Pigmentação de concreto em arquitetura: além de bases neutras

É possível dizer que existe um material atemporal na arquitetura, em termos estéticos? Seguramente, a madeira e o concreto são fortes candidatos. Não apenas porque são entendidos como representantes da solidez, volume e massa das construções, mas porque oferecem grande variedade plástica nos projetos. O concreto, diferentemente da madeira, possui mais maleabilidade. Ainda que a madeira já ofereça soluções mais moldáveis através de sistemas CLT, por exemplo, o concreto é obtido a partir de uma mistura entre líquido, pó e um agregado, ou seja, uma pasta, que pode ser vertida numa forma, espalhada sobre uma superfície, moldada em formatos diversos.

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A textura do material e sua cor acinzentada criam um efeito visual de sobriedade, e, nos dias atuais, evidenciam a descendência brutalista. Superfícies em concreto aparente na casa contemporânea funcionam como elemento discreto mas elegante, e que contribui para uma “base” neutra, sobre a qual se constróem camadas de elementos de destaque: mobiliário com formas ou cores mais fortes, objetos, têxteis que complementem (ou se oponham) à rigidez do fundo.

Apesar de supostamente básico, o concreto possui traços diversos, pode ser fabricado manualmente e depende da cura e da forma com a qual entra em contato. O que quer dizer que, por si só, já apresenta variações tonais. Mais claros ou mais escuros a depender da proporção, origem e lote do cimento ou agregados utilizados, o concreto aparente possui uma cor própria, sempre diferente em cada caso. Mesmo assim, é possível incrementá-lo cromaticamente, caso o projeto demande. No caso do cimento queimado – em que o pó de cimento é aplicado diretamente sobre a argamassa fresca –, a coloração pode ser feita com pigmentos naturais ou sintéticos durante a mistura de fabricação. Já no caso do concreto polido – que envolvem uma base cimentícia misturada a grânulos de pedras naturais e posterior polimento da superfície –, também conhecido como granilite, a pigmentação pode ser usada tanto na massa, quanto no tipo de agregado, ou seja, as pedras fazem parte da coloração.

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Casa Berg / R21 Arkitekter © Ruben Ratkusic

O pigmento adicionado ao concreto confere-lhe outra leitura. De sóbrio, passa a extrovertido – o quanto a pigmentação permitir –, mas sem perder o caráter tectônico e a textura que lhe é tão particular. Aplicado ao piso, o concreto polido ou cimento queimado oferece boa durabilidade, além da base neutra e (relativamente) uniforme admirada por arquitetos. Mesmo assim, dentro da concepção do projeto, a ideia regente pode pedir outros tons que favoreçam ou reforcem o caráter da construção, e aí pode entrar a pigmentação: para complementar uma paleta de cores, contribuir para um aspecto geral do projeto – alusão à terra, à luz no local, a uma determinada ambiência –, ou até mesmo como elemento de destaque, como textura visual.

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Casa Upper Albert / SAOTA © Adam Letch

O piso em concreto polido ou cimento queimado pigmentados parecem tímidos em comparação com seu uso em paredes e estruturas. Talvez porque edifícios inteiros erigidos em concreto colorido impressionem devido à tectônica mais “alegre”. Contudo, a exploração cromática em pisos sempre se deu em relação à paginações diferenciadas, tapetes e até pintura epóxi. O concreto pigmentado se coloca como mais uma opção. Não precisa servir apenas como base (literal) neutra e (quase) invisível, pelo contrário.

Duas Casas em Paraty / Julio Katinsky + Ruy Ohtake

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Duas Casas em Paraty / Julio Katinsky + Ruy Ohtake © Isac Marcelino

“Por meio da retirada das portas, o que antes era uma cozinha embutida em um armário,  passou a definir um espaço amplo, tornando-se o grande destaque da casa. Ela é o ambiente que marca a entrada da construção, e se estende por toda a largura da casa. […] O piso é de cimento queimado amarelo.”

