Mapas são ferramentas fundamentais para compreender o espaço construído. Mais do que representar localizações, eles permitem visualizar relações espaciais, reconhecer padrões urbanos, sobrepor camadas de informação e produzir novas formas de leitura do território. Na arquitetura, podem ajudar a revelar como os projetos se distribuem nas cidades, quais áreas concentram investimentos ou permanecem à margem deles. Além disso, os mapas nunca são neutros: toda representação cartográfica envolve escolhas — como a seleção de dados, os recortes espaciais e as projeções utilizadas — que podem carregar intenções políticas, reforçando ou questionando estruturas de poder e visões de mundo.
Em parceria com a plataforma PLACE, desenvolvida pelo escritório OSPA, o ArchDaily Brasil apresenta um mapa interativo com a maioria dos projetos publicados no site nos últimos anos. Cada ponto traz informações como imagens, localização e dados técnicos das obras. A iniciativa utiliza exclusivamente dados públicos disponíveis na plataforma e contempla projetos em quase todos os estados brasileiros.
Ao todo, foram considerados 5.084 projetos publicados no ArchDaily Brasil, dos quais 2.971 possuem localização georreferenciada. Esses projetos foram desenvolvidos por 1.897 escritórios de arquitetura espalhados pelo país. Durante o processo de coleta de dados, foram incluídos endereços residenciais, que posteriormente foram removidos do mapa, de modo a preservar a privacidade dos envolvidos.
A análise dos dados revela a diversidade de escalas da produção publicada. O menor projeto mapeado, com apenas 3,95 m², é o café "the coffee", do Studio Boscardin.Corsi, em Curitiba. No outro extremo, aparece o Parque Olímpico de Deodoro, com 2,5 milhões de m², assinado pelo escritório Vigliecca & Associados, no Rio de Janeiro. Outros projetos de grande porte incluem a urbanização do Complexo Cantinho do Céu, o Parque da Orla do Guaíba e o centro de inovação Tecnovates, todos com áreas superiores a 500 mil m².
Entre os escritórios com maior número de projetos publicados estão SuperLimão (49), BLOCO Arquitetos (44), FGMF (43), studio mk27 – Marcio Kogan (41) e Studio Arthur Casas (39). As categorias mais frequentes são arquitetura residencial (2.433 projetos), seguida pelas áreas comercial (538), educacional (407), de escritórios (299) e cultural (257).
O levantamento também aponta os materiais mais utilizados: concreto (2.492 projetos), madeira (1.461), aço (1.037), vidro (538), tijolo (407) e pedra (242). Materiais como pré-fabricados e plásticos aparecem em menor número, com 41 e 31 ocorrências, respectivamente. São Paulo lidera em número de projetos geolocalizados (1.332), seguida por Brasília (220), Rio de Janeiro (204), Porto Alegre (190) e Curitiba (133).
A visualização espacial desses dados oferece um possível panorama da produção arquitetônica brasileira recente — e, por consequência, da dinâmica da construção civil nas principais capitais do país. No entanto, é importante lembrar que as obras representadas no mapa constituem apenas uma pequena fração da produção formal, ou seja, projetos assinados por arquitetos e publicados na plataforma. O mapeamento não contempla a vasta quantidade de construções que fazem parte do mercado informal da arquitetura e que povoam todas as cidades brasileiras.
O mapa interativo está disponível para consulta pública. Explore os projetos publicados e conheça, a partir da cartografia, um novo modo de observar a arquitetura brasileira contemporânea.
