Ecologia, tecnologia e materialidade: entrevista com Philippe Starck

Acreditando que um criador tem um dever para com a sociedade, Philippe Starck é um designer de muitas facetas cujos projetos abrangem várias disciplinas. Da arquitetura e interiores ao design industrial e de mobiliário, o portfólio de Starck é "focado no essencial" e em "melhorar a vida do maior número de pessoas possível". Autor do famoso espremedor de limão para a Alessi, é conhecido por ultrapassar os limites do design em objetos do dia a dia.

Com dez mil criações, concluídas ou ainda por vir, Philippe Starck é um pioneiro em “fazer coisas no caminho da ecologia”. O ArchDaily teve a oportunidade de conhecer o designer no Salone del Mobile 2021 e discutir sua abordagem de projeto, visões e sua mais recente criação de compensado para Andreu World.

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“A criatividade é o melhor resultado para a inteligência humana”. - Philippe Starck

ArchDaily: Estamos sendo pressionados a mudar, a evoluir como humanos neste momento muito estranho da história. Como você está encarando esse momento como designer?

Philippe Starck: Acho que devemos parar de nos concentrar apenas na pandemia e desviar nossa atenção para o que está acontecendo com a ecologia e a política, o que é mais complicado de lidar. Pessoas começarão a morrer aos milhões por causa de questões relacionadas ao clima, e estamos testemunhando o surgimento de uma nova forma de fascismo, muito problemática de erradicar.

Para mim, como criador, o assunto principal é antes de tudo ecologia. Eu acredito que os criadores têm deveres e responsabilidades, e nós, no campo criativo, temos que fazer as coisas apenas no caminho da ecologia.

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© Adela Rex, courtesy of Andreu World

Comecei a pensar em ecologia, há 50 anos, não por inteligência, mas por sorte. É por isso que eu costumava trabalhar com algo que basicamente não destrói árvores, como o plástico. O mundo começou há muito tempo a desenvolver o plástico orgânico, um material que não requer fósseis, e acho que teremos nos próximos dois, três anos no máximo. Podemos imaginar então, em alguns anos, que uma empresa que trabalha principalmente com plástico como a Kartell, mudará para materiais orgânicos totalmente sintéticos. Isso significa que teremos sucesso em produtos sintéticos. Não estou interessado apenas em produtos sintéticos, mas também em produtos inteligentes, que abordem a inteligência humana em material, e o compensado é muito interessante nesse sentido.

Às vezes precisamos estar cercados por madeira, mas acredito fortemente que não se pode matar uma árvore para fazer uma cadeira. Isso é assassinato. Não apenas o assassinato das árvores, mas o nosso assassinato. É por isso que há anos pesquiso como podemos fazer móveis interessantes com compensado, um produto inteligente, superfino e resistente.

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© Adela Rex, courtesy of Andreu World

AD: Você pode nos contar mais sobre sua última criação em compensado?

PS: Nos anos 50, os Eames foram os pioneiros em móveis de compensado. Eles sabiam fazer isso muito bem, mas estavam limitados à dimensão 2D. Decidi trabalhar com o Andreu World, uma fantástica empresa vertical que faz tudo sozinha, para ver se podemos levar ao máximo o potencial do compensado 2D. Eu disse 2D para ficar com o preço certo, já que não estou interessado em fazer algo incrível se ninguém puder pagar. Ter um equilíbrio entre inovação, tecnologia e preços acessíveis é o que realmente importa, e temos trabalhado durante anos para conseguir isso. Acabamos com um produto incrivelmente bem balanceado, com um design absolutamente atemporal. Na verdade, não dá para saber se a cadeira é dos anos trinta, de hoje ou de amanhã, o que é muito importante porque a longevidade é o parâmetro mais alto da ecologia.

Além disso, a cadeira é feita em apenas três peças, o que significa que não precisamos subcontratar e fabricar na China, mas podemos fazê-lo em Valência, na Espanha, pelo preço certo. Através da tecnologia, conseguimos curvar a estrutura para alcançar um conforto incrível e traduzir a sensibilidade do design.

Feita apenas de três peças, uma pequena revolução por si só, esta cadeira pode se tornar uma revolução maior, se todos copiarem essa ideologia.

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© Adela Rex, courtesy of Andreu World
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© Adela Rex, courtesy of Andreu World

AD: Nesse processo de levar o compensado para o próximo nível, como foi sua experiência de trabalhar com a Andreu com sua expertise industrial?

PS: Em primeiro lugar, Andreu World é Jesus Llinarez e sua equipe. Nunca trabalho com uma empresa, trabalho com Humanos. Tenho que valorizar as pessoas, para trabalhar com amor, elegância, fluidez e humor. Andreu World possui todos esses componentes. Fora isso, a empresa possui uma tecnologia muito boa e uma equipe muito boa. Na verdade, quando cheguei, queria algumas modificações na curvatura do produto, e eles fizeram tudo pronto em 15min. Normalmente, tenho que esperar três meses por qualquer tipo de alteração. Enfim, acho que hoje a Andreu World é a empresa mais moderna e inteligente do mundo, com a visão certa, para madeira e especificamente contraplacado.

Porque o compensado faz parte do futuro.

Convidamos você a conferir a cobertura abrangente da ArchDaily do Salone Del Mobile 2021, com peças editoriais exclusivas e entrevistas com arquitetos e curadores do evento.

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Sobre este autor
Cita: Harrouk, Christele. "Ecologia, tecnologia e materialidade: entrevista com Philippe Starck" [In Conversation with Philippe Starck: On Ecology, Technology and Materiality] 21 Nov 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Martino, Giovana) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/970971/ecologia-tecnologia-e-materialidade-entrevista-com-philippe-starck> ISSN 0719-8906

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