Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global

A mudança de uma capital é uma decisão complexa com várias dimensões e consequências tanto para a antiga quanto para a nova capital. Pode ser impulsionada por fatores políticos, econômicos, sociais, e tem implicações urbanas e arquitetônicas para os moradores, como localização, planejamento, projeto de construção, finalidade da antiga capital, condições climáticas e separação dos centros políticos/administrativos das cidades culturais e econômicas.

Diante deste debate, o Egito está construindo uma nova capital para aliviar a pressão populacional e urbana sobre o Cairo. Da mesma forma, a Indonésia está planejando uma nova capital em resposta aos desafios enfrentados por Jacarta, como poluição, congestionamento de tráfego e aumento do nível do mar. É valioso examinar outros países no sul global que realocaram suas capitais, observando as lições arquitetônicas e urbanas aprendidas com suas experiências.

Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Imagem 2 de 8Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Imagem 3 de 8Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Imagem 4 de 8Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Imagem 5 de 8Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Mais Imagens+ 3

Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Imagem 2 de 8
SOM planeja a nova capital do Egito. Imagem ©SOM

Brasília é uma capital conhecida construída especificamente para esse propósito. Foi planejada na década de 1950 para transferir a capital do Rio de Janeiro para um local mais próximo do centro geográfico do país. Da mesma forma, Abuja, a capital da Nigéria, foi realocada de Lagos em 1991 por razões semelhantes, como a superpopulação e o fato de Lagos ser um centro cultural e econômico onde as funções administrativas lutavam para prosperar. Outro exemplo é Yamoussoukro, a capital da Costa do Marfim, especialmente construída, fundada em 1983 para substituir Abidjan como capital econômica.

Essas capitais no sul global levantam questões sobre o papel de uma cidade como centro econômico, cultural ou político/administrativo. Elas destacam como uma abordagem singular e top-down pode influenciar o resultado de novas cidades e suscitam questionamentos sobre o tipo de arquitetura adequado para uma cidade puramente administrativa. Este artigo explora esses conceitos, examinando e comparando as ações e respostas dessas três capitais.

Design de cima para baixo x Crescimento Adaptativo

Exemplos disso podem ser vistos no planejamento urbano de Brasília, projetado por Lucio Costa, e Abuja, projetado pela International Planning Associates (IPA). No caso de Yamoussoukro, capital da Costa do Marfim, o ex-presidente Houphouet-Boigny supervisionou o processo de planejamento. Ele insistiu em vários projetos arquitetônicos e urbanos em grande escala para acomodar necessidades políticas, educacionais e turísticas. No entanto, ele intencionalmente excluiu espaços para atividades econômicas locais e mercados tradicionais, considerando-os de menor status para Yamoussoukro. Como consequência, durante a crise econômica dos anos 1980, os trabalhadores da construção civil, que eram os principais residentes da cidade, a abandonaram, deixando-a amplamente despovoada. Desde então, a cidade tem lutado com o crescimento orgânico e a atração de residentes de outras partes do país, principalmente devido à natureza de sua estrutura urbana.

Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Imagem 3 de 8
Avenida do Eixo Monumental do Distrito Federal, Brasília, Brasil. Imagem © Erich Sacco/Shutterstock

A dependência de carros nas novas capitais é uma tendência comum que promove o uso de automóveis e separa diferentes tipologias. Essas cidades favorecem fortemente o uso de carros, implementando projetos viários que incluem viadutos, vias de duas pistas e vias de várias pistas. Como resultado, a arquitetura da cidade se espalha mais. A presença de grandes estacionamentos cria barreiras entre pedestres e edifícios, enfatizando ainda mais a dependência de carros. Essa dependência de veículos aliena a importância da circulação de pedestres. Sem sistemas de transporte público adequados, os residentes respondem possuindo mais carros particulares, tornando impossível navegar na cidade sem eles.

Brasília e Abuja são exemplos de cidades projetadas para proprietários de carros, com pouca atenção dada ao transporte público para aqueles com orçamentos limitados. Esse design centrado em carros leva a uma alta dependência de veículos entre a população urbana, marginalizando pedestres e excluindo grupos sociais como os pobres e deficientes. Também dificulta a viabilidade de planos futuros para um transporte comunitário eficaz.

