Áreas de baixa velocidade salvam vidas. Como projetar uma que seja efetiva?

Uma vez que a pandemia de Covid-19 alterou as paisagens urbanas e aproximou muitas pessoas da mobilidade ativa, há uma urgência maior de tornar as ruas mais seguras para pedestres e ciclistas. Muitas cidades têm agora a tarefa de proteger os usuários mais vulneráveis, além de criar espaços públicos seguros que permitam a recuperação econômica e que as pessoas aproveitem a cidade ao ar livre. Ao mesmo tempo, existem motivos de longo prazo para apoiar essa transição.

“Caminhar e pedalar estão entre as maneiras mais sustentáveis de se deslocar nas cidades – mas não se forem opções extremamente perigosas”, afirma Claudia Adriazola-Steil, diretora interina de Mobilidade Urbana e diretora de Saúde & Segurança Viária do WRI Ross Center for Sustainable Cities.

Acidentes de trânsito ainda são a principal causa de mortes em todo o mundo, assim como das mortes e ferimentos graves de jovens entre 5 e 29 anos. A velocidade é um dos principais fatores de risco em acidentes; em países de renda média e baixa, em particular, as velocidades veiculares são o principal fator em quase metade dos acidentes de trânsito. Mesmo pequenos aumentos na velocidade aumentam de forma significativa a probabilidade de morte ou ferimento.

Mas nós sabemos o que fazer. Áreas de baixa velocidade são uma solução-chave para uma gestão efetiva das velocidades. Uma área de baixa de velocidade é uma área definida – como o entorno de uma escola, um bairro ou um distrito comercial – com o objetivo de melhorar a segurança de usuários vulneráveis por meio de medidas de trânsito calmo. E ao permitir deslocamentos seguros em modos ativos, essas áreas promovem uma série de outros benefícios, como melhor qualidade do ar, recuperação econômica e mais sustentabilidade.

Um novo guia do WRI e do Banco Mundial estabelece orientações para planejar, desenhar, implementar e avaliar áreas de baixa velocidade. A seguir estão alguns exemplos de considerações sobre o planejamento de áreas de baixa velocidade em diferentes configurações para ajudar a criar espaços urbanos mais seguros e prósperos.

1. Ruas de uso misto e alta densidade

Ruas de uso misto e alta densidade são centros de atividades e interações entre a comunidade e com frequência recebem tráfego intenso. Portanto, priorizar o conforto e a segurança dos usuários vulneráveis antes dos motoristas deve ser o objetivo nesses casos. Essas ruas precisam oferecer uma separação clara e adequada entre os diferentes modos de transporte para assegurar a segurança para os usuários mais vulneráveis, como pedestres e ciclistas, ao mesmo tempo em que permitem a fluidez do tráfego.

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Exemplos de elementos de uma área de baixa velocidade em uma rua de uso misto e alta densidade

Limites de velocidade adequados para essas vias são entre 20 km/h e 30 km/h, e é importante incluir sinalização horizontal e soluções de infraestrutura para incentivar os motoristas a reduzir a velocidade. Os exemplos incluem elementos que estreitam as faixas e reduzem a velocidade de veículos em pontos-chaves, como canteiros centrais e raios de meio-fio com menos de 4,5 metros.

Além de diminuir as velocidades, deve-se aumentar a visibilidade de pedestres e ciclistas por meio de travessias de alta visibilidade e marcações no pavimento que se estendam ao longo das interseções e em travessias de meio de quadra, quando necessário. Outros elementos de design, como mobiliário urbano, podem reforçar a prioridade de pedestres e ciclistas e fomentar as atividades sociais e culturais.

2. Ruas residenciais

Ruas residenciais devem fornecer espaços seguros e acessíveis para interação social e deslocamentos frequentes de todos os tipos de usuários. Essas ruas devem focar menos no fluxo do tráfego e mais em oferecer um ambiente seguro para as famílias caminharem pela vizinhança e para as crianças brincarem. A função das vias residenciais se adequa melhor a limites entre 20 km/h e 30 km/h, mas em geral com menos tráfego e menos tipos de veículos circulando.

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Exemplos de elementos de uma área de baixa velocidade em uma rua residencial com alto volume de tráfego com uma rotatória
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Exemplos de elementos de uma área de baixa velocidade em uma rua residencial com alto volume de tráfego com uma ciclofaixa protegida

Calçadas largas, o plantio em camadas de árvores e arbustos e iluminação pública adequada melhoram o conforto de modo geral, a caminhabilidade e a segurança para os pedestres. Da mesma forma que acontece com outros tipos de rua, é importante estreitar a rua visual e fisicamente para os motoristas, a fim de incentivar velocidades mais lentas. Uma das muitas maneiras de fazer isso, especialmente em uma área residencial, é acomodar o estacionamento na rua. Essa medida não apenas melhora a acessibilidade para os residentes, mas ajuda no estreitamento “perceptivo” das ruas e cria uma zona neutra entre as ciclovias ou calçadas e o tráfego de veículos.

