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ArchDaily Academy: O mais recente de arquitetura e notícia

Uma pequena casa / Le Corbusier

Um terreno...

A região, eis o lago Leman onde se escalonam os vinhedos em terraços; o longor de seus muros de contenção alinhados lado a lado totalizariam trinta mil quilômetros (três quartos da circunferência da Terra!). Os vinheiros fazem proezas! Obra secular, talvez milenar.

A pequena casa abrigará os dias de velhice do meu pai e da minha mãe, depois de uma vida de labor.

A Obra

O arquiteto recebe ou inventa um encargo, não se sabe muito bem. Pedem-lhe uma casa. Aqui começa tudo.

Arquitetura e a Poética da Representação / Dalibor Vesely

«Nós estamos realmente, meu querido amigo,
engajados numa bem difícil investigação;
para o tema de aparecer e parecer, mas não ser,
e de dizer coisas, mas não coisas verdadeiras –
tudo isso é agora e sempre foi causa de muita perplexidade.
Veja, Theaetetus,
é extremamente difícil entender
como um homem deve falar ou pensar
que a falsidade realmente existe
e ao dizer isso não estar envolvido em contradição.
»
—Platão, O Sofista 237 A

Projeção axonométrica: novas geometrias e antigas origens / Stan Allen

«De fato ninguém pode imaginar ou projetar algo moderno. Por definição existe uma contradição essencial entre os termos “projeto” e “moderno”. Projetar significa literalmente lançar adiante. Porém, de modo a lançar algo adiante, ambos atirador e projétil devem estar atrás. Todo projeto é um emissário do passado.» —Josep Quetglas

O Modelo Projetivo / Robin Evans

Geometria tem uma ambígua reputação, associada tanto a idiotice como a inteligência. No melhor dos casos, existe algo desesperadamente não comunicativo sobre ela, algo mais que ligeiramente removido do resto da experiência para confrontar sua grande pretensão de verdade. Flaubert, em Dicionário de Ideias Feitas, define um geômetra como “viajando em estranhos mares de pensamento – sozinho.” E quando Joseph Conrad desejava caracterizar o fútil esforço de concentração feito pelo sincero porém mentalmente retardado jovem Stevie em O Agente Secreto, ele o descreveria como “sentado muito bem e quieto numa mesa, desenhando círculos, círculos, círculos; inumeráveis círculos, concêntricos, excêntricos, um cintilante redemoinho de círculos que por sua emaranhada multidão de curvas repetidas, uniformidade de forma, e confusão de linhas interseccionadas sugeria uma versão de caos cósmico, o simbolismo de uma arte insana pretendendo o inconcebível.”

Reflexões sobre o projeto / Juan Antonio Cortés

MODOS DE OPERAR

Embora numa conversa de 1995 Miralles manifestasse suas dúvidas sobre a possibilidade de “estabelecer claramente umas regras de operação que sejam válidas em qualquer situação...”, sim falava em modos de operação, embora em um sentido ‘débil’, já que: “Não creio que se possa estar à frente do seu trabalho, levando-o, senão que de alguma maneira o próprio trabalho vai dirigindo as coisas através de pequenos desvios”. E com respeito a seu processo ou linha de trabalho explicava: ..., eu diria que não se trata tanto de uma linha, mas de um feixe. Um projeto consiste em saber atar múltiplas linhas, múltiplas ramificações que se abrem em distintas direções.[1]

Construção / Eugène-Emmanuel Viollet-le-Duc

A construção é uma ciência; é também uma arte, ou seja, é necessário ao construtor o saber, a experiência e um sentimento natural. Nasce-se construtor; a ciência que se adquire não pode mais que desenvolver as sementes depositadas no cérebro dos homens destinados a dar um emprego útil, uma forma durável à matéria bruta. Assim ocorre com os povos como com os indivíduos: alguns são construtores desde o berço, outros não se tornarão jamais; o progresso da civilização acrescenta pouco a essa faculdade natural. A arquitetura e a construção devem ser ensinadas ou praticadas simultaneamente: a construção é o meio; a arquitetura, o resultado; e no entanto, há obras de arquitetura que não podem ser consideradas como construções, e há certas construções que não se saberia como incluir entre as obras de arquitetura. Alguns animais constroem, uns células, outros ninhos, montículos, galerias, tipos de cabanas, redes de fio: essas são de fato construções, isso não é arquitetura.