Quando as cidades perdem seu status de capital, muitas funções administrativas e políticas são transferidas para a nova capital, deixando as estruturas arquitetônicas que antes as abrigavam vagas. Infelizmente, o resultado dessas realocações muitas vezes é mal planejado, resultando em edifícios abandonados. O Rio de Janeiro, Brasil, é um exemplo clássico disso, com prédios administrativos se tornando obsoletos quando Brasília se tornou a capital. No entanto, à medida que a população de rua do Rio de Janeiro cresceu, projetos de ocupação organizada surgiram na tentativa de reutilizar esses prédios abandonados como moradias para os pobres. Através de políticas estabelecidas, os ocupantes têm o direito legal de permanecer após cinco anos, embora estabelecer esse direito na prática seja desafiador. No caso de Lagos, a antiga capital da Nigéria, há vários prédios abandonados como consequência de perder seu status de capital. Dentro do Distrito Central de Negócios (CBD), existem aproximadamente 60 estruturas com altura variando de 5 a 20 andares. No entanto, o governo negligenciou esses prédios e impede que os ocupantes os utilizem permanentemente. Essa situação resultou em um tecido urbano cheio de arquitetura não utilizada.

Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Imagem 7 de 8
Abuja, Nigéria. Imagem © Oussama Obeid/Shutterstock

As novas capitais frequentemente priorizam o design de prédios governamentais, estruturas monumentais e edifícios emblemáticos para mostrar poder e elogiar a sociedade. Essa abordagem para o desenvolvimento da cidade cria estruturas grandiosas que aprimoram a relação entre os residentes e os elementos da cidade. No entanto, esses desenvolvimentos ambiciosos devem considerar as realidades econômicas dos países em desenvolvimento do sul global. Não é incomum que projetos arquitetônicos monumentais sejam inadequados para o clima econômico desses países. Um exemplo clássico é Yamoussoukro, onde muitos desenvolvimentos maciços propostos foram deixados incompletos devido a uma crise econômica incerta. Como resultado, a cidade agora consiste em terras dispersas com apenas algumas estruturas arquitetônicas grandiosas.

É aconselhável que os projetos arquitetônicos ajustem suas expectativas de construção moderna para se alinhar com as realidades econômicas desses contextos. Isso inclui estruturar designs que acomodem a incerteza enquanto ainda buscam aspirações icônicas. Ao incorporar estratégias de design incremental, comumente utilizadas no desenvolvimento de habitações sociais, na construção de edifícios emblemáticos, uma abordagem mais sustentável e viável pode ser alcançada.

Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Imagem 5 de 8
Edifícios abandonados, Rio de Janeiro, Brasil. Imagem © Aleksandar Popovski/Pexels

O Brasil é conhecido por suas florestas grandes e expansivas. No entanto, no caso de

Architectural Scale and Incrementation

New capital cities often prioritize the design of governmental buildings, monumental structures, and landmark buildings to showcase power and praise society. This approach to city development creates grand structures that enhance the relationship between residents and the city's elements. However, these ambitious developments must consider the economic realities of developing countries in the global south. It is not uncommon for monumental architectural projects to be unsuitable for the economic climate of these countries. A prime example is Yamoussoukro, where many proposed massive developments were left incomplete due to an uncertain economic crisis. As a result, the city now consists of sparse land with only a few grand architectural structures.

Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Imagem 4 de 8
Telhado do icônico edifício do Parlamento, Brasília. Imagem © Marcel Gautherot

It is advisable for architectural schemes to adjust their expectations of modern construction to align with the economic realities of these contexts. This includes structuring designs that accommodate uncertainty while still striving for iconic aspirations. By incorporating incremental design strategies, commonly used in the development of social housing, into the construction of iconic buildings, a more sustainable and feasible approach can be achieved.

Deforestation

Brazil is well-known for its large and expansive forestry. However, in the case of Brasilia, 73 percent of the existing savannah, known as "cerrado" in Portuguese, was destroyed during the establishment of the new capital. This destruction included government buildings, residential and commercial areas, transportation infrastructure, and other necessary developments. Unfortunately, the design of these buildings and infrastructure did not make an effort to replace the vast forestry that was lost, resulting in a negative impact on the climate.

Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Imagem 8 de 8
Brasília. Imagem © FreePik

Learning from the consequences of deforestation in Brasilia, authorities in the development of Indonesia's new capital city have ensured that the majority of land planned for urbanization consists of cultivated eucalyptus plantations rather than virgin rainforests. However, environmental groups have expressed concerns and demanded the release of environmental impact assessments before further development takes place.

Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global - Imagem 6 de 8
Jacarta, capital da Indonésia. Imagem © Andreas H/Shutterstock

Galeria de Imagens

Ver tudoMostrar menos
Sobre este autor
Cita: Yakubu, Paul. "Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global" [Lessons from Relocating and Building New Capital Cities in the Global South] 07 Fev 2024. ArchDaily Brasil. (Trad. Simões, Diogo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1012887/licoes-aprendidas-com-a-realocacao-e-construcao-de-novas-capitais-no-sul-global> ISSN 0719-8906

¡Você seguiu sua primeira conta!

Você sabia?

Agora você receberá atualizações das contas que você segue! Siga seus autores, escritórios, usuários favoritos e personalize seu stream.