Já faz mais de um ano que fomos todos pegos de surpresa com o então surto de coronavírus que, posteriormente, se transformaria em pandemia e nos mantém ainda hoje em completo estado de suspense. Entretanto, não demorou muito para toda esta situação passasse a ser encarada como um desafio a ser superado, inspirando arquitetos e arquitetas ao redor do mundo a desenvolver soluções e estratégias projetuais para combater a maior e mais longa crise sanitária da modernidade. Neste contexto, é importante mencionar o fato de que a grande maioria destas inovações foram comissionadas ou comercializadas pelo setor imobiliário e portanto, representam um benefício a apenas uma pequena parcela da população. Entretanto, à medida que estas empresas se esforçam para oferecer melhores alternativas aos clientes com melhores condições financeiras, a pandemia faz muito mais vítimas junto à classe trabalhadora, principalmente no que se refere às restrições que lhes são impostas e os poucos benefícios que lhes são oferecidos. Somado a isso, quando observamos as condições de moradia das classes mais baixas, especialmente em países mais pobres ou aqueles de economia emergente, a precarização dos espaços habitáveis é um agravante o qual, resulta diretamente da total liberdade e da falta de fiscalização que gozam os empreendedores do mercado imobiliário nestes países.
A realidade das grandes cidades, como a Cidade do México é, na maioria dos casos, formada por pessoas de vários estados do país e de vários países ao redor do mundo. No entanto, devido à situação da pandemia e à nova era do trabalho remoto, foi radicalmente despertado um interesse em regressar às províncias e regiões costeiras onde há menos população, superlotação e, aparentemente, menos restrições sanitárias em comparação com as grandes cidades que acolhem os grandes aeroportos.
Desde a década de 1990, um grande número de cidades na China está passando por uma renovação urbana. Estimulados por esta reconstrução urbana facilitada pelo estado, arranha-céus estão sendo construídos rapidamente nas principais cidades a fim de atrair classes médias ricas para estes locais resultando em inúmeras relocações e deslocamento da classe trabalhadora, tal processo é conhecido como “gentrificação”.
À medida que as cidades e os bairros estão sendo completamente gentrificados para atender ao gosto da classe média e impulsionar o crescimento econômico, os recursos do solo urbano estão sendo tratados com potencial econômico crescente, deixando pouco espaço para o desenvolvimento da vida urbana nas ruas. Ao analisar as práticas de cinco arquitetos na criação de espaços públicos urbanos habitáveis, este artigo vai discutir os desafios e oportunidades da revitalização urbana na China sob gentrificação.
A gentrificação vem sendo um dos principais pontos de debate sobre o projeto que pretende transformar o Minhocão em um parque linear. Imagem: Felipe Rodrigues
Um dos temas mais presentes nas discussões atuais sobre a cidade é a gentrificação. Definido, de modo geral, como "quando alguém diferente de você muda-se para o seu bairro", o fenômeno urbano é muito mais complexo que isso e envolve questões de uso do solo, especulação imobiliária, espaços públicos e de lazer e planejamento territorial.
BEFORE/AFTER, ou, em português, ANTES/DEPOIS, documenta as mudanças drásticas, tanto físicas quanto psicológicas, que ocorreram durante a reforma do Hutong Fangjia em Pequim entre abril e setembro de 2017. Em 2019, o escritório OPEN Architecture foi convidado a participar da "Cidade Desconhecida: Arquitetura e Imagem da China Contemporânea”, exposição de abertura do Pingshan Art Museum, com a sua obra BEFORE/AFTER.
Oosterdokbrug: ponte para pedestres e ciclistas em Amsterdã. Foto: Mariano Mantel/Flickr
A explicação para algumas pessoas caminharem mais do que outras pode ir além da escolha pessoal: em muitos casos, os níveis de caminhada no dia a dia são determinados pelo desenho urbano. A maneira como as ruas e bairros são traçados ultrapassa questões estéticas ou de planejamento e afeta diretamente o estilo de vida, a saúde, a prática de atividade física e o bem-estar de quem mora ou frequenta cada área da cidade.
Hoje, muitos espaços públicos são vistos como locais não tão seguros em milhares de cidades ao redor do mundo. A noção de segurança é perdida no momento em que uma localidade se torna vazia, não recebe iluminação, uso ou até mesmo a atenção adequada. Conectar os espaços entre o que é público e o que é privado pode ser um trunfo para evitar isso. Esses espaços são chamados deplinth. O conceito é amplamente explorado em A Cidade Ao Nível dos Olhos, livro que compila projetos que transformaram locais no mundo inteiro.
Com a virada do ano, a rotina se atenua e podemos ler os livros que deixamos de lado durante o ano. Em tempos de crescimento das áreas urbanas e do aumento da representatividade das cidades para a sustentabilidade do planeta, é fundamental que busquemos entender melhor o lugar que escolhemos para viver a fim de, assim, construir uma melhor convivência para todos. Separamos algumas indicações de leitura para que sigamos alinhados nos debates sobre cidades sustentáveis.
A gentrificação vem sendo um dos principais pontos de debate sobre o projeto que pretende transformar o Minhocão em um parque linear. Imagem: Felipe Rodrigues
Os processos de transformação e desenvolvimento das cidades podem, muitas vezes, acarretar efeitos colaterais ou imprevistos quando o caráter desses movimentos é autônomo e não planejado. Esses resultados nem sempre são positivos, e podem representar o desencadeamento de fenômenos como a gentrificação, que pode se tornar um verdadeiro problema social, prejudicando diretamente a população de menor renda. Apesar disso, também é evidente que algumas transformações usualmente relacionadas a tal fenômeno podem significar melhorias e reativação de espaços subutilizados nos centros urbanos, e o limiar entre esse cenário enquanto virtude ou problema é um contínuo tema de debate entre arquitetos e urbanistas.