Razão e ser das estruturas / Eduardo Torroja

Na literatura técnica da construção encontram-se centenas de obras, de caráter teórico, sobre o cálculo de suas estruturas; muito poucas sobre as condições gerais de seus diferentes tipos, sobre as razões fundamentais que os determinaram, sobre as bases que devem orientar o problema de sua escolha e as ideias condutoras que guiam o projetista em seu trabalho inicial, seguindo princípios que, pouco a pouco, sua mente foi assimilando, mas sobre os que raramente se para a refletir.

Não se trata, em realidade, de dizer, nesta obra, nada novo sobre o tema. Pretende-se somente acompanhar o técnico e projetista da construção –seja arquiteto, engenheiro ou simplesmente aficionado– em um tranquilo devaneio pelo labirinto, cada vez mais confuso, dessa técnica, para recolher, ordenar e ressaltar ideias e conceitos fora de todo o quantitativo e numérico.

Construção Formal / Fabio Cruz

PROPOSIÇÃO GERAL

a. Corpos Materiais e Artificiais

Se olhamos ao nosso redor, vemos que estamos rodeados de uma infinidade de corpos materiais de que nos servimos para dar curso de nossa vida: utensílios, ferramentas, máquinas, móveis, edificações, etc.

Estes corpos não se encontram na natureza com a ordem, forma e características que lhes exigimos. Ou seja, que foi necessário construi-los especialmente. São, portanto, corpos artificiais ou “artefatos” (artifício, feito por arte).

Consciência material / Richard Sennett

No encontro da Associação Britânica de Medicina em 2006, quando as paixões de médicos e enfermeiros transbordaram, uma sala foi designada para o excedente de jornalistas, membros do público como eu, e profissionais de medicina que não puderam entrar ao salão principal. Algumas apresentações científicas devem ter ocorrido previamente nessa sala, para aparecer no telão em frente aos nossos assentos uma imagem em cores de uma mão coberta por uma luva de borracha segurando uma parte do intestino grosso de um paciente em operação cirúrgica. Os jornalistas olhavam ocasionalmente para essa imagem monstruosa somente para virar a cara como se ela fosse algo obsceno. Os médicos e enfermeiros na sala, entretanto, pareciam dar a ela mais e mais atenção, especialmente àqueles momentos quando as vozes dos oficiais do governo soavam através dos autofalantes, murmurando sobre reforma.

Ensaio sobre a Arquitetura / Marc-Antoine Laugier

Existem vários tratados de arquitetura que desenvolvem com bastante exatidão as medidas e as proporções arquitetônicas, que entram nos detalhes das distintas ordens e que provêm de modelos para as distintas formas de construir. Porém não existe ainda nenhuma obra que estabeleça solidamente os princípios da arquitetura, que manifeste seu verdadeiro espírito e que proponha regras adequadas para dirigir o talento e definir o gosto. Entendo que nas artes que não são puramente mecânicas não basta saber trabalhar, é importante sobretudo aprender a pensar. Um artista tem que poder dar-se a si mesmo razão de tudo o que faz. Para isso, necessita de princípios fixos que determinem seu juízo e justifiquem sua eleição; de modo que possa dizer que uma coisa está bem ou mal não só por instinto, senão por meio da razão e como homem instruído nos caminhos do belo.

Novo compêndio de lições de arquitetura / Jean-Nicolas-Louis Durand

A arquitetura é a arte de compor e de realizar todos os edifícios públicos e privados.

A arquitetura é entre todas as artes aquela cujas realizações são as mais caras; já custa muito levantar os edifícios privados menos importantes; custa muito mais ainda erigir edifícios públicos, ainda que tenham sido concebidos tanto uns como os outros com a maior prudência, e se em sua composição não se seguiram outras guias que o preconceito, o capricho ou a rotina, os gastos ocasionados se convertem em incalculáveis.

