Delhi e Mumbai obtiveram ambas uma pontuação de 60,2, partilhando a 141.ª posição. Este fato ressalta as preocupações urgentes enfrentadas pelas metrópoles indianas, como a poluição, os aglomerados populacionais informais, a superlotação e a infraestrutura inadequada. À medida que as cidades indianas se esforçam para alcançar os padrões globais, uma lacuna substancial precisa ser preenchida entre planos ambiciosos e sua implementação efetiva. Para garantir um futuro mais favorável, as cidades indianas devem encontrar um equilíbrio entre o crescimento planejado e o bem-estar de seus cidadãos.
Este artigo faz parte da série ArchDaily intitulada Índia: Construindo para Bilhões, na qual discutimos os efeitos do aumento populacional, urbanização e crescimento econômico no ambiente construído da Índia. Ao longo da série, exploramos inovações locais e internacionais que respondem ao crescimento urbano da Índia. Também conversamos com arquitetos, construtores e a comunidade local para destacar suas experiências pessoais. Como sempre, na ArchDaily, valorizamos muito a opinião dos nossos leitores. Se você acredita que deveríamos apresentar um projeto específico, por favor nos envie sua sugestão.
