1. ArchDaily
  2. ArchDaily Academy

ArchDaily Academy: O mais recente de arquitetura e notícia

O Ensino do Desenho / Lucio Costa

Clive Bell define arte como significant form.

O rabisco não é nada, o risco – o traço – é tudo. O risco tem carga, é desenho com determinada intenção – é o “design”. É por isto que os antigos empregavam a palavra risco no sentido de “projeto”: o “risco para a capela de São Francisco”, por exemplo. Trêmulo ou firme, esta carga é o que importa. Portinari costumava dar como exemplo a assinatura, feita com esforço, pelo analfabeto (risco), com o simples fingimento de uma assinatura (rabisco).

O arquiteto (pretendendo ser modesto) não deve jamais empregar a expressão “rabisco” e sim risco.

Risco é desenho não só quando quer compreender ou significar, mas “fazer”, construir.

Manifesto: Acerca da Arquitetura Moderna / Gregori Warchavchik

A nossa compreensão de beleza, as nossas exigências quanto à mesma, fazem parte da ideologia humana e evoluem incessantemente com ela, o que faz com que cada época histórica tenha sua lógica de beleza. Assim, por exemplo, ao homem moderno, não acostumado às formas e linhas dos objetos pertencentes às épocas passadas, eles parecem obsoletos e às vezes ridículos.

Crítica, a arte de apagar os nomes

Crítica não é opinião. Não é sobre o que alguém disse. Não é sobre o que nós pensamos. Não é sobre ninguém. Crítica é somente sobre a obra mesma. Em nosso caso: a obra de arquitetura. A obra em si não tem juízos, parcialidades, pontos de vista. A obra não vê, não fala, não sente. A obra simplesmente é. E ser não é ser alguma coisa. No entanto, também existe uma obra de crítica. Esse é o problema, um problema muito sutil: a tensão entre a obra de arquitetura e a obra de crítica. A obra de crítica não é falar sobre. Em vez disso, permitir que a obra de arquitetura seja em si mesma.

Ensaio sobre a Criação

Pergunta: O que é que faz de alguém capaz da arquitetura?

Quais são os requisitos? O que há que exercitar? O que há que saber? O que há que conhecer? O que há que estudar?

Pensamento Panorâmico / Buckminster Fuller

Disciplina Pensante

Eu irei revisar dois ou três modos em que me disciplinei em tentar pensar de uma maneira mais adequada sobre o que nós sabemos do nosso Universo e o que pode estar acontecendo, e em tentar ter as coisas um pouco mais proporcionadas. Nessa instância, eu gostaria de mostrar uma imagem da nossa galáxia Via Láctea.

Reflexões sobre o Horizonte

I. O Horizonte em quanto tal não existe.

O edifício não importa

«Sou quem não é, quem fez secessão, o separado, ou inclusive, como se diz, aquele em quem o ser é questionado. Os homens afirmam-se pelo poder de não ser: assim atuam, falam, compreendem, sempre distintos de por quê são, escapando do ser por um desafio, um risco, uma luta que chega até a morte e que é a história. É isto o que Hegel mostrou. “Com a morte começa a vida do espírito.” Quando a morte se torna poder, o homem começa, e este começo diz que para que haja mundo, para que haja seres, é necessário que o ser falte.» —M. Blanchot, 1955.

Em busca do inútil: quatro aproximações à técnica

O que é a técnica? Qual é sua essência? Onde reside? O que representa? E o que projeta? Estas são as perguntas que motivam este escrito, desde uma mirada contemporânea. Uma posta em discussão entre quatro pensadores do século XX: Oswald Spengler1, José Ortega y Gasset2, Friedrich Georg Jünger3, e Martin Heidegger.4

Arquitetura, Conhecimento e Escritura: como abordar um fato arquitetônico através de palavras?

