O futuro espaço de trabalho não será um espaço de trabalho

À medida que em alguns países a pandemia de COVID-19 pareça estar sobre controle e as pessoas comecem à retomar suas antigas rotinas, muito se especula sobre se vamos de fato voltar a viver como vivíamos antes, cumprindo jornadas de trabalho presenciais de oito horas por dia cinco dias da semana. Por outro lado, há aqueles que acreditam que algumas das mudanças pelas quais passamos ao longo do último ano vieram para ficar e que o sistema híbrido de trabalho já não é mais visto como uma solução temporária e sim definitiva. Entretanto, nem todas as pessoas desfrutam do fato de poder trabalhar de casa e em muitos casos, isso significa encontrar um outro lugar que não o escritório para poder desempenhar suas atividades profissionais. Este espaço intermediário entre o ambiente doméstico e profissional vem sendo chamado de third place, literalmente “terceiro” lugar, um termo utilizado para descrever quase todos os outros lugares, desde cafeterias a praças e até espaços de co-working. Se você costuma frequentar uma biblioteca para estudar ou trabalhar, ou aproveita para responder e-mails enquanto espera à mesa de um restaurante ou bar, faz ligações e video chamadas desde a sala de espera do aeroporto, isso significa que você já está incluído na lista das pessoas que frequentam este “outro” lugar.

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Former Pobre Diablo Cultural Center. Imagem © Daniel Moreno Flores

O termo “terceiro lugar” apareceu por primeira vez no livro The Great Good Place (1989) escrito pelo sociólogo americano Ray Oldenburg. Em seu livro, publicado como uma resposta direta à privatização da vida doméstica, resultado do expansivo crescimento suburbano dos Estados Unidos durante a segunda metade do século XX, Oldenburg chamava a atenção para o fato de que para além do nosso “primeiro” espaço de referência (a casa), e o tradicional “segundo” ambiente em escala de importância (o trabalho), existia ainda um “terceiro” lugar em nossa vida, ou seja, tudo aquilo que se encontra fora dos ambientes domésticos e de trabalho.

Ainda que estes outros espaços sempre tenham desempenhado um papel fundamental em nossas vidas, a procura por estes terceiros lugares aumentou significativamente ao longo das últimas décadas, e com isso, a maneira como nos apropriamos destes espaços foi completamente ressignificada, especialmente em tempos de pandemia. Se por um lado um crescente número de trabalhadores opta hoje por um sistema híbrido de trabalho, a maioria dos espaços domésticos não são facilmente adaptáveis para acolher longas jornadas de trabalho. Como resultado disso, a demanda por espaços confortáveis e equipados com a mínima infra-estrutura necessária para plugar um computador e acessar à internet, explodiu de um ano para cá. Tenhamos como exemplo o Starbucks, um lugar que muitos de vocês provavelmente visitam com certa frequência. Não é de hoje que vemos pessoas jogadas em uma bela poltrona estofada, tomando demoradamente um longo café enquanto passam horas trabalhando, lendo ou conversando com alguém. Encontrar um lugar agradável e até bonito, silencioso e confortável para sentar, trabalhar e beber um bom cappuccino em um lugar que não seja a mesa da sua cozinha ou de seu escritório é hoje algo que nos trás uma indescritível sensação de liberdade e independência.

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Zerno Coffee Shop by Studio 11. Imagem © Alexandra Ovseets

Então, quais são as características que fazem de um “terceiro” lugar o ambiente perfeito para este novo estilo de vida que parece emergir mais forte que nunca neste cenário pós pandêmico? Assim como o sucesso do Starbucks depende de um lugar acessível, confortável e porque não, de um bom café, espaços públicos são lugares procurados por aqueles que preferem trabalhar perto da natureza. Fato é que estes terceiros lugares são mais bem-sucedidos quando são capazes de fornecer aos usuários algo a mais daquilo que eles encontram em seus ambientes domésticos ou espaços de trabalho. Pensando nisso, muitas empresas estão tentando decifrar esse código para então adaptá-lo no que seria o espaço de trabalho ideal dos tempos modernos. A Capital One é uma das precursoras deste novo movimento. A holding bancária americana recentemente começou a integrar espaços de cafés em seus postos de atendimento ao cliente. Convenientemente, depois de resolver suas pendências, eles podem se sentar e trabalhar enquanto desfrutam de uma boa taça de café. A Convene, uma empresa de serviços de teleconferências, decidiu disponibilizar espaços físicos para seus clientes realizarem reuniões virtuais—uma solução perfeita para aqueles que preferem sair de casa mesmo que tenham que trabalhar remotamente.

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WeWork Tower 535. Imagem © Dennis Lo Designs

Em um futuro próximo, provavelmente seu chefe não irá mais obrigá-lo a ficar sentado 40 horas por semana dentro do escritório—mas pode ser que você tampouco queira passar boa parte deste tempo em casa e com a calça do pijama. Se o futuro é híbrido, será mais necessário do que nunca encontrar alternativas, lugares que nos permitam trabalhar de tempos em tempos de forma confortável e se possível, com vista para um jardim e de preferencia com um bom café à mesa. É de se esperar então, que esses “terceiros” lugares passem a desempenhar um papel cada dia mais central em nossas vidas—e é bom que você comece a procurar por um deles.

Convidamos você a conferir a cobertura do ArchDaily relacionada ao COVID-19, ler nossas dicas e artigos sobre Produtividade ao trabalhar em casa e aprender sobre as recomendações técnicas para criar uma arquitetura saudável em seus futuros projetos. Além disso, lembre-se de revisar os conselhos e informações mais recentes sobre COVID-19 no site da Organização Mundial da Saúde (OMS).

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Sobre este autor
Cita: Overstreet, Kaley. "O futuro espaço de trabalho não será um espaço de trabalho" [The Future Workspace That Isn't the Workplace] 25 Jun 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/962163/o-futuro-espaco-de-trabalho-nao-sera-um-espaco-de-trabalho> ISSN 0719-8906

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