No coração de um tecido urbano histórico e comprimido, onde o tempo parece sedimentar-se nas paredes de granito, nas coberturas de cerâmica e nos mosaicos que pintam as fachadas com memória, uma casa estreita e profunda ressurge com um novo fôlego. A Casa do Carriçal, uma reabilitação implantada num típico lote geminado do Porto do século XIX, propõe mais do que uma simples atualização espacial: é um exercício de escuta, uma tentativa de conciliar passado e presente sem hierarquias rígidas, revelando a potência transformadora da arquitetura cotidiana.
O Open House Porto 2024 convida os seus visitantes a celebrar os cinquenta anos da democracia portuguesa. Se, na revolução de 25 de abril de 1974, o povo português reivindicava “a paz, o pão, habitação, saúde e educação”*, em 2024, pretendemos, por um lado, conhecer o que os portugueses foram capazes de alcançar e, por outro, identificar o que desejam para o futuro.
Quando se trata de arquitetura contemporânea portuguesa, frequentemente a primeira associação se faz pelo caminho da tradição. A relevância histórica do programa, a importância das tipologias para os nativos, os modos de construir. As correspondências não são infundadas, mas tampouco são restritivas, e o pequeno país tem um grande nome que prova isso: Álvaro Siza Vieira.
Siza é o maior representante da arquitetura de Portugal, e motivos não faltam. Não apenas por ser o primeiro arquiteto português a receber um Pritzker (1992), ou pela premiação do Leão de Ouro na Bienal de Veneza (2012), ou pela extensa e prolífica carreira, mas sobretudo pela atitude ao mesmo tempo particular e universal em relação à arquitetura. A atuação em território nacional e internacional explicita uma característica que muito possivelmente é de sua índole: a de ser muitos em um único, à maneira de seu conterrâneo Fernando Pessoa.