No último parágrafo da página trinta e seis de seu livro Presenças Reais, George Steiner põe em jogo uma asseveração: "Só no campo da literatura moderna, se calcula que as universidade soviéticas e ocidentais registram umas trinta mil teses doutorais por ano."1. Na página seguinte, continua sua proposição com outro dado: "Se estima que, desde fins da década de 1780, se produziram sobre os verdadeiros significados de Hamlet vinte e cinco mil livros, ensaios, artigos, teses doutorais e contribuições a colóquios críticos e especializados." (o sublinhado é meu). Steiner publicou seu livro no ano de 1989. Passados vinte e quatro anos, se pode supor que a quantidade de teses doutorais publicadas anualmente é consideravelmente maior, ademais se são postas em jogo todas as disciplinas de todas as universidades do mundo. É de supor, consequentemente, que a situação da arquitetura em quanto disciplina não seja substancialmente diferente. Portanto, a primeira pergunta que se faz este ensaio é: o que significa uma tese em meio a este hipertrofiado conjunto?

Um Jardim de Microchips / Toyo Ito

Metafísica do Concreto Exposto / Andrea Deplazes

Nascido para Observar / Glenn Murcutt

Cynthia Davidson: O que “sustentável” significa pra você, especialmente com respeito ao seu trabalho?

Glenn Murcutt: É manter ou seguir levando; continuar. Coisas vivas podem ser sustentáveis se permitidas crescerem em equilíbrio com outros organismos e não consumirem em índices maiores do que é sustentável, como normalmente fazemos quando fazemos super-colheitas ou intoxicamos a terra. Nós não nos planejamos adequadamente para o futuro. Os povos aborígenes australianos têm a cultura mais longa  e contínua registrada no planeta. Eles sobreviveram por ao menos 40.000 anos –não através de competição, mas sim através de cooperação; trabalharam com a terra e não contra ela. Os povos aborígenes tradicionais têm vivido e trabalhado de maneira muito sustentável.

A Solidão dos Edifícios / Rafael Moneo

Escolhi três edifícios para exemplificar meu trabalho. Eles diferem com respeito às exigências e às condições do sítio, mas todos são edifícios públicos. Eles podem ser considerados como representativos do meu trabalho dos últimos dez anos.

Por que edifícios ao invés de projetos? Por que trabalho ao invés de discurso teórico? Eu acredito que na crua realidade de obras construídas é possível ver claramente a essência de um projeto, a consistência de ideias. Eu acredito fortemente que arquitetura precisa do suporte da matéria; que o primeiro é inseparável do segundo. A arquitetura surge quando nossos pensamentos sobre ela adquirem a condição real que somente os materiais podem fornecer. Aceitando e negociando com as limitações e restrições, com o ato de construção, a arquitetura se torna o que ela realmente é.

Técnica e Aparência: o Desafio do Presente / David Leatherbarrow

Arquitetura Desmembrada / Anthony Vidler

  • Meu corpo está em todo lugar: a bomba que destrói minha casa também danifica meu corpo, na medida em que a casa já era uma indicação do meu corpo
  • [ Jean-Paul Sartre, O Ser e o Nada ]

Sobre a observação / Fabio Cruz

Quando fui convidado a participar nesse seminário com o tema «O mundo do croquis; Observação e croquis na UCV», me pareceu algo relativamente simples, já que nisso havia estado envolvido durante muitos anos através da docência no Atelier Arquitetônico, e de obras arquitetônicas particularmente na Cidade Aberta.
No entanto, na medida em que comecei a pensar que e como expor, reparei em que o assunto não era nada simples nem inocente. Se eu queria dizer algo relativamente verdadeiro e consistente, não podia eludir adentrar, ou ao menos roçar, o mundo criativo e artístico, com a complexidade que lhe é inerente.
Buscando que a exposição não se (me) tornasse excessivamente teórica e «acadêmica», e que ao final não calasse a verdade no essencial, optei finalmente por me firmar em algumas experiências e situações em que me tocou participar e fazer algumas reflexões em torno a elas.
Espero deste modo, poder iluminar em alguma medida o fundo do assunto, que é o que interessa, ainda que o conjunto não resulte talvez muito estruturado.

Queria destacar antes de tudo que os conceitos de «croquis» e «observação» não os vamos tomar como dois assuntos separados e de peso equivalente; senão que o Croquis o consideraremos contido na Observação, como uma parte dela.
Falaremos então, fundamentalmente, de Observação, e mais precisamente, de Observação Arquitetônica.