O que vai acontecer aquí?é o novo documentário produzido pela Left Hand Rotation em colaboração com Stop Despejos e Habita sobre a luta por mordia em Lisboa, onde o preço dos aluguéis aumentou 50% nos últimos três anos e principal cidade europeia em inversão de fundos imobiliários.
A ideia de qualificar um espaço público ao melhorar ambientes que unam pessoas não deveria gerar desconfianças ou temores. Porém, experiências específicas de locais que viram o custo de vida aumentar muito após a sua requalificação vêm gerando contradições. Afinal, a nova vilã chamada gentrificação tem alguma relação com placemaking?
O vocábulo “gentrificação” é um aportuguesamento do inglês gentrification, usado pela primeira vez, provavelmente, pela socióloga britânica Ruth Glass na obra London: aspects of change (1964), onde a autora descreveu e analisou determinadas mudanças na organização espacial da cidade de Londres. O termo ganhou popularidade após seu uso em trabalhos acadêmicos sobre a temática, acompanhando um fenômeno urbano presente em diversas temporalidades e espacialidades: o deslocamento, processual ou súbito, de residentes e usuários com condições de vida precárias de uma dada rua, mancha urbana ou bairro para outro local para dar lugar à apropriação de residentes e usuários com maior status econômico e cultural.
As águas do canal Gowanus, na região do Brooklin, em Nova York, continuam não cheirando bem, embora o problema tenha sido muito pior. São resquícios de anos de poluição industrial e de esgoto não tratado.
O local, que nos séculos 19 e 20 era formado basicamente por fábricas, passou por uma revitalização nos últimos anos com investimento federal (veja aqui). Novas áreas verdes foram instaladas e comércios exclusivamente de serviços chegaram ao bairro. O preço dos imóveis residenciais também foi elevado, o que acabou por expulsar antigos moradores.
Poucas cidades do planeta tiveram a coragem de taxar a circulação de veículos – mesmo que os exemplos existentes tenham sido, até aqui, positivos. Coube a Buenos Aires o papel de lançar a primeira política desse tipo na América Latina. A partir de agora, a prefeitura cobrará pelo ganho de tempo dos que insistem em usar o carro no centro histórico (chamado Microcentro) da capital portenha e no bairro de Retiro entre 11h e 16h. A capital portenha soma-se à lista que tem como principais nomes Cingapura, Londres, Estocolmo e Milão.
Não é de hoje que eu falo sobre gentrificação. Porém, na última semana, duas reportagens em especial chamaram minha atenção para como o assunto está dando o que falar em dois lugares bem diferentes: na Califórnia e em Berlim.
O fato curioso é que ambos os casos podem ser resumidos basicamente pelo mesmo motivo: o risco de haver gentrificação nessas cidades se dá, em grande parte, em função do impacto dos ecossistemas de inovação na dinâmica imobiliária local.
A cidade de Barcelona permanece firme em sua luta contra os processos especulativos e a gentrificação que atualmente estão aumentando a desigualdade de oportunidades que a população encontra para acessar uma moradia digna e economicamente viável.
Neste sentido, a Comissão de Ecologia, Urbanismo e Mobilidade da cidade de Barcelona aprovou inicialmente dois novos instrumentos urbanísticos para abordar o problema do acesso a moradia digna e proteger o equilíbrio social dos bairros, respondendo às demandas promovidas por entidades como a Federação das Associações de Moradores e Vizinhanças de Barcelona (FAVB), Plataforma de Atingidos pela Hipoteca (PAH), Observatório DESC, Assembleia de Bairros de Turismo Sustentável (ABTS) e Sindicato dos Inquilinos.
https://www.archdaily.com.br/br/897054/barcelona-aumentara-a-construcao-de-habitacao-social-para-lutar-contra-a-gentrificacaoJavier García Librero
Skyline de Mumbai. Imagem via Pixabay usuário PDPics (domínio público)
A Missão Cidade Inteligente do governo indiano, lançada em 2015, prevê o desenvolvimento de cem "cidades inteligentes" até 2020 para apresentar soluções para a rápida urbanização do país;trinta cidades foram adicionadas à lista oficial na semana passada, levando o número total atual de iniciativas planejadas para noventa. A missão de US$ 7,5 bilhões abrange o desenvolvimento geral de infraestrutura básica — abastecimento de água, eletricidade, mobilidade urbana, habitação a preços acessíveis, saneamento, saúde e segurança — ao mesmo tempo que incluem "soluções inteligentes" baseadas em tecnologia para impulsionar o crescimento econômico e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos nas cidades.
Em um país imerso em corrupção, a missão foi elogiada pelo uso transparente e inovador de um nacional "Desafio Municipal" para dar financiamento às melhores propostas dos órgãos municipais locais. Seu manifesto utópico e implementação, no entanto, são motivos de grande preocupação entre os planejadores urbanos e tomadores de decisão hoje, que questionam se a própria ideia de cidade inteligente indiana é inerentemente falha.
O emblemático projeto High Line em Nova Iorque, frequentemente citado como caso exemplar de iniciativa para recuperar uma infraestrutura urbana de grande porte e transforma-la em espaço público, está sendo mais uma vez usado como exemplo de projeto urbano, desta vez em São Paulo.
A Prefeitura da maior cidade do Brasil está estudando uma proposta de prevê a transformação do Elevado João Goulart - popularmente conhecido como Minhocão - em um parque (tal qual o High Line no bairro Chelsea, em Nova Iorque) servido por restaurantes e até mesmo uma "praia", isto é, um banco de areia e uma piscina pública.