Especial Dia do Arquiteto / A invenção de uma Arquitetura Moderna Brasileira

Comecemos, então, essa homenagem pelos pioneiros, pelos que fizeram da Arquitetura Brasileira conhecida além mares.

Selecionamos cinco obras de cinco importantes arquitetos. São elas: o Edifício Copan (1951-66), contruído em São Paulo, projeto emblemático de múltiplos usos em grande escala de Oscar Niemeyer; o Centro de Proteção Ambiental de Balbina (1968-89), no Amazonas, projetado por Severiano Porto, em que se destaca a extrema qualidade de uso de materiais e técnicas locais aliada a força de sua estética; a Rodoviária de Jaú (1973), de Vilanova Artigas, onde o arquiteto trabalha magistralmente a estrutura do edifício; o Sesc Pompéia (1977-86), de Lina Bo Bardi, como uma das obras mestras de intervenção patrimonial; e o Museu Brasileiro de Escultura –MuBE– (1986-95), de Paulo Mendes da Rocha, obra primorosa de harmonia entre cheios e vazios, peso e leveza.

É indiscutível a importância –e quase imperdoável a omissão na nossa lista– de Lúcio Costa e Affonso Eduardo Reidy para a consolidação da Arquitetura Moderna Brasileira, e além de muitos outros pioneiros, o que fez do nosso trabalho seletivo muito difícil. Trataremos, nos próximos artigos da sessão Clássicos da Arquitetura, fazer juz a excelência desses arquitetos.

Oscar Niemeyer e as linhas sinuosas do Copan

© Josep Maria Botey

Concebido para abrigar um ampla área de comércios e serviços –incluindo um cinema– e diversas tipologias residenciais, o Copan (1951-66) foi o primeiro edifício de apartamentos a ser construído em que Oscar Niemeyer emprega a planta curva como partido arquitetônico. Estratégia que já havia sido experimentada no projeto para o Hotel Quitandinha (1950), em Petrópolis, e que seria adotada novamente no Edifício Niemeyer (1954-55), em Belo Horizonte, e em tantos outros projetos posteriores.

© Instituto Moreira Salles

O Copan reforça a solução adotada alguns anos antes no Conjunto Habitacional do Pedregulho, projetado por Affonso Eduardo Reidy e responde aos anseios de Le Corbusier, experimentados en suas unités d’habitacion.

© flickr Rodrigo_Soldon

O porte –1.160 apartamentos distribuídos em 35 andares e 6 blocos– e a localização do Copan –centro de São Paulo–, enfatizam suas linhas sinuosas. A forma livre de Oscar Niemeyer estaria definitivamente consolidada como sua característica principal e umas das marcas da Arquitetura Moderna Brasileira.

Severiano Porto e o Centro de Proteção Ambiental de Balbina: expandindo o modernismo pelo Brasil

© Severiano Porto

Mineiro de Uberlândia e formado em 1954 na Faculdade Nacional de Arquitetura da então Universidade do Brasil, atual UFRJ, Severiano Porto é um caso aparte –e quase único– na história da Arquitetura Brasileira. Ao instalar-se em Manaus por decisión própia, Porto concebeu sua arquitetura a través de uma dialética entre conhecimento acadêmico, e técnicas e materiais locais, com a qual ambos sairam enriquecidos. O Centro de Proteção Ambiental de Balbina (1968-89) marca um momento crucial da expansão da Arquitetura Moderna pelo Brasil. É uma obra chave, na qual zeitgeist e genius loci paracem finalmente entrar em acordo.

© Severiano Porto

Não é difícil encontrar as genealogias do Centro de Balbina nas obras dos mestres da Escola Carioca, Oscar Niemeyer e Affonso Eduardo Reidy. A extensa coberta serpenteante em meio à selva amazônica é uma primorosa leitura dos Conjuntos Pedregulho (1947) e Gávea (1952) de Reidy, e da marquise do Parque do Ibirapuera (1951-54) de Niemeyer.

© Severiano Porto

No entanto, ao conceber uma contínua coberta de duas águas, que se adequa às variações dos diversos blocos funcionais, ao contrário de uma cobertura plana, Porto acaba por criar uma verdadeira espinha dorsal, em uma clara referência às igrejas barrocas de Minas Gerais. Aliada à ela, as taubilhas de cavaco empregadas com material de proteção, reforçam esse aspecto reptil e consolidam de vez a imagem do projeto.