A primeira afirmação que queria fazer é que a Observação, tal como a entendemos aqui e em seu sentido mais radical, é possível porque «a condição humana é poética, e por ela o homem vive livremente na vigília de fazer um mundo»1.
O homem está irremediavelmente chamado e obrigado a fazer e refazer o mundo. Vale dizer a re-inventá-lo uma e outra vez (note-se que etimologicamente a palavra invento tem a ver com «ventura», e consequentemente com «aventura»).
E esta urgência e obrigação, pode cumpri-la porque tem a possibilidade de ver o mundo, seu mundo, sempre de novo, de vê-lo como por primeira vez («ver», está tomado em sentido amplo; talvez se poderia falar de «perceber»).
Temos então que este meio que nos envolve, e onde transcorre nossa vida, aparentemente tão concreto e objetivo, não é tal. Depende de nossa «mirada» e nosso «ponto de vista», para se mostrar e se revelar segundo rasgos e conotações profundamente diferentes.

«Observar», seria então essa atividade do espírito (e do corpo) que nos permite aceder, uma e outra vez, a uma nova, inédita, visão da realidade.
Observar, no sentido que o estamos considerando, se converte numa verdadeira abertura. Trata-se de algo profundamente artístico e portanto poético.

A propósito de «ver de novo», vou lhes contar o que ocorreu numa Phalène há muito tempo, na França, cujo relato conheci (eu não estava lá). A Phalène é uma sorte de Ato ou Jogo Poético, que se realiza entre vários, em algum lugar da cidade ou do campo. Podem participar nela a gente do lugar ou transeuntes. No grupo deve estar presente, isso sim, um poeta que em certe medida faz de cabeça. O resultado da Phalène é algum gênero de poema, ou um feito plástico.
Conto sucintamente a Phalène que lhes dizia:
Indo pelo campo francês, não longe de Paris, em dois carros, vai o grupo de umas 8 pessoas que haviam programado realizá-la.
Num dado momento, ante uma peculiar luminosidade que se produz numa colina, um dos participante pede para se deter (regra da Phalène), para realizar o ato poético. Descem dos carros e avançam pela colina; depois da vertente, em meio ao campo arado, aparece uma árvore solitária.
Vão a ele, e o rodeiam formando um círculo. Ali os poetas que participam recitam, de memoria, alguns poemas. Diz o relato que «elogiam» assim à árvore. Logo o Poeta que faz de cabeça, pede aos três artistas plásticos que participem, que façam eles também, desde seu ofício, algum signo (este será seu modo de Elogiar). Não tendo nenhum meio entre suas mãos, e na urgência do ato poético e em meio de seu silêncio, tomam uma pedra relativamente grande que está perto, a trasladam, a levantam e a colocam aprisionada entre os ganchos que se abrem do tronco.
Então, diz o relato, os que estavam aí ficaram perplexos, desconcertados, atônicos, porque «vimos a árvore como por primeira vez».
Bem, disso se trata a Observação: de «ver como por primeira vez».
Ainda que resulte aparentemente desproporcionado, quase escandaloso, através da Observação nós esperamos ter uma sorte de «vidência» (como diria Rimbaud) de algum ou alguns aspectos da realidade.
Se trata evidentemente de algo que não se pode garantir, de um presente ou dom; não é um procedimento, um método, que conduza necessariamente ao êxito.

Rogelio Salmona, arquiteto latino-americano ou arquiteto na América Latina? / Germán Téllez

Campo Expandido da Arquitetura / Anthony Vidler

  • O primeiro a comparar pintura e poesia foi um homem de gosto mais requintado o qual sentiu que as duas artes produziam nele os mesmos efeitos. Ele viu que uma e outra restituíam a presença de coisas ausentes pela substituição da aparência por realidade; ambas, finalmente, agradando-nos ao enganar-nos. Um segundo desejou mais compreender nosso prazer e descobriu que em ambas as artes, ele surgia da mesma fonte. Beleza, a noção que nos vem em primeiro lugar de objetos materiais, possui regras gerais que são aplicadas para diferentes domínios: para ações, para pensamentos, bem como para formas. Um terceiro, refletindo sobre o valor e a distribuição destas regras gerais, notou que algumas dominavam a pintura, outras a poesia, e que isto desta forma em alguns casos, a poesia poderia apoiar a pintura na mesma forma que em outras, a pintura poderia apoiar a poesia, através de comentários e exemplos. O primeiro era um amador; o segundo, um filósofo; o terceiro, um crítico.
  • [Gottfried Lessing]