Reuso de parques urbanos: um futuro promissor para um presente conturbado

A Metropolis Magazine abordou a produção da High Line Network, um consórcio norte-americano de projetos de reuso que tem compartilhado ideias e práticas ao longo da pandemia.

Desde o início da pandemia, a High Line Network — um associação dedicada ao planejamento e execução de projetos de requalificação urbana em toda a América do Norte — tem realizado uma série de encontros virtuais entre seus membros e parceiros, tanto para comunicar informações à respeito dos projetos em andamento quanto para compartilhar experiências de como cada um dos escritórios está lindando com as dificuldades impostas pela recente crise sanitária. Com muitos projetos sobre a prancheta e outros tantos para serem concluídos e inaugurados em breve, a High Line Network acredita que iniciativas como esta passarão a desempenhar um papel ainda mais relevante na vida das pessoas, especialmente à medida que as restrições de circulação começam a ser abrandadas.

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Signs along the Atlanta BeltLine. Cortesia de John Becker

Parques e espaços públicos que permaneceram abertos durante a pandemia tiveram o número de visitantes e o tempo de visita restritos na maioria das cidades americanas.

Anne Olson, presidente da Associação Buffalo Bayou — uma organização não governamental responsável pela revitalização e transformação de mais de 65 hectares de áreas verdes às margens do rio que corta a cidade de Houston — disse que o Parque Buffalo Bayou estava “abarrotado” de visitantes no início da pandemia, recebendo dezenas de milhares de visitantes todos os dias que ali se dirigem para realizar suas práticas esportivas ou apenas para espairecer, isso que  os playgrounds, cafés e áreas para cães tenham sido fechadas por motivos de segurança pública.

Dequindre Cut Cortesia de Detroit Riverfront Conservancy

Assumindo o mesmo tom, Mark C. Wallace, presidente e chefe-executivo da Detroit Riverfront Conservancy, afirmou que o Dequindre Cut, um parque linear de três quilômetros construído sobre a antiga via férrea de Detroit, registrou um aumento de 20% no número de visitantes desde o início do lockdown. Para Wallace, o auto índice de mortalidade por COVID-19 na cidade fez com que os habitantes de Detroit passassem a “experimentar um altíssimo nível de ansiedade”, o que na sua opinião, “tem os forçado a passar mais tempo em contato com a natureza.”

Para enfrentar esta situação atípica, a Detroit Riverfront Conservancy decidiu adaptar um dos seus eventos presenciais anuais mais importantes, transformando a Riverfront Run — uma corrida de rua de 5 e 10 quilômetros — em um evento virtual. Os inscritos foram convidados a fazer o percurso da corrida ao longo de um extenso período de tempo, registrando seus resultados no site além de receber o kit da corrida em casa.

Por outro lado, o Atlanta BeltLine — um circuito de parques, trilhas e ciclovias construído ao longo de antigos corredores ferroviários abandonados da cidade de Atlanta — que havia registrado mais de dois milhões de visitantes em 2019, esteve praticamente vazio de março à junho se comparado com o mesmo período do ano anterior, informou o chefe-executivo da BeltLine, Clyde Higgs.

Durante este tempo, a BeltLine utilizou as redes sociais para fazer uma campanha de conscientização, solicitando que a população local utiliza-se o circuito de parques e áreas verdes apenas quando “necessário” para sua saúde física e mental. Além disso, a associação divulgou uma cartilha informativa com orientações para outras áreas publicas similares estabelecidas em Rhode Island, Texas e Ontário, além de acolher outras iniciativas que não perecem à High Line Network.

Cyclists in Buffalo Bayou Park, Houston, before the age of social distancing. Cortesia de Buffalo Bayou Partnership

A sua mais famosa realização — a qual dá nome à esta iniciativa —, o Parque High Line de Nova Iorque, esteve completamente fechado desde meados de março como medida de combate à disseminação do vírus em uma das cidades mais duramente castigadas pela pandemia em todo o mundo.