Os elementos básicos da arquitetura / Gottfried Semper

Introdução
A vivenda, primeira forma da atividade construtora do homem

Qualquer tratado deve, antes de tudo, retroceder até as origens mesmas do tema estudado, seguir seu desenvolvimento gradual e explicar as exceções e variações comparando-as com seu estado primitivo. Por esta razão, não parece necessário justificar o fato de que o presente estudo, que tenta classificar em grupos, famílias e classes tudo o que a arquitetura criou, se abra com o estudo da vivenda ou domicílio privado como tipo original e mais simples.

Há, entretanto, razões para duvidar de que a arquitetura como tal tenha nascido verdadeiramente com a construção de vivendas. A história da arte nos mostra que os povos que tinham uma inclinação artística mais acentuada singularizaram seus edifícios públicos, sobretudo seus templos, pelo procedimento de embelezá-los; enquanto que a vida dos particulares, e em consequência a vivenda privada, não adquiriu refinamento artístico senão até que se produziu um declinar religioso e político ao que acompanhou uma retirada da vida pública, e sua compensação com outra de luxo e esplendor.

Arquitetura / Adolf Loos

Arquitetura / Adolf Loos - Imagem de Destaque
© Flickr misanthrop10 (CC BY-NC-ND)

Posso conduzi-los à margem de um lago de montanha? O céu é azul, a água verde e tudo descansa em profunda paz.  As montanhas e as nuvens se refletem no lago, e assim as casas, casarios e ermidas. Não parecem criadas pela mão humana. Estão como saídas da oficina de Deus, como as montanhas e as árvores, as nuvens e o céu azul. E tudo respira beleza e silêncio...

Os Fatos da Arquitetura / Alejandro Aravena

Por exemplo:
A gravidade é um fato.
Que a água não possa evitar a gravidade é outro fato.

Da mesma maneira que a força da gravidade faz com que a água sempre encontre a maneira de chegar ao solo, acusando no seu percurso as fissuras da construção, o descompasso dos elementos construtivos, assim também a força da realidade sempre termina acusando o descompasso entre o projeto (o que se imaginou que deveria ocorrer) e a vida (o que de fato ocorre).

Podemos ter esperança somente naquilo que não tem remédio.
—Giorgio Agamben.

Arquitetura. Ensaio sobre a arte / Étienne-Louis Boullée

Aos homens que cultivam as artes

Dominado por um enorme amor pela minha arte, a ela me entreguei completamente. Ao me abandonar a essa paixão imperiosa, me impus a obrigação de trabalhar para merecer a estima pública por meio de esforços úteis à sociedade.

Desdenhei, confesso, limitar-me apenas ao estudo de nossos antigos mestres. Procurei aumentar, pelo estudo da natureza, minhas ideias sobre uma arte que, após profundas meditações, parece-me ainda estar em sua aurora.

Quão pouco, convenhamos, consagrou-se até nossos dias à poesia da arquitetura, meio seguro de multiplicar os prazeres dos homens e de dar aos artistas uma justa celebridade!

Acredito sim que nossos edifícios, sobretudo os edifícios públicos, deveriam ser, de algum modo, poemas. As imagens que eles oferecem a nossos sentidos deveriam despertar em nós sentimentos análogos ao uso para o qual esses edifícios são consagrados.

Dez notas sobre como escrever em arquitetura

1. Não escreva sobre o arquiteto, sobre histórias, sobre datas, sobre contextos, sobre ideias, sobre referências, sobre comparações... Se você conseguir fazer isso você já estará muito próximo do que é escrever em arquitetura.

Réquiem pelas escadas / Oscar Tusquets

Surpreendentemente, naquela aula Josep Maria Sostres esteve magistral. Josep Maria Sostres, que a partir de agora chamaremos Sostres (ainda que na universidade o chamássemos El Sostres), era um arquiteto e um homem muito, muito peculiar. Como arquiteto, mereceu o típico reconhecimento post mortem, da mesma maneira que José Antonio Coderch, outro arquiteto que poucos de nós admiraram em vida, embora, hoje, pareça que todos o idolatrassem.