Lina Bo Bardi / Preliminary Study – Practicable Sculptures for the Belvedere at Museu Arte Trianon, 1968. Credit line: Doação Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 2006. Cortesia de MASP.
Aldo van Eyck e Lina Bo Bardi foram duas figuras subversivas. Suas visões de coletividade e ludicidade, mesmo aplicadas em estruturas muito distintas, tinham como principal ponto em comum uma ideia de arquitetura que vai além do desenho. Um espaço que se faz vivo pela apropriação, pelo movimento e pela troca. Dos playgrounds holandeses ao museu paulistano, os ideais dos arquitetos se entrelaçam, fortalecendo a ideia de uma arquitetura onde qualquer um se torna criança.
Nas comunidades indígenas da América do Sul, o lugar da criança é onde ela desejar estar. Os bebês engatinham pelo chão de terra, se aproximam das fogueiras, investigam formigueiros, experimentam o mundo com o corpo inteiro. Eles aprendem sentindo: descobrem limites, reconhecem perigos e colhem lições que nenhum manual poderia ensinar. No cenário urbano, por outro lado, as crianças costumam ser contidas em espaços pensados para adultos, repletos de regras que, embora bem-intencionadas, muitas vezes as afastam de experiências vitais. Diante dessas diferenças culturais, não nos caberia julgar qual modelo é melhor, mas sim, perceber que, quando culturas diferentes se observam, sempre há espaço para aprender.
No âmbito arquitetônico, essa infância vivida com rara liberdade de tempo e espaço, convida a repensar a forma como moldamos nosso cotidiano: por que limitar a exploração espontânea das crianças em ambientes controlados? Por que criar barreiras físicas e simbólicas entre elas e o mundo natural? E, sobretudo, como a arquitetura contemporânea poderia romper esse paradigma e, inspirada pela criança indígena, criar espaços que devolvam à infância sua dimensão mais selvagem, curiosa e plena?