Para melhorar a segurança nas interseções, o espaço viário e as áreas de travessia para cada modo de transporte devem ser designados de forma clara. Os acessos ao transporte público também devem ser projetados com cuidado e acomodados por meio de pontos de ônibus e estações de bicicletas compartilhadas ou áreas de estacionamento que permitam as filas, embarque e aproximação dos veículos de forma segura e eficiente. Pontos de ônibus, calçadas e cruzamentos são locais que geram conflitos frequentes entre ciclistas e outros usuários da via. Essas áreas devem ser projetadas para melhorar a visibilidade e informar facilmente qual usuário tem a preferência.

3. Áreas escolares

Reduzir as velocidades praticadas próximo a escolas é crucial. O número de crianças feridas ou que tiveram alguma deficiência em decorrência de acidentes de trânsito é estimado em cerca de 10 milhões por ano. Devido a seu tamanho, menor controle dos impulsos e tempos de reação mais lentos, as crianças são mais vulneráveis que os adultos a colisões.

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Exemplos de elementos de uma área de baixa velocidade em uma zona escolar

Os limites de velocidade em uma área escolar não devem ser superiores a 20 km/h. As ruas devem ser equipadas com sinalização visual, elementos físicos e regulatórios, como sinais de trânsito, travessias de alta visibilidade e elevadas, extensões de meio-fio e marcações viárias detectáveis que alertem os motoristas sobre a presença de crianças para que reduzam a velocidade. As crianças costumam ser ocultadas por carros estacionados, elementos paisagísticos mais altos e outros elementos da rua, por isso também é importante considerar as linhas de visão. Restringir o estacionamento próximo a locais de travessia também deve ser uma medida considerada, a fim de reduzir o tráfego geral de veículos.

O SARSAI, programa vencedor da edição 2018-2019 do WRI Ross Center Prize for Cities, implementou muitos desses elementos e ajudou a reduzir os acidentes de trânsito envolvendo crianças em Dar es Salaam, na Tanzânia, e em outras cidades africanas em 26%, a partir de intervenções em áreas escolares.

4. Ruas compartilhadas

Ruas compartilhadas reúnem pedestres, ciclistas e veículos no mesmo espaço e funcionam melhor em áreas comerciais com intenso tráfego de pedestres, facilitando o acesso ao comércio e, em essência, expandindo o espaço público para a rua. Baixos volumes de veículos e velocidades não superiores a 10 km/h são essenciais nessas áreas.

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Exemplos de elementos de uma área de baixa velocidade em uma rua compartilhada

Em geral, ruas compartilhadas não possuem meio-fio vertical, sinalizações, nem tantas marcações no pavimento para segregar o espaço de cada modo de transporte. Em vez disso, são usadas interseções elevadas e mudanças de textura para demarcar a transição para uma rua compartilhada. Esses elementos de design ajudam todos os usuários a avançar com cuidado e a praticar velocidades mais seguras nessas áreas. O uso de mobiliário urbano, instalações públicas e iluminação também contribuem em termos de funcionalidade e vitalidade. Dados da Holanda indicam que ruas compartilhadas bem projetadas podem reduzir a incidência de acidentes em até 50%.

Ao mesmo tempo, é importante levar em consideração que esse tipo de rua pode provocar dificuldades entre as pessoas com deficiência e a necessidade de projetar ruas compartilhadas de forma atenta para aqueles com dificuldades visuais e de mobilidade, incluindo elementos como piso tátil, limites detectáveis, superfícies de alerta e informações audíveis em pontos importantes, como faixas de pedestres.

Como mostram os exemplos acima, o primeiro e mais importante passo a ser dado no planejamento de uma área de baixa velocidade é avaliar o contexto e as condições viárias existentes. O que atende melhor ao propósito e aos usuários daquele local? Em seguida, podem ser implementadas soluções de trânsito calmo adequadas a essas condições, a fim de acomodar todos os usuários da via de forma segura, confortável e eficiente. Escolher o conjunto certo de intervenções para cada área pode fazer toda a diferença para salvar vidas, além de criar espaços urbanos mais acessíveis e habitáveis.

Via WRI Brasil.

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Sobre este autor
Cita: Nikita Luke e Siba El-Samra. "Áreas de baixa velocidade salvam vidas. Como projetar uma que seja efetiva?" 26 Jun 2021. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/963410/areas-de-baixa-velocidade-salvam-vidas-como-projetar-uma-que-seja-efetiva> ISSN 0719-8906

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