Quando o arquiteto desenha para comunidades: 9 equipamentos culturais

Um programa de caráter público cumpre diversas funções que além de aprimorar a dinâmica social do entorno, pode ser um importante fator para aumentar a sensação de pertencimento, a oferta de empregos e serviços, e a qualidade de vida no espaço. Por isso, após apresentar projetos habitacionais populares desenvolvidos em comunidades brasileiras, buscamos por equipamentos culturais que ocupam zonas rurais e urbanas menos privilegiadas em questões de infraestrutura.

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Vale ressaltar que compreendemos a cultura como a acumulação referencial de um povo através das mais distintas ações, sejam elas artísticas ou não. Assim, há uma vasta variedade de programas nas obras selecionadas. A seguir, conheça elas.

A fim de fortalecer o senso de comunidade no local de trabalho e estimular a redução da pobreza, o Estudio Flume realizou o projeto da Cooperativa das Mulheres Produtoras de Castanhas de Caju, em Bom Jesus das Selvas, Maranhão. A proposta transformou uma pequena casa da comunidade na sede de trabalho do grupo e, também, num ponto de encontro dos vizinhos.

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Sede Castanhas de Caju / Estudio Flume. Foto Cortesia de Estudio Flume
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Isométrica - Sede Castanhas de Caju / Estudio Flume

"A necessidade de se construir de forma rápida, simples e econômica, com reaproveitamento máximo da residência existente de alvenaria autoportante, levou o estúdio a ampliar o projeto incorporando o menor número possível de variáveis. Assim, a alvenaria de tijolo cerâmico, a mais popular na região, foi adotada. (...) A ausência de equipamentos públicos na comunidade motivou a pensar em elementos como a marquise e o banco de concreto: um convite para que a comunidade se encontre e compartilhe aquele espaço." 

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Sede Castanhas de Caju / Estudio Flume. Foto Cortesia de Estudio Flume

Também projetada pelo Estudio Flume, a reforma e ampliação da Casa de Farinha de babaçu, em Serra, Maranhão, buscou a melhoraria das instalações ao mesmo tempo que visava a ampliação da construção existente, atualizando materiais e reorganizando o layout interno para atender às exigências da Vigilância Sanitária. Fato que valorizou ainda ainda mais o comércio e o trabalho realizados pelas quebradeiras - mulheres que coletam e quebram cocos de babaçu, manualmente, para obter óleo e farinha. A matéria prima resulta diversos produtos que reforçam a cultura regional: pão, bolos, materiais de limpeza, cosméticos, bebidas e artesanato.

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Reforma e ampliação de Casa de Farinha de babaçu / Estudio Flume. Foto: © Noelia Monteiro
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Planta - Reforma e ampliação de Casa de Farinha de babaçu / Estudio Flume

"O projeto incorpora uma área de acesso com a função de antessala e/ou varanda, num espaço de socialização entre as quebradeiras e a comunidade. Esta área sombreada é delimitada por uma jardineira, aos cuidados das quebradeiras. A porta da fachada frontal, foi retirada e substituída por elemento vazado, criando uma ventilação permanente, arrematada por um banco e gerando a comunicação entre interior e exterior."

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Reforma e ampliação de Casa de Farinha de babaçu / Estudio Flume. Foto: © Noelia Monteiro

Por sua vez, o Centro de Visitantes Banco dos Cajuais - Aquasis, realizado pela Rede Arquitetos, concebe um espaço expositivo e educativo da ONG Aquasis - Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos - para receber visitantes na praia de Picos, litoral leste do Ceará. O centro servirá para apresentar os projetos da ONG de preservação de espécies da fauna do nordeste brasileiro em ameaça de extinção, em especial da biodiversidade cearense.

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Centro de Visitantes Banco dos Cajuais - Aquasis / Rede Arquitetos. Foto: © Igor Ribeiro
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Isométrica - Centro de Visitantes Banco dos Cajuais - Aquasis / Rede Arquitetos

"Foi proposto um pequeno pavilhão, capaz de crescer ou reduzir suas dimensões a partir do orçamento, formado por paredes em U que ampliam sua capacidade estrutural, protegem as aberturas da incidência direta do sol e criam nichos de exposição. O espaço interno também foi qualificado pela criação de desníveis que geram diferentes escalas e apropriações possíveis."

