A iniciativa "Soil Sisters" explora como o projeto arquitetônico e o uso de materiais sustentáveis podem contribuir para a nutrição do solo e sua resiliência. Em parceria com a SOM (Skidmore, Owings & Merrill), seus esforços conjuntos resultaram em uma exposição com o objetivo de redefinir nossa compreensão em relação as "práticas ambientalmente conscientes". Intitulada "Soil Sisters: A Ceiling, A Chair and Table, A Wall and a Threshold" (Um Teto, Uma Cadeira e Mesa, Uma Parede e um Limiar), a exposição mostra seu compromisso em redefinir a saúde do solo como um objetivo intersetorial, enfatizando a materialidade e a cor no ambiente construído.
A terra compactada é um dos métodos mais antigos de construção de paredes e ainda possui um grande potencial na construção moderna com terra. Um aspecto desse potencial são suas cores e camadas, que se tornam visíveis à medida que as fôrmas são removidas. Como um processo que envolve a compressão camada por camada de cascalho, areia, silte e argila, sua aparência resultante é uma estratificação horizontal de tons de terra, conteúdo material e procedimentos de cura. Essa aparência colorida das paredes de terra compactada pode ser controlada e explorada por meio de padrões, textura, pigmentação e cores naturais da argila, oferecendo uma oportunidade para ampliar seus limites na arquitetura.
Library of Muyinga. Image Courtesy of BC Architects
Atualmente, o entendimento da cultura de construção e a aplicação de métodos construtivos locais podem parecer um conceito distante e obsoleto, dado o papel da industrialização e da globalização na indústria. Podemos obter quase qualquer material de todo o mundo apenas pesquisando na Internet um distribuidor em nossa região. Mas essa prática tem implicações para a nossa sociedade, desde a perda de identidade arquitetônica até os custos ambientais relacionados a altas emissões de CO₂ associadas aos processos de extração, fabricação, transporte e descarte desses materiais.
A crescente necessidade global de reduzir nossas emissões de carbono e utilizar materiais de maneiras mais eficientes tem nos levado a pesquisar e aprender sobre a origem dos recursos de nossas regiões, levando ao melhor entendimento de suas aplicações dentro de uma abordagem de economia circular. Mas por que não olhar bem debaixo dos nossos pés? O solo é um dos materiais mais comuns do planeta e, quando é de origem local, não gera quantidades consideráveis de CO₂ incorporado. Parece que, após a industrialização, esquecemos que a construção com terra foi por muitos anos um método viável para nossos ancestrais em diferentes partes do mundo. Conversamos com Nicolas Coeckelberghs, um dos quatro fundadores da BC Materials, uma cooperativa com sede em Bruxelas que trabalha com terra, redescobrindo seu uso e compartilhando seu conhecimento em escala global através de uma consciência local.
https://www.archdaily.com.br/br/999688/construindo-com-residuos-transformando-solo-escavado-em-arquiteturaEnrique Tovar
Os esforços arqueológicos destinados a explorar as civilizações do passado revelaram uma semelhança em todo o mundo, uma forma de arquitetura desenvolvida de forma independente em todos os continentes. As evidências mostram que as comunidades neolíticas usavam solos férteis e argila aluvial para construir habitações humildes, criando o primeiro material de construção durável e sólido da humanidade. A arquitetura de terra nasceu muito cedo na história da humanidade, e as técnicas sofreram um declínio gradual à medida que os estilos de vida mudaram, as cidades cresceram e os materiais industrializados floresceram. A arquitetura de terra tem lugar no mundo do século XXI?
Uma mesquita de barro no Mali, África Ocidental. Imagem Cortesia de Emilio Labrador
A arquitetura feita com terra passou no teste do tempo: resiste a desastres naturais como furacões e terremotos devido às propriedades estruturais da terra. É uma história antiga que continua a ser contada através de estruturas que resistiram ao tempo. As técnicas indígenas de construção com terra foram pioneiras em muitas civilizações antigas de todo o mundo. As comunidades originalmente construíram abrigos de terra, o material mais acessível a elas, e ensinavam suas técnicas de construção de geração em geração. A arquitetura feita com terra evoluiu buscando compreender cuidadosamente a geografia e as especificidades do lugar onde está inserida. Com práticas aperfeiçoadas ao longo das gerações, é fascinante vê-la mantendo-se resiliente em meio às adversidades.