A humanidade como a conhecemos hoje é resultado de séculos e mais séculos de fenômenos naturais e migratórios complexos responsáveis por forjar a aparência geográfica e humana do planeta no qual habitamos. Humanos são seres sensoriais, e como tais, se relacionam com o mundo através de suas experiências vividas, mas, além disso, há outra forma pela qual podemos compreender o mundo no qual vivemos, isto é, através da uma representação bidimensional inventada pelo homem—os mapas. A cartografia, muitas vezes, é utilizada para delinear fronteiras e estabelecer limites, e desta forma têm sido utilizada historicamente como uma ferramenta de opressão e segregação.
Historicamente, o desenvolvimento das cidades se dá de forma lenta e gradual. Paisagens urbanas transformam-se constantemente à medida que enfrentam novas questões sociais, econômicas e políticas, a tal ponto que nos é difícil apontar apenas uma única razão pela qual o espaço urbano e construído se modifica ao longo do tempo. Mais recentemente, em razão dos muitos desafios que nossas cidades enfrentam, muitos arquitetos e arquitetas têm começado a se perguntar sobre como poderíamos construir um futuro melhor para nossas cidades e, principalmente, para as pessoas que nelas habitam. Neste longo e inexorável processo de evolução, muitas vezes a razão pela qual construimos nossas cidades de uma maneira e não outra tem a ver mais com uma linha de pensamento dominante do que com as condicionantes sociais, econômicas, políticas e também geográficas as quais arquitetos e urbanistas deveriam tentar responder.
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the city of Homs in Syria. Image via Shutterstock/ By Fly_and_Dive
Em um contexto de disputas políticas e econômicas que se desdobram em conflitos armados e consequentemente em destruição, as novas tecnologias surgem como uma solução, proporcionando uma oportunidade única para que possamos reconstruir estas cidade de forma mais equilibradas e sustentável. Ao longo da história da civilização humana, inúmeras cidade, países e até continentes inteiros tiveram que ser reconstruídos uma e outra vez por causa de guerras. Por incrível que pareça, o século 21 não será diferente.
Entretanto, nem tudo será como antes, principalmente devido aos avanços tecnológicos. Novas tecnologias estão pouco à pouco transformando a maneira que vivemos e também a forma como projetamos e construímos nossos edifícios e cidades. Com a inevitável incorporação da Inteligência Artificial em nossos processos de projeto e construção, a industria da arquitetura e da construção civil jamais será a mesma. Estas inovações transformarão para sempre o ambiente em que vivemos, e principalmente, a maneira como nos relacionamos uns com os outros. E esta mudança não necessariamente é algo negativo, muito pelo contrário. Uma vez conscientes disso, a IA poderá ser uma importante aliada dos arquitetos, ajudando-os a construir um mundo melhor para todos nós.
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Imagem do livro “Cidades Jardim de Amanhã” de Ebenezer Howard
Construir cidades nos terrenos que ficaram destruídos na Primeira Guerra Mundial foi uma proposta anunciada como a cidade do futuro por Le Corbusier sob o título de Ville Radieuse que contribuiria com a criação de uma sociedade melhor. Embora este master plan tenha sido apresentado pela primeira vez em 1924, nunca chegou a ser concretizado, mas influenciou a construção de habitação de alta densidade.
Enquanto as grandes cidades se esforçam para recuperar e revitalizar áreas urbanas centrais, zonas periféricas geralmente são ignoradas ou esquecidas. Geralmente, e com pouquíssimas exceções, o centro de uma cidade é onde se encontra a maioria das infra-esturturas urbanas, serviços públicos e principalmente, uma maior acessibilidade aos sistemas de transporte público. Em si só, isso é um motivo bom o suficiente para que uma cidade se esforce em manter a qualidade e a vitalidade de suas áreas centrais. Entretanto, isso também significa que políticas públicas voltadas tão somente para áreas centrais e que, por outro lado, negligenciam áreas periféricas - historicamente pobres e carentes em infra-estrutra urbana -, penalizam duplamente as zonas mais afastadas e principalmente, a população que ali vive. Com isso em mente, o escritório russo de arquitetura Meganom desenvolveu um projeto chamado de "Dvorulitsa", o que significa literalmente "rua -jardim". Dvorulitsa é um projeto de desenvolvimento urbano que pretende contribuir com a recuperação de áreas periféricas de Moscou. A ideia é um desdobramento de um antigo projeto do estúdio fundado por Yury Grigoryan e Iliya Kouleshov. Desenvolvido em 2013, "Archaeology of the Periphery," foi um projeto de recuperação de um antigo estaleiro que apresentava o conceito de "super parque", uma alternativa para a transformação da periferia das cidades pós-soviéticas.
Plataformas de Gestión Territorial - La Silsa, tercer lugar del V concurso de desarrollo urbano e inclusión social del CAF. Image Cortesía de CAF
Um projeto cuja metodologia se concentra em meninos e meninas como agentes de mudança nos bairros de Lima é o vencedor da quinta edição do concurso de desenvolvimento urbano e inclusão social do CAF. O concurso buscava propostas em cidades latino-americanas que proponham uma melhoria integral do habitat nas comunidades, especificamente a melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos, e a integração de assentamentos espontâneos à cidade através da concepção e desenho de propostas inovadoras, relevantes, justificadas e viáveis.
Este concurso é uma iniciativa do Programa Cidades com Futuro do CAF, cujo objetivo é acompanhar as autoridades latino-americanas na criação de cidades cada vez mais inclusivas, conectadas, integradas espacialmente, econômicas e socialmente com acesso universal a serviços básicos, oportunidades de formação e ambientalmente responsáveis.