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Centro de Visitantes Banco dos Cajuais - Aquasis / Rede Arquitetos. Foto: © Igor Ribeiro

A Galeria Babilônia 1500 nasceu de uma relação afetiva familiar do proprietário com o morro da Babilônia, no Rio de Janeiro. Coube ao Rua Arquitetos adaptar a ruína de uma casa inacabada no alto do morro para instalar uma galeria de fotografia que se conecta com a paisagem e o entorno.

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Galeria Babilônia 1500 / Rua Arquitetos. Foto: © Damien Jacob
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Corte - Galeria Babilônia 1500 / Rua Arquitetos

"Como forma de conectar visualmente os pavimentos, abrimos um vão entre a galeria e o escritório, tratamos o fechamento de toda a circulação com brises de maçaranduba tipo 'perna de três', comumente utilizados em escoras para lajes de concreto e pintamos todo o conjunto com tinta cinza claro."

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Galeria Babilônia 1500 / Rua Arquitetos. Foto: © Damien Jacob

O Centro Comunitário Cambury, no litoral norte de São Paulo, foi desenhado pelo CRU! Architects para atender a três requisitos principais apresentados pela associação local: fornecer um espaço comunitário para manter reuniões, atividades escolares ou outros eventos, além de várias salas separadas para classes e espaços para armazenar material; formar uma percepção de centro geográfico do bairro; integrar o edifício dentro da paisagem circundante e a escola existente localizada no mesmo terreno.

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Centro Comunitário Camburi / CRU! Architects. Foto: © Nelson Kon
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Estrutura - Centro Comunitário Camburi / CRU! Architects

"O centro é orientado na direção do mar para aproveitar o vento principal. Elevando o teto e evitando paredes perpendiculares que podem bloquear o fluxo de ar no interior do edifício, o fluxo de ventilação é ideal. Em condições quentes e úmidas maiores velocidades de vento tem um efeito positivo sobre o bem-estar fisiológico, bem como psicológico. (...) O bambu foi adotado para fazer quadros maiores do que as construções de pau-a-pique e a taipa também foi reintroduzida."

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Centro Comunitário Camburi / CRU! Architects. Foto: © Nelson Kon

Perante a violência e luta diária dos indígenas para manter suas culturas vivas, a Coberturas no Xingu é um projeto realizado pelo Estúdio Gustavo Utrabo que se coloca, não apenas em um contexto de confronto político e resistência, mas a partir de uma forma diferente de se relacionar com as comunidades indígenas, já que as aldeias de hoje e seus habitantes não condizem mais com as antigas visões idílicas da modernidade. A obra utiliza materiais locais e industriais, revelando a passagem do tempo e abrindo-se, ao reivindicar um suporte polivalente necessário à comunidade do Assentamento Kisêdjê.

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Coberturas no Xingu / Estúdio Gustavo Utrabo. Foto: © Pedro Kok
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Cortes - Coberturas no Xingu / Estúdio Gustavo Utrabo

"A partir de discussões entre arquitetura, construtores locais e saberes ancestrais, as Coberturas para o Parque Indígena do Xingu pretendem relacionar-se com uma cultura sem propriedade e sem dono, que desenvolveu soluções arquitetônicas específicas, como a montagem de elementos de baixa manutenção e o uso de matérias-primas em seu estado bruto, mantendo em seu meio um espaço concêntrico para reunir a comunidade em atividades coletivas."

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Coberturas no Xingu / Estúdio Gustavo Utrabo. Foto: © Pedro Kok

Na vila conhecida como Favelinha (Aglomerado da Serra, Belo Horizonte), o Coletivo LEVANTE finalizou a obra do Centro Cultural Lá da Favelinha. A intervenção arquitetônica foi realizada ao longo de aproximadamente três anos em um processo coletivo que envolveu a comunidade e a equipe responsável pelo projeto.