Vilanova Artigas e a desmaterialização da estrutura na Rodoviária de Jaú

© FAU-USP

Pioneiro da Escola Paulista, Vilanova Artigas consagra-se como poeta da estrutura com o projeto para a Rodoviária de Jaú, de 1973. A grande coberta plana sustentada por uma malha de pilares é o que simplesmente define o projeto, de manera similar às experimentadas no Santa Paula Iate Clube (1961), no anhembi tenis clube (1961) e na FAU-USP (1961-69). A estética do concreto armado aparente é uma constante do arquiteto.

© FAU-USP

Toda a obra de Artigas é uma intensa busca por reduzir ao mínimo os pontos de apoio e, ao mesmo tempo, levá-los à máxima expressão. Na Rodoviária de Jaú, no entanto, o arquiteto leva essa poesia à genialidade: os pontos de apoio são desmaterializados pela luz que ilumina zenitalmente a estação.

© FAU-USP

Aqueles pontos onde a tensão estrutural é decisiva dão lugar ao puro vazio. Já não existem elementos estruturais; lajes, vigas e pilares se unificam em uma só estrutura. As linhas de força descem como raios ao solo ou o edifício parece surgir como árvores a criar uma única copa. Em ambas analogias, há uma presença inevitável: a luz.

Lina Bo Bardi e o Sesc Pompéia: um diálogo irrepetível

© flickr pedro kok

“Eu quero que o Sesc seja mais feio que o Masp”. Com essa frase Lina Bo Bardi resumia suas expectativas para o projeto do Sesc Pompéia (1977-86). A manutenção dos galpões da antiga fábrica de tambores foi uma decisão da arquiteta, indo de encontro ao que usualmente ocorria com as velhas instalações daquela área de São Paulo.

© flickr pedro kok

Com seu concreto aparente tosco e seus detalhes vermelhos, o Sesc é um constante diálogo entre o antigo e o novo, que se expande em diversas escalas de contraste: com as pequenas intervenções internas e mobiliários, com os anexos de concreto aparente que se sobressaem internamente pelos galpões, e principalmente com os novos edifícios para as instalações esportivas.

© flickr maxine brown

Aliados ao prisma cilíndrico da caixa d’água, com suas toscas uniões entre os anéis de concreto, e as quatro desconcertantes passarelas, quase impossível de pensar que não são rampas, que conectam cada dois andares do edifício menor à enorme caixa de concreto, com suas aberturas “esculpidas a picaretadas”, esses edifícios são a obra mestra do conjunto; não por seu peso volumétrico, senão pela harmonia entre geometrias puras e formas espontâneas, e pela supremacia absoluta da obra construída em relação ao projeto. O Sesc Pompéia exige uma experiência sensível.

Paulo Mendes da Rocha e o MuBE: o ponto justo entre peso e leveza

© wordpress alice vergueiro

Apesar de estar trinta e cinco anos distanciada da concepção do Copan, o Museu Brasileiro de Escultura (1986-95), de Paulo Mendes da Rocha, já faz parte do seleto grupo de obras-primas da Arquitetura Brasileira. Herdeiro direto da Escola Paulista, sobretudo de Vilanova Artigas, Mendes da Rocha soube como nenhum outro fazer suaves poesias com as pesadas estruturas de concreto armado aparente.

© wordpress alice vergueiro

O projeto do MuBE não é nada mais que uma coberta plana de 60 metros de vão. Mais que isso: essa coberta é uma simples escultura que demarca a presença de um museu subterrâneo e enquadra os jardins sob uma linha do horizonte. Um horizonte que levita sobre dois muros laterais, por meio do discreto espessor das juntas de dilatação. O MuBE –ou melhor, a coberta que é o MuBE– não serve como elemento de proteção. É inútil, como toda obra de arte.

© flickr liliane callegari

A esses brasileiros -de nascimento ou de coração- devemos a invenção da nossa Arquitetura Moderna. Influenciados por eles, embora também seus contemporâneos, a geração seguinte abriría novos caminhos à Arquitetura nacional.

Continuem lendo mais um artigo especial para o Dia do Arquiteto: “Arquitetura Contemporânea: Brasil Arquitetura, grupoSP, StudioMK27, MMBB, spbr, UNA Arquitetos“.

Sobre este autor
Cita: Igor Fracalossi. "Especial Dia do Arquiteto / A invenção de uma Arquitetura Moderna Brasileira" 11 Dez 2011. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-13645/especial-dia-do-arquiteto-a-invencao-de-uma-arquitetura-moderna-brasileira> ISSN 0719-8906

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