O final da temporada de verão é geralmente marcado por multidões que correm para as piscinas públicas para aproveitar seus últimos dias na água. As piscinas públicas são muito mais complexas do que apenas espaços cercados, barulhentos e com cloro. Uma história delicada e muitas influências socioeconômicas estão sob a superfície e ditam quem pode nadar. O que acontece quando as piscinas se tornam propriedade privada e uma espécie de símbolo de status, e quando estes espaços públicos deixam de atender a todos?
No início dos anos 1900, as piscinas públicas estavam em alta. Não eram apenas uma maneira de se refrescar nos meses quentes de verão, mas também uma forma de se “limpar” para os trabalhadores de classe baixa. Muitas cidades rurais viam as piscinas como o epicentro de seus bairros, e o lugar onde muitas reuniões sociais eram realizadas. No entanto, o termo "público" começou a mudar na era pós-guerra, quando as piscinas se tornaram segregadas por raça, seja por lei ou pelas pressões sociais da época. Isto fez com que crianças que antes tinham o luxo de uma piscina pública tivessem que nadar em rios e lagos perigosos. Em 1964, muitas comunidades se recusaram a seguir a Lei dos Direitos Civis e fecharam suas piscinas ao invés de desregulamentá-las. Uma das maiores piscinas do mundo, localizada em St. Louis, Missouri, explodiu em protestos violentos contra a falta de segregação nas piscinas, fazendo com que o público diminuísse significativamente e a piscina fechasse permanentemente apenas alguns anos depois. O resultado a longo prazo foi a corrida em massa para construir piscinas privadas nos quintais das casas e usar menos as instalações públicas.
Mesmo algumas das cidades mais densas do mundo, como Nova York, onde quintais, quanto mais piscinas privadas, são difíceis de encontrar, mostram que as pessoas estão encontrando maneiras de evitar a dependência de instalações públicas. A cidade conta hoje com quase 15.000 piscinas privativas, enquanto há apenas 70 anos, este era o número de piscinas privadas que existiam em todo o Estados Unidos. A maioria dos bairros da cidade de Nova York com piscinas privadas são predominantemente para a classe alta e branca.
Nos dias de hoje, há muito menos instalações de piscinas públicas do que deveria haver, dado o rápido aumento da população e a demanda por mais espaços públicos. Em Long Beach, Califórnia, houve uma demanda para construção de uma piscina para os jovens de baixa renda da cidade depois que as crianças foram flagradas entrando na piscina de um complexo de apartamentos. Long Beach tinha apenas três piscinas públicas, nenhuma das quais, localizada perto do transporte público, dificultando o acesso para quem não tem carro na cidade. Mas, ao mesmo tempo, a cidade de Long Beach estava buscando aprovação para uma reforma de quase 100 milhões de dólares para um centro aquático perto dos bairros ricos à beira-mar.
Algumas cidades estão implantando soluções em menor escala, onde as crianças podem brincar e se refrescar em fontes no piso (splash pads). Esses locais apresentam jatos e bicos localizados no solo que lançam água para o ar e são frequentemente acionados por sensores de movimento. Com pouca ou nenhuma água parada, não há necessidade de um salva-vidas, além de eliminar os muitos riscos associados às piscinas. Os splash pads também são muito mais baratos de manter e têm mais capacidade, permitindo que muito mais pessoas os visitem, em comparação com as piscinas.
Resta saber como serão as piscinas públicas do futuro. Há uma necessidade de mais espaços públicos, incluindo piscinas, especialmente em bairros que não têm acesso ao transporte público e não podem chegar a piscinas mais distantes. Isso faz parte de uma crise maior, onde os espaços públicos não são realmente para o público, isto é, para “todos”.