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Centro Cultural Lá da Favelinha / Coletivo LEVANTE. Foto: © Leonardo Finotti
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Croqui do Contexto - Centro Cultural Lá da Favelinha / Coletivo LEVANTE.

"A intervenção trouxe algumas supressões e correções espaciais, de modo a organizar melhor os espaços vazios, mais abertos à livre apropriação (térreo e terraço), e aqueles mais compartimentados e com usos definidos (segundo piso). O projeto também promove a circulação de ar e entrada de luz natural em todos os espaços, adotando elementos vazados e aproveitando aberturas para o fosso-fenda entre as duas paredes na divisa de fundos, por aonde chega uma luz indireta surpreendente. Faixas vermelhas de tela agrária - elementos marcantes da fachada e cobertura – amenizam a insolação direta, afirmam a presença do centro cultural na comunidade e estabelecem um limite sutil entre os espaços internos e a paisagem."

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Centro Cultural Lá da Favelinha / Coletivo LEVANTE. Foto: © Leonardo Finotti

O Pavilhão Social faz parte dos projetos previstos no Plano Diretor de Paraisópolis 2010-2025 da Prefeitura do Município de São Paulo. Realizado pelos arquitetos Anália Amorim, Ciro Pirondi e Ruben Otero, o objetivo inicial do projeto era o de relocar alguns programas educativos e sociais cujas sedes tiveram que ser removidas por conta das obras de infraestrutura ou por estarem em áreas de risco.

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Pavilhão Social / Anália Amorim + Ciro Pirondi + Ruben Otero. Foto Cortesia de Tiago Quieroz, André Lucas, Ruben Otero
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Implantação - Pavilhão Social / Anália Amorim + Ciro Pirondi + Ruben Otero.

Durante a pandemia, por conta de sua condição de espaço coberto, porém aberto e bem ventilado, o Pavilhão conseguiu reunir todas as atividades de luta contra o Covid-19. "Hoje, com a situação mais controlada, o Pavilhão assumiu também um rol cultural. Seu espaço central é sede de exposições de arte e fotografia; no mezanino foram retomados os ensaios corpo de ballet de Paraisópolis."

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Pavilhão Social / Anália Amorim + Ciro Pirondi + Ruben Otero. Foto Cortesia de Tiago Quieroz, André Lucas, Ruben Otero

O projeto para o ginásio Arena do Morro, foi realizado dentro da proposta para o plano urbano de 2009: "Uma Visão Para Mãe Luiza", favela localizada no Parque das Dunas em Natal. A proposta do ginásio foi assinada pelos arquitetos suíços e vencedores do Prêmio Pritzker, Herzog & de Meuron, contendo uma quadra poliesportiva cercada por arquibancadas para 420 pessoas, salas multiuso para dança e educação, um terraço com vista para o mar, assim como vestiários e banheiros.

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Arena do Morro / Herzog & de Meuron. Foto: © Iwan Baan
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Master Plan - Arena do Morro / Herzog & de Meuron

"A estrutura existente do antigo ginásio - uma quadra de cimento envolvida por pilares e treliças, sem cobertura nem paredes - é o ponto de partida para o nosso projeto. A geometria dessa estrutura é estendida ao longo de toda área construída, criando uma imensa cobertura, cuja forma é definida e limitada pelos limites do terreno. Ao mesmo tempo em que essa cobertura traz uma nova escala para a Mãe Luiza, ela também estabelece uma relação com a tradição nordestina dos grandes espaços públicos cobertos. Tornando-se, assim, um símbolo da comunidade."

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Arena do Morro / Herzog & de Meuron. Foto: © Iwan Baan

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Publicado originalmente em 27 de abril de 2022, atualizado em 6 de dezembro de 2022.

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Sobre este autor
Cita: Victor Delaqua. "Quando o arquiteto desenha para comunidades: 9 equipamentos culturais" 21 Dez 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/980951/quando-o-arquiteto-desenha-para-comunidades-9-equipamentos-culturais> ISSN 0719-8906

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