Ainda que tenha sido reaberto ao público no último dia 16 de Julho, o High Line de Nova Iorque ainda não será o mesmo tal e qual como o conhecemos: diversas entradas e saídas continuam fechadas e o fluxo de pedestres organizados em apenas uma direção. Para cumprir com as regras de distanciamento social e evitar aglomerações, o acesso ao High Line só pode ser feito com reserva antecipada, sendo que o número de visitantes e a duração da visita será reduzido e monitorado diariamente.

Ainda assim, quem visita a grande maça não terá dificuldade em acessar o High Line, isso porque o número de turistas despencou drasticamente por causa da pandemia. Robert Hammond, co-fundador e diretor executivo da High Line, acredita que a redução no número de visitantes é uma grande oportunidade para os moradores de Nova Iorque e região, os quais não precisam mais se preocupar com longas filas e podem usufruir de sua própria cidade como nunca antes. (O parque costumava receber oito milhões de visitantes anualmente, com mais de 60.000 visitas em um único final de semana.)

“Será uma sensação completamente diferente para todos nós vermos o High Line tomado pelos nova-iorquinos novamente,” disse ele.

Dequindre Cut Cortesia de Detroit Riverfront Conservancy

Hammond prevê ainda um considerável “aumento do investimento público em áreas verdes e espaços ao ar livre após a pandemia.” Olson, por sua vez, acredita que as pessoas “vão querer passar mais tempo junto à natureza” e se pergunta se nossos parques e áreas verdes, como o Buffalo Bayou, poderiam assumir um caráter “mais selvagem e menos urbano”.

“Ao invés de avaliar nosso sucesso e nos preocuparmos apenas com o número anual de visitantes, estamos começando a nos importar mais com a qualidade da experiência e do espaço que estamos criando”, disse Wallace, do Detroit Conservancy. Com uma visão bastante otimista, Wallace acredita que as pessoas “passarão a procurar estes espaços com mais freqüência”, abrindo novas frentes para explorar outras possibilidades e programas compatíveis, como o Cut’s Freight Yard — um centro comercial e social construído com a estrutura de nove contêineres.

A High Line Network — uma iniciativa dedicada a desenvolver e compartilhar idéias e estratégias que promovem o bem-estar das pessoas nas cidades — incluiu quinze novos membros em sua estrutura operacional. Contanto atualmente com 39 associações e parceiros em toda a América do Norte, a High Line está desenvolvendo uma série de novos projetos de requalificação urbana — incluindo o the Meadoway, em Toronto, e o Parque La Mexicana, na Cidade do México.

Os novos membros foram selecionados por meio de uma convocatória aberta pela High Line durante a primavera, evidenciando o crescente interesse público em projetos de requalificação de infraestruturas urbanas obsoletas como uma ferramenta poderosa para promover e qualificar os espaços verdes e de uso público nas nossas cidades.

Atlanta BeltLine and Ponce City Market East Side Trail April 23, 2016 Photos by Christopher T Martin. Cortesia de Christopher T Martin

Além do the Meadoway e de La Mexicana, os demais membros incorporados pela High Line nos Estados Unidos são o Riverline em Buffalo; o Memphis Riverfront, no Tennessee; o Riverwalk em Milwaukee; Hemisfair Park em San Antonio; CicLAvia em Los Angeles; o Projeto India Basin Park em San Francisco; e o Bergen Arches em Jersey City, NJ.

Convidamos você a conferir a cobertura do ArchDaily relacionada ao COVID-19, ler nossas dicas e artigos sobre Produtividade ao trabalhar em casa e aprender sobre as recomendações técnicas para criar uma arquitetura saudável em seus futuros projetos. Além disso, lembre-se de revisar os conselhos e informações mais recentes sobre COVID-19 no site da Organização Mundial da Saúde (OMS).

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Sobre este autor
Cita: Levere, Jane. "Reuso de parques urbanos: um futuro promissor para um presente conturbado" [From a Complicated Present, Urban Reuse Parks Look to the Future] 31 Jul 2020. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/944698/reuso-de-parques-urbanos-um-futuro-promissor-para-um-presente-conturbado> ISSN 0719-8906

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