As cidades já foram mais simpáticas?

Barulho, prédios altos, carros, ônibus, metrôs e um altíssimo fluxo de pessoas indo e vindo pelas ruas. Assim são retratadas as grandes cidades no cinema. Essa imagem ainda se complementa com relações pessoais distantes e a possibilidade do anonimato em meio à massa, compondo uma rotina animada, conectada, que pode também ser opressora e solitária. Atualmente, vivemos em uma busca constante de equilíbrio entre os benefícios das megacidades e os prejuízos que essa escala apresenta.

As cidades já foram mais simpáticas?  - Imagem 1 de 4As cidades já foram mais simpáticas?  - Imagem 2 de 4As cidades já foram mais simpáticas?  - Imagem 3 de 4As cidades já foram mais simpáticas?  - Imagem 4 de 4As cidades já foram mais simpáticas?  - Mais Imagens

Se, por um lado, as megacidades, com seu tecido altamente adensado e abastecida de redes de infraestrutura necessárias para sua manutenção, apresentam possibilidades de intercâmbio de experiências, acesso a lazer, informação e cultura, oferta de empregos e tantas outras facilidades, sua ambiência, por outro lado, elas também sofrem as consequências de sua escala, como a poluição visual, sonora e do ar, o excesso de carros, e desigualdades sociais colocadas à vista com elementos de arquitetura hostil.

A formação dessas megacidades, porém, acontece em concordância com as transformações da nossa sociedade: o crescimento populacional, as migrações e a diáspora das áreas rurais, o advento da internet junto dos computadores e mais tarde dos celulares, e tantos outros aspectos impactam no território, transformando-o a partir da verticalização de suas construções, do espraiamento urbano e da periferização, da rede de transportes, entre tantos outros. Essa transformação acontece tanto em novas áreas de urbanização, como também se sobrepõe ao antigo tecido, que por sua vez não desaparece totalmente. 

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capa_SHIBUYA TOKYO JAPÃO - 29 de julho de 2018- Pedestres atravessam faixa de pedestres em torno da área do distrito de Shibuya em Tóquio, Japão.. Image © Lifestyle Travel Photo/ Shutterstock

São as construções antigas, as marcas de um núcleo urbano menor e mais concentrado, que evidenciam a rotina da cidade no passado. Se os prédios altos marcam o momento presente, as pequenas construções térreas ou sobrados relembram esse passado, com casas de muro baixo, avarandadas, abertas à cidade e receptivas à vizinhança. Essas construções dão sinais do que era a rotina no passado: os suprimentos, por exemplo, não eram comercializados por hipermercados e a entrega não era feita por delivery — baseada na precarização do trabalho de milhares de motoboys. 

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Sublime Ordinariness Housing Project / DCOOP.. Image Cortesia de Sublime Ordinariness

Das brincadeiras infantis nas ruas, até a convivência com a vizinhança cotidiana, a cidade funciona tanto como um cenário das mudanças sociais quanto como uma catalisadora delas, reforçando a partir de sua configuração o distanciamento, a ausência de contato e de coletividade. Temos, portanto, dificuldade de construir laços nas grandes cidades atuais tais quais existiam nos pequenos centros urbanos do século XX. Não conseguimos ter acesso ao produtor familiar do leite, ao dono do pequeno mercado ou da farmácia. As megacidades nos conectaram com o mundo e, ao mesmo tempo, nos afastaram dos nossos vizinhos.

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Jardín comunitario urbano “Sporta pils dārzi”, 2021 / Artilērijas dārzi. Image Cortesia de CCCB

O desafio está em conseguir criar, dentro das grandes cidades, laços de vizinhança que possam resgatar a "gentileza" das comunidades antigas. Assim como a arquitetura e o urbanismo são catalisadores do afastamento, podem também ser cenário de criação de laços, tanto na escala do edifício, quanto na escala urbana. Projetos de edificações, especialmente as residenciais, podem ser desenhados criando oportunidade de convívio, enquanto os espaços públicos precisam ser planejados para valorizar esse convívio. Hortas comunitárias, centro culturais, intervenções artísticas, prática de exercícios e tantas outras iniciativas locais é o que transformam os bairros das grandes cidades em lugares mais humanos.

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Sobre este autor
Cita: Giovana Martino. "As cidades já foram mais simpáticas? " 25 Set 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/988523/as-cidades-ja-foram-mais-simpaticas> ISSN 0719-8906

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