Da banheira ao chuveiro: como nos banhamos ao longo da história

Pesquisas recentes revelaram qual a frequência média de banhos diários em alguns países no mundo. Enquanto nos latino-americanos, liderados por Brasil, México e Colômbia, as pessoas tomam de 8 a 12 banhos por semana, na grande maioria dos países litados a média fica em torno de 6 a 8. O banho, ao longo da história da humanidade, envolve tanto aspectos de saúde como religiosos, espirituais e até sociais.

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O que temos hoje enquanto um hábito individual, de higiene e de preparação para socialização, já foi tanto um ato coletivo quanto um ato pecaminoso. Os registros mais antigos a respeito do banho vem dos egípcios. Para eles, o ato de tomar banho era sagrado, uma forma de purificar sua alma e homenagear seus deuses. O banho se realizava em um espaço coletivo e era uma atividade social que envolvia também o uso de óleos e cremes naturais.

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via Euromonitor Internacional

Além do Egito, outras civilizações também apresentavam espaços sociais de banho, como os babilônios, os gregos e os romanos. A casa de banho mais antiga do mundo, conhecida como Mohenjo-daro, está localizada em Sindh, no Paquistão, e data de 3.000 a.C. Este equipamento, nas civilizações antigas, era tido como espaço religioso, de sociabilização e de autocuidado coletivo. Para os gregos, por exemplo, estavam, também, ligados à prática de esportes, particularmente a natação. 

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Ruínas da Mohenjo-daro, por Saqib Qayyum, . Image © Wikimedia Commons

Foram os romanos, contudo, que elevaram o status das casas de banho, criando espaços que chegavam a receber mais de três mil pessoas. Estas edificações contavam com jardins, salas de sauna, piscinas de água quente e fria, vestiários, além de bibliotecas e restaurantes – tudo isso garantido pelo Império que, à medida que ia se expandindo, construía novas casas de banho amparadas por um sofisticado sistema sanitário de abastecimento e escoamento de água.

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Rendering by French architect Edmond Paulin, 1880. Image © Wikimedia Commons

Civilizações orientais também dispunham de equipamentos semelhantes. As casas de banho turco-árabes, chamadas de hamans – que existem até hoje – contemplavam não somente o banho nas piscinas, mas também depilação, massagem, hidratação, branqueamento dos dentes e maquiagem. Enquanto a cultura oriental, não somente a turco e árabe, mas também os japoneses e chineses, manteve o hábito dos banhos ao longo da história, o ocidente viu essa prática ser interrompida durante a Idade Média, quando moralismo da Igreja Católica interferiu em muitos dos hábitos sociais. 

Na Idade Média, Gregório I, que foi Papa de 590 a 604 d.C., qualificou o corpo humano como uma "abominável vestimenta da alma", e foi essa a ideologia que transformou o prazer em pecado e o ato de lavar o corpo em luxúria. A partir daí a população em geral abandonou os hábitos de higiene, o que provou uma série de crises sanitárias, epidemias e pragas que atravessaram a idade das trevas. 

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Imagem Medieval. Image © Wikimedia Commons

Se as antigas civilizações se banhavam regularmente em banhos públicos, usando grandes piscinas, argilas e óleos naturais para se conectar com sua religião e também para socializar, os povos da idade média passaram a se banhar em banheiras de madeira de uma a duas vezes ao ano, independentemente de sua posição social. Há relatos de que o Rei Louis XV tomou banho apenas 2 vezes em toda a sua vida. A higiene diária era feita com panos úmidos e muito perfume. 

Mesmo com as Cruzadas e o contato com outros povos e culturas diferentes, como os povos originários sul-americanos, o hábito só veio mudar mesmo no ocidente com o iluminismo no século XVIII, quando o banho passou a ser entendido cientificamente como questão de saúde. Não se resgata, porém, os banhos coletivos, mas sim como um hábito individual e caseiro e também não sem resistência da maior parte da população. Soma-se a essa resistência a dificuldade de acesso à água e a condições sanitárias nas residências, e o que se tem é um longo processo para que o hábito de se banhar seja efetivamente retomado no ocidente. 

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300 ppi scan of the National Geographic Magazine, Volume 31 (1917), page 335. Image © Wikimedia Commons

No início dessa retomada não havia um espaço exclusivo na casa para se banhar. As banheiras de madeira eram colocadas pela casa e a mesma água era utilizada para o banho de todos. Foi somente a partir do final do século XIX que as casas ocidentais ganharam um espaço exclusivo para se banhar. Com invenções trazidas do oriente – como o chuveiro, de origem árabe, e a  banheira, inspirada nos ofurôs japoneses – e acesso a água, os banheiros foram tomando uma forma mais parecida com o que conhecemos hoje. 

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Banheiro em 1920.. Image Cortesia de loveproperty.com, usada sob os termos de "fair use"

A partir do início do século XX, muitas cidades receberam obras de saneamento básico passaram a levar água encanada às residências. É com a Segunda Guerra Mundial, e a consequente reconstrução de centros urbanos, que grande parte das residências europeias passaram a ter acesso a banheiros privativos. Desde então, o banho voltou a ser um momento de autocuidado, tornando-se também um produto comercial. As mídias e propagandas relacionam ao ato de se banhar uma série de produtos possíveis, seja equipamentos como chuveiros mais potentes ou banheiras luxuosas, seja cosméticos como sabonetes, óleos, espumas, shampoos e cremes.

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Casa Imersão / Mitsuori Architects.. Image © Michael Kai

Se, por um lado, o ato de banhar-se conseguiu driblar o moralismo cristão a partir do contato com outras culturas e a ciência, o hábito social que envolvia o banho foi sendo resgatado também aos poucos. As saunas e as piscinas públicas resistem enquanto espaço social hoje em dia em diferentes locais no mundo, mantendo alguns hábitos antigos vivos, sem, contudo, apresentar a potência social de outrora. 

Referências

  • Feijó, Bruno Vieira. O Diabo na Água: A história do banho. Acesse aqui.
  • Kenyon-Slaney, Laetitia. A Comparative essay on bathing rituals around the world and how contemporary interior design and architecture are able to help preserve them. Acesse aqui.

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Sobre este autor
Cita: Giovana Martino. "Da banheira ao chuveiro: como nos banhamos ao longo da história" 17 Dez 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/992599/da-banheira-ao-chuveiro-como-nos-banhamos-ao-longo-da-historia> ISSN 0719-8906

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