Casa Berg / R21 Arkitekter

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Casa Berg / R21 Arkitekter © Ruben Ratkusic

“O projeto apresenta referências claras à cidade-jardim vizinha, por meio da escolha dos materiais e cores utilizadas. A base é moldada em concreto pigmentado de vermelho que se adapta ao terreno. Materiais sólidos e duráveis como tijolo vermelho, cobre e carvalho são usados para contribuir para uma casa atemporal com uma atmosfera única.”

Casa de Taipa / Estudio Piloti Arquitetura + Stepan Norair Chahinian

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Casa de Taipa / Estudio Piloti Arquitetura + Stepan Norair Chahinian © Luis Claudio Marques Dias

“Foram escolhidos materiais deixados em seu estado natural para dialogar com a taipa: os pisos são de taco de madeira e cimento queimado, e para os banheiros foi utilizado o mármore branco. A pintura das poucas paredes de alvenaria, são a base de cal, na cor branca. O piso da área externa é a pedra São Tomé Rosa.”

Cobertura Barão de Tatuí / Pianca Arquitetura + Sabiá Arquitetos

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Cobertura Barão de Tatuí / Pianca Arquitetura + Sabiá Arquitetos © Pedro Kok

“O projeto evita cores neutras e foge de um caráter mais sóbrio: o novo piso interno é realizado em cimento queimado avermelhado, nos banheiros é utilizado ladrilho hidráulico – rosa com detalhes em verde no banheiro principal e amarelo e rosa no banheiro secundário – por fim, no quarto principal, é conformado um tapete de ladrilho ornamental com tonalidades azul, amarela e rosa. Nas varandas, o cimento queimado se estende nas áreas cobertas – procurando desfazer limites entre interno e externo. O resto do terraço possui grande presença de calhas preenchidas com seixos verdes e por pisos de concreto com seixos encravados.”

Casa MF / alarciaferrer arquitectos

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Casa MF / alarciaferrer arquitectos © Federico Cairoli

“A casa é inteiramente construída em concreto pigmentado rosa que permite uma sutil sintonia com os tons minerais das montanhas circundantes. O passar do tempo permitiu que a obra se enraizasse definitivamente no local graças ao avanço da vegetação e ao desgaste do concreto manchado.”

Casa Upper Albert / SAOTA

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Casa Upper Albert / SAOTA © Adam Letch

“Os materiais escolhidos para os acabamentos internos estabelecem um diálogo cuidadoso com a herança viva inerente às habilidades de artesãos e artífices. O piso de concreto polido com polímero, usado extensivamente na sala de estar, nas escadas e no pavimento exterior, é feito com um agregado de pedra verde que é um subproduto das minas históricas de cobre na região de Namaqualand, na Província do Cabo Ocidental.”

Casa 2005_MNB / Gabrielle Vinson Architecte

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Casa 2005_MNB / Gabrielle Vinson Architecte © Gabrielle Vinson

“Como os materiais existentes são de boa qualidade e estão em condições relativamente boas, eles são reutilizados sempre que possível. Os diferentes pisos no térreo são preservados, às vezes parcialmente removidos para acomodar novas instalações, e então reinstalados. As divisórias das paredes são preenchidas com concreto e depois polidas.”

Casa los Pinos / Fantuzzi + Rodillo Arquitectos

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Casa los Pinos / Fantuzzi + Rodillo Arquitectos © Pablo Blanco

“A laje de concreto polido possui medidas de 615cm de largura e 1590cm de comprimento no plano e em seus lados, ancoragens feitas em chapa metálica de 5mm recebem os pilares para que a madeira não fique em contato direto com o terreno.”

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Sobre este autor
Cita: Helena Tourinho. "Pigmentação de concreto em arquitetura: além de bases neutras" 06 Fev 2024. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1012891/pigmentacao-de-concreto-em-arquitetura-alem-de-bases-neutras> ISSN 0719-8906

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